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quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

Promessas de Ano Novo


Promessas de Ano Novo


Mais um ano chega ao fim. No final do anterior, fizemos muitos programas que tinham tudo para dar certo, mas, prestes a trocar mais um calendário, vemos que a maior parte das coisas não aconteceu como queríamos. De fato, muitos dos nossos fracassos são frutos de nossos descasos, negligências e falta de empenho, contudo outros não sucederam por mais que tivéssemos nos esforçado. Lidar com aquelas falhas é compreensível, porque basta que nos dediquemos mais. Entretanto como lidar com estas frustrações que fogem do nosso controle?

Essas situações evidenciam limites e revelam a incapacidade de gerir todas as áreas de nossa vida. Estamos a mercê de uma poder que abarca o mundo todo e essa irresistível autoridade é o próprio Criador. Foi em submissão a esse Soberano Deus que Abraão subiu o Moriá e que Moisés apenas contemplou a Cidade que corre leite e mel do monte Pisga ou Jó se resignou diante daquele lhe deu todas as coisas e as poderia retirar segundo sua vontade. Tiago nos orienta que devemos ter por motivo de grande alegria o passar por diversas tribulações, porque a finalidade delas é produzir em nós perseverança (Tiago 1.2,3).

O Pastor presbiteriano Timothy Keller afirma: “algumas vezes Deus parece estar nos matando quando na verdade está nos salvando”. Caro leitor permita-me um exemplo: imagine que alguém que você ame passe mal e a única oportunidade que tem de se salvar esteja em uma cirurgia. Por que o entregamos na mão de um médico para que com um bisturi seja aberto, depois mexido e costurado? Isso acontece, porque sabemos que esse profissional estudou e se preparou para tal procedimento e confiamos na sua experiência e na competência de sua equipe. Dessa maneira, por mais evasivo que seja o tratamento, sabemos que é o melhor a ser feito. Não exitamos. Por que não temos a mesma confiança nAquele que fez o médico e detém todo o conhecimento e a própria vida?

Exigimos provas de Deus, mas nenhum paciente senta-se diante do médico e diz: “tudo bem, o senhor irá me operar, mas não antes que eu veja seu curriculum ou as notas que você teve na faculdade”. O Senhor, conhecendo nossas mais íntimas necessidades, nos deu uma prova cabal: o fato de ter Cristo morrido por nós enquanto éramos pecadores (Romanos 5.8). Essa confiança ´´e crucial nos momentos adversos, contudo só pode existir nos eleitos por causa do Espírito Santo que opera a graça da fé salvadora (Efésios 2.8) no coração pelo ministrar da Palavra de Deus e dos sacramentos de forma ordinária.

Keller entende que nosso coração possui uma incrível capacidade e produzir ídolos, ou seja, “tomar uma alegria incompleta desse mundo e construir a vida inteira entorno dela”. Os ídolos nem sempre são coisas ruins, mas, geralmente, são pessoas, trabalho, o sexo, o amor de alguém, o poder ou o sucesso, etc., mas elevados como algo absoluto. Esse obstáculo na nossa relação com Deus está na nossa imaginação quando não estamos fazendo nada e nos dá a sensação de que sem eles seremos completamente infelizes. Keller defende que “a idolatria não é apenas um fracasso em obedecer a Deus; é uma marca de que o coração inteiro está em algo além de Deus”. Eles não podem ser arrancados, mas substituídos pelo real Senhor de nossas vidas, Jesus Cristo.

É por essa fé miraculosa que Abraão caminha o Moriá segurando o cutelo que desferiria o golpe mortal naquele que foi o herdeiro da promessa, contudo “julgando que Deus era poderoso para até dos mortos o ressuscitar; e daí também em figura o recobrou” (Hebreus 11.19). Deus estava tratando o coração do Pai de Isaque que poderia se esquecer que ele seria o melhor pai quanto mais amasse o Senhor sobre todas as coisas. Existem inúmeros pais que tomam seus filhos como ídolos e exigem que cumpram seus sonhos e os redimam.

Moisés precisava compreender que a entrada do povo na Terra Prometida não dependia dela e da determinação que tivera, tampouco a sua presença lá seria mais fundamental que a divina providência. Necessitava entender que nada era maior do que Deus inclusive para ele próprio.

Assim como o cirurgião parece estar matando o seu paciente rasgando-o, Deus parecia estar matando Abraão, Moisés, eu ou você, mas, na verdade, está tratando o mais profundo de nós, destruindo os ídolos que não podemos ver, dando a paz que excede todo entendimento capaz de guardar nossa mente e nosso coração em Cristo Jesus.

Saiba que nesse ano vindouro as coisas podem ser diferentes ora para melhor ora para pior, mas o cuidado de Deus supera a troca dos calendários, estará ao seu lado quando tiver fome para que se multipliquem os pães; quando o encapelado mar atentar contra sua vida, Jesus se levantará vitorioso para ordenar que seu mar se emudeça e mesmo que a morte venha com desejo fatal saiba que Jesus é a ressurreição e a vida e ainda que morramos ressuscitaremos com Ele.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

O Crente e o Natal

O crente e o natal

Quem não se assustaria ao ver alguém vestindo um grosso agasalho de lã nos dias de mais denso calor? Contudo todos convivem e respeitam o Papai Noel que, como a advento do ar condicionado, tem dias mais agradáveis em centros comerciais. Quantos já viram um pinheiro coberto de neve? Tirando aqueles que puderam viajar para o exterior ou em filmes e cartões postais isso é algo inimaginável em nosso clima tropical. Com certeza, natal é um fenômeno que merecia um estudo mais aprofundado.
Sem dúvida o natal é uma festa singular, pois apesar de parecer avesso a nossa cultura clima irradia ternos sentimentos nas pessoas e permite um aquecimento ímpar de nossa economia. O missionário presbiteriano Rev. Ashebel Green Simonton registra em seu diário que não teria natal no ano de sua chegada, pois não concebia essa festa em pleno verão.
Tirando as datas cívicas, todas as nossas festividades são de influência europeia e foram transmitidas pelos nossos colonizadores ou pelos diversos imigrantes que encontraram em nosso solo oportunidade de vida. As misturas culturais de nosso pais (do europeu, do índio e do africano) permitiram que muitas festas ganhassem em nosso país um rosto único.
O Natal, por causa do catolicismo popular, se integrou em nossa cultura em sem perder os símbolos europeus. Tem forte apelo às pessoas o fato de ver uma criança entregue a futura morte em flagelo inominável. Todavia essa festa tem encontrado alguns problemas: o fato de sua influência pagã e o consumismo latente.
A influência da teologia neopuritana tem feito muitas igrejas a deixar de comemorar essa data. Puritano, segundo o Rev. Augustus Nicodemus Lopes, no texto “Sobre puritanos, puritânicos e neopuritanos”, foi um termo dado a ministros e pastores ingleses entre o séc. XVI e XVIII presbiterianos, batistas e congregacionais que defendiam um alto grau de pureza. Segundo Manoel Canuto, no texto “Em que os alcunhados Neopuritanos são semelhantes aos Puritanos, hoje no Brasil”, os puritanos eram conhecidos como teólogos da santidade e foram exemplos de piedade e ortodoxia.
Os puritanos tiveram um papel muito importante na história da igreja e assim como a Reforma Protestante nos deixaram um grande legado em obras teológicas de referência, mas suas ideias devem ser interpretadas à luz das Escrituras, pois só elas são inerrantes e nossa única regra de fé e prática.
De fato, o Natal não era uma data religiosa contemplada pelos puritanos e chegaram a proibi-lo na Inglaterra e Estados Unidos nos séculos XVI e XVII. Na Inglaterra, esta festa foi proibida em 1644 pelo parlamento puritano e só voltou a ser comemorado em 1660 com a ascensão de Carlos II e voltou a ser feriado apenas em 1856. O Peregrinos que desembarcaram do Mayflower baniram o Natal em Boston de 1659 a 1681 e apenas em 1870 o 18º presidente Ulysses Grande (1822-1885) declarou o dia 25 de dezembro como feriado. O líder romano Padre Paulo Ricardo afirma que os Protestantes quase acabaram com o Natal na Inglaterra e na América Inglesa, contudo o fizeram pelas seguintes razões:
·      O dia 25 de dezembro não é o dia do nascimento do Senhor Jesus. Partindo do pressuposto de que Zacarias servia no turno de Abias (Lc 1.5. Os levitas se dividiam em 24 turnos que ministravam durante 15 dias duas vezes ao ano no templo [Veja 1Cr 24.1-19] e o turno de Abias era o oitavo turno [1Cr 24.10]) que caia no mês de Tamuz (junho e julho, quarto mês judaico [Veja Jr 39.2 e Zc 8.19]) e quando terminou seu serviço sua esposa concebeu João Batista (Lc 1.23,24). Sabendo que Jesus tem seis meses de diferença de João (Lc 1.26) o Senhor teria sido concebido no final de Tebede (dezembro e janeiro) e início de sebate (janeiro e fevereiro), nascendo no mês de etenim (setembro e outubro) quando os judeus comemoravam a festa dos tabernáculos;
·      No dia 25 de dezembro, os romanos comemoravam a festa do Deus Sol conhecida como solis invictus (sol invicto) a mando do Imperador Aureliano. Nessa data acontece no hemisfério norte o solstício de inverno (a noite mais longa do ano) e na mentalidade pagã era o próprio nascimento do sol chamada de Brumália e era realizada logo após a Saturnália (festa e honra ao deus saturno) que acontecia do dia 17 a 24 de dezembro. Essas eram festa populares entre os pagãos e tem origem desde de o Egito, onde o sol também era visto como uma divindade (deus Rá ou Ré);
·      Não há nenhuma orientação bíblica para que essa data seja comemorada (por isso os puritanos também não comemoravam a Páscoa e o Pentecostes). Os Puritanos se orientavam pelo princípio regulador do culto: “A luz da natureza mostra que há um Deus que tem domínio e soberania sobre tudo, que é bom e faz bem a todos, e que, portanto, deve ser temido, amado, louvado, invocado, crido e servido de todo o coração, de toda a alma e de toda a força; mas o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por ele mesmo e tão limitado pela sua vontade revelada, que não deve ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás nem sob qualquer representação visível ou de qualquer outro modo não prescrito nas Santas Escrituras” (Confissão de Fé de Westmnister XXI.1);
·      Passa a ser comemorado pela igreja a partir do século IV quando a Igreja começa a se desviar se transformado no que chamamos de Igreja Romana.
Os símbolos de natal eram igualmente repudiados, pois eram provenientes da cultura pagã:
·      A árvore de natal: os pagãos tinham o costume de enfeitas as árvores no inverno para que os espírito delas retornasse depois do inverno;
·      A guirlanda: era o ornamento próprio dos lugares de culto pagão.
Não vemos como um problema a comemoração do Natal pelos seguintes motivos:
1.)             O que a data significou no passado não é importante, mas que ele significa hoje: os pagãos só poderiam interpretar de maneira precária o solstício de inverno, pois, carentes da iluminação do Espírito, “mudaram a glória do Deus incorruptível em imagem de homem corruptível” (Rm 1.23). Contudo, nós que conhecemos a Palavra não podemos ver a revelação geral do Senhor de outra maneira a não ser contemplando seus atributos invisíveis, tal como seu eterno poder. Não estamos dizendo

Sobre essa tendência neopuritana concordamos quando o Rev. Augustus Nicodemus Lopes afirma que o transplante do puritanismo que floresceu na Inglaterra e na Escócia entre os séculos XVI e XVIII necessitam de traços históricos que não existem hoje, porém podemos com sucesso utilizar sua teologia e imitar sua piedade. O Pastor John MacArthur defende que devemos comemorar o Natal, pois Romanos 14.5-6 nos dá liberdade para celebrarmos ou não dias especiais. Portanto, comemoremos como os anjos e o pastores.

O sentido do Natal


O sentido do Natal


O Natal chegou e já nos acostumamos com as imagens peculiares de uma festa tão popular quanto mal comemorada. É, igualmente, comum que nos façamos a pergunta “clichê”: qual o verdadeiro sentido do Natal?. É uma indagação tão trivial e redundante, quando a incapacidade de respondê-la adequadamente.

Acaso o Natal se resume a figura de um velhinho afetuoso que, apesar do verão, insiste na vestimenta de inverno; enquanto se pede carrinho ou boneca do seu saco mágico só saem balinhas; viaja de renas voadoras no dia vinte e quaro de dezembro, mas chega no “Shopping” de helicóptero. Essa é a magia do Natal? Com certeza não!

Será, então, uma festa cheia de comida e bebida? Onde famílias, que o ano inteiro viveram longe, estreitam seus laços por bem ou por conveniência? Evidentemente não é esse o sentido dessa festa! Talvez sejam as luzes e os enfeites que mexam com as pessoas? Será os comerciais bem elaborados e divertidos onde se ensina como cantar a mesma canção ou comprar mesma bebida de maneiras diferentes? Obviamente não! O verdadeiro sentido do Natal é Jesus.

Não tenho aqueles pudores de rejeitar o Papai Noel e impedir que minhas filhas o vejam por medo de perderem o foco. Isso é uma questão cultural. Sei que nós, como pais, e a igreja, como família da fé, temos apontado para elas a manjedoura de Belém como a realidade mais profunda dessa comemoração. Buscar familiares e encher a barriga com galináceos e outros gêneros alimentícios só terá sentido se estivermos dispostos a nos doar nessa relação como Jesus se doou por nós na cruz (Filipenses 2.7), a natural extensão da manjedoura. Quando o Emanuel é o centro de nossas vidas tudo fica em segundo plano até a nossa própria existência.

Muitos Evangélico dirão que Jesus não nasceu no dia vinte e cinco de dezembro e isso é verdade. Dirão que essa foi a maneira da igreja cristianizar a data pagã do solis invictus, a superstição ímpia de que, no solstício de inverno, o sol, apesar de perder a luta contra as trevas, saia vigoroso, vencedor, irradiando sua luz absoluta. Mas não foi Zacarias, de forma inspirada, que comparou o Messias ao sol nascente dizendo: graças à entranhável misericórdia de nosso Deus, pela qual nos visitará o sol nascente das alturas, para alumiar os que jazem nas trevas e na sombra da morte, e dirigir os nossos pés pelo caminho da paz” (Lucas 1.78,79)?

Contudo não é dever contínuo da igreja recordar-se e render graças a Deus pelo fato do Senhor ter cumprido a promessa feita a nossos primeiros pais, quando falando a serpente (diabo – Apocalipse 20.2) prometeu: “porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” (Gênesis 3.15)? Há uma inimizade permanente entre os descendentes da mulher a linhagem de Sete que adoram o Senhor (Gênesis 4.26) e a linhagem de Caim que imitam a conduta diabólica, mentirosa e assassina de seu pai, o diabo (João 8.44). Essas duas sementes convivem no mesmo terreno do mundo como o joio e o trigo até o dia do juízo (Mateus 13.30).

A esperada profecia se concretizou na plenitude do tempo (Gálatas 4.4) quando os mares estavam pacificados aos portadores do Evangelho para que o singrassem sem o perigo de piratas; quando estradas partiam de Roma a todas as extensões do império e a língua grega, compreendida na maior parte do império, permitia a melhor transmissão da Santa Mensagem.

Em um momento da história a jovem Maria pronunciava seu sim, qual nos dias de outrora, quando o Espírito pairava sobre as águas, vinha sobre ela o poder do Altíssimo lha cobriam (Lucas 1.35) de tal maneira que Jesus compactuou na natureza de sua mãe que foi unida a sua natureza divina sem conversão, fusão ou confusão.

O Pai dava seu filho unigênito (João 3.16) e se agradaria em moê-lo a fim de ver o prolongamento de sua posteridade e a vontade do Senhor prosperar em suas mãos (Isaías 53.10). E sanou todos os obstáculos humanos, pois sanou as dúvidas de José (Mateus 1.24) e quando todos fecharam suas portas havia uma manjedoura de maneira que a primeira noite de natal foi vista pelos pastores, os animais e o coro dos anjos.

Lembre-se de que a sua noite de Natal pode não ser a mais luminosa aos olhos dos homens, mas você será feliz se a luz do mundo irradiar seu coração. Talvez não haja a ceia sonhada, mas será farta se o pão da vida já o tiver saciado. Pode não ter um o Papai Noel com um saco de presente nas costas, mas será maravilhosa se você entender que ganhou o maior presente de todos – a vida eterna – daquele que carregou a cruz no seu lugar. O seu Natal não precisa ser bom na perspectiva dos homens se for pleno em Jesus.

sábado, 16 de dezembro de 2017

O Suicídio

O Suicídio
“Já basta, ó Senhor; toma agora minha vida, pois não sou melhor que meus pais” (2Reis 19.4b).

Todas as pessoas vivem na expectativa de saber qual será a real consequência de suas atitudes e o reflexo que elas terão na eternidade. Nossa única opção é confiar no relato bíblico.
O suicídio é um desses temas cercados por opiniões diversas e divergentes, que, na maioria das vezes, em nada se respaldam na Palavra e em uma teologia sadia, mas na tradição católica que persistem em nossa cultura e nas ideias geralmente validadas por versículos dispersos e fora de contexto.
Portanto, o que devemos pensar a respeito de uma pessoa que se suicida? Ela perde ou não a salvação? Dentro dessa pergunta é necessário pensarmos no conceito reformado de salvação.
A fé, as boas obras e o arrependimento acompanham tanto e tão intimamente a vida daquele que é salvo que pode se acreditar que eles, de alguma maneira, promovam a nossa salvação. Todavia Paulo afirma que a fé é o instrumento de nossa justificação (Romanos 5.1), assim como as boas obras (“aquelas que Deus ordena em sua santa Palavra” CFW XVI.1) mostram que fomos salvos, mas não provocam de nossa eleição, afinal de contas fomos criados “para” (a preposição ἐπὶ epi regendo dativo transmite a ideia de espaço, tempo ou causa no sentido de estar na base, no início de algo) e não “pelas” boas obras (Efésios 2.10).
Dessa maneira, Paulo fala aos Efésios 2.8,9: “pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus, não vem das obras para que ninguém se glorie”. Partindo do pressuposto de que toda a verdade é verdade de Deus tomamos o conceito de suicídio advindo da sociologia. O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) define suicídio como: “todo caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima e que ela sabia que produziria esse resultado” (Suicídio, 2000, p.14).
Da mesma maneira, propõe três classificações de suicídios. A primeira categoria é o suicídio egoísta, ou seja, aquele em que o indivíduo tem um bom trabalho, família amigos, mas, mesmo sem nenhum motivo aparente há um afrouxamento dos laços que ligam o seu eu/ego à sociedade o que lhe subtrai completamente o sentido da vida. Esse estado de letargia que deseja a morte é o mesmo que sentiu Elias debaixo do Zimbro (2Reis 19.4). Semelhante a esse, a segunda categoria é o suicídio anômico, no qual o indivíduo perde sua a posição social, dinheiro emprego ou família e sem esse ponto de apoio não encontra meios para continuar vivendo. Essa categoria pode ser vista nos suicídios de Abimeleque (Juízes 9.54), Saul (1Samuel 31.3-6), Aitofel (2Samuel 17.23), Zinri (1Reis 16.18). Existe um grupo de pessoas que tentam ver no ato de Sansão (Juízes 16.29-31) como algo que fuja ao suicídio, como a morte de um combatente, contudo Durkheim o classificaria como suicídio altruísta, ou seja, aquele que decide morrer por um bem maior. Entretanto, apesar de Sansão ter cometido suicídio, está entre os heróis da fé (Veja Hebreus 11.32).
A Lei Moral diz: “não matarás” (Êxodo 20.13). Os puritanos da Assembleia de Westminster registraram na pergunta 69 do Breve Catecismo, que o sexto mandamento proíbe “tirar a própria vida, ou a do nosso próximo injustamente, e tudo aquilo que para isso concorre”. Nesse contexto alguns irão usar Apocalipse 22.15 para provar que os suicidas terão a segunda morte, ou seja, irão para o inferno. Contudo, à luz desse versículo, o que faremos com Davi que era homicida e adúltero, mas além de estar na mesma galeria de heróis da fé (Hebreus 11.32) era homem segundo o coração de Deus (1Samuel 13.14)?
Igualmente, devemos levar em consideração que Jesus afirmou que existe apenas um pecado sem perdão que é a blasfêmia contra o Espírito Santo (Mateus 12.31), o qual, pelo contexto da conversa de Jesus com os Fariseus, é a apostasia. Haverá aqueles que utilizem esse versículo para mostrar que o suicida é um apóstata que morre em seu ímpeto de rebeldia sem se arrepender. A Confissão de Fé de Westmnister defende que o arrependimento é uma graça evangélica (XV.1), é necessário ao pecador, mas não é a causa do perdão, tampouco pode satisfazer o pecado (XV.3). Se verbalizar uma confissão como o Salmo 51 fosse imprescindível ao perdão o que se dizer das crianças que morrem na infância ou ao mentalmente incapazes? Assim como os suicidas, se foram eleitos antes da fundação do mundo (Efésios 1.4) serão salvos, se foram preordenado à morte irão ao inferno já que nossa salvação não depende de nosso arrependimento, obras ou fé, mas da graça. Nossa salvação é fruto do decreto de Deus, ou seja, dos “atos sábios, livres e santos do conselho” da vontade de Deus que servem para a sua glória e são imutáveis. (Veja CM, 12)
Não estamos de forma alguma endossando o suicídio como uma solução, assim como nenhum pecado é capaz de resolver problema algum. Todavia tentamos ser coerentes com nossos pressupostos teológicos que emanam das Escrituras. Isso não é suavizar a Palavra, tampouco adocica-la. A Bíblia não precisa ser suavizada, muito menos endurecida, mas pregada com fidelidade para que pressupostos que pareçam bons não escondam a verdade do Evangelho de tal maneira que homens sejam mais justos ou misericordiosos que nosso Senhor.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

A arca de Noé e o batismo


A arca de Noé e o batismo

“Contigo estabelecerei a minha aliança ; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos” (Gênesis 6.18).


No senso comum, parece que existe uma divisão no batismo quanto a católicos e protestantes de tal maneira que aqueles batizam crianças e estes adultos e a explicação é que isso parece mais bíblico e lógico, pois a pessoa tem a possibilidade de escolher sua postura quanto a fé. Isso está tão enraizado na mente das pessoas que causa estranheza o fato da Igreja Presbiteriana, por exemplo, batizar crianças. Os incautos ficam confusos quando ao pedobatismo (batismo de crianças) como se fosse um resquício romanista.

Contudo essa prática está alicerçada em uma profunda compreensão na teologia do pacto, ou seja, “o vínculo/elo de amor, iniciado e administrado pelo Deus triúno  com sua criação, representada pelos nossos pais” (Mauro Meister).

A Confissão de Fé de Westmnister(VII.1) entende que apesar de todo ser racional dever obediência ao seu Criador, mas uma distância tão grande os separam que o homem jamais usufruiria de qualquer bem-aventurança ou recompensa sem que o Senhor de forma voluntária se condescendesse o que fez porpor meio de um pacto. O primeiro foi efetuado com Adão e foi chamado pacto das obras, no qual a vida foi prometida a Adão e a sua posteridade mediante a obediência pessoal (CFW VII.2), mas uma vez que nosso primeiro pai quebrou a aliança (Oséias 6.7) e, porque era o cabeça da humanidade, transmitiu esse estado corrompido a todos os seus descendentes (Gênesis 5.3).

Reverendo Paulo Anglada enfatiza o fato de que o Antigo e o Novo Testamentos não ensinam duas religiões diferentes, mas a igreja cristã é um galho enxertado na árvore cuja raiz é Abraão (Rm 11.13-24). Dessa maneira, assim como a circuncisão era a porta de entrada no povo de Israel e não tinha poder para salvar, tampouco que fornecia meio ou era essencial para essa finalidade, o batismo é utilizado nesses mesmos moldes. Entendamos que a circuncisão instituída em Gênesis 17.9-14 não foi capaz de salvar Ismael ou Esaú, pois a salvação é pela graça (Efésios 2.8) e, quando os gálatas recorreram a esse artifício para colaborar com a salvação Paulo enxerga como um retrocesso, uma deserção (Gálatas 1.6).

Segundo A. Hodge, Pedro (2Pedro 3.20,21) entende que o batismo é um antítipo da salvação das oito pessoas na arca (Gênesis 6.18) com as quais o Senhor empreendeu sua aliança. A tripulação da arca estava debaixo da aliança, mesmo que nem todos fossem eleitos como é o caso de Cam. Da mesma maneira, o infante é recebido na igreja, por que delas também é o Reino dos céus (Mateus 19.14), todavia, apesar de nem todas serem eleitas, estarão debaixo da aliança.






sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Se o feto falasse


SE O FETO FALASSE!

“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que põem as trevas por luz, e a luz por trevas, e o amargo por doce, e o doce por amargo” (Isaías 5.20)




Vivemos essa triste realidade apresentada pelo profeta Isaías, pois com maior frequência e amplitude os padrões morais se tornam mais flexíveis e ajustáveis ao sabor dos nossos dias. Aquilo que outrora era nitidamente ridículo e absurdo como o casamento homoafetivo e o aborto parecem homeopaticamente palatáveis até aos gostos mais conservadores. Não faltam igrejas e exegetas tentando legitimar essas práticas em nome de uma amor irresponsável, porque não é bíblico.

Há alguns dias tenho acompanhado, na mídia, a saga de uma jovem de trinta anos, mãe solteira de duas crianças (uma de nove e a outra de 6 anos). Estudante de direito e detentora de uma salário muito baixo. Vendo-se em uma terceira gravidez decidiu que seria melhor interromper essa gestação tentando desbravar as vias legais.

É óbvio que essa mulher é um peão no tabuleiro ideológico de partidos que anseiam fazer imperar em nosso pais padrões que visam aniquilar a família, a propriedade e as liberdades individuas. Seduzindo os incautos a quimera de acreditar que um Estado grande e forte é capaz de suprir as necessidades que só Deus pode.

Pessoas que se julgam a frente de seu tempo e  possuidoras de cabeças tão abertas e frouxas podem rotular esse texto como machista, retrógrado, insensível. Afinal de contas as leis de nosso pais deveriam dar voz a pessoas como essa jovem que já tem dois filhos, um mísero trabalho temporário e gostaria de continuar estudando para melhorar e vida. Diante do silencio do Supremo Tribunal Federal ao seu pedido, afirmou à mídia: “me senti como um nada”. Agora, como o feto de sete semanas, com menos de dois centímetros, cujo coração já pulsa, deveria se sentir? Amado? Protegido? Amparado? Sim, como um inquilino que não pagou o aluguel e está sendo posto no olho da rua. Até quando o caráter e a honradez serão medidos pelo quanto se tem no bolso? Pois se ela fosse uma advogada de sucesso estaria escolhendo o berço ou o próximo argumento?

Essa realidade é má, sombria e amarga chama-la de outra coisa é merecer o juízo de Deus e nos omitirmos diante dessas mazelas morais é erigir esse monumento abominável. A têmpera de uma nação é avaliada pelo legado que deixa as suas futuras gerações. Quando se apoia o aborto estamos dizendo aos mais jovens: lembrem-se de que os seus desejos e prazeres estão acima de tudo e em nome deles vocês podem cometer as coisas mãos adversas.

Uma sociedade que nasce à sombra do aborto sempre se lembrará de que vivem, porque não foram mais pesados que os prazeres de seus pais. Contudo, aquele que controla todas as coisas na sua infinita sabedoria e misericórdia ri dessa arrogância, pois a esse fato grotesco de nossa nação a Rosa, que por muda, foi execrada, depois será tida como providência.

sexta-feira, 24 de novembro de 2017

A sinistra liberdade da gaiola


A Sinistra liberdade da gaiola

“[...] o que foi semeado em terra boa, este é o que ouve a Palavra, e a entende e dá fruto [...]” (Mateus 13.23).



Arvoredo é uma cidade típica de interior onde as pessoas ainda se sentam a porta para jogar conversa fora. Todos se conhecem e o homem mais sábio da cidade era o seu Antônio, o farmacêutico, que entre unguentos e injeções tinha uma outra paixão: os pássaros tinha viveiros e viveiros repletos, mas tinha predileção por quatro canários que ficavam na parede do alpendre. Diferente dos outros esses tinham apelidos que se sobrepunham às oficiais nomenclaturas científicas e cantos pitorescos. Antônio os chamava de Caifás, Demas, Um talento e Paulo. Esses canários, por serem preferidos aos demais, eram tratados não por empregados, às vezes relapsos, mas pelo próprio Antônio, que, se deleitavam o cântico matinal, que, como sublime quarteto, deixavam seu café da manhã mais saboroso. Às vezes deliciava-se tanto com aquele canto natural que se atrasava em chegar no seu estabelecimento.

Existem muitos pássaros vagabundos que vivem da tentativa de roubas a água cristalina e o alpiste dourado daquele Versaille de arame prateado e a abundância só fazia aquelas aves nobres mais altivos e orgulhosos, mas havia um pássaro maltrapilho que se diferenciava dos outros. Não roubava, muito menos insultava aqueles lordes emplumados, mas falava a todos de um mundo muito mais rico e verdadeiro. Era chamado de Evangelista e dizia que eles estavam presos em suas gaiolas e que aquela vida era uma mentira. Acusava-os de idolatria, porque no lugar de adorarem o Criador adoravam a criatura. Alguns pássaros começaram a ouvi-lo, outros o tinham por um tagarela. Entre os que gostavam dele estavam três dos canários prediletos. Caifás, cheio de sua natural empáfia, chamava-o de louco e herege. Como renegariam o Antônio que com tanto amor cuidava deles para seguirem devaneios infundados.

Não demorou muito tempo até Demas e Um Talento fugirem de suas gaiolas. Aproveitaram um descuido e voaram com toda as forças. Antônio ficou desolado, não queria se alimentar e mesmo que Caifás fizesse estripulias musicas nada o fazia feliz. Os dois fugitivos, como nasceram em cativeiro, não conheciam as adversidades da vida. Decidiram seguir caminhos diferentes, mas um talento logo percebeu que em todo canto haviam inúmeros predadores prontos para devorá-lo. Com muito medo, sentiu saudade da proteção que a gaiola oferecia. Não demorou muitos dias a aparecer na janela do farmacêutico ansioso a ser reintegrado naquele mundo de constância e proteção.

Demas resistiu mais, contudo percebeu que a comida precisava ser encontrada e, como era preguiçoso, depois de uma curta estadia na liberdade logo retornou a mesma gaiola onde tinham a sinistra liberdade de saber em qual puleiro veriam aquela vida de escravidão e conforto.

Caifás os recriminava vociferando que deveriam cantar com mais gosto pela grande misericórdia que receberam. Dizia que outro dono teria fechado a porta ou cortado as asas deles. Paulo ouvia as histórias deles e se tornara um dos poucos a procurar as palavras de Evangelista. Era estranho, porque mesmo tomando conhecimento das dores além da gaiola e da escassez que poderia enfrentar seu mundo era maior do que a extensão daqueles arames e há muito tempo não entoava seu canto ao dono que os alimentava, mas ao soberano Criador que lhe dera a vida e proveria suas necessidades.

Depois da fuga dos pássaros, Antônio se tornara muito mais cuidadoso no trato e não oferecia brechas. Naquele palácio que virara Alcatraz, Paulo pedia uma oportunidade. Houve um dia especialmente quente, Caifás nem conseguiu chegar as oitavas que estava acostumado. Entre uma partitura e outra bebericava a sua água, sem em temperatura ambiente, mas aquela noite foi memorável. Uma ventania se armou antes da chuva que fez com que a gaiola de Paulo caísse e a porta se abrisse. O porvir se mostrava terrível, mas incrivelmente nada mais lhe importava. Não ouviu as súplicas de Caifás, não percebeu as lágrimas de Um talento, tampouco o deboche de Demas. Mergulhou na amplidão em um voa que não teve mais fim.

No outro dia, pela manhã, na hora do trato, Antônio viu a gaiola amassada e o deu como morto e de fato estava, pois já não era ele Paulo que vivia, mas Cristo é que viveria nele agora.

O que significa comemorar o dia de Ação de Graças?


O que significa comemorar o dia de Ação de Graças?

“Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13)






Um observador descuidado pode acreditar que o dia de ação de graças é mais uma data importada que pouco diz a nossa cultura, contudo, diferente do halloween, essa comemoração fala sobre a vida e a perseverança na fé. Quando os primeiros colonos norte americanos, depois do inverno rigoroso de 1620, veem os primeiros frutos, sentem-se a necessidade de agradecer a Deus pela sua ininterrupta providência capaz de trazer aquilo que precisamos, porque o Senhor é nosso pastor (Salmo 23.1).

Dessa maneira, a primeira grande verdade que devemos nos lembrar nesse dia é o fato de que não devemos murmurar. É comum que as pessoas queiram, diante de suas adversidades, culpar tudo e todos até mesmo Deus (veja a atitude de nossos primeiros pais em Gênesis 3.12,13). Entretanto somos convidados pela Palavra a compreendermos que a vontade de Deus é boa, perfeita e agradável (Romanos 12.2), ou seja, não estamos aqui para entendermos tudo o que acontece conosco, pois existem coisas veladas que pertencem a Deus (Deuteronômio 29.29). Mas vivemos para glorifica-Lo e nos alegrarmos nEle para sempre.

O murmurador não compreende que seus sofrimentos podem ser consequência de seus pecados como quando Davi é orientado que a espada não se apartaria de sua porta (2Samuel 12.10). Os sofrimentos de Davi eram consequência de sua atitude reprovável com Bate-Seba e com Urias. Contudo é possível que o Senhor permita que sejamos provados para nos tornarmos mais perseverantes (Tiago 1.1-3) como aconteceu com Jó. Em nenhuma dessas duas situações, é lícito murmurar, pois, na primeira, é a disciplina de Deus que visa nosso benefício e, na segunda, tem o objetivo de nos fazer crescer na dependência do Senhor. Portanto, em ambas as situações vemos o amparo e o amor dAquele que faz todas as coisas segundo o conselho da sua vontade (Efésios 1.11).

A segunda verdade que somos convidados a nos recordar é que o Senhor provê sobre nossas vidas. De acordo com o Catecismo Maior de Westminster (pergunta 18), “as obras da providência de Deus são a muita santa, sábia e poderosa maneira de preservar e governar todas as suas criaturas e todas as suas ações, para a sua glória”. Deus governa todas as coisas desde as grandes até as muito pequenas e nenhuma assunto é para ele de somenos a ponto de não se importar.

A palavra fala a respeito dos discípulos dos profetas que, por acidente, deixaram um machado alheio cair na água (2Reis 6.5). É interessante que esse evento está entre a cura de Naamã (no capítulo 5) e o abastecimento miraculoso do Reino que estava sitiado pelos hititas e arameus (capítulo 7). Essa sequência mostra como Deus exerce governo sobre a lepra do alto oficial sírio, sobre o abastecimento de todo um reino em tempos de guerra e sobre a incidente da perda de uma machado. Não existe circunstância elevada demais ou diminuta que não careça de nossos joelhos quebrados diante daquele que nos deu tudo até mesmo o fôlego de vida.

O grande engodo de satanás, desde o Éden, é fazer o homem acreditar que poderia obter o conhecimento completo sem Deus, que a desobediência lhe permitiria ser autossuficiente. Todavia o resultado foi a gradativa morte física e a imediata morte espiritual, ou seja, “decaíram de sua retidão original e da comunhão com Deus, assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas as suas faculdades e partes do corpo e da alma” (Confissão de Fé de Westminster VI,2). Portanto, sem a ação graciosa de Deus nossos atos de justiça seriam ainda como trapos de imundícia para o Eterno Pai (Isaías 64.6). Dessa maneira, tudo o que fazemos depende do Senhor e acontece para a sua glória.

A terceira verdade é que precisamos ter uma visão diferenciada sobre nossa vida. É muito frequente que nossa visão seja influenciada pelos padrões vigentes em nossa cultura. É tentador almejar àquilo que a maioria considera bom e podemos desprezar o que a maioria considera ruim. Esses critérios são falhos e fugazes, pois o profeta Isaías afirma que podem existir aqueles que chamam mal ao bem e bem ao mal, assim como a luz de trevas e as trevas de luz, tal como o amargo de doce e o doce de amargo (Isaías 5.20). Guiando-me pela maioria posso compactuar desse desastroso e condenável engano.

Não é à toa que Jesus exorta os seus discípulos a não ficarem inquietos quanto ao que haveriam de comer, beber e vestir, mas buscar primeiro o reino de Deus e a sua justiça certo de que essas necessidades lhes seriam acrescentadas (Mateus 6.31-33). Não são poucos os que depositam suas vidas naquilo que é naturalmente perecível ou que os homens podem roubas. Paulo busca os tesouros do alto que ladrões não roubam, a traça não come, tampouco enferrujam, pois afirma: “sei bem em quem tenho crido e estou plenamente convicto de que Ele é poderoso para guardar o que lhe confiei até aquele dia” (2Timóteo 1.12).

Segundo o puritano John Gill, Paulo deposita em Cristo os seus labores e sofrimentos que passara pelo Reino consciente de que o sentido de todas essas coisas não está nesse mundo, mas no porvir, por isso, não murmurou, mas proclamou que encontrara o segredo para viver contente em toda e qualquer circunstância: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4.13). Destarte, o dia de Ação de Graças significa: compreendermos que nossa vida é dirigida não pelos eventos fortuitos e casuais, mas pela mão santa e sábia do Criador e, confiando assim, não precisamos temer os dias maus, tampouco nos excedermos na bonança.

O Presbítero Regente e o Diácono


O Presbítero Regente e o Diácono


“[...] procurarás entre o povo homens de capacidade, tementes a Deus, homens verazes, que aborreçam a avareza, e os porás sobre eles por chefes de mil, chefes de cem, chefes de cinquenta e chefes de dez;” (Êxodo 18.21)



1.) O que significa a palavra Presbítero?

A palavra Presbítero significa “ancião”. Isso não significa que eles precisem ser velhos, mas aptos a liderar. Paulo exorta a Timóteo para que ninguém o despreze pela sua idade (1Tm 4.12). Dessa maneira, ele era jovem, mas estava a frente de uma igreja e tinha recebido a imposição de mão do presbitério (1Tm 4.14).

2.) O que faz um presbítero?

Os presbíteros, juntamente com os pastores são oficiais dos Concílios da Igreja Presbiteriana do Brasil (CI/IPB art.26), ou seja, podem, se eleito pelo Conselho, participar do Presbitério e, se designados por este, participar do Sínodo e do Supremo Concílio. O Presbítero Regente é o representante imediato do povo e com o pastor exerce o governo e a disciplina, assim como zela pelos interesses da igreja tanto a local quanto a nacional se eleitos para essa finalidade (CI/IPB art.50). Veja Atos 20.28. O Presbítero tem como dever de corrigir as faltas dos membros e levar ao Conselho as que não conseguir, auxiliar o pastor no trabalho de visitação, instruir os neófitos, consolar os aflitos, cuidar da infância, orar com os crentes e por eles, avisar o pastor sobre os doentes e necessitados, distribuir os elementos da Ceia e, quando eleito, representar o Conselho no Presbitério (CI/IPB art.51). Tanto o Presbítero e quanto o diácono devem cumprir seus deveres de forma assídua e pontual, assim como prudentes no agir, discreto no falar e portador de exemplos de santidade na vida (CI/IPB art.55). Veja 1Tm 3.1-13.

3.) Como é escolhido um presbítero?

O Presbítero Regente é eleito pelo povo e ordenado pelo Conselho. Em Atos 14.23a, a Palavra afirma: “Então Paulo e Barnabé lhes constituíram presbíteros em cada igreja”. O termo grego que traduzimos por “constituíram”, no grego, é o verbo χειροτονέω (cheirotonéo) que significa votar erguendo a mão. Isso mostra que os Presbíteros não são escolhidos por uma autoridade maior, mas pela igreja local. É prerrogativa da Assembleia Geral (todos os membros comungantes em plena comunhão) eleger pastores e oficiais (CI/IPB art.9 “a”), pois são eles que reconhecerão a vocação conferida pelo Espírito Santo a esses homens (CI/IPB art.28 “a”).

4.) Qual a diferença entre o presbítero e o pastor?

A Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil, no artigo 25, afirma: A Igreja exerce as suas funções na esfera da doutrina, governo e beneficência, mediante oficiais que se classificam em: a) ministros do Evangelho ou presbíteros docentes; b) presbíteros regentes; c) diáconos”. No Concílios da Igreja (Conselho, Presbitério, Sínodo e Supremo Concílio), os presbíteros regentes e os presbíteros docentes (pastores) não têm diferença quanto autoridade. A diferença se dá basicamente na liturgia, o pastor tem a prerrogativa de comandar a liturgia da Igreja, o púlpito, a ministração dos sacramentos (batismo e Ceia), impetrar a bênção apostólica e celebrar o casamento com efeito civil (CI/IPB art. 31).

5.) Quais são os critérios para que alguém exerça o presbiterato ou o diaconato?

A.) Ser homem: os levitas encarregados das funções do templo, no Antigo Testamento, eram homens e Jesus não chamou mulheres para o grupo apostólico.;

B.) Ser civilmente capaz (ter mais de 18 anos ou ser emancipado): cabe aos oficiais tomar decisões legais e reger áreas da igreja onde a maturidade legal é imprescindível;

C.) Ter mais de um ano na igreja (a não ser que seja um oficial transferido de outra Igreja Presbiteriana): é muito importante aos oficiais conhecer a vida eclesiástica o período de um ano é um tempo extremamente mínimo para tal;

D.) Estar em plena comunhão (não estar sob disciplina): se não cabe aos disciplina sequer se aproximar da mesa da ceia e apresentar os filhos ao batismo, tampouco poderá assumir o oficialato. (CI/IPB art.13 e parágrafos);

E.) Ter sua vocação reconhecida e aprovada pela assembleia, assim como ser ordenado e investido para essa finalidade (CI/IPB art. 28). Veja Atos 13.1-3.

6.) Qual a diferença entre presbíteros e diáconos?

Ambos são oficiais da igreja, contudo enquanto aqueles são oficiais dos Concílios da Igreja Presbiteriana do Brasil e estes pertencem exclusivamente à igreja local (CI/IPB art.26).

sábado, 11 de novembro de 2017

A escandalosa pregação da graça


A ESCANDALOSA PREGAÇÃO DA GRAÇA

“Portanto, irmãos, somos devedores, não à carne para vivermos segundo a carne; porque se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificares as obras da carne, vivereis” (Romanos 8.12,13)



O conceito de liberdade é muito amplo e, em nossa cultura ocidental, varia da concepção hedonista onde o homem livre é aquele que não se privou de nenhum dos prazeres que essa vida poderia oferecer até a concepção do filósofo francês Jean Paul Sartre (1905-1980) na qual a liberdade é um fardo, pois o homem está condenado a ser livre, ou seja, o ser humano está amalgamado a necessidade, contínua e intransferível, de tomar decisões e responder por elas.

Dessa maneira ,esse conceito vai do prazer à prisão, contudo é possível ser livre? Alguém já usufruiu dessa realidade? Essas são perguntas importantes cuja resposta está no cerne da Palavra de Deus. Sim, já existiram homens completamente livres. Possuíam livre arbítrio, porque estavam em um estado de inocência tal que eram completamente neutros a ponto de agradar ou desagradar o Criador. Esses foram nossos primeiros pais, Adão e Eva. Contudo não perseveraram nessa condição e, dando ouvidos à serpente (o diabo), caíram em um estado de depravação total e como Adão era o cabeça da humanidade essa condição foi transmitida a toda humanidade de tal maneira que,  ao nascermos, somos naturalmente filhos da ira (Efésios 2.3), inimigos de Deus. Nessa realidade, o homem não é livre e é impossível que seja, pois o estado de liberdade lhe é nocivo. Partindo do pressuposto de que o seu coração é corrupto e enganoso (Jeremias 17.9) e maus os seus desígnios, sem a graça, tudo o que o homem fará será rebeldia para com o Senhor.

Sartre via a liberdade como uma prisão, porque o homem que não anda pelo Espírito, por melhores que sejam suas atitudes, cairá na conclusão do piedoso não-regenerado de Romanos 7.19: “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço”. No mesmo passo de agrilhoamento, está o conceito hedonista, pois aquele que vive de sensações e prazeres, vive subjugado a eles na ideia fixa de se não servi-los não viverá adequadamente. Como no poema do poeta americano Henry David Thoreau (1817-1862): “Eu fui à floresta, porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente e sugar a própria essência da vida... Expurgar tudo o que não fosse vida; e não, ao morrer, descobrir que não havia vivido”.

A floresta, no poema de Thoureau, é essa liberdade sem limites onde nada pode ser privado, contudo esse conceito em nada se difere do praticado pelos animais e dele só pode surtir a degeneração, contínua e fata, de uma sociedade inteira. A mesma imoralidade que Daniel vira como o barro que enfraquecia o ferro de Roma é a mesma que leva nossa sociedade ao colapso.

A grande notícia que o o evangelho nos comunica é que estamos livres, ou seja, não precisamos dos prazeres dessa vida, nem dos seus tesouros que podem ser comidos de traça, enferrujar e serem roubados, mas aquele que está em Cristo. Aquele que segue a Jesus é rico mesmo privados de todos os bens e feliz, mesmo que nos momentos mais adversos, pois sabe em quem tem crido  e tem certeza de que e poderoso para guardar o seu depósito. Observe o relato do Sadu Sundar Singh a respeito do dia em que foi expulso de casa por ser cristão: “Eu me lembro da noite em que fui expulso de casa - a primeira noite... Passei-a ao relento, sob uma árvore. [...]aquela noite foi a primeira que passei no céu. Uma alegria inexplicável me fazia comparar aquela hora com o luxo da minha casa, onde eu não encontrara paz para o coração. A presença do Salvador transformava o sofrimento em paz”.

Portanto, não existindo liberdade, ou se servirá ao  pecado para a morte  ou a Deus para a vida. Dessa maneira o homem mais livre é aquele que é mais escravo de Jesus Cristo e condiciona sua vida a agradar aquele que lhe resgatou da morte ara a vida e vida eterna.




sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Não eu, mas Cristo: Paulo e a admoestação pública


Não eu, mas Cristo: Paulo e a admoestação pública

“Fui crucificado juntamente com Cristo. E, desse modo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E essa nova vida que vivo no corpo , vivo-a, exclusivamente, pela fé no Filho de Deus, que me amou e se sacrificou por mim” (Gálatas 2.20).


Paulo está vendo Pedro na tensão de agradar mais aos homens que a Deus e tem algumas opções de como lidar com esse problema:

· Poderia fingir que nada estava acontecendo. Contudo essa atitude era impossível e desastrosa. A atitude de Pedro estava fazendo discípulos entre os judeus e até mesmo entre Barnabé (Gl 2.13). Ignorar o problema seria fazer o mesmo que os presbíteros de Corinto agiam com o jovem que se deitava com a própria madrasta (1Co 5.1,2). Muitas igrejas, atualmente, optam por essa maneira de agir, todavia Paulo nos orienta que “um pouco de fermente leveda toda a massa” (Gl 5.9), ou seja, mesmo as faltas tidas como leves tem o potencial de serem agressivas, progressivas e fatalmente degenerativas na igreja.

· Poderia ignorar o fato pela autoridade que atribuía a Pedro. Paulo o reputava como coluna da igreja (Gl 2.9). Calvino, comentando Gálatas 2.6, afirma: “Paulo recusa ver seu apostolado obscurecido pela grandeza de qualquer pessoa, pois a autoridade do seu ensino está em íntima conexão com ele”. Ninguém ou nenhuma tradição, advinda de nenhum Concílio, pode ser infalível ou mais correto do que a Palavra de Deus.

· Paulo poderia repreendê-lo de forma reservada. Essa atitude não edificaria o povo de Deus, não corrigiria escândalos, erros e faltas, tampouco promoveria a honra de Deus, a glória de nosso Senhor Jesus Cristo e o bem dos culpados (CD/IPB art.2, parágrafo único). Não estamos, nem de longe, defendendo que houve uma disciplina da parte de Paulo para Pedro, porque nenhum Concílio foi consultado para tal, mas uma severa admoestação que serve para corrigir uma falta e produzir os mesmos efeitos da disciplina. Uma das marcas que atestam a fidelidade de uma igreja é a disciplina, contudo não faltam igrejas dispostas a negligenciá-la a fim de serem mais humanas, mesmo que, para isso, precisem ser menos evangélicas.

A atitude de Pedro em deixar de comer com os gentios e se apartar deles foi uma falta praticada pela livre agência daquele cujo encargo seria pescar homens, pois é uma é uma prática que inferência na doutrina da igreja e que não estava de acordo com a Palavra, assim como, prejudicou a paz e a ordem e a boa administração da igreja de Antioquia (CD/IPB art.4). Tal como afirma a Confissão de Fé de Westminster (XXX,3): “”as censuras eclesiásticas são necessárias para chamar a Cristo os irmãos ofensores, para impedir que outros pratiquem ofensas semelhantes, para purgar o velho fermento que poderia corromper a massa inteira [...]”.

Paulo mostra a Pedro que nossas mais simples opções pecaminosas têm uma inevitável e desastrosa repercussão na teologia e doutrina da comunidade cristã. Paulo mostra a Pedro que não viviam mais como judeus, ou seja, não mais sob os rigores arcaicos das leis cerimoniais, porque foram atingidos por algo maior e melhor: Jesus (Gl 2.15,16 comparar com Fl 3.8), pois ninguém será justificado pelas obras. Dessa maneira se reconstruir os costumes judaicos, mesmo que para agradar a homens, faz de Cristo ministro do pecado, o que é inadmissível (Gl 2.17).

Paulo mostra a Pedro que se ele vivesse e agisse conforme seus desejos consequentemente Cristo não viveria nele, mas se Cristo estivesse vivo nele os desejos da carne deveriam ser mortificados (Gl 2.20 compare com Rom 6.14-17). Não é possível viver nossa carne e Cristo ao mesmo tempo (veja Rm 8.8-9). Portanto, a melhor maneira de agradar a Deus é fazendo nossa carne morrer para que Cristo viva em nós.

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Não eu, mas Cristo: Pedro e a tensão de quem agradar


Não eu, mas Cristo: Pedro e a tensão de quem agradar

“Fui crucificado juntamente com Cristo. E, desse modo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. E essa nova vida que vivo no corpo , vivo-a, exclusivamente, pela fé no Filho de Deus, que me amou e se sacrificou por mim” (Gálatas 2.20)




Pedro era um judeu que seguia a dieta mosaica, pois afirma que nunca comera alimento profano ou imundo (Atos 10.14). Durante anos fora educado sob a égide de Levítico 11, mesmo sendo galileu e vivendo longe dos rigores de Jerusalém.

Contudo Jesus o chamara do lago de Genesaré para deixar as redes e seu barco a fim de ser um pescador de homens (Lucas 5.10).

Ao lado do Mestre comeu na casa do publicano Zaqueu, enquanto a multidão de Jericó murmurava: “entrou para hospedar-se na casa de um pecador” (Lucas 19.7). Em Mateus 12, debulha espigas no sábado sob a aprovação do Messias, assim como o vê curar nesse dia, porque é Senhor do sábado (Mateus 12.8). Observara Jesus tocar um leproso depois do Sermão do monte e conversar com uma Samaritana.

Depois, em Atos 10, está em Jope na casa de um curtidor chamado Simão (Ato 10.6) sem se preocupar que residia em um lugar eivado de impurezas. O curtidor, por estar em constante contato com carcaças mortas de animais, ficava constantemente impuro (Números 19.11-13).

Em um estase, Pedro é preparado pelo Senhor para, como novo Jonas usar a base de Jope não para fugir negando-se pregar aos gentios, mas para aceitar essa empreitada que o Criador lhe confiou. Na casa de Cornélio, centurião da coorte chamada italiana, o Pescador Galileu não estava apenas diante de um gentio, mas de um romano, chefe de cem soldados que que dominavam seu povo. Entretanto, viu o Espírito Santo descer sobre aqueles que os judeus consideravam indignos, percebendo que o Senhor não faz distinção entre o judeu e o gentio (Atos 10.34-35; Romanos 2.11)

Assim, apesar de Pedro trabalhar com judeus (Gálatas 2.9), não era como aqueles que saíram de Jerusalém para obrigar os gentios à circuncisão e a abstinência de alimentos. Entendia como Paulo que a salvação é pela graça(2Pedro 3.15). Todavia passa pela tensão que estreita todos nós: agradar ao homem no lugar de Deus. O Mesmo intrépido apóstolo que não temeu o Sinédrio, mas proclamou que era melhor agradar a Deus que os homens (Atos 4.19), não teve o mesmo comportamento em Antioquia e temeu demonstrar a imparcialidade do Senhor quanto as distinções raciais, pois não só deixou de comer com os gentios, mas também, se apartou deles por ter medo dos da circuncisão.

Essa atitude de Pedro feria em cheio o mais áureo princípio ético de Paulo: “tendes cuidado para que o exercício da vossa liberdade  não se torne um motivo de  tropeço para os fracos” (1Coríntios 8.9). Paulo entendia que Jesus  abolira essas ordenanças cerimoniais (Efésios 2.15) e não passavam de sombras que se concretizaram em Jesus (Colossenses 2.17). Essa atitude infeliz fez adeptos como todo pecado, pois judeus acompanharam-no e até o próprio Barnabé, membro da igreja de Antioquia e companheiro de Paulo na Primeira Viagem Missionária faz o mesmo.

O pecado não existem sem formar seguidores. Dessa maneira, Paulo tem que assumir sua função e repreender Cefas diante de todos, mesmo que o considerasse uma coluna da Igreja. Esse episódio da Palavra mostra que experiência e tempo de igreja não faz ninguém isento de incorrer em maus procedimentos. A admoestação exercida na maneira correta é um remédio eficaz contra a imoralidade que ainde se apresenta como uma erva daninha de caule macio.