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sexta-feira, 2 de março de 2018

Tempus Fugit



Tempus Fugit

Ontem estava vendo fotos antigas. Daquela época em que se revelavam filmes de 24 ou 36 poses que eram guardados em álbuns preciosos. São como cápsulas do tempo que mostram como fomos magros ou menos gordos, como alguns que ostentavam cabelos ao vento, hoje, uma cabeça brilhante. Mostra pessoas que foram importantes, mas que passaram, outras, que apesar de completamente pertinentes, utilizando o eufemismo do poeta Manuel Bandeira “dormem profundamente”. Mostra como nosso sorriso ingênuo e confiante foi substituído, aos poucos, por uma face menos flexível e amadurecida.

Uma das definições mais interessantes sobre o tempo é do autor afegão, Khaled Hosseini, em A Cidade do Sol, “o tempo é o mais inclemente dos incêndios” (p.161). Assim como o fogo devasta tudo, igualmente, ninguém pode fugir dos rigores nefastos do maquinário do relógio. Sulca nossa face, encanece os cabelos que restam, tira nossas moedeiras e esvai nossa força (Ec 12.1-5) com tanta sutileza que só nos sentimos roubados na falta da força, da visão, do vigor dos dias de antes.

Mexendo nos meus álbuns velhos percebi que as pessoas são perecíveis e logo vão embora. Moisés compara nossa vida à relva que pela manhã floresce, mas, à tarde, está seca e precisa ser cortada pela manhã (Salmo 90.3-5). Calvino, comentando o Salmo 90, afirma que “os homens estupidamente se gloriam de sua excelência, visto que, quer queiram quer não, são constrangidos a olhar para o tempo por vir e, tão logo abrem seus olhos, percebem que são arrastados e apresentados à morte com incrível rapidez, e sua excelência em um instante se desvanece”. Precisamos de forma urgente entender que as coisas são infinitamente menores do que as pessoas. É inevitável que as pessoas partam, mas é uma escolha contínua se vamos nos lembrar delas pela ótica do remorso ou da saudade.

Percebi que muitos dos meus sonhos e dos meus medos ficaram naqueles tempos. Salomão nos mostra que ao ser humano foi concedida a capacidade de planejar, entretanto, é o SENHOR quem dá a palavra certa. (Pv 16.1). Frequentemente, somos tentados a negligenciar os prazeres eternos para chafurdarmos em alegrias efêmeras que nada mais são do que o usufruir as bênçãos de Deus da maneira errada, no tempo inoportuno com pessoas volúveis. Vivemos em um mundo caído onde, continuamente, temos medo, contudo, tal como os amigos de Daniel (Dn 3.18), teremos maior medo de ofender a Deus que aos homens (Mt 10.28; At 4.19).

As pessoas e eu mudamos, mas Jesus é o mesmo sempre (Hb 13.8). Continuamente, apegamo-nos a coisas que mudam, deterioram-se e acabam e quanto mais nossos corações estiverem ligados a esses bens tanto mais será nossa decepção, pois Jesus afirma que onde estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração (Mt 6.21). Servir a Deus e ao mundo sempre é uma tarefa desastrosa (Mt 6.24).
Depois da queda o tempo não serve apenas para marcar os dias, mas também a nossa deterioração, contudo entre as muitas criações que Deus legou ao homem o tempo é uma delas, por isso, não é à toa que Paulo pede para que aproveitemos ao máximo (compremos) as oportunidades (o tempo), porque os dias são maus (Ef 5.16). Hendiksen defende que o cristão necessita usar o seu tempo de maneira adequada, ou seja, mostrando por meio de suas vidas o evangelho de Deus. Oxalá que nas fotos de outrora vejamos em nós um coração desprendido e inteiramente devotado a fazer a vontade do Senhor mesmo que as circunstâncias não sejam as mais favoráveis.

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