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quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Insensato coração


Insensato coração


Existe uma fábula infantil que conta a história do Homem Biscoito de Gengibre (Gingerbread). Essa fábula afirma que uma velhinha e seu marido estavam com muita fome e, por isso, ela fez-lhe biscoitos de gengibre. Como não tinham filhos, fê-los no formato da criança que quisera ter. Quando os foi tirar do forno, um deles pulou da assadeira e saiu correndo para não ser devorado. Esse biscoito corria depressa e ninguém podia pegá-lo, por isso, despistou a velhinha, um porco e uma vaca. Contudo ao se deparar com uma raposa tentou fugir dela, mas diante dele havia um grande rio. A felina sagaz, se fazendo solícita, disse que queria apenas ajuda-lo a atravessar aquelas grandes águas e lhe ofereceu a sua calda para, segurando nela, atravessar em segurança. Entretanto, durante o trajeto, disse que ele era pesado e sugeriu que viesse para suas costas. Depois, ainda queixando-se de seu peso, prometeu que ficaria melhor no seu focinho até que...! Acabou comido pela Ardilosa.

Esse conto infantil revela um problema que temos a vida toda: por que confiamos errado? Quantas vezes a sua confiança foi traída? Jeremias afirma que Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do SENHOR! (Jeremias 17.5) e Bendito o homem que confia no SENHOR e cuja esperança é o SENHOR” (Jeremias 17.7). Dessa maneira, é uma maldição confiar mais no homem do que em Deus e é uma bênção esperar no Senhor, apesar das adversidades em que vivemos. Porque então entre a bênção e a maldição somos propensos a escolher aquela em detrimento desta?

Esse problema que Jeremias nos apresenta não está distante daquilo que Moisés recomenda ao povo em que escolher a vida é guardar o mandamento que foi dado, amar o Senhor Deus e andar nos seus caminhos (Deuteronômio 30.16), enquanto, escolher a morte seria desviar o seu coração, não ouvir e, seduzido, adorar outros deuses e os servir (Deuteronômio 30.17). Se não servir ao Senhor, como ele deseja e claramente expressa em sua Palavra, é caminhar para a morte e obedecê-lo é certeza de vida, por que essa inclinação a se escolher a morte e não a vida?

Segundo Jeremias esse procedimento marca a nossa existência. Aquele que coloca a sua confiança no Senhor é comparado a uma árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e, no ano de sequidão, não se perturba, nem deixa de dar fruto.(Jeremias 17.8). O Profeta está fazendo uma citação do Salmo 1.3. Nesse Salmo, vemos, também, a comparação entre o justo e o ímpio. Este, por confiar no homem, anda no conselho de outros ímpios, se detém no procedimento dos pecadores e gosta da companhia daqueles que blasfemam contra o Senhor e suas obras. Entretanto, aquele não segue o itinerário esse intinerário, porque tem algo melhor: “antes o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite” (Salmo 1.2).

Portanto, se compararmos Jeremias e o Salmo 1, veremos que a diferença entre o justo (aquele que espera no Senhor) e o ímpio (aquele que espera no homem) está no seu prazer, enquanto aquele sente prazer na Palavra, este sente prazer em um procedimento que, se não reprovado pelos homens, não glorifica a Deus. Se o procedimento do ímpio é reprovado por Deus e conduz a um abismo fatal, por que sente prazer na morte e não na vida? Por que alguém pode sentir prazer naquilo que lhe causa mal? Como alguém pode sentir prazer nas drogas, no roubo, na prostituição, etc?

Segundo Charles Leiter, na obra Justificação e Regeneração, afirma que o pecado é universal (tirando Jesus, todos os homens são pecadores independente da idade, raça ou classe social), atinge todas as partes do homem (por isso ninguém pode ser vir a Jesus se não for trazido arrastado – João 6.44), irracional (não existe pecado que seja sábio ou uma boa escolha), enganoso (parece bom a primeira vista, mas é desastroso), endurecedor (quando mais imerso no pecado menos ele o incomoda), escravizador (a grande mentira do pecado é que não se pode viver sem ele), degradante (é capaz de fazer degenerar até o mais distinto dos homens) e pervertido (o pecado não é bonito, mas perverso).

Afinal de onde nasce o pecado? Jesus afirma que do coração do homem, quando explica aos seus discípulos: “do coração do homem procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mateus 15.19). Portanto, o problema do homem não é uma questão de mera preferência ou gosto, mas do coração. Jeremias mostra que nosso coração tem características que o inclinam para o mal e não para o bem:

- o coração é enganoso: o termo hebraico עָקֹב (‛âqôb) utilizado aqui transmite a ideia de terreno tortuoso. Dessa maneira o coração do homem é um terreno acidentado em todos os aspectos (não há parte melhor em nosso coração, assim como um pão embolorado está todo embolorado) que faz cair todo aquele que transita por ele;

- o coração é corrupto: o termo hebraico אָנַשׁ ('ânash) utilizado aqui transmite a ideia de doente. O coração humano é incapaz de escolher adequadamente devido a doença que o aflige;

- o coração não pode ser conhecido com intimidade por ninguém senão Deus: ninguém consegue conhecer o coração do homem com profundidade exceto o Senhor que afirma: Eu, o SENHOR, esquadrinho o coração, eu provo os pensamentos; e isto para dar a cada um segundo o seu proceder, segundo o fruto das suas ações.(Jeremias 17.10). Não existe nada velado para Deus. O Salmista nos ensina: “o SENHOR conhece (com intimidade) o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá” (Salmo 1.6). Dessa maneira, quando colocamos nosso prazer na Lei dEle a cumprimos ou quando somos seduzidos pelo mundo e sua felicidade falsa, Ele de tudo o sabe.

O nosso coração é tão complexo que nem mesmo nós podemos conhecê-lo. Quantas vezes você foi surpreendido fazendo algo que acreditava que jamais faria? Por esse motivo João Calvino, o reformador de Genebra, afirma no primeiro livro das Institutas, o homem jamais chega ao puro conhecimento de si mesmo até que haja antes contemplado a face de Deus, e da visão dele desça a examinar-se a si próprio”.

Quando nosso coração assumiu essas características? Deus o fez assim? Não, a Bíblia diz que “viu Deus tudo quanto fizera (inclusive o coração do homem), e eis que era muito bom.” (Gênesis 1.31). Segundo a Confissão de Westminster: “o homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas mutavelmente, de sorte que pudesse cair dessa liberdade e poder” (IX,2). Dessa maneira, a diferença que temos para com Adão e Eva, antes do pecado, era que eles possuíam livre-arbítrio, ou seja, a possibilidade de escolher algo sem ser inclinado para o bem ou para o mal. Após o pecado de nossos primeiros pais (ao comer o fruto que lhes era proibido, o que chamamos de pecado original) somos sempre inclinados a fazer aquilo que desagrada a Deus.

Jeremias compara o ser humano que possui esse coração enganoso (tortuoso) e corrupto (doente) à perdiz que, segundo lenda da época do profeta tomava ovos que não eram os seus para chocá-los (Jeremias 11.17). O Profeta está mostrando que assim como a perdiz, por razões naturais, choca ovos que não lhe pertencem por que não os consegue distinguir. Guiados pelo coração podemos adorar ao homem no lugar de Deus. Paulo diz aos Romanos: “tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios se fizeram loucos”.

Entendamos que até mesmo o mais piedoso dos homens pode ser iludir com falsas promessas humanas, todavia Jeremias não esta falando disso. O propósito do Profeta é mostrar a conduta daquele que confia nos ditames de seu coração. Esse indivíduo adora tanto o homem quanto Deus sem saber a diferença entre eles, por isso, seu procedimento é reprovado. Esse atalaia do Senhor está chamando a atenção do povo que confiava no templo e na lei na mesma proporção que buscava os ídolos pagão, por isso, até as práticas mais piedosas eram inteiramente reprovadas, porque partiam do coração e não da certeza advinda da fé.

Vemos aqui o perigo de ouvirmos conselhos como: “ouça a voz o seu coração” ou “deixe o seu coração guiar suas escolhas”. Nosso coração não tem condições naturais para isso e, poderíamos, assim, dizer como Nana Caymmi: “só louco amou como amei [...] ó insensato coração, porque me fizeste sofrer”. Usar o coração como uma bússola com certeza nos levará para um perigoso desastre. Só a Palavra, iluminada pelo Espírito Santo, pode nos fornecer verdadeira orientação.

Como nosso coração pode ser consertado? Jeremias afirma: Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. ão conforme a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; porquanto eles anularam a minha aliança, não obstante eu os haver desposado, diz o SENHOR. Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. (Jeremias 31.31-33). Jesus é quem firma essa nova (renovada) aliança em seu sangue (Mateus 26.28; Lucas 22.20; 2Co 3.6).

Portanto, por nós mesmos não temos condições de escolher entre confiar em Deus ou confiar no homem, somos como a perdiz que mal sabe distinguir seus ovos isso é por causa de nosso coração enganoso e corrupto. Contudo Deus conhece nosso coração, enviou-nos seu Filho que nos deu um novo coração, um coração de carne do lugar do coração de pedra que tínhamos, por isso, não nos guiemos pela sabedoria do coração, mas do Senhor.

sábado, 20 de agosto de 2016

O problema das aparências


O problema das aparências


“O SENHOR disse a Samuel: Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei; porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o SENHOR, o coração” (1Samuel 16.7)



Você já abriu uma embalagem de chocolate e constatou que foi enganado? Obviamente se isso acontecer, você irá reclamar e exigir a troca. O chocolate ele tem uma embalagem envolvente para realçar o produto que já conhecemos e amamos. O mesmo acontece com um abacaxi, uma laranja ou qualquer outra fruta? Quantas vezes você comprou aquela maça igual a que encheu os olhos da Branca de Neve, mas, quando a mordeu, percebeu-a pouca saborosa e até mesmo insossa? Todas as melancias têm o mesmo gosto assim como todos os chocolates de determinada marca? Contudo, em outras ocasiões, você tomou aquela fruta mirrada, com a casca manchada e sentiu uma explosão de sabor e prazer.

Seria muito bom se isso acontecesse apenas no campo das frutas e hortaliças, mas ele é muito grave quando afeta as relações interpessoais. Acreditamos que as aparências traduzem as essências, ou seja, acreditamos que indivíduos bem apessoados são boas pessoas. Todos estamos susceptíveis a esse terrível equívoco, inclusive o piedoso profeta Samuel.

O último Juiz de Israel foi enviado por Deus a casa de Jessé em Belém para ungir o novo rei de Israel. Saul, que ainda estava no trono, havia desobedecido pela segunda vez o Senhor (1Samuel 13.13; 15.9) e, por isso, fora reprovado e perdera a perpetuação de sua família no trono (dinastia). Dessa maneira Jessé manda vir seus filhos diante do profeta que tinha a seguinte orientação: “tu ungiras para mim aquele que Eu te apontar” (1Samuel 16.2), pois entre os filhos dessa cara o Senhor já havia escolhido um rei(1Samuel 16.1).

Quando entrou o filho mais velho de Jessé, Eliabe, também chamado Eliú, entrou na sala o Profeta, ao ver sua altura e aparência pensou estar diante do novo rei de Israel. De fato, ele reunia condições humanas para esse cargo, pois não à toa Davi a o nomeou governador de Judá (1Crônicas 27.18), porque não basta ser capaz deve ter sido escolhido pelo Senhor. Não foi sem motivo que o Senhor escolhera Saul (ou Saulo) para ser o primeiro rei de Israel, sua aparência e estatura sobressaiam a sua timidez e parecia aceitável ao povo (1Samuel 9.2).

Tiago nos alerta para o mesmo engano quando afirma que um rico trajando vestes preciosas (ou resplandecentes) e portando anel de ouro, na aparência, não se diferia daqueles que perceguiam a igreja, a arrastavam pessoas aos tribunais (Tiago 2.2,7-9). O Reformador João Calvino afirma: “quando as pompas do mundo se tornam proeminentes a ponto de encobrir o que Cristo é, torna-se evidente que a fé possui bem pouco valor” (comentário de Tiago 2.1)

Quando nossa visão está condicionada a julgar alguém pela aparência, ou pior, pela cor da pela ou a condição social ou a procedência de alguém (como faz a política de cotas que deve existir apenas como algo temporário) perdemos a oportunidade de apreciarmos o caráter de um indivíduo que está além de sua cor ou condições contingentes. Assim como alguém que foi ter seu coração operado não deveria se importar para a raça, religião ou sexo de seu cirurgião, deveríamos pouco nos importar para as aparências das pessoas.

Quando vamos a Ezequiel 18 (onde o profeta está fazendo uma análise de Deuteronômio 5.9), mesmos que a máxima é: “a alma que pecas essa morrerá”, ou seja, é possível que alguém nasça em um lar totalmente desestruturado e, mesmo assim, porque foi avo, acima de tudo da graça, viver (dentro dos limites possíveis) de maneira íntegra e agradável a Deus por meio de Jesus Cristo.

Deus exorta o profeta mostrando:

1. O que agrada o mundo é rejeitado por Deus

Entenda que Deus não rejeitou Eliabe, irmão de Davi, mas a maneira como o Profeta o via. O Senhor mostrou que aquilo que encheu os olhos de Samuel como a aparência e a altura, não enchiam o Dele. Davi, no Salmo 51.17, mostra que o sacrifício aceitável a Deus e que não será desprezado é o coração contrito (שָׁבַר: despedaçado) e compungido (דָּכָה: esmagado), ou seja, só alguém consciente de sua miséria e incapacidade pode chegar diante do Senhor.

2. Deus não enxerga como nós enxergamos

Samuel aprende que a ótica divina é diferente da humana, pois enquanto nos percebemos jugando as meras e transitórias aparências com uma visão muito míope do todo, ele não vê dessa maneira.

3. Deus vê o coração

O foco de Deus está o coração do homem. Essa informação deve nos consolar, porque sabemos que nossa condição social ou racial ou geográfica não têm valor para Deus, mas o coração, todavia, também, deve nos fazer transbordar de temor, porque não há como fazer médias com Deus, porque ele vê nosso coração.

Dessa maneira, Davi não estava lá, porque era jovem e destinado ao trato das ovelhas, sem estatura, tampouco treinamento militar, veja que não consegue usar a armadura de Saul e prefere lutar com Golias usando pedras e uma lançadeira. Este que, na sua aparência foi tido como insuficiente e rejeitado, inclusive, pelos seus, foi escolhido por Deus como um rei segundo o seu coração. O mesmo aconteceu como o Senhor Jesus Cristo, quando Natanael, ouvindo de Filipe que o Messias viera de Nazaré, o interpela perguntando: “pode haver coisa boa vindo de Nazaré?”.

Cuidado com julgamentos precipitados advindo do juízo das aarências, lembre-se-de que Deus rejeita o que o mundo aprecia, Deus não vê como você vê, porque Ele vê o coração.

Reflexões no Salmo 40: orientações para os dias maus


Reflexões no Salmo 40: orientações para os dias maus


“Esperei confiantemente pelo SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma rocha e me firmou os passos. E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR” (Salmo 40.1-3)

O Salmista afirma que estava em um poço de perdição, um tremedal de lama. Se observarmos os dois salmos anteriores, veremos o rei Davi falando de problemas de saúde (Salmo 38.4-8). Não sabemos de nenhum momento, em sua biografia, em que fora afligido por uma enfermidade tão violenta como essa, contudo tanto Davi (o escritor inspirado do Salmo), quando aqueles que editaram essas poesias hebraicas após o exílio babilônico tiveram seus infortúnios, aquele ora em terríveis batalhas contra os filisteus, ora mortalmente perseguido por Saul, ora, por causa de seus pecados, confrontado pela disciplina do Senhor. Estes reconstruindo Jerusalém tendo que com uma das mãos trabalhar como pedreiros e com a outra portar armas para a guerra.

Qual seria o seu tremedal de lama, seu poço de perdição? Uma doença, uma instabilidade financeira, um oscilar nos negócios, um desemprego repentino ou que se arrasta por algum tempo? Obviamente, alguém já lhe disse que suportou males mais atrozes, mas entenda: todos verão suas lutas como mais árduas do que a dos outros. A Bíblia denomina esses eventos com a expressão “dia mau”, quando somos submetidos à “duras provas e momentos críticos da vida quando somos inflexivelmente tentados (Salmo 41.2; 49.5)” (HENDRIKSEN, 1999, p.324). Stott chama esse dia como de especial opressão, aquele momento em que nosso maior medo bate a nossa porta. Contudo o Apóstolo Paulo garante nossa vitória sobre essas adversidades se estivermos apercebidos de toda a armadura de Deus: a verdade, a justiça, o Evangelho da paz, a fé e a Palavra de Deus (Efésios 6.13-17).

Entretanto, quando essas circunstâncias parecem no submergir de tal maneira que não temos como respirar, o que fazer? Como proceder se, qual um nadador distraído, fomos pegos pela ressaca do mar que nos puxa além da força que temos nos braços para lutar contra o rigor das águas ardilosas, que o Senhor cristalizará na glória? Como agir quando estivermos no poço e no tremedal? E mais, como devemos proceder ao sairmos? Não são muitos aqueles que exaltam suas forças e negligenciam o perfeito louvor ao Senhor que os livrou? É fato que se algumas pessoas naufragam nos sofrimentos oferecendo um péssimo testemunho, outros naufragam após o livramento exaltando tudo menos o Senhor.

1. No dia mau, é preciso ESPERAR

O Salmista mostra que, enquanto estamos no dia mau devemos esperar. Calvino traduz esse primeiro versículo de maneira literal “esperando esperei” e melhor diria se dissesse: “ao com força esperar, esperei com força”. As nossas traduções interpretaram essa expressão hebraica adaptando-a a Língua Portuguesa por “esperei confiantemente” (ARA), “esperei com paciência” (NVI), “esperei firmemente” (CNBB). Todas atingem o propósito dessa expressão, ao esperar não podemos fazer outra coisa senão esperar, por isso, nossa esperança, no agir soberano, é uma confissão de confiança, paciência e firmeza. Não há quem sinta prazer nessa tarefa, porque se o excesso de esforço no causa fastio, a ausência dele também. Aos olhos humanos, a esperança é infrutífera (porque não produz nada), impotente (porque ela não pode fazer nada) e ignorante (porque ela não sabe o que acontecerá) (como afirma o Prof. Clóvis de Barros Filho). Contudo a Palavra inspirada, infalível, inerrante, plena e suficiente nos orienta que a fé é é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem. (Hebreus 11.1).

A tentação que temos ao esperar é de acharmos que o Senhor não agirá e, assim, fazermos as coisas por nossa própria vontade. Quando perdemos de vista o fato de que assim como os céus são mais altos do que a terra, assim os caminhos do Senhor são mais altos do que os nossos caminhos, e da mesma forma que os pensamentos do Criador do que os nossos (Isaías 55.9), estamos susceptíveis a toda sorte de mazelas. Você pode perguntar: por que Deus nos deixa esperar por tanto tempo por algo que nos é tão urgente? Será que o Senhor está alheio a nossa vida ou distraído as nossas necessidades? Saiba que NÃO, porque a Bíblia afirma que ele não dorme nem cochila (Salmo 121.4), tampouco está alheio as suas necessidades, porque, Isaías, falando pelo Espírito Santo, afirma que uma mãe que amamenta pode se esquecer de seu filho, mas Deus jamais se esquecerá de nós, porque nossos nomes estão escritos em suas mãos (Isaías 49.15,16).

Deus se demora em atender nossas necessidades (sempre de maneira responsável) para nos ensinar o valor da oração. O Salmista mostra que, no dia mau, ele clamou ao Senhor (Filipenses 4.6), que se inclinou para ele e ouvi-lo/atende-lo.

2. No dia mau, precisamos CONFIAR QUE NOSSA ORAÇÃO SERÁ RESPONDIDA

A ideia do segundo versículo é que em resposta a oração do Salmista o Senhor promoveu a subida do Salmista do poço em que estava entregue a violência das águas e com risco de morte. Jeremias passou por situação semelhante, pois, por causa de sua fidelidade em expor a disciplina divina que se aproximava, foi jogado em uma cisterna Malquias, filho de Zedequias, o rei, contudo o etíope Ebede-Meleque intercedeu junto ao Rei, que autorizou que fosse resgatado. Muitas vezes, quando estamos imersos no rigor dos problemas, o Senhor levanta pessoas, situações, tratamentos que nos colocam sobre a rocha, ou seja, em lugar seguro, assim como firma os nossos passos, nos permitindo nossa caminhada sem tropeços e inseguranças.

Nesses momentos, somos tentados a louvar os homens e as circuntâncias mais do que ao Senhor, que proveu medicamentos, médicos, pessoas e oportunidades para o nosso bem. Precisamos entender que nem sempre o Senhor age miraculosamente (o que pode fazer em sua soberania), mas nos meios que ele dispôs para agir. Deus poderia tirar o Profeta Jeremias da cisterna de Malquias por anjos, mas utilizar a disposição de Ebede Meleque não o torna inferior no agir, tampouco no amor providente por nós.

Emergimos dos problemas mais insólitos e horríveis, mas não teríamos progredido um milímetro sequer se não fosse o amparo soberano de nosso Deus dispondo as situações ao nosso favor.

O feroz Tentador de nossas almas, nos dias mais sombrios, leva-nos a pensar que nossas orações estão sendo dirigidas ao vácuo e que orar é como conversar com um amigo imaginário, coisa que loucos e crianças fazem. Não seja presa desses pensamentos fatais. No tempo certo o Senhor responderá nossas orações. Algumas vezes dirá sim, como ao Salmista, em outras, dirá espere (como disse a Elias – Tiago 5.17) e, em certas ocasiões, dirá não como fez a Paulo (2Coríntios 12.8,9), mas devemos saber que todas as coisas (o sim, o não e o espere de Deus) cooperam para o bem daquele que o amam (Romanos 8.28), assim como “a súplica do justo pode muito na sua atuação” (Tiago 5.16).

Saibamos que o Senhor controla todas as coisas até mesmo aquelas que nos parecem terríveis, contudo o objetivo do Senhor é fazer que nosso amor por Cristo seja aprofundado. Diante do medo morte devemos reconhecer que nosso lucro maior é Jesus (Filipenses 3.8).

Assim como nos dias em que estamos debilitados pela doença nós és pesaroso comer e beber, igualmente, é fatigante, nos dias de deserto, orar e ler as Escrituras, mas precisaremos fazê-las apesar de nossas disposições para que nossa saúde espiritual não seja afetada.

3. No dia mau, precisamos TESTEMUNHAR

Apesar de no hebraico o adjetivo חָדָשׁ (châdâsh) ser utilizado para coisas inéditas ou reconfiguradas (reformadas), os tradutores do Texto Massorético para o Grego (chamada de Septuaginta – LXX) traduziram esse adjetivo por καινός (kainós), que, diferente de νέος (neós), utilizado apenas para coisas inéditas, é utilizado para mostrar que algo é reconfigurado, novo em espécie, caráter e modo. Dessa maneira, o cântico de louvor, apesar de não se extinguir nos dias adversos pode ser abrandado, porém ganhará mais tons e muitas oitavas a mais nos dias em que o livramento advindo do Senhor se faz evidente.

Não devemos louvar apenas nos grandes livramentos e mostras da providência divina, mas em todas as ocasiões sabendo que todos os benefícios que o Senhor libera sobre o seu povo não o faz como alguma recompensa ou mediante merecimento, mas única e exclusivamente por sua infinita misericórdia, que, pela graça comum, agracia até mesmo injustos e maus (Mateus 5.45). Calvino afirma que “não há benefício divino tão minúsculo que dispense nossos mais elevados louvores; quanto ele mais estende sua mão, porém visando em nos socorrer, mais devemos incitar-nos um fervoroso zelo nesse santo exercício, de modo que nossos cânticos correspondam à grandeza do favor que a nós que por ventura nos tenha sido conferido” (comentando Salmo 40.3)

O Salmista nos ensina que a única atitude que podemos tomar nos dias maus é esperar e orar, tudo o mais sair do tremedal, estar em lugar seguro, ter nossos passos firmados e até mesmo o louvor que sai de nossos lábios dependem do Senhor. Só aqueles que tiveram seus corações abertos pelo Espírito Santo podem reconhecer nas entrelinhas da vida a mão cuidadosa do Criador em sua sábia e precisa providência.

Muitas pessoas que nos viram gemer nas dores, contudo sem esmorecer nosso temor por Deus. Essas pessoas, que julgaram que em um momento veríamos que a fidelidade ao Senhor é um terrível engodo. Entretanto ao nos ver com um cântico reconfigurado irão temer e confiar no Senhor. Cuidado para não se entristecer como aqueles que não têm esperança (1Ts 4.13).

O Pastor Batista John Piper, antes de ser operado de um câncer de próstata, afirmou: “os cristãos nunca se encontram em determinado lugar por acidente”. Paulo e Silas estão em Filipos depois de serem duramente acoitados e tendo seus pés presos de forma dolorosa ao cepo oravam e cantavam hinos a Deus. Eles poderiam se lamentar e murmurar, eles eram tão humanos e pecadores como nós o somos, mas preferiam não desperdiçar a prisão e isso contribuiu a conversão do carcereiro daquele lugar, por isso não disperdiçe sua doença, sua depressão, seu desemprego ou qualquer dificuldade que você tenha enfrentado, mas saiba que até o dia em que entoaremos esse cântico reconfigurado na glória (Apocalipse 5.9-14) cabe a nós que façamos em meio a lutas e perseguições aqui para que desses muitos que nos observam, os quais podem ser nossos vizinhos, amigos, parentes, colegas, etc, se forem eleitos, temam o poder do Senhor e confiem na sua eterna misericórdia. Que Deus o abençoe.

O Cristianismo Autêntico


O Cristianismo Autêntico

 


“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pedro 2.9)



O que faz alguém ser um seguidor autêntico de Jesus Cristo? Será que o simples fato de pertencer uma igreja ou gostar de Jesus e seus ensinos são capazes de produzir um cristão? Todos os membros de igrejas sérias ou não são genuínos discípulos do Mestre e Senhor? Todos aqueles que dizem gostar dos ensinos de Jesus os praticam de fato?

Esse versículo nos mostra que os cristãos possuem marcas que indicam sua genuinidade. A palavra “genuíno” é interessante para esse contexto. Esse termo vem do latim genus, us que significa joelho. O pai, ao nascer seu filho, colocava-o no joelho e, vendo seus traços nela dava-lhe seu nome, contudo, se não visse, os traços que a caracterizam como seu filho. Será que, se todos os que se dizem cristãos fossem colocados no colo do Senhor, Ele veria características que mostram que pertencemos aos seus filhos?

Pedro, com a conjunção “porém” (δὲ), mostra que tudo o que Pedro está falando nos versículos 9 e 10 está em contradição com o que foi falado anteriormente, ou seja, aqueles que não creram em Cristo, porque estavam destinados a esse fim (1Pedro 2.7,8). Esses são reconhecidos como pedras de tropeço e rocha de escândalo. Lembremo-nos de que o próprio Pedro, outrora, foi reconhecido como rocha de escândalo pelo Senhor, pois, em nome de um falso amor próprio pensava, diabolicamente, como homem e não como Deus (Mateus 16.21-23).



1. Uma nova identidade coletiva

“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus [...]”

a)    Raça eleita: o cristão é um eleito, desde antes da fundação do mundo (1Pedro 1.2; Efésio 1.4), contudo não é apenas um eleito isolado, mas parte de um povo/raça eleita. Os cristãos são um novo povo nem mais judeus, tampouco gentios, pois Jesus “é a nossa paz, o qual de ambos os povos fez um; e, derrubando a parede de separação que estava no meio, na sua carne desfez a inimizade” (Efésios 2.14). Jesus diz a Nicodemus que ele deveria nascer de novo da água e do Espírito (João 3.3) para ver o Reino de Deus e Pedro nos mostra que de fato essa raça eleita nasceu pela ressurreição (1Coríntios 15.14) e pela ação transformadora da Palavra sob a iluminação do Espírito Santo. Na ressurreição de Cristo, nascemos de novo, contudo para uma viva esperança (1Pedro 1.3), assim como, pela Palavra renascemos de uma semente incorruptível (1Pedro 1.23);

b)    Sacerdócio real: Pedro está citando Êxodo 19.6 (assim como Deuteronômio 7.6 e Isaías 62.12). O cristão está associado a dois ofícios de cristo nessa característica: ao seu reinado (veja Roamanos 5.17) e ao seu sacerdócio (veja Hebreus 4.13-16);

c)    Nação santa: Pedro cita novamente Êxodo 19.6. Esse novo povo que nasce em Cristo é chamado a ser santos (Veja 1Pedro 1.15,16). A ideia de santidade exposta pela Bíblia é bem diferente daquela que somos forçados a aprender. O mundo acredita, erroneamente, que santo é aquele que tem uma vida perfeita sem pecado algum, mas isso é impossível ao homem nesse mundo caído, por isso, a ideia bíblica de santidade é que alguém foi separado para servir o Senhor. Portanto aqueles que seguem o Caminho não devem assumir o fluxo do mundo e sua conduta pervertida, mas viver de tal maneira que das menores Às maiores atitudes glorifiquem o Senhor;

d)    Propriedade exclusiva: somos povo adquirido por Deus por meio do sangue de Jesus Cristo (Tito 2.14);



2. Uma missão

“[...]a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou[...]”

Esses adjetivos que identificam os cristãos não existem de maneira infrutífera, tampouco para o nosso mero deleite, mas para uma finalidade: proclamarmos as virtudes daquele que nos chamou.

Dessa maneira, se alguns se dizem cristão, mas não exerce esse objetivo equivocou-se quanto a sua conversão, pois a Palavra adverte: “já está posto o machado á raiz das árvores; toda árvore, pois que não produz bom fruto, é cortada e lançada no fogo” (Mateus 3.10). Assim como um agricultor corta os galhos infrutíferos (falsos crentes que estão na igreja) limpa os galhos frutíferos para que produzam mais (João 15.1,2).

Não desempenhamos essa missão apenas porque ela nos parece bela, mas, acima de tudo, pelo fato de termos sido chamados (João 6.44) e só aqueles que foram chamados reunirão as características elencadas, assim como desempenharam a missão com eficácia. Jesus nos adverte que o joio cresce lado a lado com o trigo elas se parecem e estão no mesmo ambiente, contudo, aquele é uma erva daninha venenosa, esta é uma planta útil. Igualmente, o cristão e o ímpio existem no mesmo mundo e, inúmeras vezes reúnem-se na mesma igreja, mas apenas esse será preservado (Mateus 13.24-30).



2. Um marco

“[...] vos chamou das trevas para a maravilhosa luz”



O cristão tem um marco em sua vida, um antes e um depois de Cristo (Veja Efésios 2.11-13; 1Tessalonicenses 1.9; Filipenses 3.8). Se nossa vida cristã é igual ou muito semelhante àquela que possuíamos antes de nossa conversão isso se torna um problema que é perceptível em nossos dias: existem muitas pessoas que se dizem seguidores de Jesus o fazem apenas no nível das ideias, pois a conduta é a do velho homem.

Portanto, o autêntico cristão tem características em comum a outros discípulos do Senhor; tem uma missão e consegue apontar um marco em suas vida, ou pelo menos, com a vida ao mundo ao seu redor.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Ó incomensurável valor do Cristão


O INCOMENSURÁVEL VALOR DO CRISTÃO

 


“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então, sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos; porque toda a terra é minha; vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa. São estas as palavras que falarás aos filhos de Israel” (Êxodo 19.5,6)



Inúmeras vezes, o mundo em que vivemos nos agregara um valor que não temos, tampouco merecemos e nos subtrairá o valor que temos e que de fato nos define. O valor que o mundo lhe atribui está ligado ao seu ter (dinheiro, influência, cargos, títulos, etc.). Dessa maneira, o seu valor estará relacionado ao valor de suas posses, por isso, quando mais valioso for aquilo que você tem mais honrado você será, todavia a diminuição do valor de suas posses acarretará uma desvalorização daquilo que você é. O mundo dá valor às pessoas pelo que elas podem oferecer. Por isso, crianças e velhos são tão negligenciados, porque não oferecem valor prático aos nossos tempos que se esqueceu da sabedoria e da ternura em nome da vantagem a qualquer custo.

Algumas igrejas, adeptas da teologia da prosperidade seguem esse fluxo maldito, porque ligam a intimidade com Deus aos bens materiais que Ele possa dar. De fato, o Senhor é o dono do ouro e da prata (Ageus 2.8), contudo não foi o Senhor que tentou oferecer dinheiro em troca de adoração, mas Satanás (Mateus 4.8-10).

O valor que temos para Deus não está em nós, muito menos naquilo que podemos Lhe oferecer, “pois todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós murchamos como a folha, e as nossas iniquidades, como um vento, nos arrebatam” (Isaías 64.6). Em certa ocasião, o Tenente nazista Rahms questiona Corrie sobre a eficácia de dar aula de Escola Dominical a crianças que sofriam de síndrome de Down, o biólogo ateus Richard Dawkins disse, recentemente, que era imoral dar à luz bebês com síndrome de Down[1] (disse o biólogo Sul-Africano: “aborte e tente de novo, é imoral trazer ‘isso’ ao mundo se você tiver escolha”). Tanto a Dawkins como ao Tenente Rahms a resposta de Corrie é pertinente: o valor do homem advém do fato dele ter sido criado a imagem e semelhança ao seu Criador (Gênesis 1.26). Essa imagem não foi extinta de nosso coração, mas gravemente deteriorada, entretanto, por misericórdia e sem nenhum merecimento, o Senhor mandou Seu filho unigênito, Jesus Cristo, para restaurá-la nos eleitos pelo sangue da cruz do calvário. Entretanto esse valor, que temos em Jesus, o mundo quer subtrair fazendo muitos crer que é mentira, fábula infantil, um terrível engodo, etc.

Moisés, em Êxodo 19.5, mostra que somos tesouros para o Senhor. A palavra utilizada no hebraico é o termo segullah (סְגֻלָּה), que apesar de ser traduzido por “propriedade” na ARA e muitos dicionaristas seguem essa mesma tradução:

·         Schökel: propriedade, pertença, domínio, posse, acúmulo (tesouro);

·         Dicionário Teológico do Antigo Testamento: “o sentido básico desse substantivo é de propriedade particular ou de adquirir propriedade”;

·         Holladay: propriedade pessoal.

Segundo o comentarista Delitzsch, segullah seria melhor traduzido por “tesouro” pois é utilizado com essa denotação em 1Crônicas 29.3 e Eclesiastes 2.8, assim como não significa apenas propriedade, mas uma posse valiosa. Entendamos que diferente dos tesouros mundanos, que existem para agregar valor aos seus possuidores. Quando o Espírito Santo nos chama de tesouros de Deus ou propriedades exclusivas do Senhor, isso não quer dizer que atribuamos qualquer dignidade a Ele, mas é o fato de pertencermos a Ele que nos faz valiosos. Assim como tintas e telas ou argila são objetos de pouquíssimo valor até serem utilizados pelo artista que pode transformá-los em obras de arte de valor incalculável. Quando pertencemos ao Senhor e somos transformados por Ele (ou seja temos sua imagem restaurada em nós por meio de Jesus Cristo) passamos a ter um valor incalculável.

Contudo, para sermos esse tesouro particular, precisamos diligentemente ouvir a voz do Senhor e guardarmos sua aliança. A ideia não é que precisamos fazer algo para pertencermos a Deus, porque a salvação não se dá pelas obras para que ninguém possa contar vantagem diante do Senhor (Efésios 2.8-10), mas única e exclusivamente pela graça. Não fomos nós que nos dirigimos a Cristo, mas fomos arrastados como cadáveres por Deus a Seu Filho Jesus Cristo que nos vivificou (João 6.44 e Efésios 2.1-7).

A Bíblia afirma que não há um justo sequer (Romanos 3.12; Salmo 14.1-3; Salmo 53.1-3). O nosso valor está no fato de que éramos material de refugo, que deveríamos ser jogados fora (irmos para o inferno), mas o Senhor nos resgatou em Jesus (Gálatas 4.5: o verbo resgatar utilizado aqui exagorazo [ἐξαγοράζω] que significa comprar um escravo para si próprio).

A magnífica estátua de Davi do pintos, escultor, poeta e arquiteto Michelangelo di Ludovico Buonarroti (1475-1594) foi esculpida em bloco de mármore que há quarenta anos estava abandonado. Talvez você esteja se sentido abandonado e vazio, mas saiba se Michelangelo fez de um mármore abandonada a estátua mais vista dos últimos 512 anos. Deus, o Criador, fará algo esplêndido na sua vida. Você pode argumentar que sua vida não tem mais jeito, mas a Palavra diz que Jesus faz novas (restaura) todas as coisas (Apocalípse 21.5). Lembre-se de que Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para reduzir a nada as que são; a fim de que ninguém se vanglorie na presença de Deus” (1Coríntios 1.27-29).

Portanto não somos feitos tesouros porque ouvimos a voz de Deus e guardamos a sua lei, mas, porque ele nos fez seu tesouro pessoal nos deleitamos em ouvir com toda atenção sua voz e guardarmos sua aliança. Contudo o mundo jamais verá essa riqueza, mas tão somente o Senhor e aqueles que ele chamar para esse mesmo fim. Jesus afirma: “aquele, porém, que entra pela porta, esse é o pastor das ovelhas. Para este o porteiro abre, as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama pelo nome as suas próprias ovelhas e as conduz para fora. Depois de fazer sair todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e elas o seguem, porque lhe reconhecem a voz [...] Ainda tenho outras ovelhas, não deste aprisco; a mim me convém conduzi-las; elas ouvirão a minha voz; então, haverá um rebanho e um pastor.” (João 10.2-4).

Deus escolheu um povo, apesar de ser Senhor de toda a terra, esses lhe são além de tesouro, mas também, reino de sacerdotes, porque têm em Cristo livre acesso a ele, assim como, nação santa. É interessante que o Autor inspirado ao invés de usar o palavra hebraica am (עַם), que frequentemente é utilizada ao povo judeu, mas o termo gôy (גּוֹי), utilizada com mais frequência aos gentios, aqueles que não faziam parte da nação judaica, mostrando que esse povo santo, separado não era de uma nação específica, mas de todas as línguas, povo e nações (Veja Salmo 117 e Filipenses 2.11).

Saiba que o seu valor não está inerente em você e nas suas forçar, mas naquilo que Deus tem feito em sua vida.



[1] http://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2014/08/1504047-richard-dawkins-diz-ser-imoral-dar-a-luz-a-bebes-com-sindrome-de-down.shtml. Acessado no dia 9 de agosto de 2016 às 13h37.

Segurando a pedrinha


Segurando a pedrinha




“As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Deuteronômio 29.29).



Existem momentos em sua vida que lhe deixam em xeque? A perda de uma pessoa querida, uma grave doença se abatendo sobre a família, uma demissão injusta ou amigos traíram sua confiança? Eventos como esses, muitas vezes, pegam-no desprevenidos e costumam nos retirar o chão está sob os nossos pés. Inúmeras pessoas, nesses dias insólitos, se cristãos, somos tentados a questionar como Asafe, ao ver a prosperidade dos ímpios: “com efeito, inutilmente conservei puro o coração e lavei as mãos na inocência?” (Salmo 73.13). Não são poucos os piedosos que nesse momento brigam com o Senhor, porque não conseguiram encontrar as respostas que suas almas ansiavam.

Quando nos detemos a perguntas que não possuem respostas, corremos o risco de ser presas fáceis do desânimo. O irmão André, pioneiro da Missão Portas Abertas, na sua juventude serviu ao exército e viu e praticou as atrocidades que destoavam do ambiente familiar firmado no evangelho. Ferido com um tiro no tornozelo e quebrado, física e espiritualmente, não sabia o porquê de toda aquela situação. Certo dia, em uma enfermaria na Indonésia, uma freira franciscana lhe contou uma história que mudou sua caminhada: naquela região os nativos caçavam micos de uma forma singular, colocavam uma pedrinha dentro de um coco por um buraco em que mal passava a pata do macaco, quando achava o coco e enfiava a patinha pelo buraco e ao segurava a pedra perdia toda a mobilidade que poderia salvá-lo. O problema é que esses macacos nunca largam a pedra e, por isso, são pegos com facilidade. Ao segurar essas perguntas, ao tentar responder indagações dessa magnitude, somos tal como esses micos que se tornam imóveis e, assim, vulneráveis.

O que devemos fazer quando estamos segurando essa pedrinha? Precisamos entender:

1. EXISTEM COISAS INCOMREENSÍVEIS

O termo סָתַר transmite a ideia de que existem coisas que foram escondidas. Dessa maneira, a Bíblia nos dá uma informação consoladora: não precisamos, tampouco conseguiremos entender todas as coisas, porque elas pertencem a Deus. O Reformador João Calvino entende que “não é lícito aos mortais ingerir-se nas coisas secretas de Deus” (CALVINO, João. As Intitutas da Religião Cristã, III, 21,3). Sabendo que somos limitados e propensos ao pecado, o nosso Criador nos priva da tarefa de respondermos todas as coisas, porque ele já tem das respostas e sabe como lidar com todos os problemas. Inevitavelmente e com indiscutível eficácia, o Senhor lidará facilmente até mesmo com as dificuldades mais insolúveis de sua vida.

José vivia tranquilo até o dia que em seus irmãos o jogaram na cisterna, depois o venderam para ismaelitas o venderam no Egito, ao capitão da guarda de Faraó chamado Potifar. Em seguia é assediado pela esposa desse oficial e acusado injustamente de estupro é lançado em uma prisão de segurança máxima. Consegue interpretar o sonho de copeiro de Faraó e pede que interceda junto ao Faraó, mas foi esquecido por dois anos. Para José, o porquê de seus irmãos o terem vendido, o motivo pelo qual foi preso e esquecido eram “coisas veladas que pertenciam ao SENHOR”.

Qualquer empenho em compreendê-las poderiam leva-lo ao desânimo, a adotar uma vida menos piedosa. Contudo houve um momento em que o Senhor agiu, não no tempo de José, tampouco segundo suas intenções, mas quando agiu o cárcere e a escravidão ficaram para traz, pois ascendeu para ser o segundo no Egito.

Dessa maneira, os irmãos de José e a esposa de Potifar planejaram lhe o mal, contudo, de antemão, Deus pensou-lhe o bem mesmo que o próprio José não soubesse disso. Portanto, quando sua vida for alvo de injusta opressão ou de adversidades inesperadas, saiba nossas vidas estão seguras nas mãos dAquele que fez todas as coisas.

2. EXISTEM COISAS COMPREENSÍVEIS

Enquanto não faltam aqueles que queiram conhecer os meandros mais escondidos do Senhor, assim como aqueles que diante das questões existenciais se afastam do reto caminho, Moisés deixa claro que existem coisas que podem ser conhecidas, ou seja, arquivo que foi revelado pelo Senhor. Pedro afirma: “que nenhuma profecia da Escritura provém de particular elucidação; porque nunca, jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo” (2Pedro 1.20,21).

Se o povo que busca com toda avidez as profecias e maneiras sobrenaturais de conhecer a vontade de Deus, abrissem suas Bíblias e as lessem e estudassem, conheceriam Aquele que dizem adorar. Corrie Tem Boom, cristã holandesa, que foi presa com a maior parte de sua família por abrigarem judeus que fugiam da perseguição nazista, na prisão de Scheveningen foi interrogada pelo Tenente Rahms. Corrie, tal como Paulo diante do rei Agripa, tentou evangeliza-lo, mas é interpelada com uma dura pedrinha que teria que escolher segurar ou largar, pois seu pai centenário, um piedoso servo do Senhor sobrevivera apenas dez dias na prisão e morrera de uma doença que seria facilmente tratada em um hospital.

O Tenente ouvira que “o ponto de vista de Deus é, às vezes, tão diferente do nosso, que não poderíamos nem mesmo chegar perto dele, se Deus não tivesse dado um Livro no qual Ele nos diz tudo”. Depois de dias de interrogatório o Tenente a interpela com as seguintes questões: “Como é que a senhora ainda consegue acreditar em Deus? Que Deus é este que deixa um velhinho morrer aqui em Scheveningen?”. Corrie, porque conhecia a Revelação específica de Deus, a Bíblia, e sabia que todos ressuscitaram, inclusive o seu querido Pai.

Anos atrás, quando ainda era pequena fazia perguntas difíceis ao seu Pai que um dia lhe explicou da seguinte maneira: pediu que levasse sua mala por alguns instantes, ela estava muito pesada por relógios e ferramentas (ele era relojoeiro) e disse que seria um péssimo pai se exigisse que levasse aquele peso tamanho, mas, com o tempo, ficaria forte e poderia levar malas tão pesadas quanto aquela, por isso, por enquanto deveria confiar em seu pai para que carregasse o peso que lhe é insuportável.

Existem eventos dessa vida que são pesados demais, mas podemos confiar que o Senhor os carrega por nós. Contudo, enquanto nos amadurecemos em Cristo, precisamos reconhecer que as coisas reveladas pertencem a nós e a nossos filhos.

3. FIDELIDADE É O NOSSO OBJETIVO

Moisés mostra que nosso objetivo para com essa Palavra Revelada é reconhecer que dever observada por inteira, porque “toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Timóteo, 3.16,17). Ela nunca perderá sua verdade, pois Jesus afirma: “passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão” (Mateus 14.35). Portanto devemos ser fieis em todo o tempo e a toda a Palavra.

Portanto, entendamos que o Senhor não nos obriga a carregarmos a mala dEle, mas Ele, em seu amor e misericórdia leva coordena todas as coisas, até mesmo aquilo que nos é extremamente difícil; a Palavra é uma realidade em nossas vidas e precisamos ser fieis a ela com integralmente e ininterruptamente.

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Aviso aos perdidos


Aviso aos perdidos




Vinde, adoremos e prostremo-nos; ajoelhemos diante do SENHOR, que nos criou. Ele é o nosso Deus, e nós, povo do seu pasto e ovelhas de sua mão. Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais o coração, como em Meribá, como no dia de Massá, no deserto” (Salmo 95.6-8)



Vivemos dias maus, quando a oferta de pecado é maior que imaginamos. Quantas vezes vocês já se sentiu perdido entre tantos caminhos, tão diferentes e alguns com destinos que levam para tão longe da verdadeira felicidade que está em glorificar a Deus e se alegrar nEle para sempre. Àqueles que se encontram perdidos, esse versículo apresenta um caminho: “vinde”.

O mundo e suas ilusões nos convidam a ir, fugir de Deus. Mas o profeta Jonas sabe o quanto isso é impossível. Davi de maneira inspirada nos convida a vir. O único caminho seguro é aquele que está pavimentado sobre a Palavra de Deus e, por isso, conduz ao Senhor. Esse caminho é o próprio Jesus Cristo que disse: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim” (João 14.6). Aqueles que andam por esse caminho não caminham cansados e sobrecarregados por causa do vão e pesado jugo mundano em suas falsas exigências, mas das cangas leves e suaves de Jesus.

Esse caminho implica em glorificar a Deus como ele quer ser glorificado (Romanos 1.21). Todos os homens querem ir a Deus, mas existem caminhos sem saída e que possuem horríveis perigos e fatais abismos. Não basta glorificarmos a Deus, mas o devemos fazer da maneira como ele quer, ou seja, nos moldes impostos pela Palavra. Veja o fim de Nadabe e Abiú, filhos de Arão, os quais foram fulminados por introduzir fogo estranho no templo. Dessa maneira vira o Senhor nosso Deus, que nos criou exige que o “adoremos, prostremos e nos ajoelhemos”.

Essa é uma atitude perigosa e impossível àqueles que não tiveram seus corações abertos pelo Espírito Santo, pois ou se recusarãoa fazê-lo como se isso fosse uma atitude sem sentido (lembre do rei Agripa, que pede para Paulo parar de pregar, porque não estava disposto a parar de pecar) ou perigosa, pois exercerão a mesma tarefa dos pagãos que adoram ídolos que não são nada (1Corintios 8.4). O profeta Habacuque diz: Que aproveita o ídolo, visto que o seu artífice o esculpiu? E a imagem de fundição, mestra de mentiras, para que o artífice confie na obra, fazendo ídolos mudos? Ai daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta! Pode o ídolo ensinar? Eis que está coberto de ouro e de prata, mas, no seu interior, não há fôlego nenhum. O SENHOR, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra” (Habacuque 2.18-20)

Há dois motivos pelos quais devemos vir a Deus e adorá-lo de maneira fiel: somos povo do seu pasto e ovelhas de sua mão. Enganamo-nos acreditando que somos inteiramente livres e que escrevemos, sozinhos, a nossa história, pertencemos ao Senhor, somos de seu pasto e isso faz dEle o nosso Pastor, que dá a vida pelas suas ovelhas, porque somos ovelhas de sua mão, Ele é o Deus pessoal. Servimos ao Deus soberano que nos criou que fez o mar, assim como as profundezas da terra e as alturas dos montes (Salmo 95.5,6).

Essa é uma singularidade do cristianismo, em todas religiões espalhadas pelo mundo ora você verá um deus soberano, mas nada pessoal ou pessoal, mas nada soberano. Jesussubsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” (Filipenses 2.6-8).

Davi mostra que há um obstáculo para virmos a Deus cultuá-lo reconhecendo que ele é soberano e pessoal: a dureza de nosso coração. Veja que o salmo afirma que se hoje ouvirmos a sua voz. Como podemos ouvir a voz de Deus senão pelas Escrituras, pois Jesus afirma: “examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim” (João 5.39). Essa voz pode ser ouvida hoje, ela não está apenas no passado, tampouco no futuro, mas todo aquele que estiver sob a luz do Espírito Santo pode encontrar na Bíblia a voz do Senhor para a sua vida. O ímpio poderá abria Palavra e entendê-la, até com maior destreza que o cristão, dependendo do seu grau de instrução, mas jamais a obedecerá, contudo até o mais humilde e inculto piedoso observará a verdade suficiente para a sua salvação nas páginas das Sagradas Escrituras. Veja o exemplo de Pedro e João, eram humildes pescadores, e os cultos homens do Sinédrio (Supremo Tribunal Federal de Jerusalém) reconheceram-lhes incultos e iletrados, mas viram que falam com coragem, porque estiveram com Jesus (Atos 4.13).

Assim como Jesus a Bíblia também é humana e divina ao mesmo tempo e, por isso, possui obstáculos humanos para sua maior compreensão (não daquilo que é suficiente para nossa salvação), pois foi escrita em uma língua diferente da nossa, para um contexto e uma cultura, também, diferentes daquela que vivemos, contudo existem obstáculos espirituais, naturais e morais. Somos naturalmente filhos da ira, radicalmente depravados e só a compreendemos como verdade, porque fmos vivificados por Jesus Cristo.

O Salmista exemplifica a dureza do coração, que nos impedem a vir de maneira adequada a Deus, pelo episódio de Meribá e Massá em Êxodo 17.1-7, quando, por falta de água, o povo murmurou e houve tal contenda que até o próprio Moisés perdeu o direito de entrar na terra prometida. As grandes provações acontecem no íntimo do cotidiano. Frquentemente, o Senhor nos convida a suportarmos diversas provações sem murmurar, mas nos alegrande. Os maiores obstáculos para a nossa comunhão com Deus se encontram em situações triviais, quando nos achamos lesados pelo Criadore e reinvindicamos uma justiça que não merecemos, ao invés de reconhecermos que todas as coisas (até mesmo as adversas) cooperam para o bem daqueles que amam a Deus (Romanos 8.28).