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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Idolatria: a dificuldade de crer somente em Deus


Idolatria: a dificuldade de crer somente em Deus
Segundo Baptista Mondin, a religião é uma “manifestação tipicamente humana”, porque o ser humano é o ápice da criação, haja vista que Deus só elegeu seres racionais, tais como anjos e homens (1Tm 5.21) e, por isso, por mais bonitinho que seja seu mascote a ele não foi prometida a eternidade.
O homem é um ser religioso, pois mesmo as culturas mais remotas possuem um deus e uma maneira de cultuá-lo, pois, como afirma Calvino: “não existe nação tão bárbara, nenhum povo tão selvagem que não tenha impressa no coração a existência de algum Deus” (Institutas I.4, p.56).
Calvino entende que essa é a semente da religião presente em todos os homens desde o princípio, porque, como afirma Paulo, os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas” (Rm 1.20). Contudo essa semente corrompida ora leva o homem a avaliar o Senhor apenas pela natureza ora conforme seus raciocínios dúbios (Institutas 7, p. 59,58).
Calvino comentando esse texto de romanos afirma: “a manifestação de Deus, pela qual ele faz a sua glória notória entre as suas criaturas, é suficientemente clara até onde sua luz se manifesta. Entretanto, em razão da nossa cegueira, ela se torna inadequada. Porém não somos tão cegos que possamos alegar ignorância sem estar convictos de perversidade” (Comentário de Romanos, p. 64,65)
A visão distorcida de Deus leva o homem inevitavelmente a uma cosmovisão, igualmente equivocada. Entendemos por cosmovisão: “a estrutura compreensiva da crença de uma pessoa sobre as coisas” (WOLTERS, A Criação Redimida, p. 12). Por isso, em Romanos 1, fica-nos evidente que a torpeza moral dos homens e mulheres expostas nos versículos 26 e 27 se dá pela idolatria em que estavam submetidos (veja Rm 1.22,23), a qual tem sua raiz na cosmovisão, ou seja, “tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Rm 1.21).
Hendriksen (Romanos, p.52) observa que essa realidade é própria de corações que vivem apenas no plano horizontal o que consequentemente os direciona para torpeza da mente, a desesperança emocional e a depravação espiritual. Dessa maneira, quando minha crença não contempla o Senhor ou o contempla de maneira equivocada (em desarmonia com os padrões bíblicos) minhas atitudes vão refletir esse fato, ou seja, reproduzirão toda sorte de vícios e calamidades.
Sabemos que essa revelação, chamada geral, manifesta a bondade, a sabedoria e o poder de Deus de tal maneira que os homens ficam indesculpáveis (Rm 1.20), mas é insuficiente para “para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade necessário para a salvação” (CFW I.1. Veja: I Co 1.21; I Co 2.9-14; At 4.12; Rm10.13,14).
Calvino, o exegeta da Reforma, entende que a revelação geral serve para nos ensinar o temor e a reverência a Deus e depois nos ensinar a buscar o bem e a reconhecer que dEle procede (Institutas I.6, p.57,58), porém esse conhecimento só pode vir da revelação específica.
A Palavra, inspirada, inerrante, plena e suficiente, é comparada por Calvino aos óculos: “assim como as pessoas idosas ou aquelas que têm a visão turva ou fraca, quando você coloca diante delas o mais lindo volume, mesmo se reconhecessem como contendo algum tipo de escrita, mal poderiam ler distintamente, a Escritura, ao juntar o outrora confuso conhecimento de Deus na nossa mente, e tendo dissipado o nosso embotamento, claramente nos mostra o verdadeiro Deus” (Institutas, I.6,1).
Muitos cristãos vivem de maneira soberba relegando a idolatria àqueles que enchem as igrejas católicas ou aqueles que praticam ritos vis e julgam-se imunes a qualquer desvio, todavia Paulo, falando do povo no deserto que apesar de ter visto a obra de Deus sobre suas vidas caiu em terrível idolatria, alerta-nos: “aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia” (1Cor 10.12).
O próprio João, o discípulo amado do senhor, apesar de sua firmeza por duas vezes tenta adorar o Anjo que lhe falava (Ap 19.10; 22.8). Ele está diante de uma situação inusitada e admirável e é proveniente de uma cultura que prestava culto aos anjos (veja Cl 2.18). Como afirma Adolf Pohl (Apocalipse, p.227): “isso é humanamente compreensível, mas precisa ser corrigido” e, por isso, o próprio anjo afirma: “Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus” (Ap 19.10b. Veja Hb 1.14).
O bispo anglicano J.C. Ryle afirma que existem seis princípios para orientação do nosso culto (especialmente o público):
·         Deve ser direcionada ao objeto correto (Mt 4.10; Dt 6.13);
·         Deve ser dirigido a Deus pela mediação de Jesus Cristo (Jo 14.6; Hb 7.25);
·         Deve ser diretamente bíblica, ou inferida das Escrituras, ou em harmonia com elas (Mt 15.9; Cl 2.23);
·         Deve ser inteligente (Jo 4.22);
·         Deve ser proveniente do coração (1Sm 16.7; Sl 51.17Is 29.13;Ez 33.31; Mt 15.8,9);
·         Deve ser uma adoração reverente (Sl 89.7; Ec 5.1; Mt 21.13; Hb 12.28,29)
Portanto, a idolatria é a prática do culto dissociado da Palavra e comprometido apenas com padrões pragmáticos míopes e, por isso, só consegue focar objetivos a curto prazo e que reverenciam mais o homem e suas ilusões do que a Deus e sua glória.

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