Translate

sexta-feira, 9 de março de 2018

A Síria e a Interpretação das Escrituras


A Síria e a interpretação das Escrituras


Na obra A Bíblia e seus intérpretes, o Reverendo Augustus compara a Palavra ao próprio Jesus, pois assim como nosso suficiente Redentor possui duas naturezas (divina e humana) sem composição, fusão ou confusão, mas plenas e capazes de se comunicarem uma com a outra, a Bíblia é igualmente divina e humana. Como Palavra inspirada de Deus (2Tm 3.16), contém tudo o que é necessário para a glória de dEle e para a nossa salvação. Apresenta uma realidade que está muito além de nossas capacidades e só pode ser atingida pela ação do Espírito Santo na vida do regenerado, pois entre o homem e a Palavra há uma infinita distância natural, espiritual e moral.

A realidade divina da Palavra só pode ser observada pela ação da graça especial, por isso, o ímpio sempre a entenderá de forma tendenciosa, porque parte de traduções que não são inerrantes, assim como de uma linguagem onde o Senhor se acomoda de tal maneira que as línguas nunca esgotarão em seu comunicar o Ser de Deus, o que seria impossível em qualquer aspecto, mas exporão o suficiente para que os eleitos sejam salvos.

A Bíblia partiu de uma inspiração orgânica, ou seja, o Senhor utilizou o vocabulário, a pesquisa e o conhecimento dos autores humanos, mas fez com que tão somente a sua verdade infalível fosse registrada e a preservou até os nossos dias. Contudo o intérprete moderno precisa entender que ela foi confeccionada em outro tempo, contexto, cultura e línguas diferentes daqueles que temos. Esse distanciamento deve ser amenizado pelo estudo histórico e gramatical da perícope a ser interpretada.

O texto fora do seu contexto é uma fonte de toda sorte de absurdos e incoerências. Isso tem acontecido com a má interpretação de Isaías 17 onde algumas pessoas ingênuas ou mal intencionadas têm visto nos três primeiros versículos como se cumprindo na atual guerra da Síria.

Quando estamos diante de uma profecia, devemos entender que elas foram entregues a contextos específicos, tal como em Isaías de 17 fala da aliança siro-efraimita (Síria e Damasco) contra o Reino d Judá em 734 a.C. Podemos ver o desenrolar dessa situação em Isaías 7.1-8.4, assim como 2Reis 16.1-20. Os reis Peca (de Israel, Reino do Norte ou Efraim) e Rezim (rei assírio) unem-se contra o Reino de Judá a fim de interromper a dinastia de Davi e, também, impedir uma aliança entre Acaz (Rei de Judá) com Tiglate-Pileser III (Rei da Assíria). A destruição do Reino do Norte acontecerá em 722 a.C. Salmaneser V (apesar da conquista de Samaria ser atribuída a Sargão II era Salmaneser V que estava no trono) sitiou Samaria por três anos e o Rei Oseias não suportou essa opressão (2Reis 17.5-18). Damasco (capital da Assíria) também subvertida pela investida de Tiglate-Pileser entre 733-732 a.C. Ambas as cidades foram destruídas por causa do pecado em que chafurdavam e ainda mais porque quiserem fazer fracassar a promessa de sempre um descendente de Davi se assentar sobre o trono de Judá (2Samuel 7.16).
Portanto, Isaías 17.1-4 já se cumpriram e, em nada, se referem aos acontecimentos que ocorrem na Síria de hoje e que são desdobramentos da Primavera Árabe. Contudo devemos entender que nada foge à soberania dAquele que faz os pardais cair dos céus e conta todos os cabelos de nossa cabeça. Ele faz absolutamente tudo: luz e trevas, paz e guerras (Isaías 45.7), assim como é Ele que destrona reis e os estabelece (Daniel 2.21). Diante das imagens chocantes advinda da sofrida Síria devemos confiar que podemos não ter todas respostas (Deuteronômio 29.29), mas tudo o que acontece existe pelo conselho da vontade do Senhor (Efésios 1.11).

Nenhum comentário:

Postar um comentário