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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A HISTÓRIA DO DIA DE AÇÃO DE GRAÇAS


A História do Dia de Ação de Graças
Essa data parece, à primeira vista, mais um enlatado cultural americano como o halloween, que os Policarpos Quaresmas[1] de plantão, que veem qualquer influência norte-americano como nociva, tendem a repudiar e ironizar, engraçado ninguém reclamar da Black Friday. Contudo uma pesquisa sobre sua história e a mensagem dessa data pode nos oferecer ricos subsídios.
Segundo a Embaixada Americana, o Dia de Ação de Graças acontece na quarta quinta-feira de novembro e foi comemorada pela primeira vez em 1621 na colônia de Plymouth (hoje Massachusetts) pelos Pais Peregrinos, puritanos de teologia Calvinista que chegaram um ano antes no navio Mayflower[2].
Segundo o Rev. Alderi de Souza Matos[3], o puritanismo foi um movimento antigo na igreja inglesa e remonta ao pré-reformador John Wycliffe e os seus seguidores chamados Lolardos, o qual via na Bíblia a grande autoridade à Igreja que era formada pelos eleitos. Wycliffe questionava a autoridade do Papa e a doutrina da transubstanciação. Quando Henrique VIII (1491-1547), iniciou o processo de Reforma da Igreja na Inglaterra não o fez por razões pessoais e Elizabete I deu, com a ajuda de Richard Hooker, a face da Igreja Anglicana, que, para agradar o maior número de súditos reunia elementos católicos (especialmente na liturgia) e protestantes[4].
A Reforma ficara no século XVI e a Inglaterra via surgir uma religião estatal que fria, pois, segundo Steven G. Lawson[5], porque não exigia uma membresia regenerada, não possuía critérios para admitir as pessoas à mesa da Ceia e especialmente o Ato de Uniformidade ou a Grande Rejeição baixado pelo Parlamento e Carlos II fez com que, no dia 24 de agosto de 1662, 2.000 pastores puritanos tivessem de deixar suas igrejas, pois só a Igreja da Inglaterra deveria ter autonomia para pastorear.
Profeticamente, o puritano Thomas Watson afirma em seu último sermão, antes de deixar o púlpito em 1662: “a aflição pó ser prolongada, mas não eterna. Nossos sofrimentos neste mundo não podem ser comparados com nosso eterno peso de glória”[6]. Essa mesma convicção estava em John Bunyan, autor de O Peregrino, que ficou 12 anos (1660-1672) preso por entender que, a partir de 1Pedro 4.10,11, tinha direito e dever de pregar. Recusou-se a deixar o ministério em troca da liberdade que daria a ele a oportunidade de desfrutar do casamento (estava recém casado com sua segunda esposa Elizabeth Bunyan quando foi preso) e cuidar de sua filha cega.
Essa mesma convicção Spurgeon apresentará no século XIX, livre das pressões que Watson e Bunyan sofreram, quando afirma: “ainda que a Rainha da Inglaterra vos chamar para ser embaixador da Inglaterra em qualquer parte do mundo, não vos rebaixei de posto, mas continuem como embaixadores do Rei dos reis, que é Jesus Cristo
O Movimento Puritano foi uma novo despertamento nessa igreja de Cristo que,para ser Reformada, urgem sempre estar pronta a reformar-se. Contudo, tal como Atos 11.19, as perseguições irão no encalço da igreja fiel levando a ao quebantamento cada vez maior e a expansão da mensagem do Senhor, pois até a vinda de Jesus cabe-nos evangelizar todas as nações (Mt 10.23).
O Prof. Latourrette afirma que os Puritanos queriam ver a Igreja Anglicana distante das idolatrias romanas e, por isso, protestavam contra as vestimentas impostas ao clero optando pela toga; o ajoelhar-se para receber a Ceia, porque indicava uma espécie de adoração; queriam um governo presbiteriano bispos, presbíteros e pastores estão em pé de igualdade[7]. O Rev. Augustus Nicodemus Lopes[8] defende que os puritanos passaram a ser perseguidos porque entendiam que a Palavra deveria dar novo direcionamento ao homem, assim como a sua família, aos negócios que empreendia e, inclusive, à maneira como o governo dirigia a nação.
O Mayflower era um desses navios cheios de homens e mulheres singrando o mar em busca de um lugar em que pudessem “glorificar a Deus e se alegar nele para sempre”. Terry Johnson, na obra A Doutrina da Graça na Vida Prática, relata que 102 pessoas embarcaram nesse navio, porém apenas 55 pessoas chegaram vivas, sendo que apenas haviam quatro das dezessete esposas que embarcaram[9].
Os Pais Peregrinos teriam motivos para entrar no Mayflower e retornar às inóspitas perseguições inglesas; o mundo daria razão a eles se blasfemassem e brigassem com Deus denominando-se ateus. Entretanto, o Evangelho estava plantado em seus corações e reconheciam que não existem acidentes e infortúnios, mas que estavam debaixo da vontade soberana do Senhor. Conscientes de que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito (Rm 8.28), por isso, celebraram o dia de Ação de Graças.
A ideia de Joaquim Nabuco quando era embaixador do Brasil em Washington. Essa comemoração foi promulgada pelo presidente Eurico Gaspar Dutra no dia 17 de agosto de 1949 e, definitivamente estabelecida na quarta quinta-feira de novembro, em 22 de setembro de 1966 pelo então presidente o presidente Castelo Branco.
A mensagem do Dia de Ação de Graças vai além das ideologias e nacionalismos ela proclama em alta voz que Deus é soberano e que o Senhor está no controle de todas as coisas inclusive daquilo que aparentemente parece mal. O crente fiel reconhece que nem sempre entenderá as adversidades, porque compreende que as coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus (Dt 29.29a), porém compreende que os sofrimentos não podem limitar, mas potencializar seu testemunho, porque sabe que as [coisas] reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei (Dt 29.29b).
Feliz Dia Mundial de Ação de Graças
Reverendo Diego José Gonçalves Dias



[1] Referência ao Anti-herói da célebre obra de Lima Barreto Triste Fim de Policarpo Quaresma, o qual tinha como grande característica o extremado espírito nacionalista.
[2]http://photos.state.gov/libraries/amgov/133183/portuguese/P_US_Holidays_Thanksgiving_Day_Portuguese.pdf. Acessado no dia 27 de nov. 2014 às 15h06.
[3] http://www.mackenzie.br/7058.html. Acessado no dia 27 de nov. 2014 às 15h07.
[4] MATOS, Alderi de Souza. Fundamentos da Teologia Histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, p.167.
[5] LAWSON, Steven G. O Zelo Evangelístico de Georde Whitefield. São José dos Campos-SP: Fiel, 2014, p.14.
[6] http://zeartigos.blogspot.com.br/2006/04/o-ltimo-sermo.html. Acessado no dia 27 de nov. de 2014 às 17h07.
[7] LATOURRETE, Kenneth Scott. Uma História do Cristianismo. Vol 2. São Paulo: Hagnos, 2006, p. 1102.
[8] http://www.monergismo.com/textos/puritanos/puritanismo_augustus.htm. Acessado no dia 27 de nov. de 2014 às 16h47.
[9] JOHNSON, Terry. A Doutrina da Graça na Vida Prática. São Paulo: Cultura Cristã, 2001,p. 74.

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