O Papa e os enganos da
idolatria
“Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos”
(Rm 1.22)
Um
fato que marcou o ano de 2013 e engrossou sua retrospectiva foi a renúncia de
Bento XVI, chefe da fé romana. Os colunistas internacionais e clérigos ficaram
impressionados com esse acontecimento que, apesar de ser possível ao Direito
Canônico (DC, 332.2), desde que seja público, claro e livre, teve seu último
incidente em 1415 com o Papa Gregório XII no Grande Cisma (quando a igreja
possuía vários Papas: um em Roma, outro em Avignon e posteriormente outro em
Pisa).
Os
bispos da fé romana são mais que meros administradores, mas com os padres
(presbíteros), que lhe são subordinados, formam, desde o segundo século, uma
ordem separada do povo: o clero. Essa ordem, regida pelo seu “Sumo Pontífice”
se permite a arrogante autoridade de legislar até sobre o que as Escrituras não
dizem rasgando Deuteronômio 29.29 e se colocando acima da Revelação Específica
de Deus.
O
episcopado compõe a seleta classe daqueles que são os sucessores dos apóstolos
devido a “sucessão apostólica”. Também no segundo século, Irineu de Lião,
escrevendo contra os hereges, afirmou que os apóstolos haviam entregado a
igreja a alguns bispos, que foram instruídos em toda a sã doutrina. Esses
bispos foram seguidos por outros que se formaram uma corrente sucessiva e
continua de guardiões da igreja. Dessa maneira, pensam erroneamente que a
autoridade do ordinário diocesano (bispo) não vem de sua mensagem, mas do
histórico de sua ordenação.
O
Papa nada mais é do que o bispo da cidade de Roma. Nos primeiros séculos da
igreja, existiram quatro grandes dioceses (porção do povo de Deus confiado ao
pastoreio de um bispo com a cooperação de um presbitério): Antioquia,
Alexandria, Jerusalém e Roma. A supremacia do bispo de Roma sobre os demais
bispos como Papa se dá, segundo Latourette (1884-1968), apenas em 494 quando
Gelásio, sucessor de Leão I, bispo romano, afirmou que a igreja de Roma era a
maior de todas as outras por causa da presença de Pedro e Paulo tal como pelo
martírio desses em seu solo.
Até os nossos dias, a
Igreja Católica Apostólica Romana conserva a visão de que o Papa é “o detentor
do poder supremo e pleno sobre a igreja inteira” (Lumen Gentium, 22).
Nessa crença, o Papa é infalível em matéria de doutrina e costume (moral) ou
quando está reunido com o Colégio de Bispos (reunião dos bispos presididos pelo
Romano Pontífice, DC, 336) (DC,
749). Toda essa autoridade do Papa é explicada pelos católicos romanos por meio
de textos como: “tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e
as portas do inferno não prevalecerão contra ela.”(Mt 16.18) e “Simão, filho de
João, amas-me mais do que estes outros? Ele respondeu: Sim, Senhor, tu sabes
que te amo. Ele lhe disse: Apascenta os meus cordeiros” (Jo 21.15).
Entretanto
“esta pedra” de Mateus 16.18, na qual o Senhor edificará sua igreja, não é
Pedro, mas a sua resposta à pergunta do Senhor: “quem diz o povo ser o filho do
homem?”(Mt 16.13b). O fundamento da Igreja não pode ser um homem susceptível a
falhas (veja Mt 16.23), pois não há um justo sequer (Rm 3.10-12), mas na
confissão de Pedro: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16).
Jesus
ressurreto pediu para Pedro apascentar suas ovelhas, mas não como pastor
supremo. O contexto de João 21.15 não é a promoção de Pedro a sumo pastor, mas
o perdão daquele que havia negado o Senhor e estava preste a abandonar o
ministério. O próprio Pedro não se via como Papa, pois, em sua primeira
epístola, se coloca no mesmo patamar dos presbíteros destinatários (5.1),
tampouco foi dada a ele a palavra final no Concílio de Jerusalém (At 15.12-21),
mas a Tiago. Os títulos que a Palavra dá ao Pastor, como Presbítero ou Bispo
não são graus diferentes de autoridade, mas funções diversas (CI/IPB Cap. IV,
art. 30 parágrafo único).
Diferente
dos romanistas, que somam às Sagradas Escrituras a Tradição e veem, no seu
Magistério (bispos e presbíteros), a autoridade para interpretar o Texto
Sagrado (Catecismo da Igreja Católica, 84, 85), não aceitamos nenhum
outro instrumento de autoridade no mesmo nível da Bíblia, tampouco acima dela.
Entendemos que se um dos antigos Apóstolos ou um anjo do céu deve ser maldito
se pregar evangelho que vá além daquele que conhecemos (Gl 1.8). Dessa forma,
mesmo se fosse achado um manuscrito autêntico de Paulo ou Pedro que
contradissesse as Escrituras que temos em mãos, ou se a nossos líderes ou
autoridades civis assim nos mandassem fazer deveríamos estar submissos a
Palavra e não aos homens (At 5.29). O protestante quando promete fidelidade às
autoridades da igreja enquanto elas forem fiéis às Sagradas Escrituras (CI/IPB
Cap III, art. 30 “d”).
A
fé protestante sabe que não é a Igreja que dá autoridade às Escrituras, mas a
Palavra que valida a Comunidade Cristã (CFW, I,4), porque é inspirada por Deus
(2Tm 3.16). Dessa maneira, o homem só encontra salvação quando está unido a Cristo
na observância de sua Palavra e não a uma igreja (como pensavam católicos,
levando em consideração que todo eleito deve congregar assiduamente Hb 10.25),
por isso, Calvino afirma que a sucessão apostólica não é a transmissão de um
poder sobrenatural de um homem a outro, mas a comunicação da doutrina fiel à
Palavra. Uma igreja mostra-se fiel a Cristo não porque seus líderes
historicamente sucedem os Apóstolos, mas se a doutrina pregada é a mesma
sustentada por eles.
O
Protestante não está submisso a um homem que se pavoneia, mas entende que a sua
vida deve estar submissa a orientação bíblica (CFW, I.10), pois, para sermos
verdadeiros servos dos servos de Deus, precisamos servir ao Senhor e não aos
homens e suas tradições (Gl 1.10). Uma igreja fiel possui três características
básicas: pregação fiel da Palavra, administração dos sacramentos segundo a
orientação das Sagradas Escrituras e disciplina segundo a Bíblia para garantir
a paz, a unidade, pureza, ordem e boa administração da comunidade cristã (Código
de Disciplina Cap. II, art.14). A igreja deve ser pastoreada por presbíteros
eleitos por ela (At 14.23;20.28) para que o seu governo siga fielmente as
orientações da Bíblia. Apesar do Catecismo da Igreja Católica afirmar que o
Magistério da Igreja não está acima da Palavra de Deus, mas a serviço dela
(85), na prática não é isso que acontece. O que não acontece no arraial
católico romano.
Todos
os Papas deveriam examinar exaustivamente suas consciências e perceber que a
igreja é muito maior do que a barca de Pedro, porque é o corpo místico do
Senhor Jesus Cristo e reconhecer que todo aquele que, indevidamente, intermédia
Deus aos homens que não pela fiel interpretação da Palavra se faz anti-Cristo e
merecedor das punições do Livro Sagrado (Ap 22.18).
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