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sábado, 16 de dezembro de 2017

O Suicídio

O Suicídio
“Já basta, ó Senhor; toma agora minha vida, pois não sou melhor que meus pais” (2Reis 19.4b).

Todas as pessoas vivem na expectativa de saber qual será a real consequência de suas atitudes e o reflexo que elas terão na eternidade. Nossa única opção é confiar no relato bíblico.
O suicídio é um desses temas cercados por opiniões diversas e divergentes, que, na maioria das vezes, em nada se respaldam na Palavra e em uma teologia sadia, mas na tradição católica que persistem em nossa cultura e nas ideias geralmente validadas por versículos dispersos e fora de contexto.
Portanto, o que devemos pensar a respeito de uma pessoa que se suicida? Ela perde ou não a salvação? Dentro dessa pergunta é necessário pensarmos no conceito reformado de salvação.
A fé, as boas obras e o arrependimento acompanham tanto e tão intimamente a vida daquele que é salvo que pode se acreditar que eles, de alguma maneira, promovam a nossa salvação. Todavia Paulo afirma que a fé é o instrumento de nossa justificação (Romanos 5.1), assim como as boas obras (“aquelas que Deus ordena em sua santa Palavra” CFW XVI.1) mostram que fomos salvos, mas não provocam de nossa eleição, afinal de contas fomos criados “para” (a preposição ἐπὶ epi regendo dativo transmite a ideia de espaço, tempo ou causa no sentido de estar na base, no início de algo) e não “pelas” boas obras (Efésios 2.10).
Dessa maneira, Paulo fala aos Efésios 2.8,9: “pela graça sois salvos, por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus, não vem das obras para que ninguém se glorie”. Partindo do pressuposto de que toda a verdade é verdade de Deus tomamos o conceito de suicídio advindo da sociologia. O sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1917) define suicídio como: “todo caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo realizado pela própria vítima e que ela sabia que produziria esse resultado” (Suicídio, 2000, p.14).
Da mesma maneira, propõe três classificações de suicídios. A primeira categoria é o suicídio egoísta, ou seja, aquele em que o indivíduo tem um bom trabalho, família amigos, mas, mesmo sem nenhum motivo aparente há um afrouxamento dos laços que ligam o seu eu/ego à sociedade o que lhe subtrai completamente o sentido da vida. Esse estado de letargia que deseja a morte é o mesmo que sentiu Elias debaixo do Zimbro (2Reis 19.4). Semelhante a esse, a segunda categoria é o suicídio anômico, no qual o indivíduo perde sua a posição social, dinheiro emprego ou família e sem esse ponto de apoio não encontra meios para continuar vivendo. Essa categoria pode ser vista nos suicídios de Abimeleque (Juízes 9.54), Saul (1Samuel 31.3-6), Aitofel (2Samuel 17.23), Zinri (1Reis 16.18). Existe um grupo de pessoas que tentam ver no ato de Sansão (Juízes 16.29-31) como algo que fuja ao suicídio, como a morte de um combatente, contudo Durkheim o classificaria como suicídio altruísta, ou seja, aquele que decide morrer por um bem maior. Entretanto, apesar de Sansão ter cometido suicídio, está entre os heróis da fé (Veja Hebreus 11.32).
A Lei Moral diz: “não matarás” (Êxodo 20.13). Os puritanos da Assembleia de Westminster registraram na pergunta 69 do Breve Catecismo, que o sexto mandamento proíbe “tirar a própria vida, ou a do nosso próximo injustamente, e tudo aquilo que para isso concorre”. Nesse contexto alguns irão usar Apocalipse 22.15 para provar que os suicidas terão a segunda morte, ou seja, irão para o inferno. Contudo, à luz desse versículo, o que faremos com Davi que era homicida e adúltero, mas além de estar na mesma galeria de heróis da fé (Hebreus 11.32) era homem segundo o coração de Deus (1Samuel 13.14)?
Igualmente, devemos levar em consideração que Jesus afirmou que existe apenas um pecado sem perdão que é a blasfêmia contra o Espírito Santo (Mateus 12.31), o qual, pelo contexto da conversa de Jesus com os Fariseus, é a apostasia. Haverá aqueles que utilizem esse versículo para mostrar que o suicida é um apóstata que morre em seu ímpeto de rebeldia sem se arrepender. A Confissão de Fé de Westmnister defende que o arrependimento é uma graça evangélica (XV.1), é necessário ao pecador, mas não é a causa do perdão, tampouco pode satisfazer o pecado (XV.3). Se verbalizar uma confissão como o Salmo 51 fosse imprescindível ao perdão o que se dizer das crianças que morrem na infância ou ao mentalmente incapazes? Assim como os suicidas, se foram eleitos antes da fundação do mundo (Efésios 1.4) serão salvos, se foram preordenado à morte irão ao inferno já que nossa salvação não depende de nosso arrependimento, obras ou fé, mas da graça. Nossa salvação é fruto do decreto de Deus, ou seja, dos “atos sábios, livres e santos do conselho” da vontade de Deus que servem para a sua glória e são imutáveis. (Veja CM, 12)
Não estamos de forma alguma endossando o suicídio como uma solução, assim como nenhum pecado é capaz de resolver problema algum. Todavia tentamos ser coerentes com nossos pressupostos teológicos que emanam das Escrituras. Isso não é suavizar a Palavra, tampouco adocica-la. A Bíblia não precisa ser suavizada, muito menos endurecida, mas pregada com fidelidade para que pressupostos que pareçam bons não escondam a verdade do Evangelho de tal maneira que homens sejam mais justos ou misericordiosos que nosso Senhor.

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