Translate

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

A Providência de Deus e a água de nossas torneiras


A Providência de Deus e a água de nossas torneiras
Segundo o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, vivemos a maior seca dos último 84 anos. Essa realidade alarmante consumiu nossos reservatórios de água e pegou nossos líderes de calças curtas, pois obras que poderiam amenizar o problema ainda estão por fazer. Contudo, essa triste realidade revela alguns problemas essenciais que não podem ser contemplados com tanta facilidade: não temos poder de fabricar a água, tampouco de fazê-la cair ao nosso bel prazer. Esse bem tão precioso e vital, muito desvalorizado nos das de abundância, está diretamente relacionado ao agir providente de Deus.
A fórmula da água parece tão simples e banal: dois hidrogênios e um oxigênio, todavia nenhum alquimista tem o poder de reproduzi-la. A ciência, constantemente, tenta se elevar às alturas celestiais na sua frágil torre de Babel para desvendar os mistérios da criação, mas não consegue se voltar a terra e recriar aquilo que Deus, em sua infinita sabedoria produziu do nada. Mesmo que os especialistas tenham explicações plausíveis para esse momento, sabemos que o Senhor é aquele que tem domínio sobre tudo e faz todas as coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).
Podemos calcular por quanto se vende um pardal que cai do céu, mas é o Senhor que os conhece e permite que sejam ou não abatidos (Mt 10.6). Se para as crianças as estrelas são objetos incontáveis e para o cientista um conjunto de plasma a gravitar pelo universo, a Bíblia afirma: “[O SENHOR] Conta o número das estrelas, chamando-as todas pelo seu nome” (Sl 147.4). Calvino, comentando esse versículo, afirma: “não pode haver maior estultícia do que o fazermos de nosso juízo instrumento para medir as obras de Deus, que manifesta nelas, como sempre o faz, seu incompreensível poder e sabedoria”
Deus é tão ilimitado em poder e entendimento que poderíamos dizer como Davi: Que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles! Se os contasse, excedem os grãos de areia; contaria, contaria, sem jamais chegar ao fim (Sl 139.17,18)
Diferente dos teístas (aqueles que negam a providência, porque não acreditam que o Criador possa intervir no sustento da criação), acreditamos que “Deus sustenta, dirige, dispõe e governa todas as criaturas, todas as ações delas e todas as coisas, desde a maior até a menor” (Ne 9.6; Dn 4.34,35; Sl135.6; Mt 10.29-31; Gn 45.5) (Confissão de Fé de Wetsminster-CFW, V, 1). Reconhecemos que o Senhor exerce sua providência “para o louvor da glória de sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia” (Ef 3.10; Rm 9.17) (CFW, V,1).
Diante do agir soberano de Deus o eleito reconhece a sua sabedoria (Pv 15.3; 2Cr 16.9; Sl145.14-16), sua infalível presciência (At15.18) e o livre e imutável conselho da sua vontade (Ef 1.11; Sl33.10,11) (Veja CFW, V, 1) afirmando como Jó (1.21): Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR. Todavia o ímpio, aquele que não teve seu coração aberto pelo chamado eficaz, diante dos mesmos eventos, só sabe murmurar ou se envaidecer. Não acredita no agir do Criador, mas na força do seu próprio braço mortal, muito menos consegue descansar no Senhor, mas se entrega aos medos imoderados e ao poder das superstições (Veja Institutas, L1, XVI,3).
Esse momento de escassez deveria corar de vergonha os cientistas rebeldes que não entenderam que o Senhor faz rebentar fontes no vale, cujas águas correm entre os montes; dão de beber a todos os animais do campo; os jumentos selvagens matam a sua sede. Junto delas têm as aves do céu o seu pouso e, por entre a ramagem, desferem o seu canto. Do alto de tua morada, regas os montes; a terra farta-se do fruto de tuas obras” (Sl 104.10-13).
Calvino nas Institutas (L1, XVI, 4) afirma: “quando calores imoderados com a seca queimam todos os frutos, e quando as chuvas extemporâneas corrompem as sementes, e a calamidade súbita irrompe com granizo e tempestades, então não seria isso obra de Deus, a não ser que as névoas, o tempo sereno, o frio e o calor tivessem origem no curso dos astros ou em outras causas naturais. Mas, desse modo, não restaria lugar nem para o favor paterno de Deus nem para seus juízos”.
Reconhecer que esse período de seca deve apenas a intensa ação do El Niño (aquecimento das águas do pacífico e diminuição dos ventos do equador que têm a capacidade de alterar a temperatura do planeta) é negligenciar o necessário quebrantamento, assim como é reconhecer que estamos a mercê do acaso. Somente o temor de Deus pode nos fazer usar desse período para buscarmos mais a Deus reconhecendo nossa pequenez e reconhecermos que tudo está debaixo do seu cuidado.
Assim como, nas chuvas moderadas, vemos o agir do Senhor que rega a terra e produz os mantimentos, igualmente, nas enchentes precisamos visualizar a mão do mesmo Deus que mostra a sua força disciplinadora convidando o homem a humilhar-se reconhecendo-se insuficiente. Entretanto essa realidade não pode ser vista pelos olhos naturais que contemplam apenas a aparência dos fatos, mas pelos olhos espirituais que enxergam em cada situação da vida o mover dAquele que diz ao profeta Isaías: “Eu formo a luz e crio as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas” (Is 45.7)
Nossa atitude deve se pautar pela confiança de que o Senhor, no tempo oportuno, nos dá o nosso sustento (Sl 104.27), por isso, não podemos nos deixar levar pelas crendices supersticiosas, tampouco negligenciar nosso papel de mordomos nesse mundo. Essa escassez de água nos ensina que todos nós (ímpios e justos) esperamos de Deus e não de nossas forças; não podemos angariar todo o nosso sustento, por isso, “Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus amados ele o dá enquanto dormem” (Sl 127.2) e, principalmente, é nosso dever cuidar desse planeta, pois, tal como no Éden, cabe a nós, como coube ao nosso primeiro pai, cultivar (o termo usado no hebraico aqui é abad - עָבַד que pertence a mesma família semântica de escravo [עֶ֫בֶד - ebed], por isso, esse cultivar implica trabalho) e guardar (o termo hebraico usado aqui é shamar - שָׁמַר que transmite a ideia de exercer cuidado) o espaço em que fomos colocados pelo Criador (Gn 2.15).

A água, que nos dias de fartura fluía sem controle, hoje mostra que seu preço vai além daquele descrito na conta que recebemos mensalmente. Esse bem que não pode ser produzido por nós e que depende da vontade do Senhor para de fato ser renovável precisa ser utilizado com a prudência e a razão que só os seres humanos receberam como dádiva. Portanto, cabe a nós continuarmos pedindo misericórdia a Deus, porém sabendo descansar na sua providência reconhecendo que podemos lançar sobre Jesus nossa ansiedade, porque ele tem cuidado de nós (1Pe 5.7).

Nenhum comentário:

Postar um comentário