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sexta-feira, 27 de novembro de 2015

AS POSSIBILIDADES NOS DIAS MAUS: A RELAÇÃO COM O PRÓXIMO


As possibilidades nos dias maus: a relação com o próximo
“Tudo posso naquele que me fortalece”. (Fl 4.13)
Nesse período em que nosso país vive uma terrível recessão, a a cura de todos os problemas é puramente material. Comentaristas, no “horóscopo” dos números do mercado, preveem um futuro nebuloso e cheio de incógnitas. De fato, precisamos nos precaver, pois o dinheiro é bênção de Deus que não pode ser desperdiçada, tampouco gasta de forma desordenada.
O grande problema das precauções está no momento em que elas tomam uma proporção pecaminosa e deixamos de compreender a soberania de nosso Deus. O Senhor está no controle do mundo, mesmo quando esse parece descontrolado. Em Mateus 6.25-34, os discípulos de Jesus estão preocupados com o que comerão, beberão e como se vestirão, mas Jesus mostra que assim como as aves dos céus têm o que comer e beber, e os lírios dos campos têm um vestuário suntuoso, o mesmo Senhor que prove alimento e vestimenta a esses seres, que nos parecem insignificantes é aquele que soberanamente abastece nossas dispensas, por isso, cabe a nós buscarmos “em primeiro lugar, o seu reino e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” (Mt 6.33).
Jesus não nos promete na Palavra uma vida de certeza e caminhos planos, mas afirma que os amanhã trará os seus próprios cuidados, mas podemos confiar na providência divina em todos os dias de nossa vida (Mt 6.34), como afirma Pedro: lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (1Pe 5.7).
Como enfrentar esses dias que parecem ser difíceis? Como moldarmos o nosso sustento às nossas reais necessidades? Como não viver abalado em meio a crise? Como não ser escravo do dinheiro, valorizando aqueles que têm mais e podem mais? Quando lemos a carta de Paulo aos Filipenses e como ele agradece a o recurso a ele confiado por Epafrodito temos algumas pistas de como lidar com o dinheiro sem sermos seus escravos.
Paulo nos mostra que nosso grande problema está na base em que nos alicerçamos. Quando no dia 24 de outubro de 1929 a Bolsa de Nova York quebrou, foram notificados 11 suicídios, inclusive o de uma funcionária de uma joalheria que se enforcou tendo as dívidas aos seus pés. Contudo, quando Jó, em um único dia sabe que perdera todos os seus bens e inclusive os próprios filhos, ele não busca nenhuma fuga, mas afirma: Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR!” (Jó 1.21).
Em Filipenses 4.10, Paulo se mostra excessivamente alegre com o donativo recebido da igreja de Filipos, contudo mostra que sua alegria não está no dinheiro, porque o amor a ele é a raiz de todos os males (1Tm 6.10), mas no Senhor. O Apóstolo dos gentios mostra que toda a providência humana, em primeira estância, é provocada e determinada pela vontade soberana do Senhor. Quanto ao que recebeu, deixa claro que o que mais o deixa alegre é o cuidado que refloreceu. Paulo usa o verbo grego anathállo (ναθλλω), que significa reflorecer, pois entende que assim como as plantas não existem apenas quando produzem flores e frutos, a comunidade de Filipos não lhe foi favorável apenas quando puderam lhe prover bens materiais.
Provavelmente, a igreja de Filipos contava, em sua membresia, com Lídia, vendedora de púrpura (provavelmente porque fosse viúva e continuava o negócio do marido), que hospedara Paulo, Silas e Timóteo pelo menos duas vezes (At 16.15,40). Talvez o Carcereiro (que foi impedido de cometer suicídio por Paulo – At 16.27-31) e a sua família. Paulo reconhece que essas pessoas, tais como Epafrodito, que andara 1280 Km de Filipos a Roma, são mais importantes do que a ajuda que lhe enviaram.
Paulo jamais concordaria com a atual sociedade utilitarista que valoriza o homem na medida em que esse pode oferecer algo, empresas que investem em um funcionário enquanto é lucrativo. Talvez uma metáfora adequada para essa triste realidade esteja na obra Metamorfose de Franz Kafka (1883-1924), na qual apresenta a personagem Georg Samsa, um caixeiro viajante que odiva seu trabalho e seu patrão, mas não podia mudar de vida porque atuava como arrimo financeiro de sua família. Contudo, ao dormir, acorda vítima de uma terrível metamorfose, pois, agora, era um inseto asqueroso.
No princípio seus entes se condoeram em suas dores, mas, aos poucos, todos foram assumindo uma autonomia que lhes fora ausente e isolando-o em um quarto no qual lhe davam os restos. Aquele que outrora era valorizado, só o era pelo que oferecia, porque, quando deixou de ter valor pelo que fazia, passou a ser insignificante naquilo que era, foi e naquilo que será. Percebamos como crianças e idosos são tratados nessa sociedade.
O Apóstolo dos gentios entende uma verdade preciosa, que apesar de óbvia, tornou-se esquecida: as pessoas, não importa as circunstâncias, são mais valiosas que o dinheiro ou qualquer trabalho que possam oferecer.


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