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terça-feira, 31 de março de 2015

ELE LEVOU NOSSAS DORES


Ele levou nossas dores
Algumas culturas gostam de simbolizar a vitória da vida sobre a morte em um alimento muito comum: a pipoca. Entendem-na como a transformação do milho, que no calor e na escuridão de uma panela consegue desabrochar em seu melhor, porque antes sendo duro agora se apresenta macio; sendo intragável; agora é agradável ao paladar.
Todavia as condições desfavoráveis que permitem alguns grãos desabrocharem em uma iguaria de pouco sabor (pois tem o gosto do sal ou do caramelo que o tempera), mas com grande capacidade de captar pessoas para momentos de doce distração, fazem outros grãos de milho mais duros ou apresentarem uma transformação parcial, tais como os irmãos de Laodiceias que tinham suas vidas na mesma temperatura de suas fontes termais (Ap 3.16).
Os milhos conservam a todo custo sua antiga forma, tal como muitos se apegam a seu velho homem em suas idolatrias por tradição ou conveniência, são chamados piruás, todavia essa tentativa suicida os tornou inúteis mostrando a validade da máxima de Cristo: Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por causa de mim e do evangelho salvá-la-á” (Mc 8.35).
Em nossa relidade caída, assim como na panela de pipoca, a vida e a morte se alternam de aneira profunda e subjetiva, pois há pessoas que parecem vivas, mas estão mortas e podem ouvir o que se diz a igreja de Sardes: Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto” (Ap 3.1).
Hoje, vivemos a alegria de comemorar a páscoa, porque podemos nos reunir e nos recordarmos que Jesus obteve vitória sobre a morte, porque, aquele que é superior a Moisés (Hb 3.3) cruzou em sua ressurreição o denso mar da morte de forma que aqueles que o seguem não perecerão, mas terão a vida eterna. O mesmo consolo que Marta recebeu do Mestre nós também podemos confiar: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente” (Jo 11.25,26).
No Evangelho de Lucas 24.13-35, vemos dois discípulos destruídos batendo em retirada de Jerusalém; desertando para Emaús. Caminhavam cegos pelo poder da dor. Não sabemos o quanto tiveram convivido com o Senhor, mas carecia a eles a crença de que Jesus é o Cristo (Mc 8.29), pois consideravam-no como “varão profeta , poderoso em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24.19), porém essa era a fé geral das pessoas (Mc 6.14,15; Mc 8.27,28). Há muitas pessoas que, em nossos dias, veem o Senhor um filósofo, revolucionário, estadista, todavia só tem íntima relação com Deus aquele que confessa que Jesus é o filho de Deus (1Jo 4.15). Essa convicção não vem da aptidão mental ou pelo poder dos argumentos, mas pela ação do Espírito Santo (Mt 16.17).
Se os discípulos estavam dispostos a tomar um caminho contrário àquele proposto pelo Senhor – Emaús ao invés da Galileia (Mc 14.28) –, uma rota semelhante a empreendida pelo profeta Jonas oito séculos atrás, Jesus não perdeu nenhum dos seus exceto o filho da perdição (Jo 17.12).
Lucas, dos evangelistas, é o único que traz essa história com uma grande números de detalhes com o propósito de que tenhamos plena certeza das verdades em que fomos instruídos (Lc 1.4). Podemos aprender com esses dois homens que uma fé superficial é extremamente vulnerável os dias maus. Esse artigo visa analisar como Jesus lida conosco nesses momentos de tristeza profunda. Esse artigo também pode nos oferecer pistas para como lidar com o nosso próximo nesses momentos.
A primeira atitude de Jesus é caminhar com os discípulos, ouvindo-os, conhecendo suas angústias e anseios. Em nossos dias em que todos querem se comunicar em plenos pulmões ou pelas redes sociais, talvez ouvir seja o gesto de carinho mais escasso. Jesus, como fez desde a sua concepção, acomodou-se às limitações daqueles homens, porém sem deixar de exortá-los pela lentidão de seus corações, pois quem ama cedo disciplina (Pv 13.24).
A segunda atitude do Senhor é confrontá-los com a Palavra que é “útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça,a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16,17). Jesus discorre de Moisés aos Profetas mostrando que o Antigo Testamento o apresenta e indica como seria sua morte (Is 53.4-7).
Esse momento de pregação aquece o coração dos discípulos, porque “A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel e dá sabedoria aos símplices (פּתִי: patî pode ser entendido como cabeça aberta, aquele que se deixa levar pelas mais diversas opiniões)” (Sl 19.7). Isso serve para nos mostrar duas coisas: primeiro, a eficácia terapêutica da Palavra e, em segundo lugar, para nos alertar sobre a insanidade de tantos “cristãos” que deixam a verdade inspirada, inerrante, plenos e suficientes para se fiarem em teorias humanas de fracasso comprovado. Enquanto muitas incham de forma doentia com a promessa de prosperidade e sinais extraordinários, nosso anseio deveria ser o mesmo de Pedro: Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (Jo 6.68,69). Nesses dias, em que muitas igrejas tem reduzido o tempo da pregação deveríamos nos recordar de que aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação” (1Cor 1.21).
A terceira atitude de Jesus é ficar com eles, especialmente, no partir do pão. O Senhor não entra na casa dos discípulos como uma visita qualquer, mas como o próprio anfitrião e, por isso, se vê no direito de partir o pão. Se Jesus não for o nosso alimento (Jo 5.35,36) todo alimento será insosso e incorreremos no erro cometido por Salomão em Eclesiastes de se entregar às delícias e aos trabalhos desta via sem direcioná-los para a glória de Deus. Nesse momento íntimo e preciso os olhos dos discípulos se abriram e constataram que o coração lhes ardia quando Jesus lhes expunha a Palavra e que não podem mais continuar em Emaús, de tal forma que os empecilhos que impediam Jesus de continuar a viagem o o obrigavam a ficar com eles desapareceram.
Esses dois discípulos são quais pipocas que as sofrimentos desses dias maus enclausurou em cascas de morte, pois toda aquele que não crer no Jesus ressuscitado está morto, mas a ação dura e amável do Senhor os fez voltar para o reto caminho.Existem muitos cristãos frustrados com denominações e pastores e que ora vivem uma espiritualidade independente (ferindo Hb 10.24,25), Ra se tornam amargos e passam a ofender a igreja repetindo suas lamúrias alicerçadas em doutrinas humanas e pragmáticas.Como discípulos de Cristo precisamos caminhar do lado delas ouvir-lhes as angústias, exortá-las, expor as Escrituras, certos de que a Palavra jamais voltará vazia (Is 55.11)

Reverendo Diego José Gonçalves Dias


sexta-feira, 20 de março de 2015

O JUGO DESIGUAL E SUAS IMPLICAÇÕES


O jugo desigual e suas implicações
Segundo Dean Ulrich (2011, p.71), o povo de Israel tinha duas missões: ser um exército santo que exerceria disciplina sobre o povo cananeu, porque o cálice da ira de Deus havia transbordado (Gn 15.13-16) diante de todas as idolatrias e depravações empreendidas por eles, assim como não se contaminar com casamentos mistos. Entretanto, quando olhamos a genealogia de Jesus, vemos duas uniões, aparentemente, mistas: Salmom com Raabe e Boaz com Rute.
Raabe era uma prostituta de Jericó (Js 2.1) e Rute uma mulher moabita, que até a décima geração não poderia entrar na congregação do Senhor (Dt 23.3). De fato, se a base do casamento misto fosse racial, essas mulheres não poderiam ser tomadas como esposas por israelitas piedosos, tampouco compor a descendência do Salvador. Todavia, “embora Israel devesse manter a pureza moral e de culto, bem como eliminar os cananeus, é preciso salientar que a base para a separação era TEOLÓGICA e não racial (ULRICH, 2011, p. 74, grifo nosso).
Vemos que tanto Raabe, quanto Rute, apesar de terem vivido em terras pagãs e praticado a idolatria, um dia ouviram (Js 2.9-11) sobre os feito gloriosos de Deus e foram chamadas da morte para a vida. O próprio Abraão serviu outros deuses em Ur dos caldeus (Js 24.2), porém, diante da ordem Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção”. (Gn 12.1,2) obedeceu.
Dessa maneira, o povo de Deus não tem como fundamento um laço sanguíneo, muito menos integrar o rol de membros de uma igreja, mas escutar as palavras do Senhor e colocá-las em prática (Mt 7.24; Lc 6.49), porque “quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus” (Jo 3.21). Carson (2007, 209), comentando João 3.10-21, afirma que a fé simples, despreparada e incondicional levou os israelitas a se voltarem para a serpente de bronze no deserto (Nm 21.8,9 compare com Jo 3.13-18) e essa mesma  fé deve levar o cristão a buscar Jesus e é “por intermédio de tal fé, e tal fé somente, alguém pode experimentar o novo nascimento (Jo 3.3,5) e assim ganhar a vida eterna (Jo 3.15,16)”.
Raabe demonstrou essa fé simples quando “recebeu os espias com aquela hospitalidade que punha em risco sua vida” (CALVINO, 2012, p.325) e pediu misericórdia para si e para a casa de seu pai. Rute evidencia sua fé quando busca o Deus de Noemi como o seu Deus (Rt 1.16; 2.12) e encontra refúgio em suas asas. Cundall e Morris (1986, p.244) entendem que a decisão de Rute, apesar de moabita, viúva, sem filhos e ainda em idade para se casar até mesmo com bons partidos seguir uma senhora, igualmente viúva, sem filhos, para uma terra que só ouvira falar e assumir o seu Deus como o seu deus mostra que apesar de sua fé não ser bem fundamentada era real.
Se alguém perguntasse para Paulo entre 59 e 60 d.C. (data em que escreveu as cartas de Colossenses e Filemon em Roma) sobre a fé de Demas, provavelmente, diria que era um rapaz comprometido, pois o reconhece como seu cooperador junto de Marcos, Aristarco e Lucas. Boor (2006, p. 74) entende que a falta de elogios a Demas na carta aos Colossenses (escrita no mesmo período) talvez revelasse que ele continuava cooperando, mas sem a mesma ênfase. Contudo, a fé de Demas , tal como a semente que cai nos espinhos (Mt 13.22), não suportou os cuidados do mundo e suas fascinações e, por essas quimeras apostatou. Calvino (2009, p.281) afirma: “ele não podia ficar com Paulo sem se envolver em muitos problemas e humilhações e até mesmo com o real risco de sua vida, ficava exposto a muitas repreensões, insultos, era forçado a renunciar os cuidados dos próprios interesses” e, por isso, temos a constatação de Paulo: Demas, tendo amado o presente século, me abandonou e se foi para Tessalônica” (2Tm 4.10a).
Por outro lado, se alguém visse a ficha policial do ladrão crucificado ao lado de Jesus, afirmaria que ele não era um escolhido antes da fundação do mundo (Ef 1.4), porém, no alto da cruz, reconhece seus pecados (Lc 23.41) e busca a Jesus: “Jesus, lembra-te de mim quando vieres no teu reino” (Lc 23.42). Rienecker (2005, p.299) afirma: o malfeitor na cruz superou a muitos outros em clareza de percepção, em força de fé e em ousadia de testemunho”, nem o “corajoso” Pedro foi tão audaz para discípulos do sumo sacerdote, uma criada, servos, guardas e pessoas que se esquentavam (Jo 18.15-18, 25-27).
Dessa maneira, quando Paulo orienta que os cristãos devem se casar no Senhor (1Cor 7.39), mostra primeiro que não é lícito que o crente se vincule com o incrédulo, mas também que o temor do Senhor deve ser o alicerce pelo qual deve se começar a vida conjugal (CALVINO, 2003, p.245,246). Há muitos crentes que se casaram com outros crentes, as lutas cotidianas alteram suas prioridades e, em algum tempo, estão vivendo como uma família ímpia, mas como uma casca religiosa que apenas mostra uma fé superficial e sem efeitos na vida prática. Contudo para saber quem é crente e quem é incrédulo é necessário muito mais da habitual análise burocrática (Qual igreja pertence?, Fez pública profissão de fé?, Qual seu ministério na igreja?), precisa-se conhecer os hábitos e prioridades. O Jovem rico tinha uma vida bastante piedosa, mas quando foi obrigado a priorizar Jesus e se desfazer de suas riquezas não foi capaz (Lc 18.18-23), todavia Mateus não se importou em deixar a coletoria (Mt 9.9)
Em 2 Coríntios 6.14, Paulo afirma que toda sociedade do crente com o incrédulo é “jugo desigual”, o que evoca a metáfora de dois bois, cavalos ou burros atados pela mesma canga e tendo que puxar a mesma carga. Uma canga desigual obriga um a levar aior peso do que o outro e é exatamente isso que acontece com o crente, pois tem a responsabilidade de glorificar a Deus em todas as áreas de sua vida, enquanto o ímpio só possui compromissos com os ídolos de seu coração. Calvino (2008, p.177) entende que “prender-se a jugo desigual com os incrédulos significa nada menos que manter comunhão com as obras infrutíferas das trevas (Ef 5.11) e estender-lhes a destra aos incrédulos como emblema de companheirismo”.
Os casamentos mistos têm o poder de corromper pessoas sábias e comprometidas como Salomão, que, velho, por influência de suas mulheres ímpias, seguiu Astarote (deusa dos sidônios), a Milcom (deus amonita), edificou santuário a Camos (deus moabita que exigia sacrifícios humanos. Veja 2Rs 3.26,27) e Moloque (deus amonita que exigia sacrifício de crianças) (1Rs 11.4-8). Neemias descreve Salomão e seu pecado da seguinte maneira: entre muitas nações não havia rei semelhante a ele, e ele era amado do seu Deus, e Deus o constituiu rei sobre todo o Israel. Não obstante isso, as mulheres estrangeiras o fizeram cair no pecado” (Ne 13.26).
O jugo desigual não é pernicioso apenas no casamento, mas em todas as relações em que o crente possa empreender junto ao ímpio. Um exemplo é o sacerdote Eliasibe, porque, enquanto o povo, diante da orientação bíblica, procurava apartar todo elemento estrangeiro, ele, encarregado dos depósitos, cedera uma grande sala no templo que era destinada a depositar as ofertas de manjares, o incenso, os utensílios e os dízimos dos cereais, do vinho e do azeite, que se ordenaram para os levitas, cantores e porteiros, como também contribuições para os sacerdotes para Tobias, amonita que não se agradou que alguém procurasse o bem do povo de Israel (Ne 2.10), zombou do povo de Deus (Ne 2.19), subestimou a edificação dos muros (Ne 4.3), tentou matar Neemias (Ne 6.1), subornou profetas como Semaías e Noadia (Nm 6.10,12,14) e escreveu cartas para atemorizar Neemias (Ne 6.19). Tobias estava instalado no templo, porque era parente do sacerdote Eliasibe e esse era um ótimo lugar para influenciar de forma negativa os da tribo de Judá.
Tobias não temeu em jogar os móveis de Tobias, tomado por semelhante zelo com o qual o Senhor Jesus expulsou os vendilhões do tempo. Sempre que o povo adotou a doutrina de Balaão, ou seja, um relaxamento quanto a aproximação daqueles que não temem a Deus sempre ouve um esfriamento da fé (veja a igreja de Pérgamo em Ap 2.12-17) uma tendência a perversão mais intensa do que a praticada entre os ímpios.
Assim como é mais fácil ser puxado para dentro de um lamaçal do que tirar uma pessoa de dentro dele, é muito fácil o crente se desviar ao se casar “infiéis, papistas ou outros idólatras são notoriamente ímpios em suas vidas ou que mantêm heresias perniciosas” (Confissão de Fé de Westminster XXIV, 3). Contudo, acreditamos que existem pessoas que entram em um casamento misto e, com o tempo, a parte não crente, por fazer parte da igreja invisível, vem a se converter e ser um crente vigoroso, mas essa realidade não é uma regra, mas uma exceção. Na maioria dos casos, vemos pessoas que antes professavam uma fé viva se desviando do reto ensinamento da Palavra ou pessoas que suportam um peso desigual, porém buscam santificar suas famílias no testemunho e na oração.
A Igreja Presbiteriana do Brasil (SC-1942-031) é contrária ao casamento misto, porque entende que as Escrituras são específicas em salientar a inconveniência deles, todavia como a confissão se silencia sobre se pode ou não se impetrar a bênção matrimonial sobre casais mistos, sabendo que a cerimônia de casamento não é um sacramento, mas um culto intercessório onde os familiares do não-crente têm a oportunidade de conhecer melhor o evangelho, mesmo sendo inconveniente (CE-87-110) e se o casal almeja de fato a bênção do Senhor é lícito conferi-la, porém respeita “respeita o escrúpulo de pastores, conselhos e congregações que consideram inaceitável sobre casais mistos ou não evangélicos”.
Salmom e Boaz viram em Raabe e Rute a piedade externa de um compromisso interior com Deus. Da mesma maneira, os jovens crentes devem entender que a membresia eclesiástica não é um fator predominante para indicar que uma pessoa é de fato crente, pois todo crente fiel está em uma igreja fiel (prega a Palavra, administra os sacramentos e a disciplina conforme as orientações bíblicas), mas nem todos aqueles que estão em uma igreja fiel são de fato crentes. Jesus nos adverte que o joio deve crescer com o trigo até o juízo (Mt 13.30). Dessa maneira, nem todos os que estão arrolados no rol de membros de uma igreja são de fato crentes. No período do namoro, deve-se primar por conhecer acima de tudo as convicções religiosas do indivíduo, suas prioridades, sua cosmovisão.
Vestir o ímpio de crente não o faz piedoso. Muitos jovens tentam impor aos ímpios condições externas de piedade como ir à igreja, fazer o discipulado, fazer pública profissão de fé, etc, mas, assim como não se pode mudar a cor do etíope, tampouco as manchas do leopardo, o indivíduo acostumado ao mal não pode fazer o bem (Jr 13.23).


sexta-feira, 13 de março de 2015

Como Protestar por dias melhores?


Como Protestar por dias melhores?
Parafraseando Shakespeare: há algo de podre no governo do Brasil. Assim como Hamlet (Ato I, cena IV) via a imoralidade do palácio dinamarquês como algo a apodrecer, nós brasileiros, pelos jornais, vemos a anatomia de mais um escândalo que nos dá o mesmo sentimento de putrefação de instituições que julgávamos sólidas como a Petrobrás e o pessimismo de sabermos que outras notícias de roubo vão ser contadas e seus protagonistas permanecerão impunes em sua empáfia. Diante dessa triste realidade, alguns grupos de organizam em movimentos que visam o impeachment da presidente da República. Portanto, é lícito ao cristão participar desses atos?
Jesus nos orientou a sermos prudentes como as serpentes e símplices (não misturados) como as pombas (Mt 10.16), por isso, ao vermos esses movimentos se levantando devemos ter a mesma percepção de Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas (cap. IV): “Quem não sabe que ao pé de cada bandeira grande, pública, ostensiva, há muitas vezes várias outras bandeiras modestamente particulares, que se hasteiam e flutuam à sombra daquela, e não poucas vezes lhe sobrevivem?”.
Debaixo da bandeira “fora Dilma” ou “fica Dilma” existem interesses partidários que não possuem força legal, porque a presidente foi eleita democraticamente com 51, 45% dos votos, contra os 48, 55% do seu oponente e tampouco pode ser, na vigência de seu mandato,  responsabilizada por atos estranhos ao exercício de suas funções” (Constituição Federal 86§4), por isso, requerem a população como massa de manobra para que, no frigir dos ovos, o impeachment não pareça um interesse partidário, mas a voz popular. Se essa voz conta algo, ela já se manifestou nas urnas nas últimas eleições, e toda manifestação posterior é um contratempo vago.
No último dia 08, a mídia mostrou cenas ridículas de pessoas protestando com panelas e palavras de baixo calão. Por pior que seja a administração de um governante ou por mais que ele persiga a igreja, a Bíblia não nos dá o direito de lançar imprecações contra ele, mas nos incentiva na obrigação de orar por sua vida.
Em meados de 60 d.C., quando Paulo escreve a primeira epístola a Timóteo, as autoridades romanas não eram bem quistas entre os judeus e cristãos, pois no ano 50 d.C. Claudio expulsara os judeus de Roma e logo, em 67 d.C., Nero, sexto imperador romano, se torna o primeiro a perseguir a doutrina cristã (Eusébio de Cesareia XXV.4), o qual matará Pedro e Paulo. Todavia Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, irá ordenar aos crentes de todas as épocas: exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm 2,1,2).
A Confissão de Fé de Westminster (XXIII.1) entende que há m duplo governo de Deus: Deus, o Senhor supremo e Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem público, constituiu sobre o povo magistrados civis que lhe são sujeitos, e a este fim, os armou com o poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores”.
A qualidade administrativa da presidente ou seus pressupostos não exime os cristãos de interceder por seu governo, pois estes têm o dever de orar até mesmo porque aqueles que os perseguem (Mt 5.44) tampouco demonizá-la, pois toda a autoridade vem de Deus (veja Pv 8.16; Rm 13.1). Dessa maneira Calvino, comentando a Epístola aos Romanos, afirma: “ainda que as autoridades ditatoriais e injustas não devam ser classificadas como governos ordeiros, todavia o direito de governar é ordenado por Deus visando ao bem-estar da humanidade”.
Calvino, nas Institutas (XX. 24,25) que a maioria dos governantes não apresenta bons exemplos, tampouco transparecem em suas atitudes como bons governantes, mas se extraviam em uma vida dissoluta que traz sofrimento aos súditos, todavia esses devem respeitar aqueles como se fossem bons, pois Calvino entende que os governantes, legalmente constituídos, que não exercem corretamente seu ofício são instrumento de castigo e disciplina para um povo que se distancia de Deus.
Deus, por meio de Jeremias chamará Nabucodonosor, rei da Babilônia de seu servo (Jr 25.9; 27.6) não por sua piedade, pois saqueou o templo de Jerusalém para levar tesouros a Bel seu Deus (2Cr 36.10; Dn 1.2), muito menos por causa de sua misericórdia, porque não a teve nem com jovens, donzelas ou velhos (2Cr 36.17). Entretanto é chamado de servo de Deus, porque procede a ira do Senhor contra aqueles que zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de Deus e mofavam dos seus profetas” (2Cr36.16). Dessa maneira, devemos entender que a presença de uma autoridade civil falhas e perniciosa serve para a disciplina de um povo, sabendo que o “o justo viverá pela fé” (Hc 2.4), ou seja, mesmo que o justo tenha que sentir a disciplina angariada pelos maus ela não esmorecerá, mas, como Daniel, firmará o propósito de não se contaminar (Dn 1.8).
Todavia a obediência aos governantes não pode ser maior do que a obediência devida a Deus. O súdito não pode negligenciar a Palavra para contentar seus superiores, tal como os amigos de Daniel (Dn 3.18), que estavam dispostos a morrer, mas não se entregar a idolatria. Pedro, inspirado pelo Espírito, afirma que o temor do Senhor antecede a honra devia a autoridade civil (1Pe 2.17) e igualmente diz aos homens do Sinédrio: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens (At 5.29).
A estrutura política não pertence a satanás, todavia, como um hábil mercador da tentação ele exerce influência degenerativa na direção que a política assume. A luta do cristão não deve se resumir a utilizar dos modelos humanos para reformar o mundo, mas daqueles dispostos na Palavra, ou seja, denunciando as distorções e fiscalizando de maneira ordeira se a justiça está sendo feita. Sem uma profunda santificação na direção que a atividade política toma a saída de um corrupto só abre vaga para mais a se corromper.

Na tentação do Getsêmani, Pedro quis usar dos meios mundanos para fazer justiça, mas ele e nós somos advertidos pelo Príncipe da Paz: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão” (Mt 26.52).

sexta-feira, 6 de março de 2015

Uma régua para medir o mundo

Uma régua para medir o mundo
Nessa semana, um desses filósofos que moram perto da gente me interpelou com a seguinte informação: “Pastor, vi uma frase que achei muito interessante: não é a minha régua ou a sua que mediremos o mundo”. Prontamente, respondi: “há uma única régua capaz de cumprir essa tarefa: a régua daquele que criou o mundo”. Essa conversa ficou na minha cabeça e neste texto tento refletir a frase em si e a resposta dada.
A frase em discussão se baseia em uma metáfora, ou seja, quando existe no texto “uma comparação abreviada, em que o nexo comparativo não está expresso, mas subentendido” (ALMEIDA, 2009, p.412), ou seja, ninguém imagina que alguém tenha a intenção de fazer uma régua tão grande e flexível capaz de mensurar o nosso planeta, mas que “régua”, nesse contexto, expressa as lentes pelas quais avaliamos o mundo ao nosso redor, o que nada mais é que a nossa cosmovisão.
Walsh e Middleton (2010, p.29) afirma que “uma cosmovisão nunca é meramente uma visão da vida. É sempre uma visão, também para a vida”. Dessa maneira, ela funciona como os lentes ou os próprios olhos pelos quais interpretamos a vida. Sire (20012p.164) entende que é inevitável ter uma cosmovisão, que tem seu âmago em nosso coração, de onde procedem as fontes da vida (Pv 4.23). Contudo, Sire (2012, p.70), citando Naugle, afirma: “desde a infância uma quantidade torrencial de conteúdo é vertida para o reservatório do coração a partir de fontes, aparentemente, ilimitadas e qualidade variável, algumas delas puras, algumas delas poluídas”. Dessa maneira a minha cosmovisão formada e constantemente moldada pela vida no calor das crises induz o foco de mina visão, assim como, direciona meu procedimento. Portanto, “se quisermos entender o que as pessoas veem ou a maneira como veem, precisamos prestar atenção na maneira como elas andam” (WALSH; MIDDLETON, 2010, p.16). Podemos parafrasear essa frase essa tese para evidenciamos a metáfora inicial de nosso texto da seguinte maneira: se quisermos entender o que as pessoas medem ou a maneira como medem o mundo ao seu redor, precisamos estar atentos a como elas andam.
Powell e Brandy (1985, p.14) afirma que aprendemos a falar até os dois anos e ouvimos antes mesmo de nascer, mas “infelizmente, muita gente pensa que, porque aprendemos a falar e a ouvir, automaticamente aprendemos a nos comunicar”. A distancia entre aquele que fala (emissor) e aquele que escuta (receptor) pode sofrer muitos ruídos desde a língua que falamos (código) ao meio que utilizamos para nos comunicar (canal), mas também pode indicar dois universos diferentes. Esse fato explica o abismo que existe entre aquilo que falamos e aquilo que o outro realmente compreendeu. Dessa maneira, “a nossa linguagem reflete a nossa cosmovisão e a cosmovisão dá forma a nossa linguagem” (WALSH; MIDDLETON, 2010, 32).
Temos réguas, ou seja, somos ávidos para compreender o mundo, todavia na proporção em que elas estão ligadas aquilo que a traça pode corroer o tempo enferrujar e ladrões roubar, menor ela é, aquilo que temos como importante e significativo (nossa hierarquia de valores) tem o poder de atrair nosso coração e, assim fazer nossa cosmovisão mais amplo ou restrita (Mt 6.20).
Quando nos deparamos com a insuficiência de nossos instrumentos para interpretar a vida, decidimos nos manter estáticos (eu tenho a minha régua e você tem a sua e nos respeitamos, especialmente quando nossas atitudes e convicções combinam com o das pessoas a meu redor), todavia quanto uma crise se instala e nos obriga a rever nossos padrões. Sire (2012, p.145) nossa cosmovisão pode mudar de forma pequena e gradual ou por ma crise que nos leva a conversão.
O mundo ao nosso redor tem uma medida exata. O individualismo que prega que cada um pode ter sua maneira de ver a vida não se aplica a matemática, pois em lugar algum dois mais dois será cinco ou seis, mas sempre quatro. Por vivermos em um mundo meticulosamente organizado onde a gravidade da terra se adéqua de tal forma ao seu único satélite natural, a lua, que ela pode cair parabolicamente sem jamais uma se chocar com a outra. Pearcey (2012, p.46), citando Collingwood, defende: “a possibilidade de uma matemática aplicada é uma expressão, em termos de ciência natural, da crença cristã de que a natureza é a criação de um Deus onipotente”.
Um mundo pautado na exatidão não poder fruto de uma explosão, fruto do acaso, mas obra das mãos de um organizador. É inevitável reconhecermos que por traz das leis que regem a natureza existe o Legislador. Dessa maneira, se nossa régua se mostra insuficiente para interpretar de forma imparcial, precisamos da régua do Criador. Sabemos que a Palavra é inspirada por Deus. (2Tm 3.16). O termo grego utilizado por Paulo para inspirar é theópneystos (θεόπνευστος), ou seja, aquilo que foi exalado, que veio de dentro de Deus. A Bíblia não é uma verdade, tampouco é parcialmente inspirada, mas é a verdade absoluta que liberta o homem de suas mais terríveis suficiências e o habilita a toda boa obra.
Sire (2012, p.176) entende que a Bíblia é a única cosmo visão capaz de oferecer parâmetros particulares e universais suficientes ao homem. Ela é a régua do criador que me desvincula as quimeras desse mundo caído e me leva a amplitude, por isso, a única régua eficiente para medir o mundo.