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sexta-feira, 17 de julho de 2015

Um Jesus para chamar de meu


Um Jesus para chamar de meu
Na última parada gay a atriz Viviany Belemoni causou polêmica saindo seminua em uma cruz representando Jesus crucificado. No último dia oito, em visita oficial a Bolívia, o papa romano recebeu um presente, no mínimo curioso, do presidente Evo Morales: um Jesus pregado no martelo e na foice, que identificam o comunismo (criação do Padre Jesuíta Luiz Espinal). Esses fatos recentes, por terem acontecido em lugares, com pessoas e contextos diferentes, mostram o triste flagrante de que nosso tempo tem medo da verdade e, por isso, busca, cada vez mais, um desesperado relacionamento com o sagrado, mas de maneira subjetiva, influenciado por um leitura desconstrutivista.
Ferdinand Saussure (1857-1913), influenciado pela filosofia positivista (que primava pelo valor da ciência), lançou as bases para estudar o significado dos signos (união de uma palavra/conceito [significado] a uma imagem acústica [significante]), o que ficou conhecido como semiologia (SAUSSURE, 2002, p.79). Para Saussure, o ato de unir um significado a um significante é algo arbitrário, ou seja, a origem dos signos não se deu ao imitar os sons da natureza ou de exclamações, mas por convenção humana, porém não é de todo arbitrário, pois uma vez identificado um objeto ele nunca mais poderá ter seu nome mudado, a palavra balança não pode nomear um carro. Dessa maneira, o estruturalismo pressupõe um paradigma que não pode ser mudado (mesmo que ele seja fruto da arbitrariedade ou convencionalismo). Isso indica que há algo absoluto, uma noção de verdade primeira (SAUSSURE, 2002, p.82).
A década de 1960 foi um período de grande efervescência como Concílio Vaticano II, Revolução Cubana, o movimento hippie. Na França, em maio de 1968, os estudantes, sem um motivo específico, motivaram uma greve geral de cunho comunista stalinista sob o lema: “é proibido proibir”. Jacques Derrida, respirando esse momento, tornou-se herdeiro e crítico do estruturalismo, combatendo, especialmente, o senso de absoluto. Segundo Silva[1], “em sua leitura desconstrutora, almeja ir ao mais fundo ponto de uma escritura e trazer à superfície aquilo que está submerso; trazer à luz aquilo que o texto esconde e que o próprio autor não viu ou não quis ver”.
A crucificação é um fato histórico, mas não definitivo, pois Jesus ressuscitou (1Cor 15.20). Entretanto, tal como muitos ouvintes de Paulo no Areópago, muitos preferem descartar a ressurreição mesmo que isso fizesse vã a fé (1Cor 15.14) ficando com a crucificação como se fosse mais certo e confiável (mesmo sabendo que a prova sociológica da ressurreição e todo o desenvolvimento do cristianismo mostram que a realidade da ressurreição de Cristo é um fato histórico).
A concepção desconstrutivista não se propõe a destruir o texto, mas questionar a interpretação que foi arbitrariamente imposta a ele. Dessa maneira, pode se vir a mesma história da crucificação por um perspectiva secundária como o oprimido que é morto por seus ideais e nessa concepção se faz sentido a atriz transexual representá-lo ou os proletários por suas convicções político-sociais.
Há um medo latente da verdade em nossos dias, porque ela impõe um paradigma intransponível. Alguém que se propõem a buscar a verdade, achando-a, acatá-la-á ou tentará refutá-la, pois a mentira não é um lugar confortável para ninguém. Vemos essa realidade entre os judeus reunidos para a festa das cabanas em João 8. Segundo Carson (2011, p. 349), os judeus acreditavam que o estudo da lei era capaz de fazer o homem livre, mas a verdade é que a lei aponta para Cristo e apenas essa verdade é capaz de libertar o homem dos grilhões que outrora ostentara.
O homem é um ser naturalmente religioso de tal maneira que Calvino afirma: “não existe nação tão bárbara, nenhum povo tão selvagem que não tenha impressa no coração a existência de algum Deus” (Institutas I.4, p.56).
Até mesmo os regimes comunistas tinham ritos religiosos cuja figura central era o Estado. Irmão André, evangelizando a Alemanha Oriental, relata no Contrabandista de Deus: “usando a antiga sabedoria da Igreja, o regime [comunista] estava oferecendo cerimônias pagas pelo Estado, que eram franca imitação dos rituais cristãos” (SHERRILL, 2008, p.180), tais como a cerimônia de recepção (equivalente ao batismo), casamentos, funerais e confirmações (jugend Weihe, que Angela Merkel, primeira ministra da Alemanha, não fez por ser filha de Pastor Luterano, mas procedeu a confirmação própria de sua denominação).
Dessa maneira, comunistas como Evo Morales ou transexuais como Viviany Belemoni querem desenvolver de alguma maneira sua expressão religiosa e vão interagir com outras expressões religiosas entendendo que todos possuem a verdade em níveis gradativos e não princípios absolutos inegociáveis. Nessa realidade, frequentemente, desenvolve-se uma relação subjetivista com a Palavra e com Jesus Cristo. Segundo Sproul (2003, p.41), “subjetivismo acontece quando distorcemos o significado objetivo dos termos para adaptá-los aos nossos interesses próprios”. As pessoas toleram a Bíblia enquanto ela fala máximas (aforismos) que ajudam na vida prática e criam um Jesus ao seu próprio gosto.
Esse Jesus forjado nas pedias do gosto pecaminoso não passa de um ídolo aparentemente amistoso, mas, ao mesmo tempo, perigoso e ineficaz para o bem. Só pode conhecer a Jesus senão pelo aço sobrenatural do Espírito sobre a Palavra. Só há um Jesus e ele não está crucificado.



[1] http://www.celsul.org.br/Encontros/06/Individuais/63.pdf. Acessado no dia 18 de julho de 2015 às 1h 03.

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