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segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Desculpe-nos pelo transtorno, mas estamos em obras


DESCULPE-NOS PELO TRANSTORNO, MAS ESTAMOS EM OBRAS
Mahatma Gandhi (1869-1948), libertador pacífico da Índia, disse que amava o cristianismo, mas odiava os cristãos, porque eles não viviam os ensinamentos de Cristo. As grandes almas da humanidade fazem esse mesmo questionamento: por que os cristãos não são iguais a Cristo?
Se Gandhi perguntasse a Paulo, o Apóstolo dos Gentios, ele diria que é um homem desventurado, porque em sua carne não habita bem nenhum e, apesar de saber o que deve ser feito e o seu interior sentir prazer na lei de Deus o seus membros fazem aquilo que ele não quer, por isso, conta apenas com a graça de Jesus Cristo que pode livrá-lo do corpo dessa morte (Rm 7.16-25).
Em uma guerra só existem dois tipos de pessoas: aquelas que estão mortas e aquelas que estão lutando. No mundo, que jaz inteiro no maligno, (1Jo 5.19) há dois tipos de pessoas: aquelas que estão mortas em seus delitos e pecados e aquelas que foram vivificadas em Cristo Jesus (Ef 2.1) e a estas não há condenação da parte de Deus (Rm 8.16). Servir a Deus não implica em uma vida perfeita e ausente de erro, mas viver em uma guerra em que a carne milita com o espírito (Gl 5.17).
O cristão não está isento do pecado que, ainda, o influencia, mas da condenação eterna que dele implica e, tendo consciência de que é um novo homem em Jesus Cristo, que o substituiu na cruz e o lavou com o sangue que o livra do anjo irado da morte, luta para viver em novidade de vida (Rm 6.4).
Paulo exorta a comunidade e Éfeso a não andar na vaidade do seu próprio pensamento (Ef 4.17). Adverte que caminhar segundo os interesses fúteis desta vida é viver pela dureza do coração que tem o entendimento obscurecido e longe de Deus (Ef 4.18). A partir dessa orientação deveríamos dizer como Isaías (6.5) diante do Senhor: Ai de nós! Estamos perdidos! Porque somos homens e mulheres de lábios impuros e habitamos no meio de um povo de impuros lábios.
A constatação de que estamos em perigo diante do Deus Santo que está afiando sua espada e com seu arco pronto para matar aqueles que não se converterem (Sl 7.12) só acontece quando nos convencemos que somos pecadores e que o nosso desejo será contra nós, porém devemos dominá-lo qual um animal selvagem (Gn 4.7). Alguém só adoça o café quando o seu amargor é insuportável e repudiante, porém os baristas (especialistas em café) afirmam que e possível diminuir gradativamente o açúcar do café e sentir prazer no seu verdadeiro sabor. Isso mostra que é perfeitamente possível, aos poucos, se acostumar com algo que era desagradável.
Paulo afirma que é possível alguém que conhece a ira de Deus contra o pecado e o pecador faça as mesmas coisas que antes criticava e aprove a sua prática (Rm 1.32). John Owen (1616-1683), puritano do século XVII, afirma: “o pecado não parecerá grande e grave por muito tempo para aquele que vê as tentações como sem importância e triviais”. Assim a única maneira de não cair em tentação é vigiar e orar (Mt 26.41).
Nós, por causa da queda, somos amargos em nossa natureza, porém o açúcar da graça de Deus vem nos adoçar completamente e, assim como não é possível o café continuar amargo depois que entrou em contato com o doce, a graça, que é irresistível, nos muda completamente. Dessa maneira, Paulo lembra-nos que se ouvimos e aprendemos do Senhor, deixamos o velho homem para sermos um homem novo (Ef 4.20,21).
Quando a Bíblia fala dessa transformação radical ela não está falando que, em nossa conversão, Deus nos fez novos homens de tal maneira que somos inéditos (neos) de modo que Deus tenha errado e possa errar, mas a Palavra de Deus usa o termo grego kainós (καινός), ou seja, nós, pelo livre arbítrio de nossos primeiros pais e que apenas eles possuíam, caímos no pecado que se tornou um mal congênito de nossa natureza e do mundo ao nosso redor, mas Deus nos reconfigura a partir da sua vontade inicial cumprindo Gênesis 3.15., assim como reconfigurará o mundo todo (Rom 8.20-23).
Paulo mostra, no quarto capítulo da carta à comunidade de Éfeso, que o cristianismo é um aprendizado (Ef 4.20), pois afirma que o caminhar como os gentios em toda sorte de imundícias e pecados não foi aprendido (manthano) de Cristo, ou seja, o Apóstolo dos Gentios está falando que os crentes desta igreja não aprenderam teoricamente a viver em uma vida de pecado, tampouco foram incentivados a tal. Os efésios são exortados a compreenderem que se a prática é diferente da teoria é porque eles não foram ensinados na verdade de Jesus (Ef 4.21).
Quando Paulo fala de instrução em Ef 4.21, ele usa o verbo grego didasko (διδάσκω) que no grego clássico transmitia a ideia de estender a mão para alguém repetidas vezes. Muitas pessoas em nossas igrejas não foram devidamente instruídas na única verdade que é Cristo e, por isso, cultivam uma teologia equivocada e, muitas vezes, alheia aos padrões bíblicos. É comum que a ignorância bíblica e teológica faça prosperar uma fé eclética, misturada ao exoterismo e às doutrinas heréticas com a desculpa do respeito às demais religiões e a distorção de versículos bíblicos ao seu próprio gosto.
No momento de nossa conversão aconteceram dois movimentos profundos e eternos: a justificação e a santificação. O primeiro é imediato e tem como objetivo quitar nossas dívidas com o Senhor (Rm 5.18) pelo sangue remidor do único cordeiro perfeito e sem mácula (Hb 9.14) em sua morte substitutiva. A santificação é o ministério progressivo e gradativo do Espírito Santo que nos convence continuamente do nosso pecado e da justiça e do juízo do Pai (Jo 16.8), assim somos levados a oferecer nossos membros ao serviço da justiça para a santificação (Rm 6.19).

Muitos comércios, quando passam por reformas, apressam-se em colocar na porta de entrada a seguinte placa: “desculpe-nos pelo transtorno, mas estamos em obras para melhor servi-los” com o intuito de mostrar às pessoas que aquela situação não será permanente e haverá melhoria no futuro. Deveríamos no momento de nossa conversão ostentarmos a seguinte placa: “Desculpe-nos pelo transtorno, mas estamos em obra para melhor servir a Deus”, com o objetivo de mostrar as pessoas que, apesar de nossas falhas e pecados, progredimos na maneira que vivemos e agradamos a Deus e não aos homens, porque recebemos a verdadeira e libertadora instrução da Palavra do Senhor (1Ts 4.1,2). Se Gandhi queria seguir a Cristo sem ser cristão, ele tomou o terrível e fatal atalho do pecado que leva à morte eterna.

3 comentários:

  1. Respostas
    1. Eu havia publicado duas vezes, a mesma coisa. Mas legal, Pastor Diego. Gostei. Acho que vou iniciar o ano de 2015, com uma placa com esse dizer: Desculpe o transtorno, estou em obras.

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  2. .............Nós, por causa da queda, somos amargos em nossa natureza, porém o açúcar da graça de Deus vem nos adoçar completamente e, assim como não é possível o café continuar amargo depois que entrou em contato com o doce, a graça, que é irresistível, nos muda completamente.

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