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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

A BÊNÇÃO DO CASAMENTO


A bênção do casamento
Se o maior objetivo do homem é glorificar a Deus e se alegrar nele para sempre (pergunta um do Catecismo Maior de Westminster), o mesmo vale para o matrimônio cristão. Com certeza, o grande problema de inúmeras famílias está no fato de homens e mulheres irem para o casamento como um meio de alcançarem uma felicidade egoísta, um forma pecaminosa de angariar glória para sei mesmo fazendo do outro um objeto dos meus anseios escusos.
Contudo esse falso matrimônio nunca atinge os propósitos para os quais foi criado por Deus tais como: “o auxílio mútuo do marido com a mulher”, “a propagação da raça humana por uma sucessão legítima e da Igreja por uma semente santa” e “impedir a impureza” (Confissão de Fé de Westminster, XXIV, 2).
Dessa maneira, no casamento, o homem encontra sua auxiliadora idônea (Gn 2.18), a qual ama como a parte mais frágil e recebe dela respeito e submissão como cabeça da família (Cl 3.18,19; 1Pe3.2). Nessa relação, firmada no amor e no respeito, o casal, dentro de suas possibilidades físicas (haja vista que a queda possibilita a inversão da bênção de Gn 1.28 trazendo o problema da esterilidade a muitos casais) tem filhos debaixo da aliança (Ml 2.15). No casamento, o homem e a mulher se preservam das concupiscências da carne, ou seja, da fornicação (porneia –  πορνεία).
Calvino afirma: “ele [Paulo] requer daqueles que se deixam influenciar pelo vício da incontinência que busquem o recurso desse antídoto [o casamento]”[1]. O vínculo matrimonial, consumado no ato sexual, é tão importante que não poder ser sonegado um do outro senão por três critério: sem consentimento mútuo, para a oração e por um período determinado, pois essa atitude aparentemente piedosa traz tentação para a vida dos cônjuges, pois, segundo Kistemaker, “o apóstolo adverte a seus leitores da presença de Satanás, que busca tirar proveito das debilidades humanas, tentando-nos ao adultério”[2].
O casamento é, além de tudo isso, um voto feito diante do Senhor, e a Bíblia diz que Deus não se agrada do voto do tolo (Ec 5.4), ou seja, aquele que de forma precipitada promete o que não é capaz ou lhe causa grande pesar em cumprir, tal como algo que o Senhor não requer em sua Palavra. Vejamos o triste exemplo de Jefté que teve de sacrificar sua própria filha, a quem amava, porque agiu de maneira precipitada, movido pela superstição (Jz 11.31-34).
Tendo em vista que o casamento envolve muitas responsabilidades e disposição em se dar ao outro, cerca de 24,6% (IBGE, 2013) dos jovens entre 25 e 34 anos ainda moram com os pais, o que forma a chamada “geração canguru”, todavia, como afirma Pearcey “os indivíduos não conseguem desenvolver toda a sua verdadeira natureza, a menos que participem de relações sociais, como casamento, família e igreja”[3].
Pearcy, rebatendo a ideologia iluminista de Rousseau de que a sociedade corrompe o homem, defende que, por causa do fato de ter sido feito à imagem e à semelhança de Deus (doutrina da imago Dei de Gn 1.26), uma substância em três pessoas. Os seres humanos buscam essencialmente associarem-se. Hoekema reforça o pensamento de Pearcy defendendo que “somente por meio de contato com os outros descobrimos quem somos e quais nossas forças e fraquezas. É somente na comunhão com os outros que crescemos e nos tornamos maduros”[4].
Hoekema afirma: “o casamento, sem dúvida, revela e ilustra mais plenamente do que outra instituição humana a polaridade e a interdependência da relação homem-mulher. Mas não o faz em sentido exclusivo. Pois o próprio Jesus, o homem ideal, nunca foi casado”[5].
O Catecismo Maior de Westminster, na vigésima pergunta, entende a ordenança do matrimônio como uma é uma das atitudes providenciais do homem quando foi criado e, hoje, é poderoso antídoto contra nossa inclinação para o pecado e a prostituição, assim como se constitui em poderosa escola que refina nosso comportamento. Contudo só redundará nos benefícios previstos se servir exclusivamente para a glória de nosso Senhor.
Portanto, se as vozes pessimistas decretam o fim do casamento e, consequentemente, o da família, essa falsa constatação só pode ser proveniente daqueles que utilizaram do matrimônio para sua glória pessoal e para fins egoístas.




[1] CALVINO, João. 1Coríntios. São Bernardo do Campo-SP: Parakletos, 2003, p.200.
[2] KISTEMAKER, Simon. Comentario al Nuevo Testamento: 1 Corintios. Kalamazoo: Libros Desafio, 1998, p.191.
[3] PEARCEY, Nancy. Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural. São Paulo: CPAD, 2012, p. 149.
[4] HOEKEMA, Anthony. Criados à Imagem de Deus. São Paulo: Cultura Cristã, 1999, p.93,94.
[5] Ibid, p. 93.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Carnaval, dias que passam?


Carnaval, dias que passam?
Nestes dias de festa que se aproximam muitos se entregam aos prazeres dessa vida sem pensar nas alegrias eternas do céu. Ímpios e cristãos superficiais fazem da cultura mundana sua própria expressão de alegria, entretanto a Palavra nos adverte que podemos aproveitar todo o sabor da juventude, seguir os desejos do nosso coração e aquilo que atrai o nosso olhar, mas nos adverte: “de todas essas coisas Deus te pedirá conta” (Ec 11.9).
Seguir os desígnios do coração, certamente, não é coisa boa, pois ele é enganoso, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto (ou donte) (Jr 17.9). Deus não nos criou para sermos felizes aos moldes humanos, mas para servi-lo e, assim, adquirirmos a felicidade eterna que não está sujeita às pessoas e circunstâncias. Dean Ulrich, comentando o livro de Rute, afirma: “Deus não entra em relacionamento conosco para nos dar tudo o que queremos. Ele nos atrai para si para que possamos encontrar segurança, contentamento, paz e alegria nele” (p.38).
Dessa maneira, o apóstolo Paulo nos ensinou que a alegria cristã ela é contínua, porque está no Senhor (Fl 4.4). Quantas pessoas se iludem de que viver a vida é se embebedar-se ou entregar-se a uma vida sexual desregrada, porém as consequências desses atos impensados nessa vida são: a própria degradação da saúde, a estabilidade emocional e a morte, porque o o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 6.23).
No livro O Contrabandista de Deus, no qual se relata como o Irmão André contrabandeava Bíblias pelos países comunistas, André, antes de sua conversão estava internado, depois de ser ferido na guerra. Até aquele momento vivera atormentado pelas coisas que vira nos campos de batalha e desafiara a morte infinitas vezes. No Hospital, recuperando-se para voltar à Holanda – sua terra natal – entregava-se ao álcool sempre que podia sair.
Um dia antes de ter alta, uma freira Francisca chamada de Irmã Patrícia, lhe contou como se caçavam macacos na floresta: os nativos sabem que um macaco jamais larga algo que deseja, mesmo que isso signifique perder a liberdade, por isso, pegam um coco, abrem um pequeno buraco grande o suficiente para passar tão somente a pata de um macaquinho e jogam uma pedrinha lá dentro. Quando o macaco pega o coco e percebe que há algo dentro dele, enfia a pata e pega a pedra sem soltá-la. A freira concluiu de maneira sábia: “aquele macaco nunca largará o que pensa ser uma coisa preciosa e a coisa mais fácil do mundo é apanhar alguém que age assim” (p.44).
Quantas pessoas que estão se preparando para o carnaval com bebidas, drogas e “preservativos”, estão agarradas a esses vícios como se fossem bens preciosos, todavia são emoções passageiras que terminam em acidentes, aumento no índice de DSTs (doenças sexualmente transmissíveis), mortes ou, no mínimo, em uma forte ressaca na quarta-feira. Conta-se que o bandeirante Fernão Dias Paes Leme morreu agarrado a pedras que julgava como esmeraldas, mas eram apenas turmalinas (pedra que se parece com a esmeralda, mas tem pouquíssimo valor). Os prazeres dessa vida parecem preciosos, porque são saborosos e aparentemente belos, todavia não podem se comparar com as riquezas que o Senhor tem par oferecer aqueles que o seguem. Assim como o bandeirante, por não ter sólido conhecimento de geologia se enganou, todos aqueles que não conhecem a Palavra podem se iludir e morrer agarrados a meras pedrinhas sem valor.
Há duas palavras na Bíblia para se referir a coroa: diadema (διδημα), a coroa do rei; e o stéfanos (Στφανος), a coroa que o atleta recebe ao chegar vitorioso. Jesus promete: Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa (stéfanos) da vida” (Ap 2.10). Paulo afirma: Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível” (1Cor 9.25). Um atleta faz tantas renúncias pessoais para atingir objetivos olímpicos e conseguir uma medalha, muito mais nós deveríamos nos esforçar em nossa vida renunciando o jugo dos vícios e prazeres desse mundo para perseguirmos aquela coroa eterna.
O stéfanos dos atletas na Antiguidade era uma coroa feita de folhas de oliveiras, por isso depois de alguns dias estava murcha e sem vida. Talvez isso causasse frustração ao esportista que se esforçou de forma intensa por palmas que se dissiparam e uma coroa que será jogada fora, por isso Pedro fala da imarcescível (que não murcha) coroa da glória (1Pd 5.4). Da mesma maneira, muitos podem nos final da vida olhar para as conquistas, a luxúria, as bebedices, as comilanças, os títulos pendurados na parede e os trabalhos empreendidos e reconhecer como Salomão: “tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec 1.17b).
Screwtape, um diabo que tenta ensinar seu sobrinho – Wormwood – a arte de tentar, da obra Cartas do Inferno de C.S. Lewis, explica que o inferno não pode criar o prazer, mas tentar o homem a tomar o prazer criado por Deus e usa-lo em formas ou intensidades que Ele proíbe. Nesses dias muitos estão dando uma direção pecaminosa a ímpetos de seus corações, porém esses lampejos fugazes dos desejos pecaminosos do homem só o afastam de Deus (Is 59.2) e levam a um vazio terrível e desolador, porque não há quem esteja longe de Jesus e encontre prazer, pois na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente (Sl 16.11b).