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terça-feira, 21 de junho de 2016

A inevitável servidão


A INEVITÁVEL SERVIDÃO
“Serão seus servos, para que conheçam a diferença entre a minha servidão e a servidão dos reinos da terra” (2 Crônicas 12.8)
Essa é a Palavra do Senhor, por meio do profeta Semaías, que concluiu todo um processo de disciplina ao rei Roboão e todo Judá.
Roboão, filho de Salomão, que reinou de 932 a 916 a.C. e fez o que era mau perante o Senhor (1Reis 14.22), pois quando fortaleceu sua realeza e estabeleceu seu governo, com seus filhos, deixou a lei de Deus (2Cr 12.1). Esse afastamento não se deu com a mera omissão aos deveres religiosos, mas construiu ídolos e permitiu que homens exercessem prostituição religiosa em Judá, prática comum entre os pagãos para aumentar a fertilidade da terra, contudo condenada pela Lei Sagrada (Dt 23.18).
O professor Mário Sérgio Cortella, citando Guimarães Rosa, diz que o “animal satisfeito dorme”, ou seja, os dias sem tribulação, quando nossos empreendimentos se estabelecem, são os que deveríamos ficar mais atentos, pois, nessas circunstâncias, estamos susceptíveis a constatação do rei Agur, o farto de muitos bens pode dizer: “quem é o SENHOR?” (Pv 30.9)
Diante do desvio de Roboão e de seus filhos o Senhor suscitou, no quinto ano do seu reinado, Sisaque, rei dos egípcios (1Reis 14.25) contra Jerusalém. Diante do sofrimento, há duas atitudes possíveis: a murmuração ou o lamento. Aquela é o reclamar constante elegendo Deus ou o destino como culpado pelos seus problemas; este começa com uma confrontação com o sofrimento que se assemelha à murmuração, mas, geralmente (porque os Salmos 44 e 88 acabam sem ação de graças), acabam com ação de graças.
Diante da exortação do profeta Semaías “vós me deixastes a mim, pelo que eu também vos deixei em poder de Sisaque” (2Cr 12.5). Diante dessa orientação, humilharam-se em seus corações e o Senhor lhes proveu livramento, mas com a condição “serão seus servos, para que conheçam a diferença entre a minha servidão e a servidão dos reinos da terra.” (2Cr 12.8).
Esse versículo mostra a nossa condição diante da liberdade, palavra pequena, mas que desenvolve sonhos e revoluções. O homem quer ser sempre cada vez mais livre. Mas ele consegue? Sempre está preso a algo e sempre está dando explicações a alguém. O jovem que se irrita com a intransigência dos pais logo está se resignando aos ditames de um patrão, que lhe dá ordens sem amor.
De fato, a liberdade não é absoluta de tal maneira que possamos fazer o que quisermos sem dar satisfação a alguém, tampouco será nula a ponto de sermos títeres nas mãos do Senhor. Roboão foi livre para abandonar o Senhor guiando-se pelos desejos pecaminosos de seu coração radicalmente depravado. Todos nós estamos susceptíveis a essa mesma realidade, pois “aquele que pensa estar de pé, olhe para eu não caia” (1Co 10.12), contudo saibamos que o Senhor está no controle de todas as coisas e tratará de nossa alma adequadamente.
Assim como o paciente, leigo na medicina, não compreende o tratamento, assusta-se com os procedimentos e irrita-se com a dor que eles provocam, mas submete-se a eles, porque confia no médico, muito mais nós diante dos sofrimentos dessa vida deveríamos suportá-los, porque confiamos no Deus que temos.
O Senhor ensina, em primeiro lugar a Roboão, que existem dois Reinos: o dEle e o da terra e não se pode deixar de servir pelo menos um deles. A palavra utilizada no hebraico עֶבֶד êbed tem o sentido de escravo. Paulo se apresenta aos Romanos “Paulo, escravo de Jesus Cristo[...]” (Rm 1.1).
Nascemos escravos do mundo e, por um milagre bendito passamos a servir a Deus. Vamos ilustrar da seguinte maneira: o peixe é escravo das águas e o homem do ar. Se colocarmos o peixe em contato com o ar ele morrerá, assim como o homem, sem os equipamentos necessários e por um tempo prolongado, imerso não resistirá igualmente. A nossa conversão (servirmos exclusivamente a Deus, por meio de Jesus Cristo, nosso suficiente salvador) é tão miraculoso quanto um homem passar a viver nas águas e um peixe viver, tranquilamente, fora dela.
O ímpio tem prazer em servir o mundo e suas concupsciências, porém aqueles que servem a Jesus Cristo só poderão fazê-lo, porque, apesar de mortos em seus delitos e pecados foram vivificados pelo poder regenerados daquele que venceu a morte e nos deu a vida eterna (Ef2.1). Dessa maneira Jesus diz em sua oração sacerdotal que os seus discípulos estavam no mundo, mas não era do mundo (Jo 17.16).
O Cristão vive no meio de um mundo que jaz no maligno (1Jo 5.19) e o amor está se esfriando (Mt 24.12) como pode viver sem chafurdar na lama do pecado? Reverendo Boanerges Ribeiro ilustra essa realidade mostrando que o peixe marinho, apesar de estar em águas salgadas, o sal não penetra em sua carne de tal maneira que se não for temperado com sal sua carne ficará insossa para o consumo. Somos influenciados pelo pecado do Éden até aqui e apenas no céu ficaremos livres dos resquícios desse peso que atrapalho o nosso correr para Cristo, contudo enquanto o ímpio peca e sente orgulho de seu procedimento, aquele que teme o Senhor arrepende-se e muda de vida, mesmo com luta constante.
O Senhor ensina a Roboão, em segundo lugar, que não há como servir ambos os reinos. A história diz que Dom João VI tentou se submeter a inglês e franceses e quando teve que tomar um partido fugiu para as terras brasileiras. Contudo, com Deus, não se pode agir assim, porque não há um só lugar no mundo, uma polegada sequer na criação que não esteja no controle do Criador, por isso, não se poder servir a Deus e ao mundo.
Jesus explica que “ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24). Servimos o mundo e as aparentes riquezas dele quando andamos ansiosos pelo que haveremos de comer, beber ou vestir. Ninguém está em posição favorável para saber como será o futuro. Não há quem possa se regalar com a vida que leva sem se preocupar com as tribulações, tampouco se desesperar com as circunstâncias adversas como se elas nunca fossem passar. Em ambas as ocasiões, precisamos saber que o senhor está no controle, deixando para cada dia o seu próprio mal (Mt 6.34).
Você concorda comigo? Isso é bom, porque com o aquele que não conhece a Jesus não é assim, seu deus é o seu próprio ventre (Rm 16.18) e acredita que pelo muito pesar e se preocupar pode aumentar sua vida.
Em terceiro lugar, o Senhor ensina a Roboão que há uma diferença entre esses dois reinos. Quando alguém persegue a necessidade do ar? Quando em uma crise de asma ele lhe falta. Quando alguém atenta pela preciosidade da água? Quando, em uma seca, ela começa a ser racionada. Pelo motivo de tanto o ar e a água serem bênçãos ordinárias, ou seja, que nos são oferecidas continuamente, não nos importamos que ambos sejam poluídos. O mesmo acontece com as bênçãos celestiais, porque nos atingem ordinariamente nos esquecemos delas. Nesse esquecimento, tal como Roboão, podemos cochilar em nosso zelo para com a Palavra de Deus e na observância do amor, o maior dos dons. A idolatria e os pecados mais perniciosos nascem esse se desenvolvem adubados pela esquecimento da providência divina. Contudo, por meio de Semaías, Roboão é alertado ao fato de que a diferença entre o Reino de Deus e o Reino da terra está na misericórdia.
O avô de Roboão, Davi, quando teve que escolher uma punição para o pecado de convocar um senso (1Cr 21.12) pernicioso poderia escolher entre três anos de fome, três mês na mãos dos inimigos ou três dias nas mãos de Deus. O Filho de Jessé escolheu a última alternativa, porque o Senhor é mais misericordioso do que os homens (1Cr 21.13). O Filho pródigo só reconheceu a maravilha que era seu lar quando lhe é negado até mesmo a comida dos porcos (Lc 15.15-17).
Portanto, saibamos que existem dois Reinos o de Jesus Cristo e o do mundo, este reino oferece mil recompensas, mas que só têm valor nessa terra, enquanto o Senhor daquele Reino afirma que aquilo que for necessário (como comer, beber e vestir) nos será acrescentado (Mt 6.33).
Não há como encontrar um lugar confortável sobre o muro. Lembremo-nos de Zaqueu que para visse a salvação entrar na sua casa precisou descer da árvore, receber Jesus e buscar uma nova vida.
O senhor desse mundo é um mentiroso (Jo 8.44), iludiu nossos primeiros pais no Éden e quer nos enganar. Promete, como fez ao próprio Cristo, pão, riquezas e poder, mas não pode conferi-las a ninguém. Jesus subiu ao madeiro no nosso lugar e pagou a nossa dívida de morte.

Sirvamos o Senhor Jesus Cristo com todo o nosso viver e teremos um céu já nessa terra e esperamos ele pleno junto do Senhor.

sexta-feira, 17 de junho de 2016

A FALSA MORAL


A FALSA MORAL
“Salomão fez subir a filha de Faraó da Cidade de Davi para a casa que a ela edificara, porque disse: Minha esposa não morará na casa de Davi, rei de Israel, porque santos são os lugares nos quais entrou a arca do Senhor” (2 Crônicas 8.11)
A discussão moral parece abstrata e aqueles que se dedicam a essa matéria podem ser taxados, pejorativamente, de moralistas, porque se confunde moral com falsa moral. Contudo a pergunta sobre o que é certo e o que é errado é sempre pertinente, contudo para respondê-la se faz necessário considerar: certo ou errado em relação a quê?
Existem duas maneiras de responder a essa questão: uma proposta absoluta e outra relativista.
A primeira é admitir a existência princípios absolutos (ética das virtudes). Nessa alternativa, o certo é aquilo que se adequa a esses padrões pré-estabelecidos. Na Grécia, Aristóteles (384-322 a.C.) era defensor dessa ideia afirmando que um padrão ético é aquele que desenvolve melhor as virtudes de um indivíduo. Contudo o Filósofo de Estagira acreditava que, para que essas virtudes se desenvolvessem de maneira adequada, se fazia necessário vir das classes mais abastadas.
A segunda é considerar que os padrões são relativos (ética das consequências). Essa vertente parte da ideia do filósofo Maquiavel (1469-1527) na qual os fins justificam os meios. Essa ideia consequencialista se pauta ou pelo pragmatismo, firmada no filósofo americano John Dewey (1859-1952), na qual o certo é aquilo que dá certo ou no utilitarismo de Start Mill (1806-1873), em que o certo é aquilo que proporciona o maior número de pessoas felizes.
Partindo do pressuposto de que casamentos sempre foram utilizados para alianças políticas entre os governantes do mundo ao longo da história. Em sociedades em que a poligamia era praticada muitos casamentos proporcionavam mais e mais aliados políticos. Salomão, tomando a filha de Faraó, está fazendo um “amigo” político importante para Israel. Dessa maneira, avaliando o casamento de Salomão pela ética das consequências, os fins eram benéficos (utilitarismo) e evitavam um perigoso inimigo militar (pragmatismo). Entretanto esses parâmetros garantem a legitimidade das atitudes humanas inclusive as nossas?
Percebemos nesse versículo que a ética das virtudes moldada pelos padrões judaico-cristãos identifica que existem padrões universais, claramente expostos na Palavra, os quais devem ser obedecidos não para alcançar a felicidade (como afirmava Aristóteles), mas para a maior glória de Deus. Nessa perspectiva, Paulo afirma aos Gálatas “já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl 2.20).
Se administrarmos nossa conduta por uma via relativa precisaremos anestesiar nossa consciência, invalidar a Palavra e buscarmos uma vida de alternativas, pois diante da verdade que está na revelação específica do Senhor o certo é legitimado pela Palavra, está em harmonia com a consciência e não precisa de arranjos legais para existir.
Salomão fora o mais sábio dos Reis (1Rs 3.12), estando abaixo apenas do Senhor Jesus (Mt 12.44), contudo afirma: “o temor do SENHOR é o princípio do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino” (Pv 1.7). O Terceiro Rei de Israel sabia, por meio de Deuteronômio 7.1-4, que o povo de Deus não contrairia matrimônio, tampouco dar em matrimônio seus filhos às nações que o Senhor expulsou do meio deles.
O Novo Testamento adverte sobre o perigo do jugo desigual: “não vos ponhais em jugo desigual com os incrédulos; porquanto que sociedade pode haver entre justiça e a iniquidade? (2Co 6.14). Vemos esse perigo na vida do rei Salomão, porque teve seu coração pervertido pelas mulheres ímpias com as quais contraíra casamento de tal maneira que seguiu Astarote o deus dos Sidônios, ergueu santuário a Quemos, deus do Moabitas. Quando jovens começam relacionamentos em jugo desigual e se dizem sábios e conscientes de maneira que o namoro não interferirá a intimidade que têm com Deus, deveriam se recordar do exemplo desse sábio rei de Israel.
Portanto, parafraseando o Salmo 119.9, de que maneira o homem guardará puro seu caminho? Observando o seu caminho, sua vida, sua conduta (mesmo as menores) segundo a Palavra de Deus.
Aquele que é infinitamente maior do que Salomão, cumpriu cabalmente toda a lei subindo até o madeiro e, por isso, por meio dEle e apenas por meio dEle podemos cumprir a vontade de Deus e agradá-Lo.
A filha de Faraó estava há algum tempo na casa de Davi, onde o rei de Israel morava. O convívio com essa princesa revelou suas práticas pagãs, as quais vieram de encontro aos princípios que aprendera com seu pai. Como nossa consciência nos atormenta diante daquilo que não se afinou aos termos da Palavra. Contudo a mesma razão que vê a incompatibilidade da Palavra com nossa conduta ou com o procedimento alheio, por ser influenciada pelo pecado, começa a arrumar desculpas baseadas no merecimento ou na necessidade para que a consciência se adeque àquela situação, mesmo que ela não se coadune com a vontade do Senhor.
Tiago afirma que “cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai (a ideia da palavra grega ἐξέλκω - exelko é de colocar uma isca para o peixe) e seduz.” (Tiago 1.14). A cobiça de Salomão o levou gradativamente a uma vida de maior pecado e abandono do Senhor, por isso, o Senhor retira-lhe dez tribos e dá a Jeroboão (que no reinado de Roboão, seu herdeiro, serão o Reino de Israel ou Reino do Norte ou Efraim).
Aquele que é maior do que Salomão, apesar de ser igual a nós em todas as coisas se diferenciava por não pecar (Hb 4.15), por isso, mesmo sendo tentado no deserto por satanás pela fome, pelas riquezas ou pelo poder soube ser fiel. Resistiremos a todas as tentações em Jesus, por nenhuma delas é sobrenatural e teremos o devido escape do Senhor (1Cor 13.10).
Salomão ao invés de romper com o pecado e as aparentes vantagens que ele parecia proporcionar, passa a conviver com ele e começa a arrumar subterfúgios legais para essa união impossível de santidade e impureza. Ele sabia que deixar sua esposa vivendo em Israel tão próxima da arca do Senhor não era apenas perigoso (lembremo-nos de Nadabe e Abiú), mas indecente, por isso, ele tem uma ideia infantil construir um palácio fora de Jerusalém como se o erro estivesse baseado em um lugar ou em uma cultura. O que é errado é errado dentro ou fora da igreja, porque Deus domina sobre todos os lugares.
Geralmente, uma vida parcial com Deus se exterioriza em escrúpulos artificiais que caracterizam a falsa moral. Para Salomão retirar sua esposa de Jerusalém era uma grande obra, mas indicava apenas como ele estava sendo atraído e seduzido pelo pecado e como caminhava, mesmo sem perceber, para a morte (Tiago 1.15).
Aquele que é maior que Salomão jamais fez conchavas com o pecado. Quando os escribas e fariseus levam a Jesus uma mulher surpreendida em adultério. O Senhor não disse que seria ilícito matá-la como a lei pedia (mesmo que essa prática não fosse mais utilizada na Palestina dominada por Roma), mas os orienta a ver se não eram tão pecadores como ela, tampouco tem uma postura flexível quanto a moral, mas ordenou “vá e não peques mais”.
Portanto, a partir de Jesus Cristo vemos a perfeita conduta que segue a Palavra até as últimas consequências, que vive aquilo que prega e que jamais negociou a verdade para benefícios temporais.


quinta-feira, 16 de junho de 2016

Os problemas de Mical



Os problemas de Mical

“Ao entrar a arca da Aliança do SENHOR na Cidade de Davi, Mical, filha de Saul, estava olhando pela janela e, vendo ao rei Davi dançando e folgando, o desprezou no seu coração” (1 Crônicas 15.29).

Mical era a filha mais nova de Saul e foi dada em casamento a Davi para saldar a dívida com aquele que matara o terrível Golias ao invés de Merabe – a mais velha. Por ela, dera um dota a Saul de cem prepúcios filisteus (1Sm 18.27). Contudo esse casamento, que parecia selar uma união definitiva entre os dois primeiros reis de Israel foi maculado pela ira cega de Saul, que percebia se cumprir a profecia de Samuel: “o Senhor rasgou, hoje, de ti o reino de Israel e o deu ao teu próximo, que é melhor do que tu” (1Sm 15.28).

Mical amava Davi (1Sm 18.20) e chega a salvá-lo de seu pai (1Sm 19.12). Apesar do amor que nutria por aquele bravo guerreiro que, como as mulheres cantavam, matara dezenas de milhares (1Sm 18.7), não o acompanhou nem na fuga, tampouco depois. Como parecia abandonada foi dada a Palti, quando Davi já tinha se casado com Abigail (mulher de Nabal). Todavia, ao fazer aliança, com Abner exige a devolução sua primeira esposa.

Davi está introduzindo, em extrema alegria a Arca da Aliança em Jerusalém, e esse estado é justificado, porque havia feito uma tentativa frustrada de retirar a Arca de Queriate Jearim, onde ficara por vinte anos na casa de Aminadabe, Eliézer, Aiô e Uzá, mas por querer fazer de forma equivocada, pois ao invés de transportá-la com vara como mandava a Lei (Êx 27.7), mas com carros de bois como fizeram os Filisteus (1Sm 6.10-12). Essa tentativa foi desastrosa, porque terminou com a morte de Uzá, que foi fulminado tentando segurar a Arca quando os bois tropeçaram (2Sm 6.6-8). Nessa segunda tentativa, buscou agir sem inovações, mas conforme a Palavra e teve êxito. Isso produziu em seu coração grande alegria.

Não nos enganemos de que nossa comunhão com o Senhor é vista por todos. Nossa satisfação no Senhor é vista por muitas pessoas como irracional e digna de desprezo. A genuína vida cristã é claramente compreendida apenas por aqueles que compartilham dela no Espírito Santo, ou seja, aqueles que tiveram seus corações abertos pelo milagre da regeneração. Os demais indivíduos se contentam com uma religiosidade cheia de distinções e limites preestabelecidos e estão prontos a condenar os supostos excessos como fanatismo ou loucura.

Mical é uma mulher amargurada que se apaixonou muito mais por uma ideia do homem que Davi seria do que por quem ele realmente era. Uma mulher se apaixonou pelo guerreiro ou por um rei forte, mas descartou o melhor daquilo que Davi era. Ela despreza Davi por causa de três problemas: teológico-arrogância, social-orgulho e pessoal-inveja.

O problema teológico da Primeira esposa de Davi se dava na falsa crença de que sua adoração era um “gloriar-se” e um “descobrir-se, revelar-se” indigno a um Rei, pois no seu sarcasmo afirma: “Como se cobriu de glória o rei de Israel, descobrindo-se à vista das servas dos seus ministros, como faria um palhaço qualquer” (1Sm 6.20). Lembremo-nos de que seu pai, Saul, não era conhecido por sua piedade. Era algo improvável estar entre os profetas (1Sm 10.12), não consegue esperar Samuel para oferecer o sacrifício, o que lhe era vedado fazer (1Sm 13.10-13), tampouco foi capaz de obedecer a ordem se dizimar tudo em Amaleque (1Sm 15.10-16). No final da vida, consulta uma necromante (ou medium) para de alguma maneira se orientar o que o faz mais condenável (1Sm 28, veja a proibição Lv 19.31; 20.6,27; Dt 18.11). Cuidado! Não estou defendendo de que as crianças são uma continuação dos pais, reconheço, como a Palavra, que alma que pecar essa morrerá (Ez 18.4), mas muito de nossa formação ou deformação é influenciada pela educação familiar.

Esse testemunho duvidoso de religião foi oferecido a Mical desde a mais tenra idade. Foi lhe transmitida a ideia enganosa de que os desejos do Rei regulavam até mesmo o culto. Davi entende diferente: “perante o SENHOR, que me escolheu a mim antes que teu pai e toda a sua casa, mandando-me que fosse chefe do povo do SENHOR, sobre Israel, perante o Senhor tenho me alegrado e mais desprezível me farei e me humilharei aos meus olhos e, quanto às servas, de quem falaste, elas serei honrado” (2Sm 6.21,22).

Davi entende que ele, por ser Rei, não era melhor diante do Senhor do que todo o povo. O Senhor ouve a mesma oração do Governante e do governado. Em Nínive, o mesmo arrependimento requerido do povo foi praticado pelo Rei (Jn 3.6).

O problema teológico de Mical é arrogância, contudo, quando vemos o descendente de Davi – Jesus – que se assenta no trono eternamente para um reinado sem fim, Paulo afirma: “a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de um servo” (Fl 2.7)

O problema social de Mical é identificado no fato de que a postura de Davi diante do povo deveria ser diferente. Deveria governar quase como um semi-Deus. Cheio de uma empáfia idólatra e prejudicial. Davi não estava disposto a se humilhar por qualquer motivo, já se humilhara para proteger sua vida diante do Rei Filisteu se fazendo de louco (1Sm 21.10-15), mas irá fazer até mesmo aquilo que aos seus olhos parece humilhante desde que agrade a Deus. Davi não quer agradar os homens imitando o culto pagão socialmente reconhecido, mas quer adorar unicamente o Senhor.

Davi não se vê maior do que o povo pelo simples fato de governar a Israel, mas reconhece, que ocupa essa lugar, porque foi colocado nessa posição pela graça e a misericórdia dAquele que o retirou detrás das ovelhas de seu Pai, Jessé.

O problema social de Mical está em acreditar que existem homens melhores do que os outros, o tão nocivo orgulho, mas Jesus também não temeu ser reconhecido como homem, pois a Palavra afirma que “reconhecido em figura humana, a si se humilhou, sendo obediente até a morte e morte de cruz” (Fl 2.8).

O problema pessoal da ex-mulher de Palti se ouve em uma comparação de Davi ao rei que conhecera em Saul, homem alto e aparentemente corajoso (porque não ousou enfrentar Golias). Talvez Mical, em sua amargura, via seu marido como um usurpador da dinastia que fora de sua família, que agora restabelecia casamento com ela para angariar melhor posição com os benjamitas.

O problema pessoal de Mical é a inveja, mas devemos imitar o esvaziamento e a humilhação de Jesus para sermos exaltados, porque, o nosso suficiente Salvador foi exaltado “sobremaneira e lhe deu nome acima de todo nome” (Fl 2.9).

Cuidado para não desprezar o melhor de alguém como fez Mical com os sentimentos vis da arrogância, orgulho ou inveja e entende que essas inimigos podem funcionar como ruídos que dificultam as pessoas ímpias de admirarem o seu genuíno amor pelo Senhor.