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sexta-feira, 8 de maio de 2015

O desafio de ser mãe dentro de uma família bíblica


O desafio de ser mãe dentro de uma família bíblica
Quantas vezes você ouviu dizer que o amor da mãe é maior que todos os outros ou o provérbio: “mãe é uma só, pai se encontra em qualquer lugar”. Será que esses pensamentos estão corretos à luz das Escrituras Sagradas?
Não são poucos aqueles que veem a Palavra de Deus como uma expressão do patriarcalismo ocidental da cultura judaico-cristã, onde a Palavra de Deus está misturada ao pensamento humano dos Escritores inspirados. O “teólogo”, de origem romana, Leonardo Boff dá voz a essa concepção afirmando:
Deus-Mãe reconduz todos os filhos e filhas, por mais dispersos que estejam, quais ovelhas ao seu redil. Onde a religião do Pai introduz o inferno, a religião da Mãe faz valer o perdão irrestrito que abre caminho para uma absoluta realização do Reino de todos e para todos. Não sem razão, sentimentos de reconciliação são associados à mãe, enquanto sentimentos de dissociação, ao pai. Isso vale também na experiência com a Realidade última e transcendente[1].
Onde começou essa conversa do homem ser o vilão da história? Segundo Nancy Pearcey, “falando historicamente, o ponto decisivo fundamental foi a Revolução Industrial, que causou a separação entre o reino particular da família e da fé e o reino público dos negócios da industrial”[2].
A Revolução industrial, especialmente na sua segunda etapa (1860-1900), gerou o impacto de tirar o homem de casa e mandá-lo para a indústria. Nessa perspectiva o marido sacrificou seu interesse pelo particular para zelar pelo todo, “a esfera pública dos negócios e das finanças seriam isoladas da esfera particular do lar. Assim a casa se tornaria um refúgio, um porto seguro, do mundo cruel e competitivo”. Aqui está a origem do desejo masculino de chegar em casa colocar seus chinelos e ler o jornal sem ser incomodado com assuntos domésticos que ficaram restritos às mulheres.
Nessa perspectiva dualista (mundo x casa), o homem, alheio e tentado pelo profano, foi forjado e a sociedade, apoiada pela religião, que começou a ter em seu corpo cada vez mais mulheres, passou a querer domesticar os maridos e posições bíblicas que o enxergavam como cabeça passaram a ser vistas um machismo bíblico que deveria ser evitado.
Boff, filho de sua época, utiliza essa distorção bíblica que uni submissão e maldição na mesma sentença: “o amor sagrado entre o homem e a mulher é substituído pelo casal do qual o homem é o chefe e a mulher é rebaixada e ridicularizada”[3]. Concordamos com a concepção de Campos[4] quando afirma que “após a queda, o marido haveria de exercer um controle e domínio sobre a mulher como uma expressão errônea e diferente de ser o cabeça da família”.
Dessa maneira, Gênesis 2.18-22 é consequência imediata da maldição, ou seja, Eva manifestou o desejo ímpio de governar o seu marido tomando a frente na negociação com a serpente e fazendo o que desagrada a Deus e, “quando a mulher compete com o marido, este por sua vez, assume a função de governo sobre ela”[5]. Entretanto a submissão requerida à liderança do homem, exposta em Efésios 5.22-24, não faz parte da maldição requerida, mas faz parte da estrutura familiar criada por Deus antes do pecado.
Calvino defende que “Deus nos uniu [homem e mulher] tão fortemente uns aos outros, que ninguém deve tentar esquivar-se da submissão recíproca. E onde reina o amor, aí também se prestarão serviços mútuos”[6]. O papel do marido, mesmo antes do pecado era liderar e a mulher auxiliá-lo. Em Gênesis 2.18,20, o objetivo é ser “ezer” (עֵזֶר) alguém que ajuda[7], mas não como uma escrava e sim como “queneguedo” (כְּנֶגְדּֽוֹ) “conforme”, “como aquilo que corresponde a”[8].
Dessa maneira, homem e mulher são criados iguais, mas como missões diferentes. A mulher deve ser submissa ao seu marido como ao Senhor (Ef 5.22), sendo que a função de submeter, no grego “hypotásso” (ὑποτάσσω) de “hypo” sob e “tasso" arranjar, organizar.
De fato, como em todas as áreas da criação as estruturas provenientes de Deus, devido à queda, assumem uma direção diferente daquele proposto. Segundo Wolters, estrutura é “a ordem da criação, à constituição criacional constante de qualquer coisa [...] é ancorada na lei da criação, o decreto criacional de Deus que constitui a natureza dos diferentes tipos de criatura”[9]. A direção “designa a ordem do pecado e da redenção, a distorção ou perversão da criação pela queda por um lado e da redenção e restauração da criação em Cristo por outro. Qualquer coisa na criação pode ser direcionada para Cristo ou para longe dele”[10].
Em muitos lares onde o marido, que deveria amar a esposa como Cristo amou a igreja (Ef 5.25, veja a atitude de Cristo para com a igreja em Fl 2.5-8), assume uma postura de tirano impondo um regime de terror e medo. Muitas vozes da mídia, na tentativa de denegrir a Palavra e seus seguidores, retratam essa realidade como um patriarcalismo arcaico e opressor, todavia nessa submissão pautada no respeito e no amor (Ef 5.33) está a segurança para o futuro das famílias e, assim como uma parábola eterna que define a relação de Cristo com a igreja (Ef 5.32).
Sobre essa realidade de submissão mútua Piper afirma:
A submissão mútua é vista como uma expressão de estar cheio do Espírito Santo. Maridos e esposas cheios do Espírito Santo servem um ao outro. Eles se humilham e se rebaixam para que o outro seja exaltado. Acham maneiras de submeterem as suas preferências imediatas em prol do conforto e da necessidade do outro[11].
Portanto, há uma luta justa de milhares (cerca de 2 milhões[12]) de mulheres que lutam contra o pecado a violência (veja o que a Bíblia diz sobre o marido que não trata a esposa como a parte mais frágil: 1Pe 3.7), todavia essa batalha não pode começar do zero e mudar a estrutura criada por Deus.
A posição da teologia reformada não está em uma destruição violenta, mas na renovação progressiva pelo processo de santificação. Walsh e Middleton afirmam: “o pecado não mudou a estrutura de vida no mundo; a criação original de Deus continua firme, sustentada por ele. O que mudou foi o sentido”.[13] Outra formatação para a família, longe dos padrões bíblicos, só trará tristeza e vazio.
Não existem fórmulas mágicas ou bênçãos milagrosas, a mudança da direção rebelde não ocorre de fora para dentro (por meio da consagração), mas de dentro para fora (por meio da santificação), um “processo de renovação interior progressivo em cada fase da vida humana”[14] conforme acredita Wolters. A luta não pode ser contra estrutura, mas contra a direção que a família assumiu.
A distância que se estabeleceu entre homem e mulher não contribuiu para o princípio bíblico do casamento: “deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne” (Gn 2.24). Atualmente, segundo dados do IBGE, 24% dos jovens de 25 a 34 anos continuam vivendo com os pais. Igualmente, 26% das mulheres optam pela produção independente (IBGE-2009). Esses dados parecem racionais para muitas pessoas, todavia revelam a insanidade de nossos dias, quando o relacionamento responsável do casamento onde um se decide fazer o outro feliz é rejeitado em nome do prazer a todo custo.
Para existir uma mãe é necessário um filho dentro da família onde pai e mãe saibam criá-lo na admoestação e na disciplina do Senhor (Ef 6.4). Para esse objetivo encontrar êxito, faz-se necessário romper com os moldes familiares amplamente difundidos pela mídia e buscar os verdadeiros padrões na Palavra inspirada. Nesse dia, se perceberá que o amor de pai e mãe são iguais, porque servem ao mesmo fim: glorificar a Deus.


Referências Bibliográficas:

CAMPOS, H.C. O Habitat Humano, o Paraíso Perdido: estudos em antropologia bíblica. São Paulo: Hagnos, 2012
MURARO, R.M; BOFF, L. Feminino e Masculino: uma nova consciência para o encontro das diferenças. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.
PEARCEY, N. Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural. São Paulo: CPAD, 2012.
PIPER, J. Casamento Temporário, uma parábola permanente. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.
WALSH, B; MIDDLETON, J.R. Visão Transformadora: moldando uma cosmovisão cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2010.
WOLTERS, A.M. A Criação Restaurada: base bíblica para uma cosmovisão reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
http://www.pmpf.rs.gov.br/servicos/geral/files/portal/cartilha-violencia.pdf



[1] MURARO, R.M; BOFF, L. Feminino e Masculino: uma nova consciência para o encontro das diferenças. Rio de Janeiro: Sextante, 2002, p.90.
[2] PEARCEY, N. Verdade Absoluta: libertando o cristianismo de seu cativeiro cultural. São Paulo: CPAD, 2012, p. 365.
[3] Ibidem, p.96.
[4] CAMPOS, H.C. O Habitat Humano, o Paraíso Perdido: estudos em antropologia bíblica. São Paulo: Hagnos, 2012, p. 215.
[5] Ibidem, p.214.
[6] CALVINO, J. Efésios. São José dos Campos-SP: Fiel, 2007, p.133
[7] HARRIS, R.L; ARCHER JR, G.L; WALTKE, B.K. Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova. 1998, 1598.
[8] Ibidem, p.1289.
[9] WOLTERS, A.M. A Criação Restaurada: base bíblica para uma cosmovisão reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p.69.
[10] Ibidem, p. 69.
[11] PIPER, J. Casamento Temporário, uma parábola permanente. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p.70.
[12] http://www.pmpf.rs.gov.br/servicos/geral/files/portal/cartilha-violencia.pdf. Acessado no dia 08 de maio de 2015 às 18h30.
[13] WALSH, B; MIDDLETON, J.R. Visão Transformadora: moldando uma cosmovisão cristã. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p.77.
[14] WOLTERS, A.M. A Criação Restaurada: base bíblica para uma cosmovisão reformada. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p.101.

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