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sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Reduzir ou não reduzir? Eis a questão!: a adolescência (parte 2 de 3)



Reduzir ou não reduzir? Eis a questão!: a adolescência (parte 2 de 3)

Vivemos em uma sociedade em que a regeneração efetuada pelo agir do Espírito Santo é um mito, uma lenda abominável que precisa ser extirpada, todavia se acredita que um lugar (sistema carcerário), uma faixa etária (a adolescência) e um processo de formação (educação) podem fazer alguém melhor para si e para os outros indivíduos. Agora qual crença é mais ingênua?
O termo adolescência vem do verbo latino adolesco, is, ere (mais precisamente do particípio passado adulescens), que significa crescer, desenvolver-se. Entretanto, segundo Bock et al[1], essa fase de desenvolvimento não possui critérios claros para ser delimitada, porque “não é uma fase natural do desenvolvimento humano”[2], não porque seja anormal os transtornos que a puberdade causa nos indivíduos que transitam da infância para a vida adulta, mas a sua duração e as suas implicações sociais.
Segundo Coutinho[3], o conceito de adolescência surge na cultura ocidental no contexto da consolidação do individualismo – cujo marco histórico fundamental é a Revolução Francesa”. Dessa maneira, a adolescência é um fenômeno recente e que existem em nossa sociedade. Mallinowski[4], pesquisando a cultura dos nativos da Ilha Trobriand da Nova Guiné, não encontra a presença dessa fase de desenvolvimento, mas as crianças se tornam adultos quanto mais participam da vida e das decisões dos adultos. Em outros lugares existem ritos de passagem que marcam essa transição. Bock et al[5] defende que “a adolescência é uma fase típica do desenvolvimento do jovem de nossa sociedade. Isso porque uma sociedade evoluída tecnicamente, isto é, industrializada, exige um período para que o jovem adquira os conhecimentos necessários para dela participar”.
Portanto, em nossa sociedade e a partir do século XIX, entendemos, nas palavras de Eisenstein, que a adolescência acontece entre as mudanças corporais da puberdade e termina quando o indivíduo consolida seu crescimento e sua personalidade, obtendo progressivamente sua independência econômica, além da integração em seu grupo social”[6]. Apesar de não existirem parâmetros sólidos para delimitar o período dessa fase de desenvolvimento a Organização Mundial da Saúde (OMS) estipula que ela dure entre 10 e 19 anos; a Organização das Nações Unidas (ONU) de 15 a 24 e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei 8.069/1990 art. 2º ) de 12 aos 18 anos.
Da mesma maneira que se convencionou aceitar que haja adolescência, igualmente, passou a se inferir que nesse período o indivíduo não tem total condição de responder pelos seus atos. Quando um adolescente pratica uma infração, o Estado aplica-lhe medidas sócio-educativas tais como I – advertência; II – obrigação de reparar o dano (apenas se existirem provas contundentes); III – prestação de serviços à comunidade; IV – liberdade assistida; V – inserção em regime de semi-liberdade; VI – internação em estabelecimento educacional (ECA, IV, art. 112).
É um anacronismo tentar ver adolescência nas Escrituras Sagradas, todavia isso não quer dizer que, na suficiência da Palavra, não haja subsídio necessário para discutirmos o que é próprio para o jovem.
A Bíblia admite:
·         A criança pequena/filho: יָלַד  (yalad), παιδίον (paidíon);
·         A criança que pode ser ensinada:  נַעַר (na’arâ), νέος (neós);
·         O jovem em idade para se casar: בָּחוּר (barur), νεανίσκος (neavískos).
A criança (נַעַר) deve ser rigorosamente educada, porque a estultice (אִ֭וֶּלֶת/’iwwelet: tolice, insensatez ou loucura) está ligada ao seu coração e só a vara da disciplina poderá curá-la. Assim como o bordão do pastor é consolo da ovelha (Sl 23.4), da mesma maneira o chinelo do Pai (que disciplina e não espanca) é consolo da criança que reconhece com maior clareza seus limites e sabe por qual caminho é seguro caminhar.
Quando a educação, que começa no lar, imprime valores claros e elevados nas crianças, estas naturalmente respeitarão os professores e as autoridades constituídas (civis ou eclesiásticas) da mesma maneira como respeitam seus pais. A crise de valores que vivemos ocorre em uma sociedade que não tem mais nítida a noção de autoridade. Onde todos têm direito a tudo sem deveres, ninguém pode se sustentar por muito tempo.
Jesus concorda com a regra mosaica (Êx 21.17-Mt 15.2) de que o filho que ofendesse seu pai deveria ser morto e daí vem a promessa de dias prolongados a filhos que honram o pai e a mãe (Êx 20.12).
Portanto, por convenção contrária à Palavra, passou a se conceder ao adolescente uma moratória indevida, ou seja, o direito de cometer os mais torpes delitos e crimes (sendo por isso até mais facilmente aliciado pelo crime organizado) e, até os 18 anos sem se responsabilizar pelos deus atos de maneira plena.



[1] BOCK, A.M.B; FURTADO, O; TEIXEIRA, O.L.T. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 255-258.
[2] Ibidem, p.255.
[3] COUTINHO, L.G. A Adolescência na Contemporaneidade: ideal cultural. Revista de Psicanálise, ano XVII, no 181, p. 17.
[4] In BOCK, A.M.B; FURTADO, O; TEIXEIRA, O.L.T. Psicologias: uma introdução ao estudo da Psicologia. São Paulo: Saraiva, 1995, p. 256.
[5] Ibidem, p. 257.
[6] EISENSTEIN, E. Adolescência: definições conceitos e critérios. Revista Adolescência e Saúde, vol. 2, no 2, 2005, p.1.

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