A
Providência de Deus e a água de nossas torneiras
Segundo o governador do Estado de São Paulo, Geraldo
Alckmin, vivemos a maior seca dos último 84 anos. Essa realidade alarmante
consumiu nossos reservatórios de água e pegou nossos líderes de calças curtas,
pois obras que poderiam amenizar o problema ainda estão por fazer. Contudo,
essa triste realidade revela alguns problemas essenciais que não podem ser
contemplados com tanta facilidade: não temos poder de fabricar a água, tampouco
de fazê-la cair ao nosso bel prazer. Esse bem tão precioso e vital, muito
desvalorizado nos das de abundância, está diretamente relacionado ao agir
providente de Deus.
A fórmula da água
parece tão simples e banal: dois hidrogênios e um oxigênio, todavia nenhum
alquimista tem o poder de reproduzi-la. A ciência, constantemente, tenta se
elevar às alturas celestiais na sua frágil torre de Babel para desvendar os
mistérios da criação, mas não consegue se voltar a terra e recriar aquilo que
Deus, em sua infinita sabedoria produziu do nada. Mesmo que os especialistas
tenham explicações plausíveis para esse momento, sabemos que o Senhor é aquele
que tem domínio sobre tudo e “faz todas as
coisas conforme o conselho da sua vontade” (Ef 1.11).
Podemos calcular por
quanto se vende um pardal que cai do céu, mas é o Senhor que os conhece e
permite que sejam ou não abatidos (Mt 10.6). Se para as crianças as estrelas
são objetos incontáveis e para o cientista um conjunto de plasma a gravitar
pelo universo, a Bíblia afirma: “[O SENHOR] Conta
o número das estrelas, chamando-as todas pelo seu nome”
(Sl 147.4). Calvino, comentando esse versículo, afirma: “não pode haver maior estultícia do que o fazermos de nosso juízo instrumento
para medir as obras de Deus, que manifesta nelas, como sempre o faz, seu
incompreensível poder e sabedoria”
Deus é tão ilimitado em
poder e entendimento que poderíamos dizer como Davi: “Que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos!
E como é grande a soma deles! Se os contasse, excedem os grãos de areia;
contaria, contaria, sem jamais chegar ao fim”
(Sl 139.17,18)
Diferente dos teístas
(aqueles que negam a providência, porque não acreditam que o Criador possa
intervir no sustento da criação), acreditamos que “Deus sustenta, dirige,
dispõe e governa todas as criaturas, todas as ações delas e todas as coisas,
desde a maior até a menor” (Ne 9.6; Dn 4.34,35; Sl135.6; Mt 10.29-31; Gn 45.5)
(Confissão de Fé de Wetsminster-CFW, V, 1). Reconhecemos que o Senhor exerce
sua providência “para o louvor da glória de sua sabedoria, poder, justiça,
bondade e misericórdia” (Ef 3.10; Rm 9.17) (CFW, V,1).
Diante do agir soberano
de Deus o eleito reconhece a sua sabedoria (Pv 15.3; 2Cr 16.9; Sl145.14-16),
sua infalível presciência (At15.18) e o livre e imutável conselho da sua
vontade (Ef 1.11; Sl33.10,11) (Veja CFW, V, 1) afirmando como Jó (1.21): “Nu saí do ventre de minha mãe e nu voltarei; o SENHOR o
deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o nome do SENHOR”. Todavia o
ímpio, aquele que não teve seu coração aberto pelo chamado eficaz, diante dos
mesmos eventos, só sabe murmurar ou se envaidecer. Não acredita no agir do
Criador, mas na força do seu próprio braço mortal, muito menos consegue
descansar no Senhor, mas se entrega aos medos imoderados e ao poder das
superstições (Veja Institutas, L1,
XVI,3).
Esse momento de
escassez deveria corar de vergonha os cientistas rebeldes que não entenderam
que o Senhor faz “rebentar
fontes no vale, cujas águas correm entre os montes; dão de beber a todos os
animais do campo; os jumentos selvagens matam a sua sede. Junto delas têm as
aves do céu o seu pouso e, por entre a ramagem, desferem o seu canto. Do alto
de tua morada, regas os montes; a terra farta-se do fruto de tuas obras” (Sl 104.10-13).
Calvino
nas Institutas (L1, XVI, 4) afirma: “quando calores imoderados com a seca queimam todos os frutos, e quando
as chuvas extemporâneas corrompem as sementes, e a calamidade súbita irrompe
com granizo e tempestades, então não seria isso obra de Deus, a não ser que as
névoas, o tempo sereno, o frio e o calor tivessem origem no curso dos astros ou
em outras causas naturais. Mas, desse modo, não restaria lugar nem para o favor
paterno de Deus nem para seus juízos”.
Reconhecer
que esse período de seca deve apenas a intensa ação do El Niño (aquecimento das águas do pacífico e diminuição dos ventos
do equador que têm a capacidade de alterar a temperatura do planeta) é
negligenciar o necessário quebrantamento, assim como é reconhecer que estamos a
mercê do acaso. Somente o temor de Deus pode nos fazer usar desse período para
buscarmos mais a Deus reconhecendo nossa pequenez e reconhecermos que tudo está
debaixo do seu cuidado.
Assim
como, nas chuvas moderadas, vemos o agir do Senhor que rega a terra e produz os
mantimentos, igualmente, nas enchentes precisamos visualizar a mão do mesmo
Deus que mostra a sua força disciplinadora convidando o homem a humilhar-se
reconhecendo-se insuficiente. Entretanto essa realidade não pode ser vista
pelos olhos naturais que contemplam apenas a aparência dos fatos, mas pelos
olhos espirituais que enxergam em cada situação da vida o mover dAquele que diz
ao profeta Isaías: “Eu formo a luz e crio
as trevas; faço a paz e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas”
(Is 45.7)
Nossa
atitude deve se pautar pela confiança de que o Senhor, no tempo oportuno, nos
dá o nosso sustento (Sl 104.27), por isso, não podemos nos deixar levar pelas
crendices supersticiosas, tampouco negligenciar nosso papel de mordomos nesse mundo.
Essa escassez de água nos ensina que todos nós (ímpios e justos) esperamos de
Deus e não de nossas forças; não podemos angariar todo o nosso sustento, por
isso, “Inútil vos será levantar de
madrugada, repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeastes; aos seus
amados ele o dá enquanto dormem” (Sl 127.2) e, principalmente, é nosso
dever cuidar desse planeta, pois, tal como no Éden, cabe a nós, como coube ao
nosso primeiro pai, cultivar (o termo usado no hebraico aqui é abad - עָבַד que pertence a mesma família
semântica de escravo [עֶ֫בֶד - ebed], por isso, esse cultivar implica trabalho) e guardar (o termo
hebraico usado aqui é shamar - שָׁמַר que transmite a ideia de exercer
cuidado) o espaço em que fomos colocados pelo Criador (Gn 2.15).
A
água, que nos dias de fartura fluía sem controle, hoje mostra que seu preço vai
além daquele descrito na conta que recebemos mensalmente. Esse bem que não pode
ser produzido por nós e que depende da vontade do Senhor para de fato ser
renovável precisa ser utilizado com a prudência e a razão que só os seres
humanos receberam como dádiva. Portanto, cabe a nós continuarmos pedindo
misericórdia a Deus, porém sabendo descansar na sua providência reconhecendo
que podemos lançar sobre Jesus nossa ansiedade, porque ele tem cuidado de nós
(1Pe 5.7).
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