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sábado, 25 de julho de 2015

Eu quero ter um milhão de amigos?


Eu quero ter um milhão de amigos?
Qual foi o momento em que o amigo passou a ser um ícone na tela de um computador?
O conceito de amizade e relacionamento sofreu sérias influências dos avanços tecnológicos, pois há uma necessidade de ser ter muitos e muitos amigos e até seguidores, todavia, nessas amizades superficiais, os supostos relacionamentos não suportam as adversidades e as opiniões contrárias. Nunca se teve tantos amigos presos nos ícones coloridos e felizes emoldurados pela tela de LED, mas nunca se viu tanta solitária e carente de contato humano. No muito pragmático, em que vivemos, anseia-se por construir muitas e muitas amizades, mas que podem ser desligadas ou excluídas sem grandes confrontos e desgastes pessoais. O pragmatismo fez o amigo se tornar um ícone manipulável. A amizade virtual foi forjada por uma geração que tem medo do outro, mas continua tendo necessidade de se relacionar.
O ser humano é essencialmente um ser social, que se relaciona, porque, criado a imagem e semelhança do Deus (Gn 1.26), uno e trino, ou seja, do único Deus que vive em relacionamento perfeito entre as pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo, é angustiante e doentio ao homem caminhar sem o convívio dos outros. Aristóteles afirmava: “fica evidente, pois, que a Cidade é uma criação da natureza, e que o homem, por natureza, é um animal político [isto é, destinado a viver em sociedade], e que o homem que, por sua natureza e não por mero acidente, não tivesse sua existência na cidade, seria um ser vil, superior ou inferior ao homem. Tal indivíduo, segundo Homero, é “um ser sem lar, sem família, sem leis”, pois tem sede de guerra e, como não é freado por nada, assemelha-se a uma ave de rapina” (Política, Lv I, Cp. 1).
Tal como Isaías, devemos reconhecer: “sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios” (Is 6.5) e, por causa dessa realidade de depravação total (ou radical) todos os nossos relacionamentos nos são árduos desafios, porque esperamos o que o outro não pode ou não quer nos dar e, igualmente, nos oferecemos com diversas cautelas.
Dessa maneira, Salomão afirma: “como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo” (Pv 27.17). Assim como um instrumento precisa estar com suas cordas esticadas de tal maneira que produzam um som agradável e as facas precisam ser gastas na pedra para ter um corte eficiente, os relacionamentos nos ensinam mutuamente sobre nos mesmos. Todos os embates que temos com o outro envolvem pecados nossos ou pecados alheios, que precisam ser mortificados em Cristo Jesus.
Quando nossa geração optou por um relacionamento mediado pelas redes sociais, eliminou muito dessas adversidades, porque o surgimento dos problemas foram resolvidos com a fuga, ou seja, excluir do meu rol de amigos determinada pessoa, mas se perdeu muito em crescimento pessoal.
No momento em que convivemos apenas com indivíduos que pensam a nossa maneira, falam apenas aquilo que queremos ouvir (futilidades), construímos um mundo previsível, impenetrável, mas uma realidade que dificulta nossos aprendizado e crescimento, porque aprendemos imitando, crescemos ao sermos confrontados. Apenas quando os músculos são ofendidos pelo movimento repetido e doloroso é que se enrijecem e ganham volume. Músculos ociosos atrofiam. No instante em que afiamos e nos deixamos a afiar pelo outro, é que nos construímos e ajudamos a construir pessoas melhores.
Em nossos dias, as pessoas querem ter seguidores, mas, ao almejarmos que as pessoas nos sigam, limitamos nosso interesse de seguir alguém e de nos colocar a serviço do outro. Jesus não vivia, tampouco pregava em busca de seguidores, apesar de chamá-los e tê-los, pois ao se revelar como o pão da vida muitos deixam de segui-lo, todavia não titubeou em convidar os doze a seguir o mesmo caminho (Jo 6.66,67). A amizade cresce no solo fértil da verdade. Apesar de ser o caminhos, a verdade e a vida (Jo 14.6), Jesus não se portou jamais com um tirano, mas sendo Mestre e Senhor a quem todos devem seguir, instantes antes de morrer, tomou a toalha e, como um escravo, lavou os pés daqueles que tinha por amigos (Jo 15.15).
O amor de Jesus é o maior amor que existe, porque ela dá a vida pelos seus (Jo 15.13), todavia há uma condição para ser amigo de Cristo: fazer aquilo que ele manda (Jo 15.14). O Senhor nos mostra que o vínculo da amizade se constrói sobre o perdão, pois, em Jo 21.15-18, Jesus trata com ternura a Pedro que o negara.
Atualmente, é comum alguém ter milhões de amigos, satisfazendo o antigo desejo de Roberto e Erasmo na música Eu quero apenas. Aristóteles na Ética a Nicômaco (Lv VIII, Cap. 6) afirma que os mais velhos não se firmam facilmente em amizade, mas trabalham e conservam aquelas que se tem. Segundo o filósofo de Estagira, a amizade precisa de tempo e empenho. Ser amigo de alguém é se tornar responsável por outra pessoa, assim como a raposa disse ao Pequeno Príncipe “Tu te tornas eternamente responsável, por aquilo que cativas” (Antoine de Saint-Exupéry, Cap XXII, p.39).
Salomão afirma em Provérbios: “O homem que tem muitos amigos sai perdendo; mas há amigo mais chegado do que um irmão” (Pv 18.24). Não adianta nada ter muitos amigos se não se pode contar com nenhum deles nos dias maus. Na multidão de amigos, poucos serão aqueles que ficarão presentes quando a única coisa a fazer é ajudar. Dos doze discípulos apenas o amado fica ao pés da Cruz.

Os atuais moldes de amizade produzidos pela cultura digital ampliaram de maneira jamais pensada os horizontes para conhecer e se comunicar com o outro por mais longe que ele esteja, todavia limitou os laços interpessoais, a conversa franca e até mesmo a discussão construtiva que sempre existiu entre amigos. Se Jonatas fosse apenas um ícone na tela de Davi, jamais teria chorado por ele e amparado seu filho na necessidade. Dessa maneira, devemos querer ter amigos sinceros, mas ter um milhão não é um bom negócio.

sexta-feira, 17 de julho de 2015

A mulher na sociedade e religião Greco-Romana


A mulher na sociedade e religião Greco-Romana
Segundo McKenzie[1], a mulher vivia na sociedade Greco-romana em uma terrível inferioridade jurídicam, pois, segundo Vrissimtzis[2], “não podia mover processos, nem possuir ou vender bens e propriedades”, sendo representada pelo irmão, marido ou parente masculino mais próximo que serviam-lhe como tutores. As mulheres de Atenas, que sequer eram registradas nos catálogos oficiais do Dêmos ou da Frátria[3], viviam como Chico Buarque bem retrata na música Mulheres de Atenas: “vivem pros seus maridos/orgulho e raça de Atenas”[4]. Essas mulheres tinham apenas dois direitos: contrair matrimônio legal e gerar filhos, conforme afirma Vrissimtzis[5]. Citando, ainda o mesmo Chico Buarque: “geram pro seus maridos/novos filhos de Atenas”[6].
Essa realidade pode ser observada na Odisseia[7], quando Penélope, devido a demora de Ulisses e sua possível morte, e obrigada a voltar a casa paterna para que seu pai lhe arrume um novo marido com novo dote ou aceite se casar com um dos pretendentes em Ítaca. A honrada mulher de Ulisses toma uma postura submissa, porém muito criativa: decide fazer uma mortalha para o seu marido antes de contrair novas núpcias, todavia, por três anos, desenvolve árduo trabalho de dia e o desmancha a noite[8]. Penélope só poderá sair de casa quando Ulisses regressa[9]. Esse registro literário mostra como a mulher sem marido vivia em extrema pressão. Vrissimtzis[10] afirma:
“Uma filha sem irmãos recebia uma herança de seu pai, tornava-se herdeira sem evidentemente, ser capaz de possuir, administrar ou vender tal herança, uma vez que, como foi mencionado, não dispunha de quaisquer direitos de transação comercial. Por esse motivo, a herdeira era obrigada a se casar o mais breve possível com um parente mais próximo por parte do pai, geralmente com um primo ou um tio, a fim de que a herança (a terra) permanecesse com a família”
Na Grécia, berço da democracia, a mulher era considerada uma criatura sub-humana e servia para o lar e a procriação. A criação feminina servia para a finalidade doméstica. Sobre esse condição Vrissimtzis afirma:
“As meninas não recebiam educação formal, mas aprendiam com suas mães ou com uma serva experiente a administrar o lar, bem como a arte de tecer e, ocasionalmente, algumas noções de leitura, escrita e aritmética. É evidente, porém, que as meninas das classes inferiores tinham menores chances de aprender a ler e a escrever. Só a partir do ano helenístico (323-30 a.C.) as meninas começaram a frequentar a escola”.
Podemos identificar a difícil condição das mulheres pela fala de Lisítrata a Cleonice, personagens da comédia Lisístrata: a greve do sexo de Aristófanes[11]: “Oh, Cleonice meu coração está cheio de despeito. Envergonho-me de ser mulher. Sou obrigada a dar razão aos homens, quando nos tratam como objetos, boas apenas para os prazeres do leito”.
Platão[12], na República, tem uma concepção a respeito as mulheres bem diferente daquela que era corrente em sua sociedade. Nessa obra, Platão utiliza-se de um fictício diálogo entre Sócrates e Polemarco para dissertar sobre diversos assuntos filosóficos entrelaçados em um eixo temático central: justiça.
No capítulo V, por meio de Sócrates (seu alter ego) Platão afirma que a difeença existente entre homens e mulheres se dá apenas na robustes daqueles e na debilidade dessas, pois as mulheres poderiam frequentar as academias (mesmo trajando roupas curtas) e empunhar armas com os homens nos campos de batalha. As núpcias de homens com mulheres que chegaram a superação de seus limites só pode promover uma prole mais qualificada para a cidade. Dessa maneira, independente do sexo, o célebre discípulo de Platão, defendia que todos deveriam ter acesso a educação idêntica e de qualidade para que todos pudessem desenvolver da melhor maneira possível suas aptidões.
Essa realidade não era igual em Esparta, onde a mulher possuía grande destaque, pois era vista como a fonte de bons soldados, haja vista que o pai e a mãe não poderiam educar seus próprios filhos, essa função era exclusiva do Estado.
Segundo Vrissimtzis[13], essa situação, em que a mulher vive como um ser inferior e os homens estavam ocupados com o futuro da Pólis, contribuiu para uma total desestrutura da organização familiar, porque os adolescentes ficaram sem referenciais que os ensinassem “os segredos da vida social, as funções do Estado, os bons modos, os valores éticos, a virtude, mas também os percalços e perigos da vida”[14]. Essa realidade traz nos idos do século IV a.C. pederastia.
A homossexualidade existia na Grécia, porém não era aceita, pois submetia o homem a posição humilhante de uma mulher. O termo pederasta tem sua origem etimológica[15] a aglutinação das palavras paidós (παιδός-criança) e erastés (҆εραστής-apaixonado). Dessa maneira, em um mundo que valorizada a educação intelectual na mesma proporção que os corpos estabelecia-se uma relação mestre (erastés) e aluno (erómenos) pautada por uma intimidade que chegava a fornicação, todavia durava dos 12 aos 18 anos para são se constatar homossexualismo. Podemos ver essa realidade na fale de Sócrates, alter ego de Platão, em O Banquete[16] quando Sócrates fala de Alcebíades para o anfitrião Agáton:
Protege-me, Agáton! O amor deste homem [Alcebíades] só me causa incômodos. Desde que amei, não me é mais permitido dirigir um olhar ou trocar uma palavra com nenhum belo jovem, pois este homem ciumento e despeitado, começa a fazer escândalo, entra a injuriar-me, e quase me agride. Por isso, toma cuidado para que não faça nada disso agora! Arranja para que haja paz entre nós dois, ou então, se ele tentar usar de violência, protege-me. Na sua loucura de amor, este homem é capaz de fazer muitas coisas.
Na Grécia, a mulher se limitava a casa onde reinava soberana, todavia lhe era vedada participações sociais por medo de que fosse essencialmente infiel. Essa ideia era compartilhada pelos romanos, entre os quais a mulher não possuía personalidade legal (alieni iuris) e para herdar uma propriedade precisava se casar para que o marido requeresse os seus direitos. Nessa sociedade, que desenvolveu sobremaneira as bases do direito, o homem (sui iuris) tinha direito de vida e morte sobre ela (pátria potestas). O romano, segundo das leis, poderia tratar sua esposa como seus escravos conforme a Institutas de Justiniano[17] (Flavius Petrus Sabbatius Justinianos 483-565).
Segundo McKenzie[18], essa realidade de opressão era totalmente diferente no âmbito religioso, no qual “a deusa representa a mulher como fonte de vida, mas representa também a mulher como objeto de prazer sexual, antes, nas concepções mais baixas do culto esta é a sua função mais elevada”[19]
Segundo Vrissimtzis[20], representações eróticas e relações sexuais tinham caráter religioso, pois entre o séc. VI e IV a.C. tinham a intenção de assegurar a fertilidade em uma sociedade basicamente agrária. Todavia a prostituição não era aceita com naturalidade no berço da democracia, pois, no séc. VI a.C. o legislador Sólon instituíra prostíbulos que ajudavam os jovens que chegavam à fase adulta e colocavam fim a prostituição descontrolada.
Vrissimtzis[21] entende a prostituição sagrada como uma questão especial, pois, segundo costume antigo no oriente médio como Fenícia, Síria, Babilônia e Ásia Menor, sendo que os pólos em que essa prática tinha maior força na Grécia estava em Corinto, Pafos, Amátos e Chipre, onde se acreditava “em um tipo de mágica simpatética”[22], na qual mulheres consagradas a essa função prostituiam-se mediante pagamento[23] em honra a Afrodite ou a Dionísio. Como eram funcionárias do templo todo o dinheiro arrecadado era destinado aos cofres do lugar sagrado.
O templo dedicado a Afrodite em Corinto contava com mil mulheres e acumulava fabulosa fortuna de tal maneira que Horácio afirmava: “nem todo homem pode se dar o luxo de visitar Corinto”. Werner de Boor[24] afirma que essas mil prostitutas viviam em casinhas adornadas de rosas ao redor do templo e que era freqüentadas pelos homens sem incorrer em escândalo, porque a cópula com tais mulheres garantia a fertilidade da cidade e do país. Segundo Kistemaker[25], os gregos e o romanos viam a cidade de Corinto com tal permissividade que se cunhou o verbo corinthiazethai, ou seja, ter a mesma prática lasciva que era encontrada naquela cidade portuária da Grécia. Em Roma, a realidade de promiscuidade de Corinto tinha equivalência na cidade de Pompeia.
Segundo McKenzie[26], Ártemis (ou Diana), mencionada em Atos 19.23, irmão gêmea de Apolo, possuía um suntuoso templo em Éfeso que pertencia a uma das sete maravilhas do mundo antigo. Virgem caçadora desde tempos antigos era vista como a deusa da fertilidade, porque protegia as parturientes. Em sua imagem as inúmeras mamas representavam a fecundidade.
Salis[27] entende que gemelaridade de Artemis com Apolo, pois enquanto aquele regia o dia pelo sol, esta regia a fecundidade pelos ciclos lunares. Defende, também, que os deuses são formas de linguagem fascinante que tinha como objetivo de ensinar questões éticas aos homens. No caso de Ártemis, seria a personificação da própria natureza que precisa estar virgem (intacta) e pune com suas flechas de fome e desastres naturais os excessos humanos. Percy Bysshe Schelley apresenta ideia semelhante no poema Adonai[28]:
O trovão. Ele[29], a Actéon[30] semelhante,
Comtemplou a nudez da Natureza
E foge agora pela terra inteira:
Os próprios pensamentos o perseguem,
Como ferozes cães, de instante a instante.
LiDonnici[31], citando Nicole Loraux, afirma que mudanças nas condições sociais e políticas “reflected by modifications, sometimes radical, in the conceptualization and worship of their gods[32]. Dessa maneira, a autora identifica uma mudança radical na imagem de Ártemis dos Efésios em relação aquele, mais limpa, apresentada no período helenista e entende essa mudança a partir de um louvor incluído no momento de dominação romana. Os muitos seios da imagem apresentada no templo da capital da Ásia Menor dava aos fiéis as ideias de proteção e nutrição que eram muito importantes nesse período.
O culto desse período romana se dá em um sincretismo entre Diana, Ártemis e Ísis (divindade egípcia mãe de Osíris). A ideia proposta pela imagem da Ártemis do Efésios é a da mulher intacta que se devotou inteiramente a nutrir e proteger seus súditos e garantir a estabilidade da nação que a adora. Essa realidade permite que ela tenha todos os seus seios a mostra sem parecer uma mulher pervertida ou uma hetaira.
Portanto, quanto mais distante uma sociedade está do seguro foco das Escrituras Sagradas, mas tendencioso estará a legar à mulher ou uma posição de humilhação ou exaltação indevida. Essa tendência se reflete no processo de culto e que a mulher ocupará um lar de destaque no sacerdócio (quando a mulher é exaltada de maneira indevida) ou como um ser idealizado, como bem vimos no caso de Ártemis.
Ulrich[33] vê essa realidade na sociedade de Juízes que mostram o estágio de degradação de uma sociedade em que a moral estava completamente corrompida e um sistema religioso que não conseguia cumprir seus propósitos, pra mostrar que o pecado não é um privilégio dos povos pagãos, mas de todos aqueles que estão distantes da Palavra de Deus. Ulrich defende a ideia de que um sociedade pode ser avalia pela maneira como trata as mulheres e crianças. No mundo grego-romano crianças podiam ser simplesmente abandonadas pelos pais e mulheres subjugadas a uma classe inferior.
A sociedade Greco-romana precisava de uma figura materna que os consolasse, uma deusa estilizada cujo único objetivo é servir de sinistro paliativo para mentes depravadas. Não é à toa que Paulo afirma literalmente que os efésios eram ateus (ἄθεοι) antes da conversão (Ef 2.12) de tal maneira que Calvino afirma: “aqueles que não cultuam o verdadeiro Deus, por mais que multipliquem as modalidades de seus cultos, por mais que os ataviem com toda sorte de cerimônias, continuarão sem Deus! Porquanto adoram o que não conhecem”.




[1] MCKENZIE, John. Dicionário Bíblico. São Paulo, Paulus: 1983, p.634,635.
[2] VRISSIMTZIS, Nikos A. Amor, Sexo e Casamento na Grécia Antiga. São Paulo, Odysseus: 2002, p.34.
[3] Ibid, p. 34.
[4] http://letras.mus.br/chico-buarque/45150/. Acessado no dia 04 de novembro de 2014 às 11h26.
[5] VRISSIMTZIS, Nikos A. Amor, Sexo e Casamento na Grécia Antiga. São Paulo, Odysseus: 2002, p.34.
[6] http://letras.mus.br/chico-buarque/45150/. Acessado no dia 04 de novembro de 2014 às 11h26.
[7] HOMERO, Odisseia, Livro 1, v.215-225.
[8] Ibid, Lv II, v.75,76.
[9] Ibid, Lv XXI, v. 75-79.
[10] VRISSIMTZIS, Nikos A. Amor, Sexo e Casamento na Grécia Antiga. São Paulo, Odysseus: 2002, p.34.
[11] ARISTÓFANES, Lisístrata: a greve do sexo. Porto Alegre-RS, L&PM Pocket: 2003, p.10.
[12] PLATÃO, A República. São Paulo: Martin Claret, p. 150.
[13] VRISSIMTZIS, Nikos A. Amor, Sexo e Casamento na Grécia Antiga. São Paulo, Odysseus: 2002, p.102,103.
[14] Ibid, p.102.
[15] http://www.dicionarioetimologico.com.br/busca/?q=pederasta. Acessado no dia 05 de novembro de 1014 às 21h02.
[16] PLATÂO, O Banquete. São Paulo, Martin Claret: 2003, p. 152.
[17] JUSTINIANO, Institutas. Lv I, 8.
[18] MCKENZIE, John. Dicionário Bíblico. São Paulo, Paulus: 1983, p.634,635.
[19] Ibid, p.634.
[20] VRISSIMTZIS, Nikos A. Amor, Sexo e Casamento na Grécia Antiga. São Paulo, Odysseus: 2002, p.71,71.
[21] Ibid, p.90.
[22] Ibid, p.91.
[23] Segundo Vrissimtzis (p.89), o preço médio de uma prostituta no séc. V a.C. era de um óbolo (uma dracma é igual a seis óbolos), contudo também se aceitava pagamento em espécie.
[24] BOOR, Werner. Carta aos Coríntios: comentário Esperança. Curitiba, Editora Evangélica Esperança: 2004, p.20.
[25] KISTEMAKER, Simon. Comentario Al Nuevo Testamento1 Coríntios. Desafio: 1998, p.13.
[26] MCKENZIE, John. Dicionário Bíblico. São Paulo, Paulus: 1983, p.78.
[27] SALIS, Viktor D. Mitologia Viva: aprendendo com os deuses a arte de viver e amar. São Paulo: Nova Alexandria, p.2004.
[28] Apud BULFICH, Thomas. O Livro de Ouro da Mitologia: histórias de deuses e heróis. Rio de Janeiro, Ediouro: 2006, p. 46.
[29] Esse poema é dedicado a John Keats, poeta inglês da segunda geração romântica, que morreu aos 25 anos.
[30] Filho do rei Cadmo que é condenado a se tornar um cervo e ser perseguido pelos próprios cães por ter visto a nudez de Ártemis.
[31] LIDONNICI, Lynn R. The Images of ArtemisEphesia and Greco-Roman Worship: a reconsideration. Disponível em http://web.a.ebscohost.com/ehost/pdfviewer/pdfviewer?vid=3&sid=ac357771-f3ea-418a-9373-2058154957dc%40sessionmgr4005&hid=4206.
[32] Ibid, p.1.
[33] ULRICH, Dean R. Da Fome para a Fartura: o evangelho segundo Rute. São Paulo, Cultura Cristã: 2011, p.19.

Um Jesus para chamar de meu


Um Jesus para chamar de meu
Na última parada gay a atriz Viviany Belemoni causou polêmica saindo seminua em uma cruz representando Jesus crucificado. No último dia oito, em visita oficial a Bolívia, o papa romano recebeu um presente, no mínimo curioso, do presidente Evo Morales: um Jesus pregado no martelo e na foice, que identificam o comunismo (criação do Padre Jesuíta Luiz Espinal). Esses fatos recentes, por terem acontecido em lugares, com pessoas e contextos diferentes, mostram o triste flagrante de que nosso tempo tem medo da verdade e, por isso, busca, cada vez mais, um desesperado relacionamento com o sagrado, mas de maneira subjetiva, influenciado por um leitura desconstrutivista.
Ferdinand Saussure (1857-1913), influenciado pela filosofia positivista (que primava pelo valor da ciência), lançou as bases para estudar o significado dos signos (união de uma palavra/conceito [significado] a uma imagem acústica [significante]), o que ficou conhecido como semiologia (SAUSSURE, 2002, p.79). Para Saussure, o ato de unir um significado a um significante é algo arbitrário, ou seja, a origem dos signos não se deu ao imitar os sons da natureza ou de exclamações, mas por convenção humana, porém não é de todo arbitrário, pois uma vez identificado um objeto ele nunca mais poderá ter seu nome mudado, a palavra balança não pode nomear um carro. Dessa maneira, o estruturalismo pressupõe um paradigma que não pode ser mudado (mesmo que ele seja fruto da arbitrariedade ou convencionalismo). Isso indica que há algo absoluto, uma noção de verdade primeira (SAUSSURE, 2002, p.82).
A década de 1960 foi um período de grande efervescência como Concílio Vaticano II, Revolução Cubana, o movimento hippie. Na França, em maio de 1968, os estudantes, sem um motivo específico, motivaram uma greve geral de cunho comunista stalinista sob o lema: “é proibido proibir”. Jacques Derrida, respirando esse momento, tornou-se herdeiro e crítico do estruturalismo, combatendo, especialmente, o senso de absoluto. Segundo Silva[1], “em sua leitura desconstrutora, almeja ir ao mais fundo ponto de uma escritura e trazer à superfície aquilo que está submerso; trazer à luz aquilo que o texto esconde e que o próprio autor não viu ou não quis ver”.
A crucificação é um fato histórico, mas não definitivo, pois Jesus ressuscitou (1Cor 15.20). Entretanto, tal como muitos ouvintes de Paulo no Areópago, muitos preferem descartar a ressurreição mesmo que isso fizesse vã a fé (1Cor 15.14) ficando com a crucificação como se fosse mais certo e confiável (mesmo sabendo que a prova sociológica da ressurreição e todo o desenvolvimento do cristianismo mostram que a realidade da ressurreição de Cristo é um fato histórico).
A concepção desconstrutivista não se propõe a destruir o texto, mas questionar a interpretação que foi arbitrariamente imposta a ele. Dessa maneira, pode se vir a mesma história da crucificação por um perspectiva secundária como o oprimido que é morto por seus ideais e nessa concepção se faz sentido a atriz transexual representá-lo ou os proletários por suas convicções político-sociais.
Há um medo latente da verdade em nossos dias, porque ela impõe um paradigma intransponível. Alguém que se propõem a buscar a verdade, achando-a, acatá-la-á ou tentará refutá-la, pois a mentira não é um lugar confortável para ninguém. Vemos essa realidade entre os judeus reunidos para a festa das cabanas em João 8. Segundo Carson (2011, p. 349), os judeus acreditavam que o estudo da lei era capaz de fazer o homem livre, mas a verdade é que a lei aponta para Cristo e apenas essa verdade é capaz de libertar o homem dos grilhões que outrora ostentara.
O homem é um ser naturalmente religioso de tal maneira que Calvino afirma: “não existe nação tão bárbara, nenhum povo tão selvagem que não tenha impressa no coração a existência de algum Deus” (Institutas I.4, p.56).
Até mesmo os regimes comunistas tinham ritos religiosos cuja figura central era o Estado. Irmão André, evangelizando a Alemanha Oriental, relata no Contrabandista de Deus: “usando a antiga sabedoria da Igreja, o regime [comunista] estava oferecendo cerimônias pagas pelo Estado, que eram franca imitação dos rituais cristãos” (SHERRILL, 2008, p.180), tais como a cerimônia de recepção (equivalente ao batismo), casamentos, funerais e confirmações (jugend Weihe, que Angela Merkel, primeira ministra da Alemanha, não fez por ser filha de Pastor Luterano, mas procedeu a confirmação própria de sua denominação).
Dessa maneira, comunistas como Evo Morales ou transexuais como Viviany Belemoni querem desenvolver de alguma maneira sua expressão religiosa e vão interagir com outras expressões religiosas entendendo que todos possuem a verdade em níveis gradativos e não princípios absolutos inegociáveis. Nessa realidade, frequentemente, desenvolve-se uma relação subjetivista com a Palavra e com Jesus Cristo. Segundo Sproul (2003, p.41), “subjetivismo acontece quando distorcemos o significado objetivo dos termos para adaptá-los aos nossos interesses próprios”. As pessoas toleram a Bíblia enquanto ela fala máximas (aforismos) que ajudam na vida prática e criam um Jesus ao seu próprio gosto.
Esse Jesus forjado nas pedias do gosto pecaminoso não passa de um ídolo aparentemente amistoso, mas, ao mesmo tempo, perigoso e ineficaz para o bem. Só pode conhecer a Jesus senão pelo aço sobrenatural do Espírito sobre a Palavra. Só há um Jesus e ele não está crucificado.



[1] http://www.celsul.org.br/Encontros/06/Individuais/63.pdf. Acessado no dia 18 de julho de 2015 às 1h 03.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

A Palestina no três séculos que antecederam Jesus


A Palestina nos três séculos que antecederam Jesus

Concordamos com Damasceno (2011, p. 17) que a importância do estudo do período inter-bíblico se dá por três razões: compreendemos o pano de fundo histórico do Novo Testamento, sua cultura, como também, conseguimos visualizar a providência de Deus preparando o mundo para a vinda de Cristo.
Gundry (1981, p. 3) entende que o período intertestamentário é um hiato que se inicia com os evento que encerram o Antigo Testamento, ou seja, cativeiro da Babilônia e retorno dos exilados sob a hegemonia persa e os primórdios da história do Novo Testamento. Contudo podemos visualizar esse período de forma mais remota no sonho do rei Nabucodonosor interpretado por Daniel (Dn 2), pois como afirma Calvino (2000, p. 137) “Deus pretendia descrever o estado futuro até o advento de Cristo”.
Segundo Calvino (2000, p. 137), temos quatro impérios diferentes entre si e em que cada um nasce pela destruição do outro, assim como a degradação moral dos seus líderes.
De 626-539 a.C. os judeus ficaram sob o domínio da “cabeça de ouro” que é finalizado pela ação providencial por Ciro da Pérsia (Es 1.1-4). Contudo o ventre e os quadris de bronze da estátua sonhada. Alexandre, o grande traz em seu ímpeto e voracidade expansionista o força devastadora do bronze. A Palestina que fora subjugada por Nabucodonosor, a cabeça de ouro; que foi vencido por Ciro, “o peito e os braços de prata”; que foi subjugado pó Alexandre[1], o soberano do império que é retratado como“o ventre e os quadris de bronze” na batalha de Issus em 333 a.C. No livro de Daniel esse admirável estrategista é retratado como o chifre notável do bode que vem do ocidente (Dn 8.5).
O Discípulo de Aristóteles, mesmo a contra gosto de seu mestre, levou ao a sua jornada de conquistas o ideal cosmopolita. Segundo Reale et al (1990), enquanto Aristóteles entendia eu a cidade perfeita seguia as necessidades humanas, pois não tem nem cidadãos de mais, nem de menos, também não possui um vasto território, todavia seu discípulo, nos 12 anos de reinado, uniu o ocidente e o oriente em um império extremamente grande, pois saía do sul da Grécia e ai até o rio Indo na Ásia. Stott (2005, p.106) entende que o engrandecimento desse bode se dá no caráter expansionista do Império Macedônico governado por Alexandre (Dn 8.8a).
Se Aristóteles não acreditava que os bárbaros eram incapazes de desenvolver cultura ou governo livre, Alexandre, com suas conquistas ordena a educação dos jovens na cultura grega, de tal maneira que se estima que na pérsia 30 mil jovens tenham sido educados na cultura grega e nas táticas militares macedônicas.
Calvino (2000), no comentário de Daniel, descreve o filho de Filipe II como um rapaz invejoso das vitórias do pai e que nutria a ambição de conquistar o mundo sem ter a menor piedade de para atingir seus objetivos derramar sangue com extrema crueldade.
Com a vitória sobre Dario III em Issus (333 a.C.), Alexandre ganha, com a Pérsia, a Palestina. Conta-se que, quando o soberano da Macedônia se aproximava de Jerusalém, o Sumo-sacerdote Jadua saiu ao seu encontro e mostrou-se a profecia de Daniel. 8.20-22. Mesmo que essa visão não seja a mais aceita pelos historiadores, de fato Alexandre deu um tratamento privilegiado aos judeus, como benefícios como a permissão de observarem suas leis, ausência de impostos nos anos sabáticos e privilégios de súditos àqueles que se estabelecerem em Alexandria.
O Exegeta da Reforma afirma que Deus, para mostrar o desgosto para com a vida cruel de Alexandre, eliminou-o (323 a.C.), assim como toda a sua prole, inclusive sua mãe de oitenta anos foi morta à espada.
Alexandre, conforme afirma Reale et al (1990, p. 228), pôs fim a Pólis grega, mas os organismos políticos que derivaram de sua visão se tornaram instáveis, em um mundo que a virtude é suplantada pela técnica, o cidadão pelo indivíduo e o administrador da coisa pública pelo funcionário, soldado ou mercenário.
Com a morte precoce de Alexandre (aos 33 anos no 12º de seu reinado), seu império foi dividido entre os seus generais: Ptolomeu (Egito, fenícia e a Palestina), Seleuco (Pèrsia, Mesopotâmia e a Síria), Cassandro (Macedônia) e Lisímaco (Ásia Menor e a Trácia). Segundo Vicentino (2000, p. 81), o fracionamento do vasto império, assim como as disputas internas trouxeram a estagnação e a vulnerabilidade ao poderio romano nos séc. II e I a.C.
O primeiro livro dos Macabeus descreve esse momento da seguinte maneira:
Aos doze anos de reinado, Alexandre morreu, e seus generais assumiram o governo, cada qual em seu território; ao morrer Alexandre, todos cingiram coroa real, e depois os filhos deles durante muitos anos, multiplicando as desgraças do mundo (1 Macabeus 1.7-9)
O helenismo, segundo Japiassú et al (1996, p.124), é “a influência que a cultura grega passou a ter no Oriente Próximo (Mediterrâneo Oriental: Síria, Egito, Palestina, chegando até o Egito e Mesopotâmia) após a morte de Alexandre e em consequência de suas conquistas”. Chalita (2004, p. 73), fazendo um esboço da história da filosofia desse período, mostrará que a expansão Macedônica trouxe, tal como em nossos dias a globalização, a ideia da vasta extensão territorial e cultural do mundo em que vivemos. Cintando Armstrong afirma:
Podemos dizer, lançando mão de uma metáfora, que a cidade continuava presente ali, mas que as muralhas estavam em ruínas e que a segurança e a forma definida que, junto com certas limitações, essas mesmas muralhas davam a vida dos cidadãos, haviam se esvaecido.
Dessa maneira, o pensamento helenístico não vai se preocupar com o cultivo das virtudes dentro de uma cidade, tampouco com a ideia de cidadão, Estado e política, mas com a ética e o indivíduo. As correntes filosóficas que florescem nesse período são o Ceticismo (defendiam que o ser humano não possuía instrumentos suficientes para atingir a verdade), Estoicismo (a felicidade consiste em viver em total harmonia com a natureza, dominando paixões e suportando sofrimentos), Cinismo (tinha como princípio voltar uma vida simples, desprezando leis existentes e convenções sociais), Epicurismo (o bem é o prazer e, por isso, seus seguidores deveriam satisfazer seus impulsos de forma moderada).  Em Atos 17. 18, vemos filósofos estóicos e epicureus discutindo com Paulo na Àgora.
Gundry (1981, p. 4) afirma que o fato da Palestina ficar entre o Egito e a Síria foi alvo da rivalidade de Ptolomeus e Selucidas. Gonzalez (2004, p. 30) explica essa realidade da seguinte maneira:
A invejável localização geográfica da Palestina causou muito infortúnio ao povo que considerava sua terra prometida. A Palestina, pelo meio da qual passavam rotas de comércio do Egito e a Assíria e da Arábia para a Ásia Menor, sempre foi objeto de cobiça imperalista dos grandes estados que surgiram no Oriente Próximo.
Desses quatro generais nos interessa Ptolomeu[2] e Seleuco. Aquele se centralizou no Egito tendo Alexandria como capital, este centrou-se na Síria e teve Antioquia como capital. Guntry (1981, p.4) afirma que os Ptolomeus governaram a Palestina por cento e vinte anos (320-198 a.C.).
Nesse período os judeus tiveram relativa paz[3], pois Ptomoleu II[4] (Filadelfo) era amigos dos judeus de tal maneira que nesse período 72 homens procederam a tradição das Escrituras do hebraico para o grego. Essa tradução, segundo Archer (1984, p. 43), que ficou conhecida como Septuaginta (LXX[5]), traduzida em Alexandria de 250 a 150 a.C., para aproximar dos judeus de fala grega.
A história tradicional dessa tradução é relatada por Flavio Josefo (L10, Cap. 2, 454), na qual Demétrio Falero pede a Ptolomeu II (Filadelfo) tradução dos livros hebreus que seriam de difícil tradução, mas possível dese que o rei não se importasse com as despesas. O rei escreve ao Sumo-Sacerdote da época, Aristeu, que concordou com a tradução desde que o rei soltasse 120 mil prisioneiros. O rei concordou e deu ordem para que se traduzisse.
O processo de helenização dos judeus é progressivo. Bright (1978, p. 568) adverte que esse processo nunca foi direto, mas havia o pensamento grego no ar, o que inevitavelmente influenciava os judeus que tinham de dbater sobre os novos problemas que esse pensamento impunha. Essa influência ganhava adeptos não entre os judeus tradicionais mas entre aqueles que estavam corrompidos e ávidos pela cultura grega e que, nas palavras de Bright (1978, p. 569), achavam suas leis e costumes um estorvo
Segundo Bright (1978, p. 565), os reis selêucidas nunca concordaram com a apropriação da Palestina pelos Ptolomeus e consideram essa atitude como roubo, mas não podiam fazer muito, porque enfrentavam rebeliões nas províncias orientais (Pérsia, Pártia, Hircânia e Báctria), assim como perdas na Ásia Menor restringindo seu controle as montanhas do Tauro ea Média.
Essa situação se inverteu quando Antíoco III, o grande, subiu ao trono, pois dotado de espírito enérgico e hábil estrategista reafirmou os limites do império da Ásia Menor até a Índia, mas também, derrotou Ptolomeu IV em 217 a.C. na batalha de Ráfia[6]. Segundo Josefo (L 10, Cap. 3, 45), os judeus, que não agüentavam mais o período de lutas, se entregaram de bom grado a Antíoco que lhe concedeu privilégios tal como verba para a manutenção do culto.
Antíoco III, o grande, relata essa situação da seguinte maneira a Ptolomeu IV:
O rei Antíoco, a Ptolomeu, saudação. Os judeus nos testemunharam grande afeto logo que penetramos no seu território. Eles vieram à nossa presença com os seus chefes, receberam-nos em sua cidade com toda espécie de honras, deram alimento às nossas tropas e aos nossos elefantes e uniram-se aos nossos contra a guarnição egípcia da fortaleza de Jerusalém. Cremos que é dever de nossa bondade manifestar-lhes a nossa gratidão. (in Josefo L 10, Cap. 3, 45)
Esse célebre rei seleucida levou seu império ao auge, mas foi longe demais ao refugiar em seus limites Aníbal de Cartago e intentar contra Roma. Segundo Bright (1978, p.569), esse erro lhe custou uma derrota humilhante em Magnésia (190 a.C.) e um tratado de paz vergonhoso em Apameia, sob o qual teve de entregar Aníbal (que consegue fugir), seus elefantes de guerra, o próprio filho (Antóco IV) e pagar indenização aos romanos. Antíoco III não vive mais muito tempo depois dessa golpe e morre enquanto saqueava o templo de Elam para pagar aos romanos.
Seleuco IV, irmão de Antíoco IV, sobe ao trono e confirma os privilégios conferidos. Morre em 163 a.C. e lhe sucede o irmão que voltara do exílio. Antíoco IV adota o nome de Epifânio (deus manifesto)[7]. Ele é denominado em “rebento perverso” pelo autor do primeiro livro dos Macabeus (1.10). Costa (1992, p. 19) os opositores de Antíoco IV o apelidaram de Epimanes (o louco). Schökel (2006, p.953), comentando 1 Macabeus 1.10, afirma: “é de se notar que o novo rei não imita o pai e sim seus antepassados; renasce nele uma maldade ancestral”.
Entretanto, segundo Bright (1978, p.570,571) precisamos compreender que ao subir ao trono Antíoco IV estava vontando de um período em que fora por doze anos refém dos romanos, seu pais estava morto, o reino estava em declínio e Ptolomeu VI reativava interesse sobre a Palestina e a Fenícia que lhe foram tomadas pelo império Selêucida, sem contar no progressivo interesse romano pelas terras mediterrâneas orientais.
Dessa maneira, precisando unificar seu reino, porém sem capital para isso lança mão do tesouro do templo de Jerusalém, todavia, para isso, precisava oferecer violenta oposição aos judeus tradicionais e contar com aqueles que almejavam uma revolução nos costumes. Os judeus ortodoxos têm nesse momento dois problemas: o rei pagão e judeus apóstatas.
Devido a essa situação Antíoco IV se torna um missionário dos ideais e da religião grega, conforme Bruce (1949, p. 12). A primeira medida é afastar o Sumo-Sacerdote Onã III e nomear para esse cargo pelo irmão deste, o helenizante Jasom (antes se chamava Josué) e pretendi transformar Jerusalém em um uma cidade grega.
Jasom pagara trezentos e sessenta talentos para ocupar o lugar de seu irmão conservador e permitia que Antíoco IV construísse em Jerusalém um Ginásio e uma Efébia conforme afirma Costa (1992, p. 19). Segundo Schökel (2006, p. 953) afirma: “o ginásio chegava a constituir um centro de vida urbana: era um evento esportivo e cultural. Treinando nus na palestra, os jovens sentiam vergonha de sua circuncisão, que parecia uma estranha mutilação” (1 Macabeus 1.12-15). Sem contar que aos jogos estavam embutidos a adoração a Herácles ou Hermes (BRIGHT, 1978, p. 572,573).
Gundry (1981, p. 5) mostra que a essa realidade somava a presença de teatros gregos e até mesmo o desejo de usar as mesmas roupas helênicas levam alguns judeus a deixar seus costumes, o que promovia intensa corrupção dos cstumes. Aqueles que que se opunham a esse processo de paganização eram chamados de Hasidim (piedosos, separados).
Três anos depois de Jasom ser nomeado Sumo-Sacerdote, um indivíduo chamado Manaém, mas que assumiu o nome de Menelau e ofereceu 300 talentos a mais que Jasom e passou a substituí-lo.
Antíoco IV marchou contra o Egito, mas esbarrou no poderio de Roma que não desejava o crescimento dos Selucidas. Depois de dois anos no Egito se proliferou o cmentário de que ele teria morido em batalha e isso levou Jasom a marchar contra Menelau depondo-o. Quando Epifânio reorna em 169 a.C. entende isso como traição e inicia um processo de intensa perseguição aos judeus, segundo Costa (1992, p. 20), esse processo contou com a profanação do altar do templo com o sacrifício de animais impuros como porcos transformando-o na casa de Júpiter instituindo até mesmo a prostituição cultual nele, assim como, proibiu a circuncisão, a guarda do sábado, a posse da Torah. Antíoco IV passou a se apresentar como o próprio Zeus em pessoa. Nesse momento de grande ofensiva tanto judeus ortodoxos, como liberais se uniram contra qualquer tipo de sincretismo, conforme afirma Costa (1992, p.21).
A luta contra as loucuras de Epifânio fica mais intensas, quando funcionários reais encarregados de fazer apostatar à força chegam na aldeia de Modim e obrigam os sacerdotes a oferecer culto pagão. Todavia Matatias, filho de Simeão, não só se recusou a oferecer culto idólatra afirmando:
Ainda mesmo que todas as nações que se acham no reino do rei o escutassem, de modo que todos renegassem a fé de seus pais e aquiescessem às suas ordens, eu, meus filhos e meus irmãos, perseveraremos na Aliança concluída por nossos antepassados. Que Deus nos preserve de abandonar a lei e os mandamentos! Não obedeceremos a essas ordens do rei e não nos desviaremos de nossa religião, nem para a direita, nem para a esquerda. (1 Macabeus 2.19-22)
O velho Matatias morre sem ver a libertação de seu povo, mas Judas apelidado Macabeu (martelo) continua a revolta que ganho o nome de Revolta dos Macabeus que teve início em 167 a.C. e prosseguiu até a morte de Antíoco Epifânio em 163 a.C. na Pérsia, a lutra contra os seleucidas durou mais vinte anos. Contudo, após a morte de Antíoco IV, os judeus recuperaram a liberdade religiosa, conquistaram a Palestina e expulsaram tropas sírias (GUNDRY, 1981, p. 9,10). O altar profanado foi derrubado e no seu lugar foi contruido um novo (1 Macabeus 4.44-46)[8]
A renovação ocorreu no mesmo dia do ano cento e quarenta e oito e da Olimpíada cento e cinqüenta e quatro, como o profeta Daniel havia predito, quatrocentos e oito anos antes, dizendo clara e distintamente que o Templo seria profanado pelos macedônios. (JOSEFO L 12, cap. 11, 476)
Judas Macabeu[9] morto em batalha em 160 a.C. é sucedido pelos seus dois irmãos: Simão e Jônatas, iniciando a dinastia hasmoneana que durará de 142 a.C.-37 d.C. Jonatas[10] passou a reconstruir os muros, sendo sucedido em 143 a.C. pelo seu irmão, Simão[11], que solidifiou o relacionamento com os romanos como seu irmão, Judas, havia iniciado antes de morrer.
A Dinastia Hasmoneana foi marcada por propósitos políticos que isolaram aqueles que tinham um comprometimento maior com a religião e os costumes da lei. Dessa maneira, hasidins (que depois vão ser chamados de fariseus) e essênios se distanciaram dessa política, sendo os fariseus uma seita judaic marcada pela ortodoxia e os essênios vão se retirar para o deserto em busca de fugir dessa corrupção latente. Os essênios “eram a parte de um círculo mais amplo da religião judaica em que o apocalipsismo era predominante” (GONZALEZ, 2004, p. 36)
Os saduceus, judeus conservadores, combinam com a aristocracia diferenciavam-se dos fariseus no fato de serem centrados na lei escrita, enquanto os fariseus e escribas admitiam lei oral. Dessa maneira, os saduceus “negavam na ressurreição, a vida futura, a complicada angeologia e domonologia do Judaísmo mais recente e a doutrina da predestinação” (GONZALEZ, 2004, p. 34). Essa realidade pode ser vista com clareza em Atos 23.6. Kistemaker (2006, p. 420), comentando esse versículo de Atos, cita Marshall: “na igreja judaica cristã primitiva alguém podia se tornar cristão e continuar fariseu, mas um saduceu teria de mudar totalmente sua posição teológica”. Os zelotes continuaram lutando contra as influências estrangeiras.
Simão é sucedido por seu filho João Hircano[12] que, em 128 a.C. concluiu o processo de conquista dos teritórios que circundavam a Judéia (Galileia e Samaria[13]), inclusive a Idumeia (terra de Edom). Judas, filho de João Hircano sucedeu-lhe, e assumiu o nome de Aristóbulo I e foi o primeiro a assumir o título de “rei dos judeus” e foi sucedido pelo seu irmão Alexandre Janeu (104-78 a.C.), que governou como um tirando oriental. Alexandre foi sucedido por sua mãe Alexandra que governou em paz, mas em sua morte seus filhos passaram a disputar a coroa, pois Aristóbulo II havia desapossado Hircano, seu irmão mais velho. Com essa disputa Roma invade a Judeia em 63 a.C. liderada pelo general Pompeu  que profana o templo entrando até mesmo no santo dos santos.
Antípater, governador da Idumeia, apoiou a causa de Hircano, tal como triunvirato Marco Antônio. Com a morte de Júlio César Herodes, filho de Antípater passa a governar a Judéia com o apoio de Roma.


Referências Bibliográficas
ARCHER, G.L. Merece Confiança o Antigo Testamento. Trad. Gordon Chow. 3.ed. São Paulo: Vida Nova, 1984.
BRIGHT, J. História de Hisrael. Trad. Euclides Carneiro da Silva. São Paulo: Paulinas, 1978.
CALVINO, J. Daniel. Vol. I. Trad. Eni Dell Mullins Fonseca. São Paulo: Parakletos, 2000.
CHALITA, G. Vivendo a Filosofia. 2.ed. São Paulo: Atual, 2004.
COSTA, H.M.P. A Literatura Apocaptico-Judaica. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1992.
DAMASCENO, E. 400 anos: um elo não tão perdido. Clube de Autores, 2011.
GONZALEZ, J. Uma História do Pensamento Cristão: do início até o Concílio de Calcedônia. Trad.: Paulo Arantes, VAnuza Helena Freire de Mattos. São Paulo: Cultura Cristã, 2004.
GUNDRY, R.H. Panorama do Novo Testamento. 2.ed. Trad.: João Marcos Bentes. São Paulo: Vida Nova, 1981.
JAPIASSÚ, H; MARCONDES, D. Dicionário de Filosofia. 3.ed. Rio de Janeiro, Ed. Jorge Zahar, 1996.
JOSEFO, F. História dos Hebreus: de Abraão à queda de Jerusalém. Trad. Vicente Pedroso. 8.ed. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2004.
KISTEMAKER, S. Atos. Vol. II. Trad. Ézia Mullins e Neuza Batista da Silva. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
REALE, G; ANTISERI, D. História da Filosofia. Vol. I. São Paulo: Paulus, 1990.
VICENTINO, C. História Geral. São Paulo: Scipione, 2000.
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/museu/alexandre.htm. Acessado no dia 12 de junho de 2014 às 7h.




[1] “Alexandre, o grande se tornou senhor do antigo Oriente Médio, ao infligir sucessivas derrotas aos persas, quando nas batalhas de Granico (334 a.C.), Isso (333 a.C.) e Arbela (331 a.C.)” (GUNDRY, 1981, p. 3)
[2] Cleópatra, que morreu em 30 a.C., foi o último expoente da Dinastia Ptolomaica.
[3] Segundo Josefo (L10, cap. 1, 453), Ptolomeu I, chamado Sóter não faz jus a esse título de Sóter (libertador), pois levou cativos judeus para o Egito.
[4] Sugedeu seu pai Ptolomeu I ou sóter.
[5] Adotou-se o numero romano LXX para se referir a essa tradução, porque setenta redondo é o mais próximo de 72 (GUNDRY, 1981, p. 5)
[6] Essa batalha também é conhecida como batalha de Gaza, porque a cidade de Rafah se localiza na faixa de Gaza, como F.F. Bruce chama, contudo esse autor aponta a data dessa batalha em 312 a.C.
[7] Schökel (2006, p. 953) entende que o título de “Epifânio” reforçava malignamente o título messiânico de Jr 23.5; 33.15.
[8] Até hoje os católicos seguem esse procedimento quando um altar é profanado. “O altar perde a dedicação ou bênção se forem destruídos em grande parte ou se forem permanentemente reduzidos a usos profanos” (Código de Direito Canônico, 1212)
[9] Segundo Stott considera que Judas Macbeu moreu em 161 e exerceu sumo-sacerdocio de 166-161 a.C.
[10] Exerceu sumo-sacerdócio 161-143 a.C.
[11] Exerceu sumo-sacerdócio de 143-135 a.C.
[12] Exerceu sumo-sacerdócio de 135-105 a.C.
[13] João Hircano destruiu o templo samaritano no Monte Gerizim.