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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

A Bíblia e o trato com animais
Quem não se emocionou no ano passado (18-10-2013) ao ver o resgate dos beagles do Instituto Royal de São Roque-SP? A cena ganhou espaço na mídia, mesmo com opiniões contrárias. De um lado estavam os ativistas defendendo os direitos dos animais, do outro lado os cientistas zelando pelo suposto avanço da ciência. Quem estava certo nesta briga? Essa é uma discussão longa e com argumentos fortes em ambos os lados, porém há fatos que precisam ser considerados.
O fato é que o Instituto mencionado era credenciado pelo Conselho nacional de controle de experimentação animal (Concea) e pertencia a Organização de sociedade civil de interesse público (Oscip). Outro dado relevante é que os ativistas do Ononymous Brasil e a Frente de Libertação animal depredaram o laboratório usado para a pesquisa de remédios, como afirma a responsável pelo Instituto Dra Silvia Ortiz, e levaram os 128 cachorros da raça Beagles (raça padrão internacional para testes laboratoriais), dos quais alguns foram abandonados na rua à própria sorte conforme matéria do jornalista Geraldo Júnior do G1.
O mais engraçado é que não levaram os ratos. Será que os roedores não merecem a mesma atenção, apesar de serem animais? Ou será que na foto não sairia bem um ativista carregando um ratinho mordiscador? Isso mostra a qualidade superficial e infantil dos últimos movimentos que têm abalado nossa nação e terminado em baderneira e depredação ao patrimônio público.
Esse fato acendeu a discussão da utilização ou não de animais na pesquisa científica. O governador sancionou na íntegra o Projeto de Lei 777/2013 do deputado Feliciano Filho (PEN) que proíbe a utilização de animais em testes na indústria de cosmético, perfumes e higiene pessoal, permitindo ainda na pesquisa de remédios segundo Marina Pinhoni da Revista Época. Cientistas protestam afirmando que não temos condições ainda de precisar os efeitos de um produto esses testes.
Sabendo que a Bíblia e a nossa única regra de fé e prática, o que ela tem a dizer sobre a utilização dos animais pelo homem?
Há muitas pessoas que evitam o consumo de carne e derivados animais porque não querem viver do sofrimento de outro animal. Espero que ninguém invente que os legumes sentem dor. Essa visão da natureza não tem seus alicerces nas visões panteístas orientais que identificam o universo com Deus. Os adeptos dessa doutrina entendem que devemos proteger a natureza porque tudo ao nosso redor faz parte de uma divindade que existem como energia vital de tudo o que existe.
Atualmente, essa concepção ganhou mais argumentos e mais adeptos a partir das teorias veganistas de Donald Watson (1910-2005). Os veganos entendem que produtos derivados da carne como ovos, queijo, salsicha, etc, são frutos de uma indústria que é responsável por poluir mais do que todos os carros juntos, desmatar para fazer pastagem e consumir a maior parte dos grãos consumidos, sem contar no sofrimento imposto a eles para a sua engorda e abate.
Concordamos que uma alimentação baseada apenas em produtos de origem vegetal é prejudicial ao planeta e a saúde humana e que é nosso dever buscarmos uma dieta mais balanceada, mas algum vegano deixou de tomar a vacina para H1N1 porque ela foi produzida com ovos? Alguém deixaria de fazer um transplante cardíaco, porque na sua história foram utilizados animais para o seu progresso? Na obra Vidas Secas (1938) de Graciliano Ramos Sinhá Vitória mata o papagaio da família para servir de alimento na escassez do estio.
O discurso vegano e de todos os ecologistas é ora deísta (Deus criou, ma não intervém), ora panteísta (tudo é Deus) isola qualquer intervenção divina. Prega que cabe a nós a salvação do planeta e o seu bem estar e afirma que o fato de deixar de consumir os produtos de origem animal resultará em um planeta mais saudável e melhor.
Entendemos que o homem exerce mordomo sobre a natureza, ou seja, em última instância quem “sustenta, dirige, dispõe e governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as coisas, desde a maior até a menor” (Ne 9.6; Hb 1.3; Sl 135.6; Mt 10.29-31;At 17. 25,28; Mt 6. 26,30; Jó 38 a 41) para “o louvor da glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia” (Ef 3.10; Rm 9.17) (CFW V,1).
Deus não convive com o pecado, tampouco o pecador pode ser aceito sem o sangue do cordeiro perfeito, Jesus Cristo. Dessa maneira aquilo que o Senhor aprova em sua Palavra não pode ser contestado e será fonte de bênçãos. Após a queda o Senhor providenciou vestimenta com peles para Adão e Eva (Gn 3.21). O povo queria carne no desto e o Senhor mandou as codornizes para saciar essa necessidade (Êx 16.11-13).
Deus manda o povo oferecer sacrifícios de animais no templo como figura e sombra das coisas celestes (Hb 8.5) de tal maneira que, segundo John MacArthur, na festa da Páscoa, as água do Vale do Cedrom ficam tingidas de vermelho por muitos dias devido o sangue de 250.000 de cordeiros. Salomão afirma que a Sabedoria: abateu os seus animais e misturou o seu vinho, e já preparou a sua mesa (Pv 9.2). Deus manda Pedro matar e comer os animais que lhe havia mostrado (At 10.13).
De fato, a carne não fazia parte da dieta de Adão e Eva, tampouco dos animais, aves e repteis, mas a erva verde (Gn 1.30), porém foi incluída no cardápio após a queda sem serem condenados como hábitos pecaminosos pela Palavra de Deus. Portanto, pelo fato de Deus não jamais aprovar um ato pecaminoso, assim, podemos fazer uso dos animais para nossa alimentação e vestuário. Todavia a Bíblia não aprova o tratamento cruel deles.
O mesmo Salomão afirma: o justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel (Pv 12.10). Dessa forma, todo divertimento que se sustenta pelo tratamento cruel de animais, tal como rinhas de galo ou rodeios, assim como um abate cruel faz parte do procedimento do homem que não teme ao Senhor.
Os ecologistas e veganos conseguem ver apenas o impacto da alimentação de fonte animal no equilíbrio da natureza, contudo entendemos que a fonte de todo esse desequilíbrio não está apenas em uma preferência culinária, mas no pecado e esse começa no coração humano e se espalha em todas as suas atividades formando um terrível rastro de destruição por onde passa.
A alimentação do homem temente a Deus precisa:
· Ser moderada: no deserto, cada pessoa tinha um ômer (2 a 4 litros) do maná para comer (Êx 16.16) e não podia ser colhido além, poi o excedente estragaria, criaria bicho e cheiraria mal (Êx 16.24). Paulo adverte que a glutonaria é obra da carne e não do espírito (Gl 5.19-21);
· Glorificar a Deus: “quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Cor 10.31). Daniel é o exemplo que alguém que via no alimento o desejo de agradar a Deus (veja Dn 1.1-15).
· Não pode ser associada a ritos pagãos: a Bíblia não condena a dieta vegetariana, desde que ela não esteja alicerçada em princípios místicos ou pagãos. Paulo pede cuidado o consumo da carne sacrificada aos ídolos não por eles, pois os ídolos pagãos não são nada (1Cor 8.4), mas para não ser escândalo para os mais fracos na fé.
Acreditamos que a natureza geme e suporta angústias que podem ser vistas em estatísticas oficiais, contudo aguarda a sua remição (Rm 8.21,22), pois somente Deus tem o poder de tornar todo o mal em bem (Gn 50.20).
A igreja precisa acolher veganos e outras tendência alimentares tendo em mente o que a Palavra me diz: “Um crê que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu” (Rm 14.2,3). Assim como no princípio do cristianismo cristãos judeus e provenientes do paganismo encontravam problemas à mesa, pois discordavam no cardápio, talvez hoje encontremos a mesma dificuldade entre cristãos que comem comem qualquer alimento e aquele que possui restrições. Adolf Pohl adverte que a pessoa deve ser aceita à comunhão por concordar com um bloco de conceitos teológicos, mas porque Deus o aceitou.
Conta-se que um mendigo pedia esmolas sem ter sucesso até que ele pegou com cão, colocou-o ao seu lado e com sucesso passou a pedir esmolas para seu animal. Os animais geram uma grande admiração das pessoas, mas precisamos tomar cuidado para que os valores não sejam tocados a ponto do animal ser mais valorizado que o homem. A sociedade tolera e até admira um ativista regatando um cachorro, mas não se posiciona como deveria para com a facilitação frequente na pesquisa de células tronco embrionárias ou no aborto cada vez mais aceito. Sofre-se pelo abate de animais, mas poucos tomam atitudes efetivas para amenizar o sofrimento do outro ser-humano.


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