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sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

O poder de destruição do pecado


O poder de destruição do pecado
O filósofo grego Platão (428/427-3448/347 a.C.), na República, conta a lenda do lídio Giges, um pastor de ovelhas que, durante um terremoto, encontrou um anel. Ao tomá-lo percebeu que ele lhe dava o incrível poder da invisibilidade. Diante dessa inusitada capacidade, consegue seduzir a rainha, matar o rei e usurpar o trono. Platão afirma quase em tom pessimista: “Se existissem dois anéis desta natureza e o justo recebesse um, o injusto outro, é provável que nenhum fosse de caráter tão firme para perseverar na justiça e para terra coragem de não se apoderar dos bens de outrem”. O nobre discípulo de Sócrates, pela graça comum, entendeu a verdade de que “não há um justo sequer” (Romanos 3.10).
O pecado, depois da queda passou a ser transmitido de forma ordinária aos descendentes de Adão (Gênesis 5.3). A Confissão de Fé de Westminster (CFW) afirma que Adão e Eva eram o “tronco de toda humanidade, o delito dos seus pecados foi imputado aos seus filhos” (III, 6). Nesse estado de depravação radical, o homem ficou “totalmente indisposto, incapaz e adverso a todo o bem e inteiramente inclinado a todo o mal” (CFW III,7).
Esse estado persiste até mesmo naqueles que foram regenerados, ou seja, no estado de graça, o crente é liberto da escravidão do pecado (Colossenses 1.13) e é habilitado a querer fazer o bem, contudo “por causa da corrupção ainda existente nele, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas também o que é mau” (CFW IX, 4). Esse estado em que somos influenciados pelo pecado só findará na glória (1 João 3.2).
João Paulo Emílio Cristóvão dos Santos, mais conhecido como João do Rio, (1881-1921), falando sobre prostituição infantil, na crônica Modern Girls, apesar de considerar essa nefasta mácula como um simples mal social, observa que a perversão existe e todas as classes, que têm um motivo aparentemente plausível como nota João do Rio: “nos pobres por miséria e fome; nos burgueses por ambição de luxo; nos ricos por vício e degeneração”. O Profeta Jeremias é convidado, como Demóstenes, a procurar quem pratique a justiça (Jeremias 5.1). O pecado faz parte de nossa natureza corrompida e não é uma mera deficiência moral ou intelectual que possa ser corrigida se não pela graça.
O grande problema das pessoas para com o pecado está quando essas mazelas são tidas como inofensivas. A sabedoria terrena, animal e diabólica (Tiago 3.15), sempre, encontrará justificativas aos mais terríveis erros, muitas vezes tentando provar que o amargo é doce (Isaías 5.20) e que a mentira é verdade (Romanos 1.25) e procurarão igrejas que não toquem nesses problemas ou incentive uma busca por um felicidade irresponsável e egocêntrica (2 Timóteo 4.3).
Não há pecado leve, mas apenas pecados graves, muito graves ou gravíssimos. O Catecismo Maior de Westminster (pergunta 150) afirma: “todas as transgressões da lei de Deus não são igualmente odiosas; mas alguns pecados em si mesmo, e em razão de diversas circunstâncias agravantes, são mais odiosos à vista de Deus do que outros”.
O mesmo Catecismo afirma (na pergunta 152) que “todo pecado, até o menor, sendo contra a soberania, bondade e santidade de Deus, e contra a sua justa lei, merece a sua ira e maldição, nesta vida e na vindoura, e não pode ser expiado, senão pelo sangue de Cristo”. O grande problema dos pecados, aparentemente, leves e que eles são portas para toda sorte de gravíssimas transgressões a lei de Deus. O indivíduo começa com pensamentos impuros, consulta material pornográfico, passa facilmente ao adultério. É semelhante ao alcóolatra que começou em bebidas, aparentemente, inofensivas, mas progrediu querendo doses cada vez mais fortes.
Dificilmente, pessoas começam em grandes pecados, a não ser que circunstâncias específicas o levem a isso, mas, frequentemente, vão, gradativamente, afrouxando seus padrões morais entre o andar no conselho dos ímpios e se assentar na roda dos escarnecedores (Salmo 1.1). Davi nunca pretendeu matar Urias, mas se viu obrigado a isso quando negligenciou a ir à guerra como os demais reis faziam (2 Samuel 11.1), viu Bate-Seba (2 Samuel 11.2,3) e se deitou com ela de tal maneira que veio a engravidar (2 Samuel 11.4,5).
O pecado tem um alto poder destrutivo, atinge aquele que o pratica e todos os que estão ao seu redor, por isso, nossa luta contra ele deve ser implacável e inquebrantável. Apenas andando pela agenda do Espírito estaremos protegidos do nosso velho homem (Gálatas 5.16). Não há e nunca haverá um anel de Giges que nos possibilita a invisibilidade, pois não se pode fugir da presença de Deus (Salmos 139.7-12).


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