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quinta-feira, 2 de abril de 2015

A importância da ressurreição de Cristo no livro de Jó


A importância da ressurreição de Cristo no livro de Jó
Segundo Anglada[1], a Bíblia protestante possui exatamente os mesmos 39 livros que o cânon massorético (a bíblia judaica que Jesus conhecia).Contudo Archer[2] afirma que a divisão dos livros sagrados, que encontramos e nossas Bíblias (livros da lei, livros de história, livros de poesia e sabedoria e livros proféticos), é baseada na edição adotada pelos compiladores da Septuaginta (LXX – tradução da Bíblia do hebraico para o grego). No texto massorético, o livro de Jó se encontra junto com Salmos e Provérbios na divisão “escritos” (Kethubhim). Dessa maneira, pelo fato do Texto Sagrado não adotar uma divisão cronológica, mas tópica, alguns incautos podem julgar o livro de Jó mais recente do que o de Moisés.
Cronologicamente, segundo Kaiser[3], deve ser classificado dentro da Era Patriarcal (2100-1800 a.C.), porque:
a.)    a riqueza de Jó (1.3) é semelhante a de Isaque (Gn 26.13,14);
b.)    o aumento do gado de Jó (1.10) é semelhante a de Labão (Gn 30.29,30);
c.)    Como os Patriarcas prefere o termo Shaddai (שַׁדַּי ) para se referir a Deus. Essa palavra tem 43 ocorrência no Antigo Testamento sendo 23 delas no livro de Jó, 3 em Salmos, 2 em Cantico dos Cânticos, 3 em Ezequiel, 1 em Rute e 11 no Pentateuco (6 em Gênesis, 1 em Êxodo e 4 em Êxodo);
d.)   Como nos Patriarcas não há sacerdotes e sacrifícios no templo (Jó 1.5);
e.)    O conteúdo dos sacrifícios empreendidos por Jó são semelhantes aos de Balaão (Nm 23.1-3);
f.)     Jó viveu 140 anos (Jó 42.16) e José 110 (Gn 50.23);
g.)    Em Jó 42.11, onde a Almeira Revista e Atualizada (ARA) traduz por dinheiro, no hebraico, a palavra empregada é qesitah (קְשִׂיטָה ), assim como nos tempos de Jacó (Gn 33.19; Js 24.32);
h.)    A morte de Jó é descrita de maneira semelhante a de Abraão e Isaque (compare Jó 42.7 com Gn 25.8; 35.29).
Kaiser[4] entende que o livro de Jó, do qual não conhecemos o autor, é peculiar, porque, apesar de ser tido como um literatura sapiencial, todavia além do diálogo poético traz, também, estrutura narrativa. Essa combinação faz dele um problema. Entretanto, como afirma Hill et al[5], traz de maneira singular a perspectiva bíblica para o sofrimento.
Nesses últimos cinco mil anos, pessoas ou comunidades, como Jó, perguntam-se a respeito do sofrimento e buscam o auxílio de Deus para isso. Não são poucos os que avaliam a dor pelo princípio de retribuição e precisam compreender que até mesmo pessoas íntegras, retas, tementes a Deus e dispostas a se desviar do mal estão suscetíveis ao sofrimento.
Em uma sequencia funesta e rápida, Jó perde seus bens, filhos, o respeito da esposa e dos amigos (Elifaz, Bildade e Zofar), que, depois de consolá-lo, passam a expor para ele o destino dos perversos e depois a acusá-lo, pois buscavam um motivo pelo qual passava por tanto sofrimento.
Bildade, segundo Jackson[6], é o mais moralista dos “amigos” de Jó tentando convencê-lo de que Deus tem uma causa para tantas desgraças, porém, diante de tamanha acusação, Jó declara sua confissão de fé: “porque eu sei que o meu Redentor vive e por fim se levantará sobre a terra. Depois, revestido este meu corpo da minha pele, em minha carne verei a Deus. Vê-lo-ei por mim mesmo, os meus olhos o verão, e não outros; de saudade me desfalece o coração dentro de mim” (Jó 19.25-27). Essa declaração encontraria pleno vigor milênios depois em Cristo.
Jó tinha um conhecimento íntimo de que ele possuía um redentor. Futuramente, esse termo seria usado para se referir aquele que resgata a dívida de alguém (Lv 25.25,26). Esse Remidor é pessoal (meu redentor –  גֹּ֣אֲלִי ) e específico que, mesmo futuro, tem implicações na sua vida presente e quanto mais a nós que vivemos nos últimos dias (At 2.17), de forma mais vívida do que Jó precisamos reconhecer que ele vive, ou seja, não é uma ideia abstrata com pouca relevância prática em nossas vidas.
O tempo de ação desse Redentor se daria “no fim”, todavia, o que era escatológico para Jó é a realidade fundamental de nossas vidas. A sua atitude de “se levantará” implica julgamento. Dessa maneira, Jó está afirmando que o julgamento de seus amigos é distorcido em relação Àquele que o julgará no fim. Mostra que não adianta ser amado pelos homens e ser odiado por Deus. Independente da classe social ou do poder político-econômico, aqueles que não estiveram em Jesus clamarão no derradeiro dia: “Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro” (Ap 6.16).
No séc. I da era cristã, algumas pessoas partindo do pressuposto de que o corpo era mau e essencialmente ligado ao pecado começaram a defender que Jesus não poderia ter um corpo real, mas apenas aparente. Esses hereges eram chamados de docetistas que vem do verbo grego dokéo (δοκέω), que significa parecer, pois acreditavam que se Cristo era Deus não podia sofrer de forma real. Não é à toa que o Credo Apostólico enfatiza que ele nasceu da virgem Maria.
Para muitas pessoas ainda é difícil compreender que “foi ele [Jesus] tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb 4.15). O pecado não faz parte da essência da criação, mas Le é um acidente. Wolters[7] compara a ação do pecado na criação a uma criança que contrai uma doença na infância, por isso, a criança se desenvolve paralela a doença que possui e, assim, não se consegue perceber todo o seu potencial, porque a enfermidade utiliza-se de sua força para sobreviver. A criança sendo curada passa a desenvolver-se plenamente. A doença é o pecado e a cura é Cristo. Jesus mostra que é possível viver sem pecar e nos compartilharemos dessa realidade na regeneração.
Ainda se nutre a ideia de que a estrutura criada por Deus está invalidada pelo pecado, por isso se luta contra o sexo e não a sua direção, a luxúria. O cristão não deve combater ou destruir as estruturas, mas influenciar biblicamente a sua direção (obediência ou rebeldia) que as pessoas impõem à criação. “O pecado não anula a criação, nem se identifica com ela. Criação e pecado permanecem distintos, no entanto intimamente entrelaçados na nossa experiência”[8].
Walsh e Middleton afirmam: “os cristãos dos últimos dias são chamados para empenharem-se na tarefa de refletir a imagem de Deus como ministros da reconciliação. Essa é a tarefa redentora: é vocação do corpo de Cristo trabalhar em um mundo caído, procurando trazer o perdão, a cura e a renovação do domínio de Deus para cada área da vida”[9].
Jó tem consciência de sua condição física e perdeu toa esperança quanto a continuar a vida, pois afirma que depois de consumida (נקף ) a sua pele” (Almeida Corrigida Fiel-ACF), pois está tomado de tumores malignos da planta dos pés até o alto da cabeça (Jó 2.7) de tal maneira que se raspava-se com um caco de telha (Jó 2.8), todavia ele está mostrando aos seus amigos que apesar de ele não ter mais condições de recuperação para os homens, aquela pela apodrecia pela doença seria restaurada e ele veria a Deus. Todo o sofrimento e humilhações desses dias não tinham mudado seus princípios, tampouco afetado o seu coração.
Defende que verá com seus próprios olhos verão a Deus. Dessa maneira, acredita na ressurreição do corpo e não em um infinito e inútil processo de reencarnação. A convicção de que o corpo não é mal, tampouco uma prisão da alma, mas uma criação boa de Deus que será restaurada definitivamente na segunda vinda de Jesus. Só a ressurreição pode nos dar pleno consolo, porque nos garante um dia estarmos em reconfigurados céus e terra (2Pe 3.13) e não em desencontros reencarnacionistas.
Da mesma maneira como Jó, podemos esperar em Jesus nosso redentor, ou seja, aquele que veio pagar a dívida que nossos primeiros pais contraíram no Éden. Um dia ressuscitaremos em nosso corpo para vivermos em um mundo onde o pecado não mais nos influenciará.




[1] http://www.monergismo.com/textos/bibliologia/canon_anglada.htm. Acessado no dia 1º de abril de 2014 às 12h
[2] ARCHER, G.L. Merece Confiança o Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1984. p.69.
[3] KAISER JR, W.C. O Plano da Promessa de Deus. São Paulo: Vida Nova, 2011, p.65.
[4] Ibidem, p. 138.
[5] HILL, A.E; WALTON, J.H. Panorama do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Acadêmica, 2006, p. 357.
[6] JACKSON, D.R. Clamor por Justiça: o evangelho segundo Jó. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 81.
[7] WOLTERS, A.M. A Criação Restaurada: base bíblica par uma cosmovisão Reformada. São Paulo Cultura Cristã, 2006, p. 67.
[8] Ibidem, p.67.
[9] WALSH, B.J; MIDDLETON, J.R. A Visão Transformadora. São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p.76,78.

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