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sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Há cuidado para com os que foram?

Há cuidado para com os que foram?
A morte, com certeza, é a realidade que mais impacta os homens, porque, apesar de se aproximar sorrateiramente e ser rápida ou lenta, indolor ou sofrida, demorar a certas pessoas e ceifar outras na flor da idade, é um compromisso marcado na agenda de todas os mortais. Alguns a temem com profunda agonia tal como o Rabino Jochanan Ben Zakkai (contemporâneo dos apóstolos) “Há dois caminhos diante de mim, um que conduz ao paraíso, outro à geena [inferno], e não sei a qual dos dois estou destinado” (CERFAUX, 2003, p.57), outros a esperam como um escape o que se pode ver nas últimas palavras do diário da artista plástica Frida Kahlo (1907-1954): “espero alegre a minha partida – e espero não retornar nunca mais”
No derradeiro momento, independente das pompas fúnebres, todos se dirigem ao mesmo lugar, todavia a morte não é o fim, pois o autor de hebreus afirma: aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo, depois disso, o juízo (Hb 9.27). Jesus deixa essa realidade bem explícita quando conta a Parábola do Rico e Lázaro (Lc 16.19-31), pois ambos, o Rico e Lázaro, morreram, porém um foi para o seio de Abraão e o outro foi para o inferno. Essa parábola mostra algumas realidades importantes:
1.                  Não há purgatório (Lc 16.22,23): a igreja Católica acredita que existem pessoas que são muito boas e que, em vida, se uniram a cruz de Cristo e, por suas obras, irão para o céu, outras são naturalmente más e rejeitam a Jesus, todavia a maior parte dos mortais possuiu um coração cheio de coisas boas misturadas ao pecado (essa realidade que o católico chama de concupiscência e nós chamamos de depravação total) e essas pessoas necessitam de um momento em que esse pecado deverá ser queimado no purgatório. Segundo Bento XVI (Enciclica Spes Salvi), o purgatório é uma tradição judaica antiga (baseada no apócrifo 2Macabeus 12.38-45) e consiste no encontro com Cristo e o seu fulgor. A fé romana pensa dessa maneira, pois acreditam que Jesus nos entregou uma justificação objetiva (o caminho para ser salvo foi aberto), mas depende de nós a salvação subjetiva, ou seja, as boas obras que revelam essa salvação e essa prática da fé, as quais podem ser realizadas em um lugar chamado purgatório, todavia a Bíblia nos diz: “pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas.” (Ef 2.8-10). A doutrina do purgatório não é uma esperança, mas uma desculpa, um paliativo para viver em pecado e continuar em uma vida medíocre diante de Deus e de sua Palavra, todavia sem santidade ninguém verá a Deus (Hb 12.14);
2.                  A alma não fica dormindo (Lc 16.24): Algumas seitas, como Adventistas e Testemunhas de Jeová, acreditam que as pessoas ficam em um estado de inconsciência até o dia do Juízo, todavia o que faremos com a promessa de Jesus ao ladrão em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso (Lc 23.43). Especialmente, o Rico da parábola conversa e tenta argumentar, o que evidencia que não estão dormindo no túmulo. Essa mesma realidade pode ser vista em Apocalipse 6.9,10, pois as almas clamam. Dessa maneira, existe um período intermediário em que a alma está separada do corpo, todavia na glória os homens serão revestidos do próprio corpo. Calvino (Institutas, Lv 3, 6) entende que “é um erro bestial reduzir nosso espírito, feito a imagem de Deus, a um sopro que desvanece e que anima o corpo somente nessa vida caduca”;
3.                  O sepulcro não é o fim (Lc 16.22,23): a morte não põe fim à vida, mas apenas nos da uma perspectiva privilegiada daquilo que acreditávamos ou não acreditávamos. Miguel Rizzo Jr ilustra essa verdade com a história de dois meninos que estavam diante de uma grande laranjeira um viu uma laranja escondida na espessa folhagem, mas o outro não viu nada e continuou sem ver mesmo que aquele menino apontasse e mostrasse o local exato em que a fruta estava. Este menino só conseguiu ver a laranja quando ocupou o lugar do seu colega. Todos nós que vivemos estamos diante dessa grande árvore que é a vida e entre as suas muitas adversidades está escondida a vida eterna que conseguimos ver não pelo nosso maior poder de visão, mas porque, um dia, o Senhor, pela sua misericórdia, nos tirou da morte para a vida (Ef 2.1). Hoje, olhamos a mesma árvore que parecia estéril, mas temos uma nova perspectiva: Cristo. Quando olhamos a vida a partir de Jesus vemos a vida eterna e esse novo foco muda as nossas vidas;
4.                  Céu e inferno existem, eu acreditando ou não (Lc 16.22,23): o Rico não pagou em vida os seus pecados. Asafe, no salmo 73, entende que a diferença entre o justo e o ímpio não está na vida, mas na morte (Sl 73.17). O Salmista entende que a vida do ímpio é um lugar escorregadio (Sl 73.18) onde desenvolve toda a malícia de seu coração pecaminoso. O Rico vivia esta vida buscando os tesouros que ela pode dar, todavia sem perceber que eles são extremamente perecíveis (Mt 6.19,20). Esse homem deveria compreender que suas posses lhe dão a obrigação de praticar a caridade, pois bênção que não abençoa amaldiçoa. Fez dos seus bens o seu ídolo para quem moldou sua vida a fim servi-lo e foi para a eternidade que ele lhe legou: o inferno. Alguns podem pensar: se o Rico desse esmolas iria para o céu? Nossa salvação não veem pelas obras, mas pela graça. Nem toda boa obra é capaz de agradar a Deus, pois apenas aquela que está orientada pela Palavra (2Tm 3.17), pois se não forem assim podem servir de combustível para as nossas vaidades;
5.                  Quem está no inferno não pode ir para o céu e quem está no céu não pode ir para o inferno, por isso, nenhuma oração pelos mortos é eficaz (Lc 16.26): como não existe purgatório nossa vida de santidade não pode começar amanhã, tampouco depois da nossa morte, mas hoje, pois assim a Palavra diz: Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração (Hb 4.7). A crença na doutrina do purgatório só pode ser tolerada por uma mente obtusa e revoltada com a graça, pois aquele que “opera em nós tanto o querer quanto o realizar” (Fl 2.13) tem poder suficiente para nos moldar em uma vida de santidade aqui pela ação do Espírito Santo nos convencendo do nosso pecado, da justiça e do juízo de Deus (Jo 16.8). O céu não está aberto a todos, assim como o amor de Deus não está a disposição de todos, mas apenas daqueles que crerem em Jesus (veja Jo 3.16). Contudo quem tem essa fé salvadora? Aquele que a recebeu de Deus como dom (Ef 2.8). Aquele que foi escolhido antes da fundação do mundo (Ef 1.4) – o eleito – acredita, porque assim Deus permitiu e anda em boas obras, porque o Senhor de antemão as preparou (Ef 2.10), porque se não fosse assim não haveria porque o Apóstolo dizer: Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus (Fl 1.6);
6.                  O modo como se vive em vida evidencia para onde eu vou (Lc 16.25): a proposta do purgatório oferece um falso consolo àqueles que se reúnem ao redor de um caixão para velar o ente que se foi. Nessa hora fatídica, inevitavelmente ocorre, mesmo que no mais íntimo, a pergunta: “e agora?”. Pensando na possibilidade dos novíssimos (céu, purgatório e inferno) romanos, as pessoas podem se consolar que agora aquela pessoa que era tão boa, mas que morreu sem Cristo pode em um lugar todo propício e livre das dúvidas e agitações dessa vida. Contudo nessa perspectiva não haveria motivo para Isaías dizer: “buscai o SENHOR enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto. Deixe o perverso o seu caminho, o iníquo, os seus pensamentos; converta-se ao SENHOR, que se compadecerá dele, e volte-se para o nosso Deus, porque é rico em perdoar” (Is 55.6,7);
7.                  A igreja não deve orar pelos mortos, mas pregar a Palavra aos vivos/mortos (Lc 16.27-31): muito esforço é despendido à tarefas inúteis. Não podemos orar pelos entes que se foram, pois estão diante do Senhor para prestar contas de sua vida. Pediremos para o Senhor ser mais misericordioso? Ele próprio afirma na Palavra: “terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia e me compadecerei de quem eu me compadecer” (Êx 33.19). A mais fervorosa oração não muda os desígnios do Senhor (Êx 32.32-35). Devemos nos submeter à vontade boa, perfeita e agradável de Deus. Enquanto meu ente querido tem vida ele pode ouvir o evangelho e se ser convertido, pois Paulo disse: aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação (1Cor 1.21b). Aqueles que acreditam que essa tarefa é vã a Palavra consola: assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei (Is 55.11). A Palavra sempre produz seus efeitos chama os eleitos e promove a santificação dele ou condena os ímpio e os faz mais reprováveis.
Calvino afirma, nas Institutas (Lv 3, 1), que a eleição precede a graça pela qual Deus nos faz idôneos. De fato a doutrina bíblia da predestinação não pode nos fazer relaxados. A fé dos eleitos precisa estar acompanhada de obras (Tg 2.26). Essa doutrina não é uma desculpa para o pecado, porque aquele que recebeu vida de Jesus necessariamente morreu para o pecado. Se uma pessoa deseja viver no pecado é porque ela se equivocou quanto a sua conversão (Rm 6.2), pois João diz: Todo aquele que é nascido de Deus não vive na prática de pecado; pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus (1Jo 3.9).
A igreja romana questiona o protestante se ele pode entrar no Reino dos Céus com seu coração pecaminoso, todavia nos valemos da mesma confiança do Apóstolo dos Gentios. Paulo percebe a concupiscência/depravação total em seu coração quando reconhece: nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto (Rm 7.15).
A confiança de Paulo não está no purgatório, mas na ação da graça que a fé romana vê como insuficiente (Rm 7.25), pois ao se dirigir a Timóteo (2Tm 4.8) reconhece que a coroa (στέφανος - stéfanos: coroa de louros dada ao vencedor de um esporta, a mesma prometida àqueles que forem fiéis até a morte – Ap 2.10) lhe estava reservada naquele momento, ou seja, enquanto luta contra suas concupiscências e garante àqueles que amam a vinda de Jesus nutrir a mesma esperança.
A vida cristã deve seguir o itinerário apresentado por Pedro: procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo algum (2Pe 1.10). Dessa maneira, a certeza de nossa eleição (Ef 1.4) e do chamado (Rm 8.30) e que não podemos perder a salvação (Sl 15.5; 37.24; Jd 24) deve nos animar a uma vida de santidade. Uwe Holmer afirma: “a vocação e eleição não nos transformam em ‘títeres’ na mão de Deus. Ele permite que continuemos sendo ‘pessoas’ com responsabilidade própria. Por essa razão, temos de ‘responder’ à eleição e vocação dele, aceitando pessoalmente a ambas na hora de nossa conversão, e consolidando-as sempre mais”.
Só podemos viver adequadamente quando reconhecemos nosso chamado e eleição. Paulo adverte que nossa moderação deve ser conhecida por todos, porque perto está o Senhor (Fl 4.5). A incerteza quanto a nossa eleição por uma humildade falsa e sem propósito não gera uma vida de santidade, mas a displicência e o terror diante da morte.
A consciência do nosso pecado e a certeza de que o Senhor nos julgará conforme sua justiça só pode ser percebida pela ação do Espírito Santo (Jo 16.8), ou seja, por aqueles que foram chamados da morte para a vida. Dessa maneira, o crente não vê a morte com intenso terror, porque sabe que o viver é Cristo, e o morrer é lucro (Fl 1.21), tampouco a encara com ingenuidade como Frida Kahlo, mas a espera na certeza de que Jesus é a ressurreição e a vida e aqueles que estiverem nele, ainda que morram, viverão para sempre (Jo 11.25). Calvino, comentando Hebreus 2.15, afirma: “o juízo divino se revela sempre na consciência do pecado. É precisamente desse temor que Cristo nos liberta, ao suportar nossa maldição, e assim eliminou da morte aquele seu aspecto tenebroso”.
Aqueles que partiram não precisam de nossas orações, tampouco é permitido falar com eles, pois isso é abominável para Deus (Lv 19.31; 20.6,27; Is 8.19). Essa prática é ineficaz, porque aqueles que morreram continuam tão limitados quanto em vida, eles não possuem o atributo incomunicável da onipresença, por isso, mesmo que essa prática fosse permitida nenhum pessoa falecida poderia estar em mais de um lugar ao mesmo tempo. Essa prática não é necessária, pois, em Cristo, temos o caminho seguro que nos leva a Deus (Jo 14.6).
Os católicos romanos incentivam a comunicação com os mortos que foram canonizados (declarados santos), pois acreditam que possam auxiliar na intercessão a Jesus. Saul tentou algo semelhante ao procurar a necromante de Em-Dor com o intuito de consular Samuel, um homem de comprovada santidade, porém foi reprovado diante do Senhor (1Sm 28.7-20; 1Cr 10.13).
Os princípios de liturgia da Igreja Presbiteriana do Brasil, no artigo 22, afirmam que “O corpo humano, mesmo após a morte, deve ser tratado com respeito e decência”. A morte existe em decorrência do pecado (Gn 3.19). A morte física tem o poder de separar o corpo do espírito tal como a Palavra afirma: o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu (Ec 12.7). Dessa maneira, o crente deve ir ao cemitério porque no túmulo jaz os restos mortais de nossos entes queridos carregados de lembranças e exemplos. As biografias de cristãos piedosos incentivam os que ficam na busca por imitar a Cristo tal como essas pessoas imitaram (1Cor 11.1).
A sepultura de nossos familiares deve ser conservada com decência, pois mostram como tratamos a memória de nossos entes queridos, colabora para a higiene pública e demonstra nosso cuidado em zelar para que aquilo que está sob nossa responsabilidade não viva no desmazelo. Contudo precisamos ter cuidado quando vamos cuidar do túmulo de nossos entes queridos, pois os católicos, motivados por sua teologia distante da orientação da Palavra, se reúnem em um dia específico (02 de novembro) de orações pelos mortos. Compartilhar desse dia é se tornar cúmplice das obras infrutíferas das trevas (Ef 5.11) e motivar os mais frágeis na fé a empreender a mesma atividade idólatra.
Era comum usar nas lápides a seguinte frase latina: “hodie mihi, cras tibi”, cuja tradução aproximada seria: hoje eu, amanhã você. Ela servia para lembrar aqueles que andam entre os túmulos a chorar pelos que foram que um dia a hora deles também chegaria e ajudariam a povoar aqueles túmulos também. A realidade da morte deve levar aquele que vive longe de Cristo a voltar e aquele que está em Jesus a confiar tal como Jó: “sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus” (Jo 19.25,26).


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A Providência de Deus e a água de nossas torneiras


A Providência de Deus e a água de nossas torneiras
Segundo o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, vivemos a maior seca dos último 84 anos. Essa realidade alarmante consumiu nossos reservatórios de água e pegou nossos líderes de calças curtas, pois obras que poderiam amenizar o problema ainda estão por fazer. Contudo, essa triste realidade revela alguns problemas essenciais que não podem ser contemplados com tanta facilidade: não temos poder de fabricar a água, tampouco de fazê-la cair ao nosso bel prazer. Esse bem tão precioso e vital, muito desvalorizado nos das de abundância, está diretamente relacionado ao agir providente de Deus.
A fórmula da água parece tão simples e banal: dois hidrogênios e um oxigênio, todavia nenhum alquimista tem o poder de reproduzi-la. A ciência, constantemente, tenta se elevar às alturas celestiais na sua frágil torre de Babel para desvendar os mistérios da criação, mas não consegue se voltar a terra e recriar aquilo que Deus, em sua infinita sabedoria produziu do nada. Mesmo que os especialistas tenham explicações plausíveis para esse momento, sabemos que o Senhor é aquele que tem domínio sobre tudo e faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).
Podemos calcular por quanto se vende um pardal que cai do céu, mas é o Senhor que os conhece e permite que sejam ou não abatidos (Mt 10.6). Se para as crianças as estrelas são objetos incontáveis e para o cientista um conjunto de plasma a gravitar pelo universo, a Bíblia afirma: “[O SENHOR] Conta o número das estrelas, chamando-as todas pelo seu nome” (Sl 147.4). Calvino, comentando esse versículo, afirma: “não pode haver maior estultícia do que o fazermos de nosso juízo instrumento para medir as obras de Deus, que manifesta nelas, como sempre o faz, seu incompreensível poder e sabedoria”
Deus é tão ilimitado em poder e entendimento que poderíamos dizer como Davi: Que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles! Se os contasse, excedem os grãos de areia; contaria, contaria, sem jamais chegar ao fim (Sl 139.17,18)
Diferente dos teístas (aqueles que negam a providência, porque não acreditam que o Criador possa intervir no sustento da criação), acreditamos que “Deus sustenta, dirige, dispõe e governa todas as criaturas, todas as ações delas e todas as coisas, desde a maior até a menor” (Ne 9.6; Dn 4.34,35; Sl135.6; Mt 10.29-31; Gn 45.5) (Confissão de Fé de Wetsminster-CFW, V, 1). Reconhecemos que o Senhor exerce sua providência “para o louvor da glória de sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia” (Ef 3.10; Rm 9.17) (CFW, V,1).
Diante do agir soberano de Deus o eleito reconhece a sua sabedoria (Pv 15.3; 2Cr 16.9; Sl145.14-16), sua infalível presciência (At15.18) e o livre e imutável conselho da sua vontade (Ef 1.11; Sl33.10,11) (Veja CFW, V, 1) afirmando como Jó (1.21): Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR. Todavia o ímpio, aquele que não teve seu coração aberto pelo chamado eficaz, diante dos mesmos eventos, só sabe murmurar ou se envaidecer. Não acredita no agir do Criador, mas na força do seu próprio braço mortal, muito menos consegue descansar no Senhor, mas se entrega aos medos imoderados e ao poder das superstições (Veja Institutas, L1, XVI,3).
Esse momento de escassez deveria corar de vergonha os cientistas rebeldes que não entenderam que o Senhor faz rebentar fontes no vale, cujas águas correm entre os montes; dão de beber a todos os animais do campo; os jumentos selvagens matam a sua sede. Junto delas têm as aves do céu o seu pouso e, por entre a ramagem, desferem o seu canto. Do alto de tua morada, regas os montes; a terra farta-se do fruto de tuas obras” (Sl 104.10-13).
Calvino nas Institutas (L1, XVI, 4) afirma: “quando calores imoderados com a seca queimam todos os frutos, e quando as chuvas extemporâneas corrompem as sementes, e a calamidade súbita irrompe com granizo e tempestades, então não seria isso obra de Deus, a não ser que as névoas, o tempo sereno, o frio e o calor tivessem origem no curso dos astros ou em outras causas naturais. Mas, desse modo, não restaria lugar nem para o favor paterno de Deus nem para seus juízos”.
Reconhecer que esse período de seca deve apenas a intensa ação do El Niño (aquecimento das águas do pacífico e diminuição dos ventos do equador que têm a capacidade de alterar a temperatura do planeta) é negligenciar o necessário quebrantamento, assim como é reconhecer que estamos a mercê do acaso. Somente o temor de Deus pode nos fazer usar desse período para buscarmos mais a Deus reconhecendo nossa pequenez e reconhecermos que tudo está debaixo do seu cuidado.
Assim como, nas chuvas moderadas, vemos o agir do Senhor que rega a terra e produz os mantimentos, igualmente, nas enchentes precisamos visualizar a mão do mesmo Deus que mostra a sua força disciplinadora convidando o homem a humilhar-se reconhecendo-se insuficiente. Entretanto essa realidade não pode ser vista pelos olhos naturais que contemplam apenas a aparência dos fatos, mas pelos olhos espirituais que enxergam em cada situação da vida o mover dAquele que diz ao profeta Isaías: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas” (Is 45.7)
Nossa atitude deve se pautar pela confiança de que o Senhor, no tempo oportuno, nos dá o nosso sustento (Sl 104.27), por isso, não podemos nos deixar levar pelas crendices supersticiosas, tampouco negligenciar nosso papel de mordomos nesse mundo. Essa escassez de água nos ensina que todos nós (ímpios e justos) esperamos de Deus e não de nossas forças; não podemos angariar todo o nosso sustento, por isso, “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem” (Sl 127.2) e, principalmente, é nosso dever cuidar desse planeta, pois, tal como no Éden, cabe a nós, como coube ao nosso primeiro pai, cultivar (o termo usado no hebraico aqui é abad - עָבַד que pertence a mesma família semântica de escravo [עֶ֫בֶד - ebed], por isso, esse cultivar implica trabalho) e guardar (o termo hebraico usado aqui é shamar - שָׁמַר que transmite a ideia de exercer cuidado) o espaço em que fomos colocados pelo Criador (Gn 2.15).

A água, que nos dias de fartura fluía sem controle, hoje mostra que seu preço vai além daquele descrito na conta que recebemos mensalmente. Esse bem que não pode ser produzido por nós e que depende da vontade do Senhor para de fato ser renovável precisa ser utilizado com a prudência e a razão que só os seres humanos receberam como dádiva. Portanto, cabe a nós continuarmos pedindo misericórdia a Deus, porém sabendo descansar na sua providência reconhecendo que podemos lançar sobre Jesus nossa ansiedade, porque ele tem cuidado de nós (1Pe 5.7).

A Fé da Ciência ou a Ciência da Fé?


Vivemos em um momento de nossa história em que os valores estão sendo trocados. Gradativamente, o mundo escancara sua inimizade com Deus (Tg 4.4) e com seu povo que é duramente perseguido. O mundo almeja ver cair os homens e mulheres tementes a Deus ora em uma luta velada com palavras e insinuações, ora em uma guerra sangrenta.
Hoje, aqueles que ousam dizer que acreditam em Deus são tidos por ignorantes e qualquer prática de piedade como pura perda de tempo. Parece inadmissível andar nos passos de Jesus (1Jo 2.6) e cultivar um raciocínio coerente que produza frutos científicos (Jo 15.5). Constantemente, muitas pessoas decidem jogar fora o temor a Deus, único arrimo de uma consciência racional e feliz, e mal sabem que se tornam loucas, porque desprezaram a sabedoria e o ensino (Pv 1.7) sendo sábios aos seus próprios olhos (Pv 3.7). Essas pessoas se inculcam por sábias e mal sabem que estão sendo entregues aos desejos de seus corações insensatos (Rm 1.21-25).
Quando uma pessoa defende diante de mundo que acredita na Bíblia de maneira literal angaria grandes dificuldades no diálogo com a ciência contemporânea, pois, acreditar que Deus criou tudo o que existe do nada em sua mais rica diversidade, é um retrocesso inaceitável. Para isso, gostaria de ilustrar o pensamento científico sobre a criação do universo com uma pequena ilustração:
Um dia, em um bolo de fubá,a erva doce começou a pensar de onde ela tinha saído e, depois de muito pesquisar, descobriu que o bolo no qual estava inserida não fora uma criação, mas fruto do acaso quando três ovos se quebraram acidentalmente e caíram em uma xícara que continha, por acaso, leite morno que foram misturados à meia xícara de óleo, ao fubá, à farinha de trigo, ao açúcar (todos nas medidas certas, pois qualquer desiquilíbrio poderia afetar o resultado final) e uma pequena colher de erva doce. Foram aquecidos a uma temperatura de 200º célsius e o bolo existiu.
Os cientistas, tal como a erva doce conseguem explicar a expansão do universo, como a erva doce o fez, mas não quem o criou. A teoria da expansão do universo é chamada de Big Bang (grande explosão). Ela começou com as pesquisas do astrônomo Edwin Hubble (1889-1953) em 1929 no telescópio do Observatório do Monte Wilson na Califórnia. Ao analisar uma nuvem de luz giratória chamada de nebulosa de Andrômeda percebeu que se tratava de outra galáxia (a mais próxima da nossa, a Via Láctea) percebeu que quanto mais diante uma galáxia mais rápido ela se afastava o que comprovou a ideia de que vivemos em um universo dinâmico (em movimento) e não estática proposta por Alexander Friedmann (1888-1925).
Para a ciência antes de três mil milhões de anos o universo não existia, nem espaço e nem tempo e apareceu uma fonte de luz infinitamente quente e muito menor do que um átomo. Esse instante é conhecido como momento zero. Contudo apareceu uma microscópica luz extremamente quente que começou a se expandir. Quando mais expandia mais se esfriava e permitia as condições da origem da vida que surgiram por obra do acaso.
Essa teoria é tão absurda quanto reconhecer que ovos, fubá, açúcar e farinha possam cair na exata medida em uma forma untada em um forno pré-aquecido e que atinja a temperatura ideal para o bolo crescer, mas não queimar. Os defensores da teoria do Big Bang afirmam que ela não dá uma resposta à origem do universo, tampouco as leis atuais da física podem ser aplicadas ao tempo zero quando tudo surgiu.
O Centro de Pesquisas Nucleares (CERN) anunciou oficialmente a comprovação do bóson de Higgs (chamada partícula de Deus para fins comerciais), pela qual os cientistas querem prova como e quando a luz incandescente do Big Bang criou massa e como o universo se criou do nada.
Assim como os camponeses norte-americanos conquistaram independência em 4 de julho de 1776, por meio rudimentares e desacreditados da ciência, que, ironicamente, foi perseguida nos países católicos e só encontrou espaço para se desenvolver nos países protestantes.
Você notou que a erva doce não contava com o fermento? Uma das pedras na teoria do Big Bang era explicar como algumas partículas no universo têm massa e outras não. Dr. Peter Higgsem 1964 levantou a hipótese de que trilionésimo segundo depois da grande explosão se criou um campo energético (Campo de Higgs) em todo o jovem universo que interagiu com que partículas com mais massa (quarks) permaneceram mais tempo nesse campo dando a elas uma massa maior, enquanto outras como massas menores passassem rapidamente (elétrons).
Para comprovar essa teoria o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN) gastou 10 bilhões de dólares na construção de uma pista com 27Km enterrada entre a fronteira da França e da Suíça, na qual seria possível fazer partículas muito pequenas se chocarem e assim, ao desmontarem, mostrarem do que são realmente feitas. Esse grande acelerador de partículas (LHC – Grande Colisor Hádrons).
Se você pegar um farelo do seu bolo de fubá, por meio de instrumentos químicos, você consegue saber quais ingredientes ele possui e analisando-os com cuidado visualizar como se deu o processo de sua execução. A partícula de Higgs ou partícula de Deus, como ficou popularmente reconhecida (o próprio Dr. Peter Higgs repudia esse nome), é como o fermento que uma vez misturado e colocado nas condições exatas faz a pasta de bolo crescer, porém o bóson de Higgs (que dá um aspecto líquido à luz) ele some rapidamente (igual ao fermente que vira gás carbônico e depois não pode ser mais visto ou sentido no produto final) e nãopoder ser mostrado com certeza.
Os cientistas do encontraram no grande acelerador de partículas(LHC) uma nova partícula que com 99,9999% pode ser a bóson de Higgs (sem dizer que sua utilidade é comprovável apenas a 4% do mundo visível), mas apresentada pela mídia como um fato consumado. Talvez para amenizar os custos e justifica-los com um resultado, pelo menos aparente, em um dos momentos que o mundo atravessa sua pior crise econômica.
Se a teoria do Big Bang estiver correta ela prova que corpos desorganizados podem, depois de uma explosão ou condições ideais, gerar corpos melhores. Assim, se você tem um problema com seu carro ou se ele está velho e quebrado exploda-o, pois ele virará um carro zero quilometro. Isso é loucura? Mas é exatamente isso que o princípio da teoria do Big Bang defende. Se um princípio da física não pode ser repetido hoje ele pode ser considerado verdadeiro?
Karl Popper (1902-1994), filósofo da ciência, afirmava que a pesquisa científica deve progredir não pelos seus resultados positivos, mas pelos negativos. O cientista deve se contentar em garantir que algo não é assim e nunca se agarrar a uma conclusão como se ela fosse inquestionável.
A criação ao nosso redor não serve para nós e para os nossos objetivos, mas para revelar a glória de Deus (Sl 19.1). Paulo afirma que desde o princípio os céus revelam os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua própria divindade são claramente reconhecidos (Rm 1.20) o que é reconhecido pela teologia reformada como revelação geral.
Segundo Michael Horton, “os cientistas protestantes acreditavam que havia dois ‘livros de Deus’ – o livro da natureza e o livro da Escritura – e que cada um fornecia informação que não se encontrava no outro” e não são contraditórias em suas observações.
Devemos ter muito cuidado para não nos enredarmos às filosofias e vãs sutilezas do mundo (Cl 2.8) o que não significa olhar com desdém à ciência e suas descobertas, mas avalia-las sem duvidar da Palavra que é inspirada por Deus (2Tm 3.16). A ciência pode mudar, mas a Palavra é permanente (Lc 21.33).
Michael Horton, citando o comentário de João Calvino sobre o livro do Gênesis, defende que Moisés, no Pentateuco não podia oferecer os detalhes que astrônomos e cientistas desejam, pois não seriam acessíveis aos homens símplices que contam com a leitura e o bom senso para entender a Palavra de Deus. Os Reformadores entendiam que a ciência poderia progredir, pois a revelação específica (A Escritura Sagrada) daria respaldo e explicaria todas as descobertas.
Dessa forma, quanto mais eficiente e fiel for a ciência seu resultado será de que o grande bolo de fubá que comparamos ao universo foi criado por Deus e que nós somos a erva-doce desse universo que lhe acrescentamos sabor e reconhecemos a presença misericordiosa de Deus, certos de que nem a sabedoria, nem a inteligência e o conselho podem afrontar o próprio Deus.
Quando o cientista cria dogmas apenas para eliminar a crença em Deus e baratear a criação ao ato do acaso ele tira toda a dignidade do ser humano e alimenta a imoralidade e a desumanidade das pessoas. Quer-se destruir a Deus não para provar uma verdade, mas destituir os homens de suas obrigações. A pesquisa pode avançar, porém, como afirmou Roberto Boyle, pioneiro da física, (1627-1691) ela irá vislumbrar o procedimento de Deus e renderá glória a sua majestade.
John Macarthur faz uma análise criativa sobre a criação em Gênesis no livro Criação ou Evolução. Ele afirma que se alguém perguntasse a Adão, recém-criado, quantos anos você tem ele responderia: O quê? Eu tenho alguns segundos de vida, mas ele podia se multiplicar e exercer domínio sobre a criação (Gn 1.28). A terra também possuía frutos maduros para que comessem (Gn 3.2).
Deus não criou nossos primeiros pais como fetos, esperou o crescimento deles, matriculou-os em uma escola ou enfrentou seus desafetos na adolescência para depois legar-lhes a terra, mas os formou como deveriam ser biológica e mentalmente e assim tudo o que existe. Assim também podemos pegar átomos e tentar deduzir como se formaram, mas devemos nos lembrar de que eles têm a estruturam que deveriam ter. Avaliamos a origem do universo com os olhos humanos, mas quem fez tudo foi Deus para quem não há impossíveis (Lc 1.37;18.27).
Os cientistas precisam acreditar na partícula de Higgs, pois essa é a única maneira de fazer sua maneira de pensar viável. Por trinta anos os cientistas acreditaram nela sem ver e ainda depositam fé nela com dados não conclusivos. Muitos dirão que a oportunidade de erro nesta teoria é de 1 em 1,7, pois os dados parecem conclusivos. Os pilotos do Airbus A330 Air France 477 (Rio de Janeiro Paris), que caiu no dia 1º de janeiro de 2009, confiaram nos dados da aeronave e tudo parecia correto, mas o diretor de voa estava com defeitos. As últimas palavras do piloto foram: “não estou entendendo mais nada”. Eles fizeram tudo segundos os dados, mas ao invés de subirem o avião faziam-no despencar no Atlântico.

Talvez essas palavras estejam nas bocas daqueles que se sacrificaram ao ídolo da doente ciência contemporânea, influenciada pelo iluminismo. Quando Cristo voltar de tal maneira que todo olho verá (Ap 1.7). Muitos daqueles que zombaram os crentes pedirão para que os montes caiam sobre eles e os escondam da ira do cordeiro que se assenta sobre o trono (Ap 6.15,16). Os homem e mulheres tementes a Deu são qual Noé, ousam desafiar os dados, as estatísticas e a cultura do seu tempo e só terão certeza no dia do juízo de Deus.

terça-feira, 21 de outubro de 2014


A Família Cristã
Uma das grandes invenções de satanás é o fato de que a família cristã deve ser um paraíso de silêncio onde as palavras são sussurradas entre uma oração e outra. Essa imagem gera uma terrível tensão, pois as pessoas que não temem a Deus avaliam por meio dela o seu vizinho, amigo ou parente cristão e até mesmo pessoas tementes a Deus fazem desse quadro padrão para suas vidas.
Quando um pecado ou uma queda bate a porta de uma família todos parecem desmoronar. Jesus Cristo compara aquele que sabe da sua vinda e não tem uma vida condizente é semelhante ao homem insensato que construiu sua casa sobre a areia e, por isso, viu-a desmoronar diante das forças da natureza (Mt 7.26,27). A família cristã que não se reconhece pecadora, na sua mais íntima essência, não é de fato uma casa construída sobre a rocha.
Jesus Cristo disse que não veio chamar famílias perfeitas, compostas de pessoas acima de qualquer suspeita, mas pecadores e estes ao arrependimento (Mt 9.13). Dessa forma, só poderemos seguir Jesus quando, tal como Paulo, reconhecermo-nos os piores pecadores (1Tm 1.15), pois apenas quando temos a convicção da profundidade do nosso pecado e o seu poder de morte podemos ter Jesus como nosso salvador.
Não estamos dizendo que uma família cristã genuína é marcada por brigas intermináveis, violência e atitudes que causam escândalos aos vizinhos, todavia é igualmente errado disfarçarmos nossos problemas advindos do pecado, pois dizer que nossa casa está livre dele é, no mínimo, uma tentativa de se enganar (1Jo 1.8).
Fomos justificados pela fé e o sangue de Cristo lavou todos nossos pecados, porém dia após dia nosso coração está sendo confrontado pelo Espírito Santo sobre o nosso pecado, a justiça e o juízo de Deus (Jo 16.8) e, assim, em cada um desses dias lançamos o fundamento de uma casa sólida construída apenas pelos prudentes (Mt 7.24) e resistente a qualquer tempestade.
Davi afirma que “a Palavra do Senhor é completa e restaura a alma” (Sl 19.7a). Muitas famílias gostariam de voltar no tempo antes de ter dito aquela palavra pesada ou ter aquela atitude que gerou briga e mágoa. A Palavra de Deus pode fazer isso, ou seja, “trazer-nos para traz” (shûb), nos restaurar de tal forma que não agrademos o nosso cônjuge, filhos ou pais, mas o Senhor.
Uma família cristã sabe, como um doente crônico, da complexidade do mal que a aflige (o pecado) e sabe a que pode recorrer a Jesus, em sua Palavra, e nas orações. Uma casa abençoada por Deus é aquela em que há leitura da Palavra e os seus membros têm a liberdade de orar uns pelos outros.
Um lar temente ao Senhor precisa ter lugar para a confissão, certos de que Deus é fiel e justo para nos purificar de toda a injustiça(1Jo 1.9). Errar é próprio da nossa condição decaída, mas, ao invés de perder tempo em descobrir culpados e estabelecer julgamentos, podemos conduzir o pecador a confessar o seu erro e buscar um crescimento espiritual. Antes de procurarmos os erros da esposa, do marido e dos filhos precisamos nos recordar que é muito perigoso alguém que tem uma viga enterrada nos olhos tentar tirar um cisco do olho do outro (Mt 7.3-5). Precisamos, urgentemente, entender que até mesmo em nossas discussões nossas palavras devem ser “boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” (Ef 4.29). Em uma discussão em que as Palavras apenas magoaram não houve vencedores, mas vencidos carentes de Deus.
Muitos cristãos encaram a leitura da Palavra de Deus e as orações como ações mecânicas que não tem nenhum efeito em nossas vidas além de nos unir a uma tradição, contudo elas são poderosos meios de graça, capazes de mudar completamente a vida do homem (Mt 7.7,8). Este efeito sobrenatural pode ser aferido por uma sincera mudança de vida, tal como Paulo exorta à comunidade de Éfeso: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Ef 4.28), pois aquele que vive pecando não conheceu o Senhor (1Jo 3.6).

Portanto, haverá problema na família ímpia e na família temente a Deus, porém enquanto aquela só pode contar com as ferramentas falhas do homem para sanar suas angústias, esta pode colocar suas ansiedades sobre o Senhor Jesus, porque ele esta centrado nesta casa e tem cuidado desta família (1Pe 5.7).

A Bíblia e o Homossexualismo
Um dos assuntos mais discutidos em nossa sociedade é a questão da homofobia e neste debate há dois lados apenas na mesa: ou você homossexualista ou homofóbico. Enquanto não estoura uma inquisição decorada com arco-íris podemos discutir esse assunto com liberdade e fidelidade à Palavra de Deus.
O argumento homossexualista (uso essa palavra para indicar não só o homossexual, mas o defensor dessa ideia) que abre esse debate é que Jesus pediu para que amássemos uns aos outros como ele nos amou (Jo 13.34). Contudo a teologia barata pega a Bíblia recorta vários versículos que lhe convém e tenta provar o que bem entende. Quando vamos a qualquer sistema de ideias precisamos ver um determinado princípio à luz dos demais e aceitarmos o que nos beneficia e o que nos transmite reponsabilidades.
Na Bíblia especificamente, reconhecemos que um versículo apenas não pode ser base de uma doutrina, mas ele deve ser lido, interpretado e verificado dentro de toda a Palavra (Novo e Antigo Testamento, pois toda a Escritura é inspirada por Deus 2Tm 3.16) sem nunca descartar seu devido contexto.
Esse erro é frequentemente cometido quando as pessoas querem continuar a viver as leis cerimoniais ou civis do Antigo Testamento como acontece em um dos episódios da sérieWest Wing: nos bastidores do poder. Nesse filme o presidente, interpretado por Martin Sheen, mostra a uma conservadora que Levítico 18.22 não pode ser levado em consideração na discussão da homossexualidade, porque poderíamos ter o direito de vender nossas filhas como escravas como afirma Êx 21.7.
No Antigo Testamento, o povo de Deus possuía três tipos de leis: morais, cerimoniais e civis. O texto em Êx 21.7 não oferece o direito de ninguém ser vendido como escravo, Deus não criou a escravidão, mas o homem decaído, porém o Senhor, em uma época em que os escravos não possuíam direito algum, afirma que o seu povo não pode fazer o mesmo e, por isso, estabelece leis para essa classe de pessoas esquecidas punindo maus tratos e prevendo a liberdade. Os princípios desse código civil ainda servem como orientação da maneira como a sociedade deveria se portar
As leis cerimoniais previam a maneira correta de cultuar o Senhor e realizar os sacrifícios, contudo o autor da carta aos Hebreus (8.5) afirma que esses ritos eram figuras e sombras das coisas celestes e que Jesus é mediador de superior aliança e promessa (Hb 8.6). Entretanto as leis morais, ou seja, como devemos nos portar e viver, essas não foram destruídas pelo Senhor.
O mesmo Jesus que tira o fardo que sobrecarrega e cansa é o mesmo que impõe seu jugo suave e leve (Mt 11.28-29) e o mesmo Messias que protege a mulher adúltera de ser apedrejada é o mesmo que manda parar com a vida de pecado (Jo 8.11) e censura a mulher samaritana e seus muitos maridos (Jo 4.18). Jesus tratou com amor, porém não deixou de apresentar os mandamentos da Lei de Deus como a maneira de viver segundo o desejo do seu Pai.
O mandamento de amar como fomos amados por Jesus de Jo 15.12 não pode ser lido sem todo o contexto do capítulo 15, ou seja, Jesus se compara a uma videira e aquele que não estiver nele e nos mandamentos do seu Pai (lembremo-nos que Jesus não revogou as leis morais do Antigo Testamento) dando frutos será lançado fora para ser queimado.
Se alguém despreza a Deus e se tornou nulo em seus corações insensatos, “Deus o entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes” (Rm 1.28), mas tentar legitimar o pecado com versículos da Bíblia é uma tentativa pecaminosa e degradante e passível de morte especialmente para aqueles que apesar de conhecer a Palavra praticar o erro e aprovar quem erra também (Rm 1.32).
Existem aqueles que vão à Bíblia e tentam distorcer textos que legitimem o seu pecado. O texto predileto dos homossexuais é 1Samuel 2.41 e veem o beijo de Davi e Jônatas como um ato homossexual. Contudo não podemos ler essa passagem das Escrituras sem levar em consideração a cultura do Oriente Médio em que o beijo era um costume bastante comum, como afirma Laird Harris no Dicionário Bíblico do Antigo Testamento. O beijo ocorria dentro da família (Rt 1.9), conterrâneos (2Sm 15.5) e também na pessoa amada (Ct 8.1), mas o beijo da prostituta deveria ser evitado (Prov 7.13).
A declaração de Rute sua sogra (Rt 1.16,17) – Noemi – é vista por muitos homossexualistas como uma clara amostra de lesbianismo e o centurião (Mt 8.16) por ter um criado (παῖς-pais: transmite a ideia de educar ser tutor de alguém) e se preocupar com sua saúde a ponto de procurar Jesus também é um exemplo de união de duas pessoas do mesmo sexo.
Aparentemente, a perspectiva do homossexualismo sobre o mundo é de que todos sentem os mesmos desejos e que eles são incontroláveis em sua essência e aqueles que defendem princípios diferentes são pessoas que não se descobriram plenamente ou hipócritas que praticam ou desejam praticar o aquilo que condenam. Qualquer pessoa que defenda a moral cristã será visto como um moralista que condena aquilo que simplesmente tem medo por não conhecer.
Entretanto o mundo, nessa perspectiva, vê a amizade entre pessoas do mesmo sexo cm um alto grau de preconceito e suspeita de tal maneira que um amigo (Davi) não pode sentir deleite na amizade do outro (Jônatas) ou se despedir com emoção. Uma nora não pode jurar fidelidade a sua sogra ou um homem, que cuidou de um jovem como filho, não pode se preocupar com sua saúde sem ter uma conotação sexual. O mundo homossexual é governado e controlado pelo ídolo do sexo e sua principal doutrina é o prazer a qualquer custo.
A Bíblia condena o homossexualismo, porque não foi essa a vontade de Deus ao criar Adão e Eva, macho e fêmea os criou (Gn 5.2), ou seja, distintos quanto a sua sexualidade. Muitos vão dizer que é obvio que Deus não poderia começar o mundo com um casal de homens ou mulheres, pois eles não poderiam procriar, porém não está sobre nós a orientação de deixar a casa paterna e se tornar uma só carne com uma mulher? (Gn 2.24)
Jesus vê esse laço de maneira tão sagrada que as oscilações da vida conjugal e os motivos banais do cotidiano não poderiam violá-lo (Mt 19.5). Nem Moisés (escritor sagrado do Pentateuco) e nem Jesus disseram que dois homens ou duas mulheres poderiam se tornar uma só carne.
Em Sodoma, dos mais velhos aos mais jovens queriam, em sua soberba (Ez 16.49), tomar os dois anjos (Gn 19.1-5) que Ló hospedara para violenta-los sexualmente de tal maneira que recusaram mulheres virgens para publicar o seu pecado (Is 3.9) e angariar a total destruição. Dessa maneira, Moisés alerta que a prática do homossexualismo é uma contaminação abominável, repugnante que existia entre os outros povos e que o povo escolhido pelo Senhor não poderia compartilhar.
Muitos podem acusar a Bíblia de homofobia e de perseguição aos homossexuais, porém Paulo não elege esse como o pecado principal, mas o relaciona entre outros desvios humanos como: impureza, idolatria, adultério, latrocínio, avareza, alcoolismo e maledicência (a lista aumenta com 1Tm 1.10,11) e afirma que as pessoas que praticam tais coisas, assim como o homossexual não herdarão o reino dos céus (1Cor 6.9-10).
O Apóstolo dos Gentios usa duas palavras para o homossexualismo: malakos (μαλακός, , όν: efeminados) e arsenokoitez (ἀρσενοκοίτης, ου, : arse=macho + koítez=casamento: sodomita, reaparece em 1Tm 1.10). Segundo o estudioso da língua grega Harold Moulton, a primeira palavrase refere à suavidade,a delicadeza ou a luxúria contrária à natureza e a segunda se refere à homossexualidade masculina em uma união estável.
Alguns defensores da união herética da Bíblia e o homossexualismo afirmam que essas palavras sofreram alterações na sua tradução em meados do século XX (o que vimos que não é verdade), porém podemos falar o mesmo os outros pecados? As palavras usadas para o ladrão, o adúltero e o alcoólatra sofreram o mesmo problema?
Não acreditamos que o homossexualismo seja uma doença, mas um pecado (חטָּאת – het no Antigo Testamento, ἁμαρτία, ας, - hamartia: errar um alvo ou um caminho), ou seja, um desvio do objetivo previsto. Paulo afirma que na comunidade de Corinto eram ladrões e isso era um pecado (erro do objetivo determinado por Deus, Êx 20.15), mesmo que o ladrão fosse vítima de um desejo incontrolável como a cleptomania.
Para nossa cultura essa afirmação não oferece problema, pois quando o cristianismo fala que roubar é pecado todos se sentem seguros, porque devemos aceitar o homossexualismo e seus apelos se a Palavra de Deus diz o contrário? Para agradarmos nosso coração? Jeremias diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas” (Jr17.9)
Se continuarmos no fluxo que o mundo e suas teorias nos levam, perceberemos que a lista de 1Cor 6.9-10 e 1Tm 1.10,11 vai se alargando de tal maneira que a questionável evolução dos costumes permite a homossexualismo, o adultério é visto sem maiores restrições e logo vamos aceitar assassinos e ladrões em nome de um respeito que não respeita ninguém.

Porém o que dizer ao homossexual? Você está condenado a ser um marginalizado? Paulo afirma que alguns em Corinto eram efeminados e sodomitas, mas eles foram lavados, justificados e santificados no nome de Jesus e no Espírito Santo (1Cor 6.11,12), ou seja, podemos dizer não só aos homossexuais, mas a todos “nenhuma condenação há para os que estão em Jesus Cristo” (Rm 8.1) ele pode livrá-lo da lei do pecado do corpo desta morte (Rm 7.24,25).

segunda-feira, 20 de outubro de 2014


O CATOLICISMO ROMANO
INTRODUÇÃO
Conhecer o culto e a estrutura de uma religião nos ajuda a fazer uma justa avaliação sobre e ela e, assim termos os subsídios necessários para erigirmos um conceito e destruirmos todos os preconceitos. De fato os preconceitos falam exaustivamente e eles só podem ser corrigidos pelo exaustivo estudo. Sobre esse aspecto Greschat (2005, p. 126) afirma:
Quanto menos sabemos a respeito de uma coisa, mais seguros nos sentimos em nossa avaliação a seu respeito. Quanto melhor conhecemos, porém, mais cuidadosos são nossos julgamentos, uma vez que o elemento conhecido possui diversos lados que, por vezes, se contradizem. Comparações aprofundam nosso conhecimento, levam novos insights
Nenhum conhecimento pode partir de outro ponto de vista a não ser daquele que observa. Dessa maneira, o observador que vai até o seu objeto de estudo, com o intuito de conhecê-lo, o faz com relativa imparcialidade, sobre as ferramentas teóricas que possui e, terminado esse processo gnosiológico, possui material capaz de entender melhor o outro e a si mesmo. No acréscimo de conhecimento sobre uma religião que não é a nossa ganhamos novos insights sobre a nossa própria maneira de cultuar.
Os teólogos utilizam as informações das ciências da religião para direcionar a atividade apologética e dar maior precisão as argumentos utilizados. Mesmo que Greschat afirme: “muitos cientistas da religião ficariam gratos se os resultados de seu trabalho não fossem usados abusivamente como munição contra outras religiões” (GRESCHAT, 2005, p. 126).
Paulo ficou revoltado no espírito ao ver Atenas entregue a idolatria (At 17.16), porém podemos perceber que seu natural distanciamento da religião pagão no o impediu de compreender sua teologia e inclusive sua literatura, mas não par seu deleite, tampouco porque a verdade da Palavra seja insuficiente, mas para saber como expor e aplicar a Palavra a determinada cultura.
Portanto, nesse trabalho temos como objetivo expor as questões mais básicas do catolicismo romano, ou seja, como lida com a liturgia, a hierarquia, as devoções, a Revelação, os Sacramentos, o perdão, e dar ênfase ao sacramento da Eucaristia.
I.              A Liturgia: celebração do mistério pascal
A própria palavra liturgia significa serviço sagrado e para a fé romana. Segundo o documento conciliar, Sacrosanctum Concilium (2), é na liturgia que se opera o fruto da redenção, ou seja, nela se atualizaos beefícios do sacrifício de Cristo. Sobre esse aspecto o Catecismo da Igreja Católica (1104) afirma:
A liturgia cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram, como também os atualiza, tornando-os presentes. O ministério pascal de Cristo é celebrado, não é repetido; o que se repete sãos as celebrações; em cada uma delas vem sobrevém a efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério
Dessa maneira, nenhuma ação litúrgica se orienta pela beleza ou pelo pragmatismo, mas com o intuito de comunicar os sinais sensíveis traz no seu interior para que, assim, os fiéis possam contemplar seus sinais invisíveis. O próprio Bento XVI, tratando sobre essa questão, na Encíclica Sacramentum Caritatis, afirma que a melhor maneira do povo participar ativamente da liturgia é zelando pela sua arte, ou seja, a maneira fiel de celebrá-la.
A celebração litúrgica deve ser bela, todavia sua estética não é orientada pelo padrão dos tempos e das culturas, mas no esplendor da verdade. Bento XVI (35) afirma:
A relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza. De facto, a liturgia, como aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor da verdade (veritatis splendor). Na liturgia, brilha o mistério pascal, pelo qual o próprio Cristo nos atrai a Si e chama à comunhão.
De acordo com o mesmo Sacrosanctum Cocilium, é na celebração litúrgica, que, por ser humana, se apresentam sinais visíveis e, por ser divina, mostram-se sinais invisíveis para a contemplação dos fieis. Se a relação entre esses sinais estão vinculados a arte da celebração, todo processo de inculturação do rito precisa estar submissa às orientações do missal romano.
O responsável por zelar pela liturgia na igreja é o Bispo, o ordinário diocesano, de tal maneira que os padres conciliares afirmaram:
O Bispo deve ser considerado como o sumo-sacerdote do seu rebanho, de quem deriva e depende, de algum modo, a vida de seus fiéis em Cristo. Por isso, todos devem dar a maior importância à vida litúrgica da diocese que gravita em redor do Bispo, sobretudo na igreja catedral. (Sacrosanctum Concilium, 41)
Dessa maneira, toda inculturação que não seja orientada e supervisionada pelo Bispo diocesano é herética e arbitrária e seus idealizadores estarão sujeitos a admoetações. A esse respeito afirma o Código de Direito Canônico (CIC[1]) (Cân. 528 § 2):
Vele o pároco por que a santíssima Eucaristia seja o centro da Sqüência paroquial dos fiéis; trabalhe para que os fiéis se alimentem pela devota celebra­S dos sacramentos e que de modo especial se aproximem com Sqüência dos sacramentos da santíssima Eucaristia e da penitência; esforce-se de igual modo ainda por que os mesmos sejam levados à prática da oração também em família, e tomem parte consciente e activa na sagrada liturgia, que o pároco, sob autoridade do Bispo diocesano, deve orientar na sua paróquia, e na qual está obrigado a vigiar para que subrepticiamente se não introduzam abusos.(grifo nosso)
A liturgia fielmente celebrada fortalece os indivíduos que dela participam com o corpo místico como um todo, que, unido a sua cabeça, Cristo, se dirige ao Pai Eterno.
A Igreja Católica Apostólica Romana celebra ao longo do ano a memória da sagrada salvação, por isso, quatro semanas antes do natal inicia o ano litúrgico com o advento, passa pelo natal, o tempo comum, a páscoa, a festa do pentecostes, o tempo comum e termina com a celebração de Cristo rei do universo.
O ápice da celebração é o mistério pascal de Cristo, por isso, como veremos a Eucaristia pode estar em todos os momentos da via da igeja e não uma ato da igreja que não leve o fiel a adoração do Cristo vivo no sacramento do altar.
II.            A Hierarquia da Igreja: o primado do bispo de Roma e a sucessão apostólica
A Igreja Católica Apostólica Romana, segundo o documento conciliar Lumen Gentium (20), acredita que Jesus deu a Pedro o múnus e apascentar a igreja e este foi transmitido sucessivamente ao longo dos anos e exercido pela ordem dos Bispos, o que pode ser claramente visto nas palavras do próprio documento: “Ensina, por isso, o sagrado Concílio que, por instituição divina, os Bispos sucedem aos Apóstolos, como pastores da Igreja; quem os ouve, ouve a Cristo; quem os despreza, despreza a Cristo e Aquele que enviou Cristo (cfr. Luc. 10,16)” (Lumen Gentium, 20).
Os Bispos recebem pela sucessão apostólica a tarefa de apascentar a igreja o que se dá no serviço de santificá-la, ensiná-la e governá-la (o tríplice ministério), porém nunca de forma independente ou rebele ao sucessor de Pedro e cabeça do colégio episcopal (CIC, Cân. 375).
O Código de Direito Canônico entende o Bispo de Roma da seguinte maneira:
O Bispo da Igreja de Roma, no qual perdura o múnus concedido pelo Senhor singularmente a Pedro, primeiro dos Apóstolos, para ser transmitido a seus sucessores, é a cabeça do Colégio dos Bispos, Vigário de Cristo e aqui na terra Pasto da Igreja universal; ele, pois, em virtude de seu múnus, tem na Igreja o poder ordinário supremo, pleno, imediato e universal, que pode sempre exercer livremente. (CIC, Cân. 331, grifo nosso)
A igreja interpreta que Jesus, no Evangelho de Mateus 16.18, na expressão: tu S Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam et portae inferi non praevalebunt adversum eam[2], como se Jesus tivesse dado singularmente a ele a autoridade de reger a igreja que está firmada nele, o que pode ser confirmado (no pensamento da fé romana) em João 21.15-17.
O poder papal é ordinário, ou seja, não cessa com ela mas segue uma ordem, por isso, o Papa Francisco é 266º papa da Igreja. A autoridade do Papa é suprema, ou seja, ela não pode ser questionada por nenhum órgão superior, nem mesmo sua vontade de renunciar ao múnus pode ser questionada se for livre e publicamente manifesta (CIC, Cân.332 § 2).
O papa não precisa de meios para exercer poder, tampouco está restrito (pela jurisdição eclesiástica) a nenhum território específico, logo é Papa até dos pagãos ou daqueles que não reconhecem sua autoridade.
A partir dessa concepção o Papa Francisco se sentiu a vontade para enviar uma mensagem aos líderes evangélicos reunidos no Texas ou entrar em uma Igreja Assembleia de Deus na Comunidade de Manguinhos rezando o Pai-Nosso em visita ao Brasil pela Jornada Mundial da Juventude em 2013.
O Papa quando se pronuncia ex cathedra, ou seja, “ato definitivo que tem de ser aceite uma doutrina acerca da fé ou dos costumes” é infalível, assim como os Bispos reunidos em Concílio Ecumênico (CIC, Cân. 749 e parágrafos). Dessa maneira, o papa pode ter opiniões pessoais falíveis, assim como pode falhar ao falar de ciência ou geografia (como a igreja falhou na Idade Média e Moderna), mas quando assume falar como Papa com o firme propósito de definir um problema restrito à fé e a moral ele é assistido de caráter infalível.
De fato essa doutrina se torna cada vez mais extravagante em mundo que não aceita nenhum tipo de autoritarismo de tal maneira que, em entrevista no avião que o levava do Brasil para a Europa em 2013, disse: “Se uma pessoa é gay e procura Deus e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-lo”. Com certeza a diplomacia requerida do Cardeal Bergóglio leva-o a ter cuidado em questões de moral que poderia julgar e definir, assim esse pronunciamento do Papa no avião não é infalível, porque é pessoal.
O documento conciliar Lumen Gentium (22) entende o Papa como vínculo da unidade, da caridade e da paz, de tal forma que toda a igreja está segura de seu pastoreio e os demais bispos só pertencem ao colégio apostólico em comunhão com o Servo dos Servos de Deus.
Os Bispos regem suas respectivas dioceses ou Arcebispos[3] em suas arquidioceses, ou seja, da igreja particular e trabalha para a edificação do rebanho auxiliado pelos presbíteros(padres) e diáconos. A esse respeito o Cerimonial dos Bispos (10) afirma:
O Bispo exerce o governo da Igreja particular que lhe está confiada, não somente por meio de conselhos, persuasões e exemplos, mas também usando da autoridade e do poder sagrado que recebeu pela ordenação episcopal para edificar o próprio rebanho na verdade e na santidade. “Os fiéis, por seu lado, devem aderir ao seu Bispo, como a Igreja adere a Jesus Cristo e Jesus Cristo ao Pai, de modo que todas as coisas concorram para a unidade e cresçam para glória de Deus.
A palavra cardeal vem do latim cardo, cardinis que significa eixo ou gonzo, o que revela muito de sua própria função, pois constitui o colégio peculiar de sua santidade podendo ser convocado para decidir assuntos de interesse da Santa Sé ou em Conclave para eleger o Sumo Pontífice.
III.           As devoções: Maria mãe da igreja
A Igreja Católica Apostólica Romana acredita na intercessão dos santos e os dedica especial veneração. Apesar do imaginário popular canonizar diversas pessoas como a Menina Izildinha, Padre Cícero ou Padre Donizete, o Código de Direito Canônico (Cân. 1187) afirma: “só é lícito venerar com culto público os servos de Deus, que foram incluídos pela autoridade da Igreja no álbum dos Santos ou Beatos”.
A igreja entende que no seu culto e lícito prestar honra aos santos, pois entende que dessa forma fomenta a santificação das pessoas (CIC, Cân. 1186), ou seja, o fiel lendo a hagiografia de um determinado santo sente-se inspirado a ser fiel a Cristo e a Igreja tal como ele foi.
Quando um homem ou uma mulher devidamente incluído no álbuns de santos ou beatos pelo Santo Padre é reverenciado na celebração litúrgica isso recebe o nome de dulia (palavra que vem do verbo grego Δουλεύω: ser escravo, servir, obedecer), quando a virgem Maria é venerada sempre de forma mais especial recebe o nome de hiperdulia (implica uma servidão maior e mais especial), a latria (palavra que vem do verbo grego Λατρεύω: ser mercenário, servir, adorar) só e dada a Deus.
Entretanto na prática cotidiana a igreja às vezes tem de fazer vistas grossas para não condenar uma série de atitudes da religiosidade popular que burlam seu próprios preceitos, haja vista, que um católico humilde e expremamente devoto de Santa Rita de Cássia pode precedê-la a Deus. O Cerimonial dos Bispos traz como uma de suas celebrações (neste caso paralitúrgica) a coroação de Maria.
A veneração para com as imagens da Bem-aventurada Virgem Maria manifesta-se de modo peculiar, ornando com a coroa real a cabeça da Virgem santa e, se for o caso, também a de seu Filho. Com este rito, os fiéis professam que a Santíssima Virgem, elevada à glória celeste em corpo e alma, é com razão considerada e invocada como Rainha, sendo como é Mãe e Cooperadora de Cristo, Rei do Universo, que, com o seu precioso sangue adquiriu todos os povos em herança. (Cerimonial dos Bispos, 1033, grifo nosso)
A propósito a ideia de que Maria foi assunta e coroada é um dogma mariana sem viabilidade Escriturística e que foi legitimado ex cathedra por Pio XII em 1950, na Encíclica Munificentissimus Dei, na qual diz:
A augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade ‘com um único decreto’ de predestinação, imaculada na sua concepção, sempre virgem, na sua maternidade divina, generosa companheira do divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas conseqüências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17)
Esse devocionalismo, muitas vezes, caminha paralelo a igreja sendo praticado especialmente por aqueles mais humildes. Quem não se recorda da obra O Pagador de Promessa de Dias Gomes, que narra a saga de Zé do Burro para pagar sua promessa a Santa Bárbara na igreja de salvador, porém encontra resistência do Padre, porque, na falta de imagens da santa d devoção nas igrejas firma a promessa de levar uma cruz tão pesada como de Cristo por sete léguas.
As idas e vindas internas e externas das grandes instituições religiosas descartam a ideia de uma evolução linear porque está na essência da religião o esforço no sentido do eterno retorno as suas origens místicas, assim como para a manifestação de uma ordem sempre ameaçada pelo caos (Mendonça in TEIXEIRA, 2008, p. 126).
Podemos perceber, como Wolters (2006, p.99), que a atenção do catolicismo é o exterior e, por isso, lega-lhe ritos que visam consagrar coisas, animais e pessoas no intuito de tornar santo.
IV.          A Revelação: a Palavra e a Tradição
O documento conciliar Dei Verbum (9) entende que a Palavra de Deus e a Tradição da Igreja procedem da mesma fonte divina e, por isso, tendem para o mesmo fim. Dessa maneira, ambas devem ser recebidas com igual reverência, porque, como vimos anteriormente, o Papa e os Bispos em concílio são infalíveis, tal como a Palavra.
A igreja detém a autoridade última na interpretação do texto sagrado (Dei Verbum, 12), por divino mandato e ministério. Os teólogos podem proceder suas pesquisas, mas desde que estejam submissos a autoridade última da Santa Sé.
A mesma coisa acontece quanto às traduções. Apenas a autoridade eclesiástica competente pode ceder autorização para publicar traduções vernáculas até mesmo contando com a ajuda dos irmãos separados. A esse respeito o Código de Direito Canônico (Cân. 825 § 1) afirma:
Os livros das sagradas Escrituras não podem ser editados sem aprovação da Sé Apostólica ou da Conferência episcopal; do mesmo modo, para serem editadas as versões dos mesmos nas línguas vernáculas, requer-se a aprovação da mesma autoridade, e devem ainda ser anotados com explicações necessárias e suficientes.
A igreja Católica Apostólica Romana incentiva os clérigos e sobretudo os scerdotes, diáconos e catequistas a se consagrarem ao ministério da Palavra estudando-a exaustivamente (Dei Verbum, 25), pois, como afirma Jerônimo, “a ignorância das Escrituras é a ignorância do próprio Cristo”, todavia seu ensino deve ser ministrado de modo seguro para ser útil e penetrar o espírito (Dei Verbum, 25).
Especialmente no sacrifício da missa[4], há duas mesas que servem em abundância o povo: a mesa da Palavra e a mesa de Eucaristia. Nessa celebração litúrgica
V.           Os Sacramentos: sinais visíveis da graça de Deus
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (774), a palavra grega μυστήριον (mysterion) foi traduzida no latim por sacramentum, assim o sacramento “exprime mais o sinal visível da realidade escondida da salvação” e servem como sinais e instrumentos pelos quais o Espírito Santo age. A própria Igreja serve como sacramento de Cristo, porque de maneira visível liga Deus ao homem (Catecismo da Igreja Católica, 775)
Dessa maneira, percebemos que os sacramentos são símbolos que acompanham o indivíduo por toda a sua vida: o Batismo, a Confissão, a Eucaristia, o Crisma, a Ordem, o Matrimônio e a Unção dos Enfermos, assim do nascimento a morte a igreja promove a essa íntima relação do homem com Deus. Não podemos nos esquecer que eles são celebrados in persona Christi, ou seja, quando os pais trazem à Igreja o filho para o batismo é o próprio Cristo quem procede esse rito e o mesmo acontece em todos os outros sacramentos que são da igreja e acontecem por meio dela (Catecismo da Igreja Católica, 1118). O documento conciliar Lumen Gentium (7) afirma:
O filho de Deus, vencendo, na natureza humana a Si unida, a morte, com a Sua morte e ressurreição, remiu o homem e transformou-o em nova criatura (cfr. Gál. 6,15; 2 Cor. 5,17). Pois, comunicando o Seu Espírito, fez misteriosamente de todos os Seus irmãos, chamados de entre todos os povos, como que o Seu Corpo.É nesse corpo que a vida de Cristo se difunde nos que crêem, unidos de modo misterioso e real, por meio dos sacramentos, a Cristo padecente e glorioso
Dos sete sacramentos o mais importante é a Eucaristia, porque, segundo Bento XVI, no Sacramentum Caritatis(17), “é fonte e ápice da vida e missão da igreja”. Por meio desse sacramentos fieis expressam visivelmente a unidade da igreja (Lumen Gentium, 11). O documento conciliar Sacrosanctum Concilium (10) afirma:
[...] pela renovação da aliança do Senhor com os homens na Eucaristia, e aquece os fiéis na caridade urgente de Cristo. Da Liturgia, pois, em especial da Eucaristia, corre sobre nós, como de sua fonte, a graça, e por meio dela conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a glorificação de Deus, a que se ordenam como a seu fim, todas as outras obras da Igreja.
Segundo o Código de Direito Canônico (Cân. 844), “Os ministros católicos só administram licitamente os sacramentos aos fiéis católicos, os quais de igual modo somente os recebem licitamente dos ministros católicos”.
VI.          O Perdão: a igreja dispenseira das bênçãos de Deus
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (1849), o pecado é uma falta contra a razão e é uma falta contra Deus e contra o homem e fere a ntureza do homem. O endurecimento do coração (a ignorância voluntária) não atenua o pecado, mas o agrava (1859). Todavia a ignorância involuntária pode ser considerar como um oitavo sacramento devido a sua eficácia em salavar.
A ignorância involuntária pode diminuir ou até escusar a imputabilidade de uma falta grave, mas supõe-se que ninguém ignora os princípios da lei moral inscritos na consciência de todo ser humano. Os impulsos da sensibilidade, as paixões podem igualmente reduzir o caráter voluntário e livre da falta, como também pressões exteriores e perturbações patológicas. O pecado por malícia, por opção deliberada do mal, é o mais grave. (Catecismo da Igreja Católica, 1860).
A Igreja Católica Romana faz gradação do pecado como pecado mortal (infração grave da lei de Deus) e venial (deixa substituir a caridade).
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (1865, 1866), S. João Cassiano e S. Gregório Magno perceberam que o pecado cria propensão ao pecado e, assim, existem alguns vícios podem nascer da repetição dos mesmos pecados que são chamados capitais: orgulho, a avareza, inveja, a ira, a impureza, a gula, a preguiça ou acídia.
VII.         A Eucaristia: a presença real de Cristo no altar
A missa é propriamente um sacrifício incruento (não há sangue), mas, como vimos anteriormente, é atualizado pela liturgia de tal maneira que faz os participantes vivenciarem o mistério. A Igreja Católica acredita que quando o celebrante profere as palavras que Jesus usou na sua última ceia o pão e o vinho mudam a sua essência em corpo e sangue de Jesus, o que é chamado de transubstanciação. O Catecismo da Igreja Católica (1376) repete a resolução de Trento:
“[...] pela consagração do pão e do vinho opera-se a mudança de toda a substância do pão na substância do Corpo de Cristo Nosso Senhor e de toda a substância do vinho na substância do seu Sangue; esta mudança, a Igreja católica denominou-a com acerto e exatidão transubstanciação’”
Segundo Berkhof (2001, p. 596), no decorrer da Idade Média o conceito realista da ceia foi se convertendo na ideia de transubstanciação que foi proposto em 818 Paschasius Radbertus e encontrou grande oposição de Rabanu Maurus e Ratramnus. Segundo McGrath (2005, p. 590,591), essa disputa que se da no mosteiro de Corbie entre Radbertus e Ratramnus e suas obras como títulos idênticos De corpore et sanguine Christi. Aquele concluiu sua obra em 844 em que defendia a ideia de que o pão e vinho se tornavam corpo e sangue de Cristo, enquanto este a presença apenas simbólica do Senhor. Macgrath, citando Paschasius afirma:
“O mesmo Espírito que criou o ser humano Jesus Cristo no ventre da virgem, sem contar com a semente humana, cria diariamente o corpo e o sangue de Cristo, por intermédio de seu poder invisível, pela consagração desse sacramento, mesmo que isso possa ser compreendido extremamente pela visão ou pelo sabor” (Paschasius Radbertus apud MCGRATH , 2005, p.591)
Bento XVI, na Encíclica Sacramentum Caritatis (11), expõe uma visão escatológica da transubstanciação:
A conversão substancial do pão e do vinho no seu corpo e no seu sangue insere dentro da criação o princípio duma mudança radical, como uma espécie de ‘fissão nuclear’ (para utilizar uma imagem hoje bem conhecida de todos nós), verificada no mais íntimo do ser; uma mudança destinada a suscitar um processo de transformação da realidade, cujo termo último é a transfiguração do mundo inteiro, até chegar àquela condição em que Deus seja tudo em todos (1 Cor 15, 28)
A fissão nuclear consiste em separar o núcleo dos átomos, o que gera uma reação em cadeia, porque em uma fissão são liberados nêutrons que se encontrarão em outros núcleos promovendo sua fissão e assim sucessivamente. O que Bento XVI quis dizer é que na consumação do sacramento da Eucaristia acontece uma ruptura com esse mundo, o que proporciona um antegozo das realidades celestiais.
Essa realidade fornece subsídio a constante adoração a esse sacramento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo do catolicismo romano se mostrou intenso e cheio de detalhes que nos levam a um diálogo mais intenso e efetivo no processo evangelístico. Esses detalhes precisam ser vistos com respeito, mas não deixa de nos municiar na formulação fundamenta de argumentos coerente e relevantes.
BIBLIOGRAFIA

Catecismo da Igreja Católica. São Paulo: Edições Loyola, 2000.
Código de Direito Canônico. São Paulo: Edições Loyola, 2001.
GRESCHAT, H.J. O que é Ciência da Religião. Trad.: Frank Usarski. São Paulo: Paulinas, 2005.
TEIXEIRA, F. (org.) A(s) Ciência(s) da religião no Brasil. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2008.
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html.
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html
http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus_po.html




[1] A sigla para Código de Direito Canônico é CIC de Codex Iuris Canonici.
[2] tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Almenida Revista e Atualizada)
[3] O arcebispo preside uma província eclesiástica (CIC, Cân. 435).
[4] “Na antiguidade, o termo ‘missa’ significava simplesmente ‘despedida’; mas, no uso cristão, o mesmo foi ganhando um sentido cada vez mais profundo, tendo o termo ‘despedir’ evoluído para ‘expedir em missão” (Bento XVI, 2009, p. 76)