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sábado, 24 de outubro de 2015

O batismo com o Espírito Santo e com o fogo


O batismo com o Espírito Santo e com o fogo
Adotando a postura de Calvino e Berkhof de que o batismo joanino e o cristão são essencialmente idênticos, cabe salientar as características do batismo empreendido, hoje, pela igreja de Jesus Cristo. O próprio Batista afirma: Eu vos batizo com água, para arrependimento; mas aquele que vem depois de mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno de levar. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo” (Mt 3.11).
O contexto desse versículo é útil para entendê-lo. Em Lucas, esse mesmo versículo é recorrente à expectativa do povo de que João fosse o Cristo (Lc 3.15. Veja Jo 1.19, 20; 3.25-36). Por isso João afirma que viria outro que seria tão grande que não lhe caberia sequer o serviço do escravo, ou seja, levar as sandálias.
Evidentemente, o batismo cristão tomou o mesmo sinal externo que João utilizava, a água, assim como, a disposição daqueles que o recebem. Alguns podem se perguntar: Como as crianças podem vir a esse sacramento se não conseguemem, como os adultos, manifestar o mesmo arrependimento?
Calvino entende que o batismo é equivalente à circuncisão, sendo o sacramento da fé e do arrependimento (Rm 10. 10-12), por isso, afima: “que se questione a Deus, então, pedindo-lhe a razão pela qual Ele ordenou que fosse aplicada aos pequeninos”.
A.A. Hodge, comentando a Confissão de Fé de Westminster, entende que as crianças pertenciam a igreja do Velho Testamento tendo a circuncisão como porta de entrada. Da mesma forma, “visto que o batismo assumiu o lugar da circuncisão – segue-se que a membresia eclesiástica de filhos de pais professos deve ser reconhecida como era outrora, e que os mesmos devem ser batizados”. Essa ordenança só poderia ser desconsiderada se Jesus, no Evangelho retirasse dos infantes o direito hereditário de pertencer a igreja.
O batismo no Espírito Santo entre os pentecostais, segundo F.D. Bruner (Teologia do Espírito Santo, p. 50,51), é o pleno recebimento do Espírito Santo, o que é distinto da regeneração e subseqüente a ela, é evidenciado por falar em línguas e deve ser buscado com sinceridade.
Lembro-me de ouvir um pregador pentecostal explicando essa doutrina com uma ilustração, no mínimo peculiar: arregaçou as mangas de sua camisa e molhou seu braço com água e pediu para um diácono muito forte tentar segura-lo, o que fez com êxito. Diante desse fato afirmou: “esse é o batismo com água, nele, ainda estamos vulneráveis a satanás”. Em seguida, mergulhou seu braço no óleo e pediu para o mesmo diácono detê-lo, mas, agora, sem o mesmo sucesso e, por isso, disse: “esse é o batismo no Espírito Santo, satanás não consegue pegar”.
O povo judeu esperava esse batismo no Espírito como podemos ver em Ezequiel 36.25-27;39.29 e Joel 2.28. Segundo Hendriksen, essa realidade mostra que há uma diferença qualitativa entre Jesus e o Batista, assim como “o infinito e o infinito, o eterno e o temporal, a luz original do sol e a luz refletida da lua (jo 1.15-17)”. Calvino entende que apenas Jesus, doador do Espírito, pode dar a graça interna que estava figurada externamente no batismo de João, ou seja, é ele quem outorga o espírito de regeneração. O batismo do Espírito não pode ser uma experiência posterior a conversão, porque o simples fato da pessoa entender-se pecador e necessitado do perdão em Cristo mostra que houve a ação miraculosa do Parácelto no seu interior (Jo 16.8). Portanto, ao recebermos o sacramento do Batismo com água (parte externa), há no mesmo instante a administração do Espírito (parte interna do sacramento) e, por que não dizer també o fogo (a santidade).
Tendo em vista que o fogo é aquilo que destrói e consome (Ml 4.1), entendemos que esse elemento, que caracteriza o batismo de Jesus em Mateus 3.11 é a ação destruidora de Deus. Calvino afirma: a palavra fogo é adicionado como um epíteto, e é aplicado ao Espírito, porque ele tira os nossos corrupções, como o fogo purifica o ouro”. Para o Exegeta da Reforma, há um único batismo que regenera (Espírito Santo) e purifica dos pecados (Fogo). Calvino entende o fogo com o poder de limpar, porque faz paralelo entre Mateus 3.11 e João 3.5 e compreende que o Senhor compara o fogo dito por João (em Mt 3.11) a água (dito por Jesus a Nicodemus em Jo 3.5).
Segundo Timothy George, uma das grandes descobertas de Lutero ao ler o Novo Testamento interlinear de Erasmo foi entender que Jerônimo havia traduzido Mateus 3.2 de maneira errada. O grande tradutor da Vulgata havia entendido o termo Μετανοετε - matanoeite (arrependei) por paenitentiam agite (fazei penitência). A partir dessa constatação, Lutero percebe que a ënfase de João (Mt 3.2,11) não está em um conjunto de atitudes que almejam perdoar pecados, mas em uma mudança do coração. Dessa maneira, como disserta Rienecker a vida cristã envolve o arrependimento, que leva a conversão, evento único, a qual, por sua vez leva a vida de santidade, ou seja, continuamente deixar o mundo. Dessa maneira “O Espírito e o fogo são o elemento da nova vida que continuamente julga e purifica, como também continuamente aquece e promove a vida.”.
Há quem defenda que, em Mateus 3.11, há dois batismos do Espírito Santo dado por Jesus aos crentes colocando-os no seu celeiro (o céu) (Mt 3.12a) e o do fogo aos ímpios dado pelo mesmo Jesus colocando-os no fogo inextinguível (o inferno) (Mt 3.12b). Essa não deixa de ser uma proposta plausível, mas que não se harmoniza ao correspondente sinótico de Marcos 1.7,8 e, especialmente o de Lucas 3.1-5-17.



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