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sábado, 17 de outubro de 2015

O BATISMO DE JOÃO



O batismo de João
O batismo e a ceia são os dois únicos sacramentos ordenados pelo Senhor. Segundo a Confissão de Fé de Westminster (CFW, XXVII,1): “os sacramentos são santos sinais e selos do pacto da graça, imediatamente instituídos por Deus, para representar a Cristo e seus benefícios e para confirmar nosso interesse nele, bem como para fazer diferença visível entre os que pertencem a igreja e ao restante do mundo, e, solenemente, compromete-los no serviço de Deus em Cristo, de acordo com sua Palavra”.
Os sacramentos possuem duas partes: um sinal externo e sensível ( no batismo, “o elemento exterior usado é a água com a qual a pessoa é batizada em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo, por um ministro do Evangelho, legalmente chamado para tal fim”CFW, XXVIII, 2 ; na Ceia, o pão e o fruto da videira.), que não pode ser usado pela conveniência do homem, mas segundo a determinação de Cristo na Palavra, e a parte interna e espiritual (Breve Catecismo de Westminster, pergunta 163).
Segundo o Breve Catecismo de Westminster (pergunta 94), o batismo “é um sacramento no qual o lavar com água, no nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo significa e sela nosso externo em Cristo, nossa participação dos benefícios do pacto da graça e nosso comprometimento de pertencermos ao Senhor”.
O batismo está relacionado a circuncisão (Gn 17.9-14), ou seja o ato de colocar uma pessoa debaixo da aliança com o Senhor. Segundo Calvino (Institutas, vol. 3, p.169) o batismo e a circuncisão são semelhantes no fato de ambos sinalizarem a promessa da misericórdia, remissão dos pecados e vida eterna aquele que o recebe; na realidade simbolizada é a mesma, a purificação e a mortificação, assim como no fato de Cristo ser o mesmo fundamento da da circuncisão e do batismo. Por isso, esse sacramento pode ser administrado a crianças e adultos, não pode ser ministrado mais de uma vez (Ef 4.5) e não pode ser concedido sem critério algum, mas apenas aos convertidos que professam publicamente sua fé e arrependimento ou aos filhos dos pais crentes.
Apesar dessa ligação entre o batismo e a circuncisão os judeus possuíam ritos de purificação (Hb 9.10) e, segundo Laubach (Comentário Esperança de Hebreus, p. 54), os judeus costumavam batizar prosélitos baseando-se nos banhos de purificação levíticos (Lv 14.8; 2Rs 5.14). As religiões de mistério dos helenistas também possuíam ritos de purificação. O batismo empreendido por João nas águas do Jordão seguia esse molde de rito de purificação.
Há divergência na compreensão do batismo de João. A.A. Hodge, comentando a Confissão de Fé de Westminster (p.458,459), que o batismo de João é diferente do batismo cristão pelos seguintes aspectos: a.) João não é um apóstolo do Novo Testamento (Lc 1.17); b.) o seu batismo não era em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo; c.) seu batismo era para arrependimento e não para a fé em Cristo; d.) seu batismo não introduzia a comunhão da igreja como os apóstolos fizeram (At 2.41,47); e.) as pessoas batizadas por João foram rebatizadas (At 18.24-28; 19.1-5). A.A. Hodge entende que até mesmo o batismo empreendido pelos discípulos antes da crucificação (Jo 3.22; 4.1,2) não eram válidos.
Calvino (Institutas, vol. 3, p.156) defende que o batismo de João é essencialmente o mesmo que foi confiado aos apóstolos, pois ambos aceitavam a mesma doutrina: batismo para arrependimento e o ministravam para a remissão dos pecados. Berkhof (Teologia Sistemática, p.576) sobre o batismo cristão e aquele empreendido por João, afirma: “alguns acham que a prova da diferença essencial entre os dois está em At 19.1-6, qu,e segundo eles, registra um caso em que alguns que tinham sido batizados por João foram rebatizados. Mas essa interpretação está sujeita a dúvidas. O que parece correto é dizer que os dois são essencialmente idênticos (grifo nosso). De fato, não há indícios de que Apola fora rebatizado (At 18.25).
Calvino, defendendo que os tais de Atos 19.1-6, não foram rebatizados argumenta: “Se o primeiro Batismo fosse defeituosoa e nulob por causa da ignorância dos batizandos, devendo eles ser rebatizados, os próprios apóstolos teriam que ser os primeiros a ser batizados de novo, porque, após o Batismo, passaram três anos sem ter grande conhecimento da verdadeira doutrina.” (Institutas, vol.3, p.164).
Berkhof (Teologia Sistemática, p.576) entende que existem semelhanças entre o batismo de João e aquele oferecido pelos Apóstolos: a.) ambos foram instituídos pelo próprio Deus (Mt 21.25; Jo 1.33); b.) relacionavam-se a mudança radical de vida (Lc 1.1-17); c.) estabelecem uma relação com o perdão dos pecados (Mt 3.7,8; Mc 1.4; Lc 3.3) d.)usam do mesmo elemento material, a água. Contudo o batismo de João é diferendo do oferecido pela igreja, porque: a.) pertencia a antiga dispensação; b.) harmonizava-se com a dispensação da lei, mesmo se excluir a fé; c.) foi planejado para judeus; d.) “visto que o Espírito Santo ainda não fora derramado na plenitude do Pentecostes, o batismo de João o batismo de João ainda não era acompanhado por tão grande porção de dons espirituais como o batismo cristão”.
Se ambos batismos não são essencialmente diferentes, o de João é inferior ao empreendido pelos apóstolos, porque o batismo de João atinge apenas o externo, enquanto o de “Cristo é o autor da graça interna” (Institutas, vol.3, p.157). Portanto, de fato o batismo de João cessou não para dar lugar a algo inédito, mas algo maior, um batismo no Espírito e no fogo.

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