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terça-feira, 20 de setembro de 2016

O AMOR DE DEUS


O amor de Deus

O que é o amor? O poeta lusitano Camões (1524) afirma: “amor é fogo que arde sem se ver / é ferida que dói, e não se sente; / é um contentamento descontente, / é dor que desatina sem doer”. O poetinha, Vinícius de Moraes (1913-1980), afirma: “eu possa me dizer do amor (que tive): / que não seja imortal, posto que é chama / Mas que seja infinito enquanto dure” (Soneto da Fidelidade). O grande problema dessas definições é que elas privilegiam a intensidade. Amor verdadeiro é reconhecido pela maneira como ele é vivido.

As pessoas mundanas acreditam que o amor é um pretexto para todos os vícios sejam aceitos e legitimados. O amor, que é validado pelas extravagâncias e excessos, tende a acabar e o que valerá dele é apenas a intensidade de suas exigências. Quantos cônjuges legitimam o adultério nessa visão promíscua de amor? Quantos jovens entregam-se à prostituição e às drogas e a toda sorte de inconveniências em nome de uma felicidade que é recompensa dessa maldita intensidade. Inúmeras pessoas cometam os maiores erros de suas vidas quando acreditam que o melhor da vida é a vida que se leva.

Comumente, o senso-comum, gosta de, aventurando-se na língua grega, distinguir três tipos de amor. No grego antigo, existem três palavras para expressar amor: o amor eros (ἔρως), o amor romântico (esse verbo não é utilizada pelos autores bíblicos), entre os sexos; o amor fileo (φιλέω), amizade e o amor agapao (ἀγαπάω), a fraternidade, distinguindo esse último como mais importante e exclusivo do cristianismo, por isso, o Padre Marcelo Rossi afirma: “ágape é uma palavra de origem grega que significa amor divino, o amor de Deus pelos seus filhos e ainda o amor que as pessoas sentem umas pelas outras inspiradas nesse amor divino”. Contudo o verbo agapao (ἀγαπάω) é utilizado é utilizado para indicar o amor, nada divino, de Amnom por sua irmã Tamar (2Samuel 13.4).

Carson chama esse problema de falácia por causa de problemas envolvendo sinônimos e análise de componentes. Essa falácia se estabelece na “crença injustificada de que ‘sinônimos’ são idênticos de formas mais variadas do que a evidência permite”[1].

Carson dá cinco razões para entendermos a complexidade do amor nas Escrituras[2]:

·         Porque muitas vezes atribui-se a Deus uma amor humano e não aquele que está firmado na Bíblia;

·         Porque as pessoas têm dificuldade em entender um amor que disciplina e age de maneira justa;

·         Porque o amor no ocidente tem se enveredado por caminhos pluralistas, sincréticos e pautados pelo sentimentalismo;

·         Porque Deus não tem sentimentos como nós;

·         Porque o amor que as pessoas acreditam geralmente é aquele que faz “vistas grossas” para as dificuldades alheias.

1. O amor é um ato singular

O amor de Deus não é um sentimento, mas um ato pelo qual não legitima todas as mazelas do seu povo, tampouco para fazer “vistas grossas”, mas o cumprimento da promessa feita e Gênesis 3.15, onde, em resposta ao pecado de nossos primeiros pais, ofereceu a maravilhosa esperança do Redentor – Jesus Cristo.

João mostra que esse amor é singular (οὕτω), porque o Pai deu (ἔδωκεν) seu filho unigênito. Ao enviar seu filho unigênito ao mundo o faz sabendo que no fim haveria de esmaga-lo, fazendo enfermar, oferece-lo como oferta do pecado a fim de que tenhamos a vida eterna (Isaías 53.10). Dar o Unigênito implica esvaziar-se de sua glória, assumir a forma de um servo, humilhar-se tomando a cruz (Filipenses 2.7,8) sendo semelhante ao homem em todas as coisas, exceto no pecado (Hebreus 4.15).

2. O amor é condicionado a crer em Jesus

Esse incrível e imerecido presente não foi dado a todos, porque há um condicionante para esse termo (πᾶς): “aquele que nele crê” (ὁ πιστεύων). Dessa maneira, Jesus não veio para todos sem restrição (como imaginam os universalistas), mas exclusivamente àqueles que creem. Esse grupo específico que a Bíblia chama de eleitos (Efésios 1.4) não são, de maneira alguma melhores que os demais, pois Paulo afirma aos Romanos (5.8): “Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós”.

Jesus não morreu por justos, mas por injustos, contudo que foram escolhidos, desde antes da fundação do mundo (Efésios 1.4) pela misericórdia divina. Geralmente, algumas pessoas, veem essa maravilhosa graça e começam a apontar essa e aquela pessoa que também deveria ser agraciada com essa bênção eterna, todavia esse pensamento está errado, porque deveríamos nos questionar: “por que eu fui escolhido, apesar de meus muitos pecados?”.

Entretanto a Palavra deixa claro que a fé salvadora não é uma qualidade inata, mas é um dom de Deus (Efésios 2.8), o próprio João afirma que “ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer (o termo ἑλκύω, usado aqui, transmite a ideia de trazer de arrasto) (João 6.44). Dessa maneira, somente os eleitos crerão e buscarão o Senhor de maneira fiel e o adorarão em “espírito e verdade” (João 4.24).

Dessa maneira João afirma em seu prólogo: o Verbo estava no mundo, o mundo foi feito por intermédio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu (o próprio povo judeus conforme Romanos 9.5), e os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que creem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus” (João 1.1-13)

3. O amor de Deus nos dá a vida eterna

A grande dádiva advinda desse amor de Deus em Jesus está em primeiro não ser destruído, pois esse é a justa punição daqueles que não crerem em Jesus, porque amou mais a essa vida e as coisas desse mundo do que ao seu Redentor (João 12.25). Todavia, aquele que tem por somenos as coisas mais preciosas desse mundo caído, porque viu o reino de Deus, necessariamente, nasceu de novo, da água e do Espírito (João 3.3,5). Um exemplo esta nos dois ladrões da cruz: ambos estavam diante do mesmo Jesus Cristo, contudo um deles viu mais que um homem crucificado (veja 23.39-43):

·         Entende que é um pecador (arrependimento): “nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o castigo que os nossos atos merecem” (Lucas 23.41);

·         Entende que Jesus é justo: “mas este a nenhum mal fez” (Lucas 23.41);

·         Viu mais que um condenado, mas o Rei: “Jesus, Lembra-te de mim quando vieres no teu Reino”. Isso aconteceu, porque recebeu a capacidade de ter certeza das coisas que se esperam e a certeza de fato que não se veem. Isso é a fé salvadora (Hebreus 11.1). Esse homem, diferente de seu colega, nasceu para uma nova vida, assim como angariou o outro benefício de crer em Jesus: receber a vida eterna: “em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso” (Lucas 23.43).

De fato Deus é amor (1João 4.8), contudo esse amor é visto de forma flagrante na cruz do calvário (1João 3.16). Esse amor não é dado de forma irresponsável e sem exigência alguma, mas exige tudo o que somos. Não podemos usufruir desse amor singular de Deus sem rompermos com o mundo e seus falsos atrativos e buscarmos exclusivamente o Senhor e sua glória. Os benefícios em crer em Jesus está em não morrer eternamente (Mateus 10.28) e viver eternamente com Deus.



[1] CARSON, D.A. Os perigos da interpretação bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2001, p. 47.
[2] CARSON, D.A. A Difícil doutrina do Amor de Deus. São Paulo: CPAD, 2012, p. 9-16.

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