A Bíblia e o trato com animais
Quem não se
emocionou no ano passado (18-10-2013) ao ver o resgate dos beagles do Instituto
Royal de São Roque-SP? A cena ganhou espaço na mídia, mesmo com opiniões
contrárias. De um lado estavam os ativistas defendendo os direitos dos animais,
do outro lado os cientistas zelando pelo suposto avanço da ciência. Quem estava
certo nesta briga? Essa é uma discussão longa e com argumentos fortes em ambos
os lados, porém há fatos que precisam ser considerados.
O fato é que o
Instituto mencionado era credenciado pelo Conselho nacional de controle de
experimentação animal (Concea) e pertencia a Organização de sociedade civil de
interesse público (Oscip). Outro dado relevante é que os ativistas do Ononymous
Brasil e a Frente de Libertação animal depredaram o laboratório usado para a
pesquisa de remédios, como afirma a responsável pelo Instituto Dra Silvia
Ortiz, e levaram os 128 cachorros da raça Beagles (raça padrão internacional
para testes laboratoriais), dos quais alguns foram abandonados na rua à própria
sorte conforme matéria do jornalista Geraldo Júnior do G1.
O mais
engraçado é que não levaram os ratos. Será que os roedores não merecem a mesma
atenção, apesar de serem animais? Ou será que na foto não sairia bem um
ativista carregando um ratinho mordiscador? Isso mostra a qualidade superficial
e infantil dos últimos movimentos que têm abalado nossa nação e terminado em
baderneira e depredação ao patrimônio público.
Esse fato
acendeu a discussão da utilização ou não de animais na pesquisa científica. O
governador sancionou na íntegra o Projeto de Lei 777/2013 do deputado Feliciano
Filho (PEN) que proíbe a utilização de animais em testes na indústria de
cosmético, perfumes e higiene pessoal, permitindo ainda na pesquisa de remédios
segundo Marina Pinhoni da Revista Época. Cientistas protestam afirmando que não
temos condições ainda de precisar os efeitos de um produto esses testes.
Sabendo que a
Bíblia e a nossa única regra de fé e prática, o que ela tem a dizer sobre a
utilização dos animais pelo homem?
Há muitas
pessoas que evitam o consumo de carne e derivados animais porque não querem
viver do sofrimento de outro animal. Espero que ninguém invente que os legumes
sentem dor. Essa visão da natureza não tem seus alicerces nas visões panteístas
orientais que identificam o universo com Deus. Os adeptos dessa doutrina
entendem que devemos proteger a natureza porque tudo ao nosso redor faz parte
de uma divindade que existem como energia vital de tudo o que existe.
Atualmente,
essa concepção ganhou mais argumentos e mais adeptos a partir das teorias
veganistas de Donald Watson (1910-2005). Os veganos entendem que produtos
derivados da carne como ovos, queijo, salsicha, etc, são frutos de uma
indústria que é responsável por poluir mais do que todos os carros juntos,
desmatar para fazer pastagem e consumir a maior parte dos grãos consumidos, sem
contar no sofrimento imposto a eles para a sua engorda e abate.
Concordamos que uma alimentação baseada apenas em
produtos de origem vegetal é prejudicial ao planeta e a saúde humana e que é
nosso dever buscarmos uma dieta mais balanceada, mas algum vegano deixou de
tomar a vacina para H1N1 porque ela foi produzida com ovos? Alguém deixaria de
fazer um transplante cardíaco, porque na sua história foram utilizados animais
para o seu progresso? Na obra Vidas Secas
(1938) de Graciliano Ramos Sinhá Vitória mata o papagaio da família para
servir de alimento na escassez do estio.
O discurso
vegano e de todos os ecologistas é ora deísta (Deus criou, ma não intervém),
ora panteísta (tudo é Deus) isola qualquer intervenção divina. Prega que cabe a
nós a salvação do planeta e o seu bem estar e afirma que o fato de deixar de
consumir os produtos de origem animal resultará em um planeta mais saudável e
melhor.
Entendemos que o homem exerce mordomo
sobre a natureza, ou seja, em última instância quem “sustenta,
dirige, dispõe e governa todas as suas criaturas, todas as ações e todas as
coisas, desde a maior até a menor” (Ne 9.6; Hb 1.3; Sl 135.6; Mt
10.29-31;At 17. 25,28; Mt 6. 26,30; Jó 38 a 41) para “o
louvor da glória da sua sabedoria, poder, justiça, bondade e misericórdia”
(Ef 3.10; Rm 9.17) (CFW V,1).
Deus não convive com o pecado,
tampouco o pecador pode ser aceito sem o sangue do cordeiro perfeito, Jesus
Cristo. Dessa maneira aquilo que o Senhor aprova em sua Palavra não pode ser
contestado e será fonte de bênçãos. Após a queda o Senhor providenciou
vestimenta com peles para Adão e Eva (Gn 3.21). O povo queria carne no desto e
o Senhor mandou as codornizes para saciar essa necessidade (Êx 16.11-13).
Deus manda o povo oferecer sacrifícios
de animais no templo como figura e sombra das coisas celestes (Hb 8.5) de tal
maneira que, segundo John MacArthur, na festa da Páscoa, as água do Vale do
Cedrom ficam tingidas de vermelho por muitos dias devido o sangue de 250.000 de
cordeiros. Salomão afirma que a Sabedoria: “abateu os seus animais e misturou o seu vinho, e já
preparou a sua mesa” (Pv 9.2). Deus manda Pedro matar e comer os animais que
lhe havia mostrado (At 10.13).
De fato, a carne não fazia parte da
dieta de Adão e Eva, tampouco dos animais, aves e repteis, mas a erva verde (Gn
1.30), porém foi incluída no cardápio após a queda sem serem condenados como
hábitos pecaminosos pela Palavra de Deus. Portanto, pelo fato de Deus não
jamais aprovar um ato pecaminoso, assim, podemos fazer uso dos animais para
nossa alimentação e vestuário. Todavia a Bíblia não aprova o tratamento cruel
deles.
O mesmo Salomão afirma: “o
justo atenta para a vida dos seus animais, mas o coração dos perversos é cruel” (Pv 12.10). Dessa forma, todo
divertimento que se sustenta pelo tratamento cruel de animais, tal como rinhas
de galo ou rodeios, assim como um abate cruel faz parte do procedimento do homem
que não teme ao Senhor.
Os ecologistas e veganos conseguem ver
apenas o impacto da alimentação de fonte animal no equilíbrio da natureza,
contudo entendemos que a fonte de todo esse desequilíbrio não está apenas em
uma preferência culinária, mas no pecado e esse começa no coração humano e se
espalha em todas as suas atividades formando um terrível rastro de destruição
por onde passa.
A alimentação do homem temente a Deus
precisa:
· Ser
moderada: no deserto, cada pessoa tinha um ômer (2 a 4 litros) do maná para
comer (Êx 16.16) e não podia ser colhido além, poi o excedente estragaria,
criaria bicho e cheiraria mal (Êx 16.24). Paulo adverte que a glutonaria é obra
da carne e não do espírito (Gl 5.19-21);
· Glorificar
a Deus: “quer comais, quer bebais ou façais
outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”
(1Cor 10.31). Daniel é o exemplo que alguém que via no alimento o desejo de
agradar a Deus (veja Dn 1.1-15).
· Não
pode ser associada a ritos pagãos: a Bíblia não condena a dieta vegetariana,
desde que ela não esteja alicerçada em princípios místicos ou pagãos. Paulo
pede cuidado o consumo da carne sacrificada aos ídolos não por eles, pois os
ídolos pagãos não são nada (1Cor 8.4), mas para não ser escândalo para os mais
fracos na fé.
Acreditamos que a natureza geme e
suporta angústias que podem ser vistas em estatísticas oficiais, contudo
aguarda a sua remição (Rm 8.21,22), pois somente Deus tem o poder de tornar
todo o mal em bem (Gn 50.20).
A igreja precisa acolher veganos e
outras tendência alimentares tendo em mente o que a Palavra me diz: “Um crê que de
tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que não
come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu” (Rm 14.2,3). Assim como no princípio
do cristianismo cristãos judeus e provenientes do paganismo encontravam
problemas à mesa, pois discordavam no cardápio, talvez hoje encontremos a mesma
dificuldade entre cristãos que comem comem qualquer alimento e aquele que
possui restrições. Adolf Pohl adverte que a pessoa deve ser aceita à comunhão
por concordar com um bloco de conceitos teológicos, mas porque Deus o aceitou.
Conta-se que um
mendigo pedia esmolas sem ter sucesso até que ele pegou com cão, colocou-o ao
seu lado e com sucesso passou a pedir esmolas para seu animal. Os animais geram
uma grande admiração das pessoas, mas precisamos tomar cuidado para que os
valores não sejam tocados a ponto do animal ser mais valorizado que o homem. A
sociedade tolera e até admira um ativista regatando um cachorro, mas não se
posiciona como deveria para com a facilitação frequente na pesquisa de células
tronco embrionárias ou no aborto cada vez mais aceito. Sofre-se pelo abate de
animais, mas poucos tomam atitudes efetivas para amenizar o sofrimento do outro
ser-humano.
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