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sexta-feira, 2 de março de 2018

Um terreno coração



Um terreno coração

Nesses dias nossa família começa a se acostumar com a mudança de endereço. O inconsciente não nos leva mais à antiga casa. Mas desde o início deparei-me com um desafio: o fundo da casa, tomado por um mato enorme. Lembrei-me de minha adolescência no Seminário de Ribeirão Preto quando o Padre Walmir reunia a turma para carpir a mangueira ou à tarde de guatambu no Seminário de Jaboticabal. Contudo esse período ficou em um passado remoto de tal maneira que tentava me lembrar de como pegaria na enxada. Mas essa crônica nasceu dessa experiência que ainda está em andamento. Percebo cada dia mais como esse terreno é semelhante ao coração humano.

Primeiro, para que o trabalho fosse menos árduo, contei com a ajuda do nosso irmão Diácono Aramis que passou o mata-mato e permitiu duas coisas: impediu que mais mato crescesse e que o existente morresse. Isso foi crucial, pois, nas minhas limitações, não conseguiria lidar com todo o terreno. Percebi como a graça tem essa ação em nossas vidas. Sem a ação do Espírito Santo estaria como o “eu” de Romanos 7.7-25 “não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse pratico” (Rm 7.19). Foi a graça que matou o meu pecado e tem controlado para que meu velho homem não volte, pois morri para que Cristo vivesse em mim (Gl 2.20). Para que Paulo nascesse, Saulo teve que morrer no caminho de Damasco.

Em segundo lugar, com um sentimento de pirofobia vi-me incapaz de partir para milenar coivara, mas diante de um mato que, mesmo morto, estava ali servindo de lugar para proliferação de insetos nocivos decidi que era chegada a hora de tomar a enxada e atingir aquele lugar em que os homens se diferenciam dos meninos. Nessa árdua tarefa, enquanto as meninas se divertiam com pás e rastelos de plástico, entendi que a ação da graça não elimina a minha responsabilidade de andar no Espírito para não satisfazer as concupiscências da carne (Gl 5.16,17). É muito fácil acreditarmos que pelo fato de nossas antigas formas de demonstrarmos nossa inimizade com Deus estarem atenuadas pela graça elas não são um empecilho que precisa ser resolvido. Esperar só faria, com o tempo, um novo mato crescer, por isso, Paulo ao mesmo tempo manda os filipenses desenvolverem a salvação e que Deus opera neles tanto o querer, quanto o efetuar (Fl 2.12,13).

Em terceiro lugar, percebi que existem lugares em que o mato era escasso e até inexistente. Esses espaços são aqueles lugares em que os pedreiros andavam. Os pecados nascem com mais vigor naquelas áreas em que, por medo, vergonha, falso prazer ou orgulho, deixamos sem a devida atenção. Nesses lugares a enxada terá mais trabalho, pois as touceiras estarão mais arraigadas e impropensas a serem arrancadas.

Em quarto lugar, depois do trabalho há um monte de mato e lixo em quantidade que você não imaginava antes de começar. Quando você começar a observar sua vida pela perspectiva divina encontraremos uma enormidade de situações, desejos e tendências que não se afinam a um coração que agrada ao Senhor. A pergunta é: o que fazer com tudo isso? Devemos lançar nosso pecado na cruz do calvário onde eles foram carregados por aquele que apesar de não ter pecado se fez pecador em nosso lugar (2Co 5.21).
O coração do ímpio é um terreno baldio onde a sujeira e a calamidade são evidentes, contudo crente, não pense que a menor intensidade e qualidade de suas mazelas ofendam menos o Deus santo e justo. A diferença entre o terreno do seu coração e o do pecador contumaz esta no fato de que você é assistido pela graça e, por isso, você não deve se conformar nem com a sujeira mais irrelevante, por isso, escrutine seu coração com a enxada da Palavra e da oração para deixa-lo da maneira conveniente àqueles que são chamados de Cristo.

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