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segunda-feira, 19 de março de 2018

Soneto às MULHERES


Soneto às MULHERES

Mulheres, são nossas auxiliadoras
Um braço forte, o esteio e alento
Lúcidas, perfeitas animadoras
Homens têm nelas o contentamento

Em sabedoria e fé são construtoras
Recreiam a família com portentos
E aos seus filhos são hábeis protetoras
Sabei de sua importância e talento

 São mães, mulheres, irmãs, professoras...
Há de ter em Deus seu contentamento
Boas companheiras quando  tu choras

Imprescindível no conhecimento
Assim, ó ternas colaboradoras
São especiais em todas essas horas


sexta-feira, 16 de março de 2018

Os dois lados de uma arma


Os dois lados de uma arma
Uma frase latina atribuída ao franciscano Guilherme de Ockham (1285-1349) diz: “defende me gládio, defendam te calamo”, ou seja, defende-me com a espada e eu te defenderei com a pena (objeto para escrever: caneta ou lápis). Segundo Reale et al[1], essa frase foi dita quando Guilherme fugiu do convento de Avignon, onde era acusado de heresia, para se refugiar junto do Imperador Ludovico o Bávaro em Pisa. Esse religioso entendia que o poder das palavras era maior que o poder das armas.
No último dia 7, dois homens entraram no jornal satírico francês Charlie Hebdo fortemente armados, com treinamento militar e deixaram 12 mortos e 11 feridos. Esse fato gerou uma comoção em todo o ocidente e diversos chefes de Estado manifestaram condolências e repúdio a esse ato de terror, inclusive a presidente Dilma, apesar de outrora defender que o diálogo da ONU com terroristas fosse melhor que uma postura mais dura contra o Estado Islâmico (grupo terrorista que controla parte da Síria) que degolam turistas[2].
Com certeza, nesses dias conturbados que iniciaram o ano de 2015, em que os extremistas islâmicos não esperaram até o fim de janeiro para apresentar seus desejos de morte, esse pensamento de Ockham se faz muito pertinente, porque o estopim das guerras não está no disparo das armas, mas nas ideias que as engatilharam. É uma terrível ingenuidade acreditar que apenas uma das extremidades da arma pensa, ambos absorvem influências e as transformam em pensamentos e ideologias.
Cazuza (1958-1990) clamava: “ideologia, eu quero uma pra viver”. Segundo Japiassú et al[3], esse conceito, cunhado pelos filósofos franceses do sec. XVIII que estudavam a origem da ideias, evoluiu até significar em nossos dias “um conjunto de ideias, princípios, valores que refletem uma determinada visão de mundo, orientando uma forma de ação, sobretudo uma prática política”[4].
É impossível viver alheio a um conjunto de ideias, princípios e valores que norteiam a nossa maneira de interpretar o mundo ao nosso redor. Dessa maneira, ao analisarmos o ato terrorista na França precisamos entender as ideologias que motivaram os dois lados da arma. Os terroristas mulçumanos partem do pressuposto de que o Alcorão é “o eterno milagre, o último livro de Deus enviado para a orientação da humanidade”[5].
O Alcorão tem a sua origem no próprio Allah (Alcorão, Na Nissá, 4.82), que é a testemunha mais fidedigna (Alcorão, Al An'Am, 6.19) e é, por meio desse livro esclarecedor, que seus adeptos são perdoados e encontram o caminho reto para a salvação e luz que precisam (Alcorão, Al Máida, 5.15,16).
Aqueles que não acreditam no conteúdo do Alcorão serão castigados, enquanto os crentes (no Alcorão) terão recompensa infalível (Alcorão, Al Inxicac, 84.20-25), por isso, o Livro sagrado dos mulçumanos prevê que “o castigo, para aqueles que lutam contra Allah e contra Seu Mensageiro, e semeiam a corrupção na terra, é que sejam mortos, ou crucificados, ou lhes seja decepada a mão e pé de lados opostos, ou banidos. Tal será, para eles, uma desonra neste mundo e, no Outro sofrerão severo castigo” (Alcorão, Al Máida, 5.33).
Segundo o Instituto Brasileiro de Estudos Islâmicos, a palavra Islam significa submissão, todavia na sua origem etimológica significa paz. Dessa maneira, o islamismo pode ser definido como uma submissão sem reservas a vontade de Allah[6]. Entretanto extremistas não partilham dessa paz e propagam o terror. Segundo Teles[7] e Souza[8] o “fundamentalismo”[9] islâmico tem sua origem na ação norte americana de patrocinar, armar e treinar afegãos como Bin Laden para lutarem contra os invasores soviéticos, pois era melhor tê-los no poder e seus países do que legar as fontes de petróleo do mundo ao poder comunista em plena Guerra-Fria.
Ainda usando Ockham, porém de forma parafraseada[10], os princípios religiosos podem funcionar alheios a razão, porque o estudo teológico de uma religião ou seita pode deixar de ser uma ciência e passar a ser “um complexo de proposições mantidas em vinculação não pela coerência racional, mas sim pela força de coesão da fé”[11].
Segundo o Sheikh Muhammed Salih Al-Munajjid, jihad significa esforço e gasto de energia pessoal, ou seja, o mulçumano deve se esforçar “para fazer a palavra de Allah suprema e para estabelecer a sua religião (o islam) na Terra”[12]. Contudo o Islã não defende que se deve matar o não mulçumano, mas buscar atraí-lo para a única religião aceitável para Allah. De fato, o Alcorão afirma: “combatei até terminara intriga, e prevalecer totalmente a religião de Allah. Porém se se retratarem, saibam que Allah bem vê tudo quanto fazem” (Al Anfal, 8.39).
O Sheikh Muhammed Salih Al-Munajjid “Jihad contra os kaafirs (não muçulmanos) e hipócritas são de quatro tipos: com o coração, com a língua, com os bens e com si mesmo (combate físico). Jihad contra os kaafirs é ao longo das linhas de luta física enquanto a jihad contra os hipócritas é mais ao longo das linhas de se usar palavras e idéias”[13]. Entretanto os tementes, a quem é prometido um céu de repouso, bebidas, frutas e mulheres castas (Alcorão, Sad, 38.49-52), aqueles que foram mortos ou morreram pela causa de Allah “serão infinitamente agraciados por Ele, porque Allah é o melhor dos agraciadores” (Alcorão, Al Hajj, 22.58).
Se a postura pacífica do islamismo pode ficar reservada nas mesquitas e nos centros de aprendizado, a teologia fanática e não fundamentalista é a que seduz jovens carentes de objetivos sólidos. Aos poucos a teologia liberal se desenvolveu a tal ponto de fazer com que as pessoas desacreditassem na Palavra, vê-la como um mito fútil terrivelmente e suplantada pela ciência. Segundo Machen[14], o teólogo liberal passou a negociar com a razão científica o direito de continuar existindo, todavia em uma postura desacreditada e vã.
A mesma França que viu Calvino e a Europa que ouviu as teses de Lutero vê os cristianismo diminuir cedendo lugar para o Islamismo. Em 2008, a igreja Católica anunciou oficialmente que o número de mulçumanos havia ultrapassado o número de católicos na Europa[15], haja vista, que em 1990 o número de mulçumanos era de 568.000 e em 2010 era de 3,5 milhões[16]. Essa realidade não diferente na América, pois, nos Estados Unidos, o número de mulçumanos duplicará nas próximas décadas de 2,6 para 6,2 milhões[17].
A Europa que ridicularizou a Bíblia vê o Alcorão doutrinar sua juventude. A população que foi educada a entender que não existem padrões absolutos, agora ouve a Mesquita ditar as normas de conduta. Enquanto igrejas viraram museus, mesquitas foram erigidas.
Com certeza não se pode de maneira alguma ligar o Islã esses atentados, pois existem pessoas pacíficas e honradas nas diversas mesquitas do mundo, mas assim como a Inquisição ou os profetas Zwickau deturparam a fiel pregação, fanáticos podem distorcer o ensinamento oficial do Alcorão. Esses terroristas estão com a arma apontada não para uma pessoa, mas para uma ideia e esta arma está carregada.
Segundo Anne Sinclair, a revista Charlie Hebdo começa a ter atritos com o mundo islâmico desde que, em 2002, decidiram publicar um artigo do livro de Oriana Fallaci, no qual tecia críticas ao islamismo, assim como, em 2006, publicou caricaturas de Maomé publicadas pelo jornal dinamarquês Jyllands Posten, o que levou a um atentado em 2011[18].
Essa revista é adepta de um humor ácido a serviço de todo o arcabouço ideológico de nossos dias e, por isso, satiriza a política e tem um gosto por fazer piadas de decência questionável da religião católica, do próprio cristianismo e do islamismo. Aristóteles, na Poética, entende que é natural ao homem imitar desde a infância, assim como as artes da mesma maneira imitam. Homens nobres imitam ações nobres, todavia pessoas de má índole imitam aquilo que é baixo, por isso, sendo a comédia a imitação de pessoas inferiores, ou seja, daquilo que é cômico e grotesco e a tragédia a imitação de ações nobres, os poetas tendiam a esta ou aquela segundo suas inclinações naturais.
O tutor de Alexandre entendia que a comédia tendia a incentivar sentimentos baixos que não viriam edificar o indivíduo. A comédia e a caricatura possuem um limite complexo na comunicação, porque ele não estabelece uma discussão, mas expõe um pensamento que pede o riso como aprovação e entendimento. Portanto, se rir ao ver uma charge ou assistir uma comédia implica que há entendimento e concordância, todavia o contrário demonstra que não houve entendimento e se subentende que, por isso, não houve concordância.
Essa atividade não é nova, já na Antiguidade o dramaturgo grego Aristófanes (447-385 a.C.) transformou o respeitado Sócrates (469-399 a.C.), o modelo de mestre para Platão, em um charlatão que corrompia a juventude. Esse comediante grego só reproduziu em suas páginas o pensamento dos sábios de sua época que se incomodavam com a maneira como Sócrates os contatava ignorantes pela ironia[19]. Na literatura trovadoresca, as cantigas de escárnio e maldizer cumpriam o mesmo papel que programas como Pânico e o canal Porta dos Fundos tentam empreender. O direito a liberdade de expressão é muito caro a nossa cultura não pode nos levar a uma libertinagem que exclua qualquer possibilidade de agir com bom senso.
Não estamos defendendo ou endossando nenhum ato terrorista, mas precisamos entender que nos dois lados da arma existem pessoas que avançaram limites por questões ideológicas. Assim como fanáticos islâmicos entraram no Charlie Hebdo com AK-47, outrora e de maneira insistente com lápis em punho satirizaram a religião alheia.
Quem unirá os dois lados dessa para que os futuros encontros não sejam mortais novamente? Paul David Tripp[20], comentando Jo 17.20-23, afirma que Jesus veio ampliar nosso padrão de união. O Mateus, publicano (corrupto que servia aos desígnios de Roma) e Simão, zelote (adepto da ação armada contra Roma) só podem estar no mesmo grupo, porque o modelo de unidade é aquele vivenciado desde pela Trindade. Ninguém pode viver sem um conjunto de ideias pelas quais abordará o seu mundo, portanto, apenas as ideias provenientes da Palavra podem trazer verdadeira união entre o Ocidente e Oriente.




[1] REALE, G; ANTISERI, D. História da Filosofia. Vol. I. São Paulo: Paulus, 1990, p.614.
[2] http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/no-mundo-encantado-de-dilma-e-possivel-negociar-com-terroristas-assassinos-e-hediondos/. Acessado no dia 10 de janeiro de 2015 às 05h10.
[3] JAPIASSÚ, H; MARCONDES, D. Dicionário Básico de Filosofia. 3.ed. Rio de Janeiro:Jorge Zahar Editor, 1996, p.136.
[4] Ibidem, p.136.
[5] http://www.brasileirosmuculmanos.net/brasileiro/viewpage.php?page_id=4. Acessado no dia 9 de janeiro de 2014 às 18h 59.
[6] http://www.ibeipr.com.br/perguntas_ver.php?id_pergunta=7. Acessado no dia 9 de janeiro de 2015 às 18h40.
[7] http://www.ibeipr.com.br/artigos.php?id_artigo=240. Acessado no dia 9 de janeiro de 2015 às 16h55.
[8] http://www.historiadomundo.com.br/arabe/o-fundamentalismo-islamico.htm. Acessado no dia 9 de janeiro de 2015.
[9] Acredito que essa palavra é mal empregado e usada de forma pejorativa, todavia não existe pensamento religiosos sem fundamentos/princípios claros.
[10] Ockham defendia que a teologia não é uma ciência e, por isso, não exercia soberania sobre a teologia, todavia estmos usando sua teoria como uma possibilidade e não como um fato, porque entendemos que uma teologia bem orientada desenvolve-se em uma ambiente científico, porque possui um objeto de pesquisa e desenvolve métodos para aferi-lo.
[11] REALE, G; ANTISERI, D. História da Filosofia. Vol. I. São Paulo: Paulus, 1990, p.615.
[12] http://www.brasileirosmuculmanos.net/brasileiro/o-que-%C3%A9-jihad--a197.htm. Acessado no dia 10 de janeiro de 2015 às 01h19.
[13] http://www.brasileirosmuculmanos.net/brasileiro/o-que-%C3%A9-jihad--a197.htm. Acessado no dia 10 de janeiro de 2015 às 01h48.
[14] MACHEN, J.G. Cristianismo e Liberalismo. São Paulo: Puritanos, 2001, p.18,19.
[15]http://www1.folha.uol.com.br/livrariadafolha/850766-numero-de-muculmanos-ultrapassa-o-de-catolicos-saiba-mais-sobre-a-religiao.shtml. Acessado no dia 10 de janeiro de 2015 às 02h38.
[16] http://veja.abril.com.br/multimidia/infograficos/imigrantes-e-muculmanos-na-europa-de-1990-a-2010. Acessado no dia 10 de janeiro de 2015 às 02h50.
[17]http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=1767877. Acessado no dia 10 de janeiro de 2015 às 02h49.
[18]http://www.conexaoparis.com.br/2015/01/08/por-que-cibla-do-atentado-foi-charlie-hebdo/. Acessado no dia 10 de janeiro de 2015 às 03h24.
[19] A ironia socrática era um conjunto de perguntas que visavam deixar o interlocutor sem respostas e se reconhecer ignorante. Nessa circunstância, Sócrates iniciava o processo de maiêutica no qual ajudava a pessoa a conceber um novo conhecimento.
[20] TRIPP, Paul D. Instrumentos nas Mãos do Redentor. São Paulo: NUTRA, 2009, p. 145,146.

Tenho medo de heróis


Tenho medo de heróis


Na noite dessa última quarta feita (14-03-18), a vereadora Marielle e seu motorista Anderson foram mortos de forma brutal. Há muitas especulações, mas ninguém foi preso. Existem aqueles que tentam capitalizar o capital político que essa morte possa gerar, contudo ela tem se tornado uma heroína, porque ela se enquadra nas características literárias do herói: jovem e morrer no campo de batalha.

Tenho medo de heróis, pois todos, indistintamente, usam máscaras. Não digo aquelas da Marvel, mas são descaracterizados pela mesma turba que os canoniza. Precisam ser desfigurados para que todos se vejam neles. Tem suas falhas e pecados perdoados, posições duvidosas esquecidas, mas, igualmente, deixam de ser pais e mães; maridos e esposas; profissionais, etc. Passam a viver na frieza de uma estátua fadada à imortalidade e ao esquecimento.

Por que o mesmo destaque dado a Marielle não foi dado a Anderson, seu motorista? Foi morto no acaso, para ele não terão estátuas e laureis. Contudo, em nosso país, onde a injustiça reina, ambos serão esquecidos quando as lágrimas secarem e outras evento preencher as mentes e corações.

O grande problema dos heróis é que eles são erigidos a essa distinção com sangue e como estão mortos são obrigados a terem seus discursos escritos e reescritos para servirem o sabor das ideologias da moda. Entretanto a morte deles não faz outra coisa a não ser uma comoção pública, a impressão de camisas a formação de ONGs que defendam seus interesses para além do féretro tragado pela cova que chama a todos os mortais.

Não precisamos de mais um heróis em nosso rico panteão, porque a morte deles é ineficaz sem o frágil sentimentalismo. Todos precisam do Redentor. Aquele cuja morte nos deu vida eterna. Há uma permanente tendência de fazer de Cristo um mero herói e compará-lo a Sócrates ou Tiradentes, mas isso é um absurdo, porque sendo Deus se fez homem mortal para nos salvar, assim como a memória desse feito singular percorreu a história e venceu o esquecimento, mesmo quando a fé cristã foi perseguida, criticada e ironizada. Dessa maneira, Jesus não foi imortalizado, porque existe desde sempre, tudo foi criado por meio dele, assim como sua Palavra resistirá à passagem do céu e da terra.
Sonho com o dia em que não haverá mais a necessidade em que pessoas caiam como heróis. Almejo aquele dia glorioso em que as cabeças laureadas pelas glórias humanas desnudem-se das honras efêmeras para tomar a coroa da vida. Temo aquele dia em que diante do Cordeiro em que até mesmo os heróis serão humilhados pelos seus pecados e, como todos, cotarão tão somente com a misericórdia divina. Nesse dia a justiça e a paz hão de se abraçar.

sexta-feira, 9 de março de 2018

A Síria e a Interpretação das Escrituras


A Síria e a interpretação das Escrituras


Na obra A Bíblia e seus intérpretes, o Reverendo Augustus compara a Palavra ao próprio Jesus, pois assim como nosso suficiente Redentor possui duas naturezas (divina e humana) sem composição, fusão ou confusão, mas plenas e capazes de se comunicarem uma com a outra, a Bíblia é igualmente divina e humana. Como Palavra inspirada de Deus (2Tm 3.16), contém tudo o que é necessário para a glória de dEle e para a nossa salvação. Apresenta uma realidade que está muito além de nossas capacidades e só pode ser atingida pela ação do Espírito Santo na vida do regenerado, pois entre o homem e a Palavra há uma infinita distância natural, espiritual e moral.

A realidade divina da Palavra só pode ser observada pela ação da graça especial, por isso, o ímpio sempre a entenderá de forma tendenciosa, porque parte de traduções que não são inerrantes, assim como de uma linguagem onde o Senhor se acomoda de tal maneira que as línguas nunca esgotarão em seu comunicar o Ser de Deus, o que seria impossível em qualquer aspecto, mas exporão o suficiente para que os eleitos sejam salvos.

A Bíblia partiu de uma inspiração orgânica, ou seja, o Senhor utilizou o vocabulário, a pesquisa e o conhecimento dos autores humanos, mas fez com que tão somente a sua verdade infalível fosse registrada e a preservou até os nossos dias. Contudo o intérprete moderno precisa entender que ela foi confeccionada em outro tempo, contexto, cultura e línguas diferentes daqueles que temos. Esse distanciamento deve ser amenizado pelo estudo histórico e gramatical da perícope a ser interpretada.

O texto fora do seu contexto é uma fonte de toda sorte de absurdos e incoerências. Isso tem acontecido com a má interpretação de Isaías 17 onde algumas pessoas ingênuas ou mal intencionadas têm visto nos três primeiros versículos como se cumprindo na atual guerra da Síria.

Quando estamos diante de uma profecia, devemos entender que elas foram entregues a contextos específicos, tal como em Isaías de 17 fala da aliança siro-efraimita (Síria e Damasco) contra o Reino d Judá em 734 a.C. Podemos ver o desenrolar dessa situação em Isaías 7.1-8.4, assim como 2Reis 16.1-20. Os reis Peca (de Israel, Reino do Norte ou Efraim) e Rezim (rei assírio) unem-se contra o Reino de Judá a fim de interromper a dinastia de Davi e, também, impedir uma aliança entre Acaz (Rei de Judá) com Tiglate-Pileser III (Rei da Assíria). A destruição do Reino do Norte acontecerá em 722 a.C. Salmaneser V (apesar da conquista de Samaria ser atribuída a Sargão II era Salmaneser V que estava no trono) sitiou Samaria por três anos e o Rei Oseias não suportou essa opressão (2Reis 17.5-18). Damasco (capital da Assíria) também subvertida pela investida de Tiglate-Pileser entre 733-732 a.C. Ambas as cidades foram destruídas por causa do pecado em que chafurdavam e ainda mais porque quiserem fazer fracassar a promessa de sempre um descendente de Davi se assentar sobre o trono de Judá (2Samuel 7.16).
Portanto, Isaías 17.1-4 já se cumpriram e, em nada, se referem aos acontecimentos que ocorrem na Síria de hoje e que são desdobramentos da Primavera Árabe. Contudo devemos entender que nada foge à soberania dAquele que faz os pardais cair dos céus e conta todos os cabelos de nossa cabeça. Ele faz absolutamente tudo: luz e trevas, paz e guerras (Isaías 45.7), assim como é Ele que destrona reis e os estabelece (Daniel 2.21). Diante das imagens chocantes advinda da sofrida Síria devemos confiar que podemos não ter todas respostas (Deuteronômio 29.29), mas tudo o que acontece existe pelo conselho da vontade do Senhor (Efésios 1.11).

sexta-feira, 2 de março de 2018

Um terreno coração



Um terreno coração

Nesses dias nossa família começa a se acostumar com a mudança de endereço. O inconsciente não nos leva mais à antiga casa. Mas desde o início deparei-me com um desafio: o fundo da casa, tomado por um mato enorme. Lembrei-me de minha adolescência no Seminário de Ribeirão Preto quando o Padre Walmir reunia a turma para carpir a mangueira ou à tarde de guatambu no Seminário de Jaboticabal. Contudo esse período ficou em um passado remoto de tal maneira que tentava me lembrar de como pegaria na enxada. Mas essa crônica nasceu dessa experiência que ainda está em andamento. Percebo cada dia mais como esse terreno é semelhante ao coração humano.

Primeiro, para que o trabalho fosse menos árduo, contei com a ajuda do nosso irmão Diácono Aramis que passou o mata-mato e permitiu duas coisas: impediu que mais mato crescesse e que o existente morresse. Isso foi crucial, pois, nas minhas limitações, não conseguiria lidar com todo o terreno. Percebi como a graça tem essa ação em nossas vidas. Sem a ação do Espírito Santo estaria como o “eu” de Romanos 7.7-25 “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico” (Rm 7.19). Foi a graça que matou o meu pecado e tem controlado para que meu velho homem não volte, pois morri para que Cristo vivesse em mim (Gl 2.20). Para que Paulo nascesse, Saulo teve que morrer no caminho de Damasco.

Em segundo lugar, com um sentimento de pirofobia vi-me incapaz de partir para milenar coivara, mas diante de um mato que, mesmo morto, estava ali servindo de lugar para proliferação de insetos nocivos decidi que era chegada a hora de tomar a enxada e atingir aquele lugar em que os homens se diferenciam dos meninos. Nessa árdua tarefa, enquanto as meninas se divertiam com pás e rastelos de plástico, entendi que a ação da graça não elimina a minha responsabilidade de andar no Espírito para não satisfazer as concupiscências da carne (Gl 5.16,17). É muito fácil acreditarmos que pelo fato de nossas antigas formas de demonstrarmos nossa inimizade com Deus estarem atenuadas pela graça elas não são um empecilho que precisa ser resolvido. Esperar só faria, com o tempo, um novo mato crescer, por isso, Paulo ao mesmo tempo manda os filipenses desenvolverem a salvação e que Deus opera neles tanto o querer, quanto o efetuar (Fl 2.12,13).

Em terceiro lugar, percebi que existem lugares em que o mato era escasso e até inexistente. Esses espaços são aqueles lugares em que os pedreiros andavam. Os pecados nascem com mais vigor naquelas áreas em que, por medo, vergonha, falso prazer ou orgulho, deixamos sem a devida atenção. Nesses lugares a enxada terá mais trabalho, pois as touceiras estarão mais arraigadas e impropensas a serem arrancadas.

Em quarto lugar, depois do trabalho há um monte de mato e lixo em quantidade que você não imaginava antes de começar. Quando você começar a observar sua vida pela perspectiva divina encontraremos uma enormidade de situações, desejos e tendências que não se afinam a um coração que agrada ao Senhor. A pergunta é: o que fazer com tudo isso? Devemos lançar nosso pecado na cruz do calvário onde eles foram carregados por aquele que apesar de não ter pecado se fez pecador em nosso lugar (2Co 5.21).
O coração do ímpio é um terreno baldio onde a sujeira e a calamidade são evidentes, contudo crente, não pense que a menor intensidade e qualidade de suas mazelas ofendam menos o Deus santo e justo. A diferença entre o terreno do seu coração e o do pecador contumaz esta no fato de que você é assistido pela graça e, por isso, você não deve se conformar nem com a sujeira mais irrelevante, por isso, escrutine seu coração com a enxada da Palavra e da oração para deixa-lo da maneira conveniente àqueles que são chamados de Cristo.

Amigo da verdade, amigo de Jesus!



Amigo da verdade, Amigo de Jesus

A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi emblemática e o que a torna mais interessante é o quanto ela é controversa, pois, ao mesmo tempo, se tem uma torcida favorável pela condenação e outra para que seja absolvido. Contudo existe uma mesma palavra que liga essa massa tão contraditória: justiça. Aqueles dirão que querem ver o referido político preso e, se isso não acontecer, será uma injustiça. Estes dirão que a justiça está em libertá-lo se não pelos fatos em nome da história do que ele fez por esse país. Acredito que o exercício da democracia permite que existam opiniões tão conflitantes convivendo no mesmo metro quadrado.

Existe uma máxima latina atribuída ao filósofo macedônico Aristóteles (384-322 a.C.) “Amicus Plato, sed magis amica veritas”, em uma tradução aproximada, significa: Platão é amigo, mas a verdade é mais amiga. Aristóteles viva em uma época em que o pensamento de Platão era hegemônico e as pessoas eram tentadas a ter Platão e a verdade como equivalentes. Vivemos em uma época muito semelhante a essa. Tanto os apoiadores de Lula, quanto os seus opositores se digladiam no campo dos rótulos e adjetivos, mas, na maior parte das vezes sem argumentos sólidos (o que exigiria leitura e interesse) e o que é pior sem uma vida para respaldar o que falam. Pessoas podem ser importantes por um tempo ou até por uma vida inteira, mas elas não superam o peso da verdade.

Ambos os lados falam de honestidade. Contudo o nível de moralidade da nação não parece aumentar. Cada dia mais, vivemos como aqueles dos Juízes onde cada um fazia conforme achava certo (Juízes 21.25). Quando as normas chegam ao mesmo nível das opiniões pessoais, tudo entra em colapso. O relativismo desenfreado tem nos levado ao colapso, pois urge o tempo em que as pessoas não saberão mais a diferença entre o certo e errado e agirão em conformidade com seus corações corruptos e enganosos.

A verdade não é relativa, pois Jesus se apresenta como “o caminho, a verdade e a vida” (João 14.6). Jesus está respondendo a pergunta de Tomé sobre apresentar o caminho que leva ao Pai. Jesus mostra que esses três elementos são complementares, pois não há como andar por esse caminho sem compactuar com a verdade que emana do Senhor, tampouco não exibir uma vida que destoe daquela proposta pela Palavra. Ninguém pode ir ao Pai sem aderir a esse caminho verdadeiro e vivo, porque, como afirma Carson, Jesus é o caminho que leva ao Pai, porque é a verdade de Deus e a vida de Deus.

Não é lícito ao crente apoiar ou seguir qualquer caminho que ensine contra a Palavra, desdenhe dela ou a tenha como irrelevante. O prazer do cristão está em meditar na lei do Senhor que não pode ser superado por nenhuma efêmera riqueza desse mundo. Não vive a santa verdade apenas quando está sob holofotes, mas suas boas obras são praticadas no silencio de uma humildade que sabe a auto exaltação só leva à vergonha e a ruína (Lucas 18.14).
O Cristão é chamado para ser de Jesus Cristo (Romanos 1.6) e mais ninguém. O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) possuía um imperativo categórico: Age como se a máxima de tua ação devesse tornar-se, através da tua vontade, uma lei universal”. Se o eleito foi chamado para ser santo e irrepreensível (Efésiso 1.4) e o únco caminho para viver dessa maneira é Jesus. As atitudes dos Cristãos deveriam ser praticadas como se traduzissem a vontade daqueles que os resgatou da morte para a vida.

Uma viagem chamada CASAMENTO!



Uma viagem chamada CASAMENTO

Recentemente, fui convidado para impetrar a bênção matrimonial sobre um casal jovem, ambos ímpios, por isso, gastei tempo pensando em uma metáfora pela qual poderia fazê-los entender os detalhes teológicos e práticos desse passo tão importante e, assim, não perder a oportunidade de pregar o evangelho a eles e aos seus convidados. Dessa maneira, a partir de Efésios 5. 21-33 tentei comparar o casamento a uma viagem.

Com certeza, um dos momentos mais empolgantes da viagem é a preparação. Estabelecer a hora, o que levar, o que comer, onde vãos parar, o hotel que nos hospedará. Todos esses preparos nos enchem de sonhos e há um prazer tácito em esperar esses momentos. O mesmo acontece no período de namoro e de noivado. Esse é o tempo do preparo e não da execução. Contudo existem inúmeros jovens queimando essa etapa e começando sem os preparos necessários e que farão falta no caminho.

Primeira decisão a se tomar no começo do trajeto é: quem dirigirá. Acredito que existam muitas mulheres capazes de dirigir muito bem, contudo o esse veículo/família será dirigido pelo homem, porque ele é o cabeça (Efésios 6.22). Essa posição que o homem assume não lhe dá o direito de governar sua casa como um déspota, pois a Palavra irá orientá-lo a tratar sua esposa como a parte mais frágil (1Pedro 3.7) e estar pronto a dar a vida por ela tendo como exemplo o próprio Cristo (Efésios 5.25), tal como não sufocar seus filhos (Efésios 6.4). O fato do homem ser reconhecido pela Palavra como o cabeça indica que cabe a ele a responsabilidade de proteger e nutrir os seus.

A mulher está sentada ao lado do seu marido, geralmente, apontando uma ultrapassagem indevida que ele fez ou uma entrada fundamental que ele negligenciou, a velocidade que deve diminuir. Deus retirou a costela de Adão para dar-lhe auxiliadora idônea (Gênesis 2.18,20). A palavra “idônea” significa estar diante de alguém. A mulher sábia (aquela que teme o Senhor) edifica sua casa (Provérbios 14.1a) confrontando o marido em seus erros e apoiando-o nas lutas justas e piedosas. Imagine de Safira tivesse dissuadido Ananias em sua ambição (Atos 5.1-10)!

Esse carro/família caminha para a glória e, em seu trajeto, as pessoas devem se edificar com seu testemunho cristão. Todos que estão nesse veículo não buscam seu próprio prazer, mas a glória de Cristo, porque, como afirma o Pastor John Piper, o casamento é uma parábola permanente da relação que Cristo tem com a igreja (Efésios 5.32). Existem teólogos, como o citado John Piper, que acreditam que o divórcio só seria possível se Cristo se divorciasse da igreja. Jesus não compactua de que qualquer motivo seja válido para o divórcio, mas o adultério seria capaz de quebrar essa aliança pública que o casal fez com Deus. Paulo acrescenta a incompatibilidade irremediável entre o marido e a mulher (1Coríntios 7.15).
O casamento foi criado para que homem e mulher fossem colados de tal maneira que as intempéries e prazeres pessoais não seriam capazes de separá-los (Gênesis 2.24). Contudo o pecado, a falta de preparo e o egoísmo são obstáculos que a igreja precisa levar em consideração.

Tempus Fugit



Tempus Fugit

Ontem estava vendo fotos antigas. Daquela época em que se revelavam filmes de 24 ou 36 poses que eram guardados em álbuns preciosos. São como cápsulas do tempo que mostram como fomos magros ou menos gordos, como alguns que ostentavam cabelos ao vento, hoje, uma cabeça brilhante. Mostra pessoas que foram importantes, mas que passaram, outras, que apesar de completamente pertinentes, utilizando o eufemismo do poeta Manuel Bandeira “dormem profundamente”. Mostra como nosso sorriso ingênuo e confiante foi substituído, aos poucos, por uma face menos flexível e amadurecida.

Uma das definições mais interessantes sobre o tempo é do autor afegão, Khaled Hosseini, em A Cidade do Sol, “o tempo é o mais inclemente dos incêndios” (p.161). Assim como o fogo devasta tudo, igualmente, ninguém pode fugir dos rigores nefastos do maquinário do relógio. Sulca nossa face, encanece os cabelos que restam, tira nossas moedeiras e esvai nossa força (Ec 12.1-5) com tanta sutileza que só nos sentimos roubados na falta da força, da visão, do vigor dos dias de antes.

Mexendo nos meus álbuns velhos percebi que as pessoas são perecíveis e logo vão embora. Moisés compara nossa vida à relva que pela manhã floresce, mas, à tarde, está seca e precisa ser cortada pela manhã (Salmo 90.3-5). Calvino, comentando o Salmo 90, afirma que “os homens estupidamente se gloriam de sua excelência, visto que, quer queiram quer não, são constrangidos a olhar para o tempo por vir e, tão logo abrem seus olhos, percebem que são arrastados e apresentados à morte com incrível rapidez, e sua excelência em um instante se desvanece”. Precisamos de forma urgente entender que as coisas são infinitamente menores do que as pessoas. É inevitável que as pessoas partam, mas é uma escolha contínua se vamos nos lembrar delas pela ótica do remorso ou da saudade.

Percebi que muitos dos meus sonhos e dos meus medos ficaram naqueles tempos. Salomão nos mostra que ao ser humano foi concedida a capacidade de planejar, entretanto, é o SENHOR quem dá a palavra certa. (Pv 16.1). Frequentemente, somos tentados a negligenciar os prazeres eternos para chafurdarmos em alegrias efêmeras que nada mais são do que o usufruir as bênçãos de Deus da maneira errada, no tempo inoportuno com pessoas volúveis. Vivemos em um mundo caído onde, continuamente, temos medo, contudo, tal como os amigos de Daniel (Dn 3.18), teremos maior medo de ofender a Deus que aos homens (Mt 10.28; At 4.19).

As pessoas e eu mudamos, mas Jesus é o mesmo sempre (Hb 13.8). Continuamente, apegamo-nos a coisas que mudam, deterioram-se e acabam e quanto mais nossos corações estiverem ligados a esses bens tanto mais será nossa decepção, pois Jesus afirma que onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração (Mt 6.21). Servir a Deus e ao mundo sempre é uma tarefa desastrosa (Mt 6.24).
Depois da queda o tempo não serve apenas para marcar os dias, mas também a nossa deterioração, contudo entre as muitas criações que Deus legou ao homem o tempo é uma delas, por isso, não é à toa que Paulo pede para que aproveitemos ao máximo (compremos) as oportunidades (o tempo), porque os dias são maus (Ef 5.16). Hendiksen defende que o cristão necessita usar o seu tempo de maneira adequada, ou seja, mostrando por meio de suas vidas o evangelho de Deus. Oxalá que nas fotos de outrora vejamos em nós um coração desprendido e inteiramente devotado a fazer a vontade do Senhor mesmo que as circunstâncias não sejam as mais favoráveis.

A fuga da mediocridade



A fuga da mediocridade

Dietrich Bonhoeffer (1906-1945), nos anos de Barcelona, em 1928, afirma aos jovens em uma palestra: “o cristianismo oculta em si um gérmen à igreja”. Esse pensamento pode nos soar quase que herética, porque parece que anula e combate o valor da igreja. Contudo não foi isso que a última vítima de Hitler quis dizer. Contudo mostra que a vivência religiosa pode colaborar para uma autêntica vida cristã, mas pode oferecer os subsídios que falsos crentes se utilizam para mascarar suas mais terríveis mazelas em um cristianismo artificial e legalista.

Sem dúvida nenhuma, a igreja, como agência do céu, tem um papel fundamental na formação do crente, contudo os Fariseus, o “Eu” de Romanos 7.14-25 e o Jovem Rico sabem que todo o tesouro que a igreja pode oferecer, separado de um coração regenerado e sincero, é desperdiçado pela vaidade e desejo de glórias humanas (Veja Lucas 18.10-14; Romanos 7.24 e Lucas 18.23). Dessa maneira, vemos uma tendência à mediocridade no sistema religioso que só pode ser combatido pela Palavra pregada e vivida com fidelidade, o que chamamos de Reforma.

A mediocridade é a busca pelo mediano, pelo meramente satisfatório. Será que se essa fosse a têmpera dos mártires teriam dado a vida pelo Evangelho? Tampouco lhes seria requisitado o sangue, porque o cristão medíocre prima por não viver o Evangelho além das paredes da igreja e, por isso, não causa grande impacto, nem destoa tanto assim do mundo ao seu redor.

Esse degenerativo estado de mediocridade leva aquilo que Bonhoeffer chamou de graça barata, ou seja, qualquer obediência que esteja aquém daquela que deve ser dada só a Deus. O crente, nesse estado de letargia, esquece-se do imperativo que Jesus lhe deu: “fazei discípulos” (Mateus 28.19) e só desperta desse vil torpor acordado pela “teologia do martelo”, ou seja, quando os princípios da Palavra são evidenciados e exigem uma postura radical. Um cristão letárgico e entocado em convicções medianas e legalistas provavelmente, em um primeiro momento, pode entender a fiel exposição da Palavra como um acinte, mas todo aquele que é acordado repentinamente só não fica irritado se os motivos que o levaram a despertar são justificados. O mundo urge pela pregação genuína.
Portanto, apesar de muitos crentes decantarem nos momentos calmos a regiões medíocres de cristianismo, contudo esse conforto pode esconder uma falsa piedade cheia de ritos e regras, mas sem o coração contrito e compungido.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Lux Aeterna

Lux Aeterna



Nessa semana, fomos desafiados por nosso maestro, o irmão Jessé, a ouvirmos a música Lux Aeterna (Luz Eterna) do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791). Essa é uma canção de singular beleza que ouvir faz, no mínimo, bem ao ouvidos. Contudo gostaria de tecer algumas considerações sobre sua letra e contexto dessa bela canção.
Lux Aeterna compõe uma obra maior de Mozart: o sinistro e lendário Requiem, que nada mais é do que as músicas que serão cantadas em um ofício fúnebre.
Mozart nasceu em uma família de músicos e, como gênio, aos cinco anos já tocava e compunha chegando a ganhar um pequeno salário na igreja do Arcebispo de Schrattenbach. Há quem diga que o Requiem fora encomendado pelo músico italiano medíocre Antônio Salieri (1750-1850) que era o compositor oficial do arquiduque José II da Austria e que possuía uma rivalidade com o prodigioso compositor de Salzburgo. Outros dizem que um enviado do conde de Walsegg-Stuppach que perdera sua esposa encomendara no anonimato.
A realidade é que essa foi a última composição desse notável músico. Escrita em Ré Menor, mas que Mozart não conseguiu finalizar. Antes de sua morte prematura atribuída por alguns a um envenenamento provocado por Salieri, outros ao amante de sua esposa, mas, recentemente, a Universidade de Amsterdã constatou que esse gigante morrera de uma infeção de gargante que se espalhou afetando os seus rins. Quem finalizou o Requiem, inclusive Lux Aeterna, foi seu discípulo Franz Xavier Süßmayr (1766-1803).
Mozart foi ligado toda a sua vida a seita Romana. A morte lhe era um tema que misturava medo e atração. Lux Aeterna compõe as músicas de uma missa romana dedicada aos mortos. De fato, a intenção da música e a cosmovisão em que foi desenvolvida é fruto da heresia da seita romana que insiste em orar por aqueles que partiram. Contudo isso não atenua a sua beleza, muito menos nos impede de extrair dela algo a fomentar nossa reflexão.
Na Missa Romana, o Lux Aeterna encontrava-se no momento em que as pessoas se levantavam para participar da Ceia e ela é uma oração que roga que Deus dê a luz eterna ao que morreram confiando na misericórdia do Senhor. O grande erro da música está em acreditar que Deus possa rever seus decretos elegendo o ímpio que rejeitara antes da fundação do mundo. O Senhor não muda de ideia e seus decretos emanam de sua suprema perfeição.
Todavia há uma ideia verdadeira que se sobressaia até mesmo à idolatria e à heresia: a necessidade de uma luz eterna.
Moisés afirma que “a terra estava sem forma e vazia, havia trevas sobre a face do abismo” (Gênesis 1.2). A luz foi a primeira providência do Criador para dar forma ao informe, ordem (cosmos) à desordem (caos) e a primeira providência para dar encher o que estava vazio foi criar luzeiros: o sol para governar o dia e a luz para presidir a noite. Dessa maneira, percebemos que o natural era o caos e as trevas e que a ordem e a luz têm como fonte a graça.
Mesmo antes de Adão pecar luz e trevas alternavam-se, contudo, na sua infinita sabedoria, Deus fez que um amontoado rochoso branco fosse preso a terra pela gravidade. Apenas o Criador poderia calibrar o força gravitacional de tal maneira que a lua estaria sempre caindo, contudo sem ser tão pesada que caísse na terra e nos esmagasse e nem tão leve que se perdesse na imensidão do espaço, mas presa por esse miraculoso laço reflete a luz solar em nossas noites para nos advertir que a luz resplandece nas trevas.
O sol e a lua funcionaram como parábolas que apontavam para Jesus Cristo, o sol nascente que veio das alturas nos visitar (Lucas 1.78), uma luz que as trevas não podem prevalecer (João 1.5) e que erradia seu esplendor de tal maneira que aqueles que creem nele não andam nas trevas (João 12.46).
Se essa luz que emana de Jesus já irradia os crentes e os faz ter uma vida diferente (1João 2.9) agora, enquanto esperamos a “liberdade da glória dos filhos de Deus” (Romanos 8.21), muito mais quando o Senhor vier com novos céus e nova terra. João afirma que o Cordeiro será uma lâmpada tal que não será mais necessário nem o sol nem a luz, assim como sua luminosidade extinguirá a própria noite (Apocalipse 21.23-27).
A noite sempre inspirou medo no homem, pois o deixa cego e a mercê de perigos mortais. Até mesmo o ímpio Mozart em seu desespero diante da morte e sua angústia nas adversidades da vida sentia que era necessário o findar da noite. Então podemos dizer, amparados nas Escrituras, ó noite, teu lugar terá um fim. Aquele que criou a luz há de destruí-la naquele glorioso dia quando os eleitos verão a Luz Eterna que é o própria Jesus Cristo.

A ÁRDUA TAREFA DE SE RELACIONAR COM PESSOAS DIFÍCEIS

A árdua tarefa de se relacionar com pessoas difíceis



Existe um provérbio português que diz: “o ataque é a melhor defesa”, que defende a demonstração hostilidade é uma atitude protetiva a qualquer problema que outras pessoas possam nos ocasionar. Contudo, se mostramos agressividade às situações que não acontecerão que dirá daquelas que fatalmente se efetivam? Dessa maneira, como reagir diante do mal? Diante da hostilidade alheia, como responder? Como reagir diante de uma atitude que me prejudicou?
A terceira lei de Newton afirma que toda ação tem uma reação aposta e em igual intensidade. Naturalmente dentemos a responder o bem o com o bem e o mal com o mal na proporção em que fomos atingidos. Acreditamos até pelo fato de sermos prejudicados temos o direito de agir de igual forma. Contudo essas propostas não passam pelo crivo das Escrituras, pois Paulo nos orienta de forma inspirada: “a ninguém torneis mal por mal; procurai as coisas dignas, perante todos os homens” (Romanos 12.17).
No capítulo 12, desde o versículo 9, Paulo está tratando de virtudes cristã e entre elas apresenta a virtude de não pagar o mal com o mal. A ideia de de Paulo é que o cristão, diante de uma atitude alheia que o prejudicou não tem o direito, aparentemente, natural de responder na mesma moeda. O Apóstolo dos Gentios está repetindo a ideia do Mestre em Mateus 5.43-45.
Jesus afirma: “Ouvistes que foi dito: Amarás ao teu próximo, e odiarás ao teu inimigo”. Essa é uma referência a Levítico 19.18 e Jesus não tem como objetivo criticar a lei, mas mostrar como ele veio dar pleno cumprimento a ela (Mateus 5.17). Os comentaristas bíblicos Beale e Carson mostram que Jesus proclama uma nova ética que não está restrita aos padrões de um país, mas tornam-se universais. Jesus não está flexibilizando os padrões da lei, mas tornando-os mais rígidos, pois obriga a transcender as meras aparências e estabelecer uma vida completamente comprometida com o evangelho.
Se nos parece habitual odiar nossos inimigos, amaldiçoar os que me perseguem, mas os imperativos de Jesus são outros e só podem ser levados a efeito pela graça, pois ordena a amar nossos inimigos e bendizer aqueles que nos amaldiçoam. Esse ensino estava presenta até mesmo no Pentateuco (Êxodo 23.4,5).
O motivo dessa conduta é “para que vos torneis filhos do vosso Pai que está nos céus” (Mateus 5.45). Cuidado! Jesus não está dizendo que nos tornamos filhos de Deus a partir daquilo que fazemos. Nossa adoção se deu pela graça e soberania de Deus (Veja João 1.11-14; Romanos 8.15; 9.4; Gálatas 4.5; Efésios 1.5). Contudo nossa atitude frente aos nossos inimigos e àqueles que nos amaldiçoam evidenciam nossa filiação, pois os filhos tendem a imitar seus pais e nosso Pai celestial “faz nascer o seu sol sobre maus e bons, e faz chover sobre justos e injustos” (Mateus 5.45b).
Conviveremos com pessoas difíceis na maior parte do tempo. Quase nunca seremos correspondidos em nossas expectativas. Temos dois caminhos: aquele oferecido pelo mundo o que implica praticar o mal e amaldiçoar ou o proposto pelas Escrituras, pautado pela oração e ver o lado bom das pessoas. Neste caminho há graça, naquele armas e sofrimento.