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sexta-feira, 13 de março de 2015

Como Protestar por dias melhores?


Como Protestar por dias melhores?
Parafraseando Shakespeare: há algo de podre no governo do Brasil. Assim como Hamlet (Ato I, cena IV) via a imoralidade do palácio dinamarquês como algo a apodrecer, nós brasileiros, pelos jornais, vemos a anatomia de mais um escândalo que nos dá o mesmo sentimento de putrefação de instituições que julgávamos sólidas como a Petrobrás e o pessimismo de sabermos que outras notícias de roubo vão ser contadas e seus protagonistas permanecerão impunes em sua empáfia. Diante dessa triste realidade, alguns grupos de organizam em movimentos que visam o impeachment da presidente da República. Portanto, é lícito ao cristão participar desses atos?
Jesus nos orientou a sermos prudentes como as serpentes e símplices (não misturados) como as pombas (Mt 10.16), por isso, ao vermos esses movimentos se levantando devemos ter a mesma percepção de Machado de Assis em Memórias Póstumas de Brás Cubas (cap. IV): “Quem não sabe que ao pé de cada bandeira grande, pública, ostensiva, há muitas vezes várias outras bandeiras modestamente particulares, que se hasteiam e flutuam à sombra daquela, e não poucas vezes lhe sobrevivem?”.
Debaixo da bandeira “fora Dilma” ou “fica Dilma” existem interesses partidários que não possuem força legal, porque a presidente foi eleita democraticamente com 51, 45% dos votos, contra os 48, 55% do seu oponente e tampouco pode ser, na vigência de seu mandato,  responsabilizada por atos estranhos ao exercício de suas funções” (Constituição Federal 86§4), por isso, requerem a população como massa de manobra para que, no frigir dos ovos, o impeachment não pareça um interesse partidário, mas a voz popular. Se essa voz conta algo, ela já se manifestou nas urnas nas últimas eleições, e toda manifestação posterior é um contratempo vago.
No último dia 08, a mídia mostrou cenas ridículas de pessoas protestando com panelas e palavras de baixo calão. Por pior que seja a administração de um governante ou por mais que ele persiga a igreja, a Bíblia não nos dá o direito de lançar imprecações contra ele, mas nos incentiva na obrigação de orar por sua vida.
Em meados de 60 d.C., quando Paulo escreve a primeira epístola a Timóteo, as autoridades romanas não eram bem quistas entre os judeus e cristãos, pois no ano 50 d.C. Claudio expulsara os judeus de Roma e logo, em 67 d.C., Nero, sexto imperador romano, se torna o primeiro a perseguir a doutrina cristã (Eusébio de Cesareia XXV.4), o qual matará Pedro e Paulo. Todavia Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, irá ordenar aos crentes de todas as épocas: exorto que se use a prática de súplicas, orações, intercessões, ações de graças, em favor de todos os homens, em favor dos reis e de todos os que se acham investidos de autoridade, para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda piedade e respeito” (1Tm 2,1,2).
A Confissão de Fé de Westminster (XXIII.1) entende que há m duplo governo de Deus: Deus, o Senhor supremo e Rei de todo o mundo, para a sua glória e para o bem público, constituiu sobre o povo magistrados civis que lhe são sujeitos, e a este fim, os armou com o poder da espada para defesa e incentivo dos bons e castigo dos malfeitores”.
A qualidade administrativa da presidente ou seus pressupostos não exime os cristãos de interceder por seu governo, pois estes têm o dever de orar até mesmo porque aqueles que os perseguem (Mt 5.44) tampouco demonizá-la, pois toda a autoridade vem de Deus (veja Pv 8.16; Rm 13.1). Dessa maneira Calvino, comentando a Epístola aos Romanos, afirma: “ainda que as autoridades ditatoriais e injustas não devam ser classificadas como governos ordeiros, todavia o direito de governar é ordenado por Deus visando ao bem-estar da humanidade”.
Calvino, nas Institutas (XX. 24,25) que a maioria dos governantes não apresenta bons exemplos, tampouco transparecem em suas atitudes como bons governantes, mas se extraviam em uma vida dissoluta que traz sofrimento aos súditos, todavia esses devem respeitar aqueles como se fossem bons, pois Calvino entende que os governantes, legalmente constituídos, que não exercem corretamente seu ofício são instrumento de castigo e disciplina para um povo que se distancia de Deus.
Deus, por meio de Jeremias chamará Nabucodonosor, rei da Babilônia de seu servo (Jr 25.9; 27.6) não por sua piedade, pois saqueou o templo de Jerusalém para levar tesouros a Bel seu Deus (2Cr 36.10; Dn 1.2), muito menos por causa de sua misericórdia, porque não a teve nem com jovens, donzelas ou velhos (2Cr 36.17). Entretanto é chamado de servo de Deus, porque procede a ira do Senhor contra aqueles que zombavam dos mensageiros, desprezavam as palavras de Deus e mofavam dos seus profetas” (2Cr36.16). Dessa maneira, devemos entender que a presença de uma autoridade civil falhas e perniciosa serve para a disciplina de um povo, sabendo que o “o justo viverá pela fé” (Hc 2.4), ou seja, mesmo que o justo tenha que sentir a disciplina angariada pelos maus ela não esmorecerá, mas, como Daniel, firmará o propósito de não se contaminar (Dn 1.8).
Todavia a obediência aos governantes não pode ser maior do que a obediência devida a Deus. O súdito não pode negligenciar a Palavra para contentar seus superiores, tal como os amigos de Daniel (Dn 3.18), que estavam dispostos a morrer, mas não se entregar a idolatria. Pedro, inspirado pelo Espírito, afirma que o temor do Senhor antecede a honra devia a autoridade civil (1Pe 2.17) e igualmente diz aos homens do Sinédrio: Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens (At 5.29).
A estrutura política não pertence a satanás, todavia, como um hábil mercador da tentação ele exerce influência degenerativa na direção que a política assume. A luta do cristão não deve se resumir a utilizar dos modelos humanos para reformar o mundo, mas daqueles dispostos na Palavra, ou seja, denunciando as distorções e fiscalizando de maneira ordeira se a justiça está sendo feita. Sem uma profunda santificação na direção que a atividade política toma a saída de um corrupto só abre vaga para mais a se corromper.

Na tentação do Getsêmani, Pedro quis usar dos meios mundanos para fazer justiça, mas ele e nós somos advertidos pelo Príncipe da Paz: Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão” (Mt 26.52).

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