O CATOLICISMO ROMANO
INTRODUÇÃO
Conhecer o culto e a estrutura de uma religião nos ajuda
a fazer uma justa avaliação sobre e ela e, assim termos os subsídios
necessários para erigirmos um conceito e destruirmos todos os preconceitos. De
fato os preconceitos falam exaustivamente e eles só podem ser corrigidos pelo
exaustivo estudo. Sobre esse aspecto Greschat (2005, p. 126) afirma:
Quanto menos
sabemos a respeito de uma coisa, mais seguros nos sentimos em nossa avaliação a
seu respeito. Quanto melhor conhecemos, porém, mais cuidadosos são nossos
julgamentos, uma vez que o elemento conhecido possui diversos lados que, por
vezes, se contradizem. Comparações aprofundam nosso conhecimento, levam novos insights
Nenhum conhecimento pode partir de outro ponto de vista a
não ser daquele que observa. Dessa maneira, o observador que vai até o seu
objeto de estudo, com o intuito de conhecê-lo, o faz com relativa
imparcialidade, sobre as ferramentas teóricas que possui e, terminado esse
processo gnosiológico, possui material capaz de entender melhor o outro e a si
mesmo. No acréscimo de conhecimento sobre uma religião que não é a nossa
ganhamos novos insights sobre a nossa
própria maneira de cultuar.
Os teólogos utilizam as informações das ciências da
religião para direcionar a atividade apologética e dar maior precisão as
argumentos utilizados. Mesmo que Greschat afirme: “muitos cientistas da
religião ficariam gratos se os resultados de seu trabalho não fossem usados
abusivamente como munição contra outras religiões” (GRESCHAT, 2005, p. 126).
Paulo ficou revoltado no espírito ao ver Atenas entregue
a idolatria (At 17.16), porém podemos perceber que seu natural distanciamento
da religião pagão no o impediu de compreender sua teologia e inclusive sua
literatura, mas não par seu deleite, tampouco porque a verdade da Palavra seja
insuficiente, mas para saber como expor e aplicar a Palavra a determinada
cultura.
Portanto, nesse trabalho temos como objetivo expor as
questões mais básicas do catolicismo romano, ou seja, como lida com a liturgia,
a hierarquia, as devoções, a Revelação, os Sacramentos, o perdão, e dar ênfase
ao sacramento da Eucaristia.
I.
A
Liturgia: celebração do mistério pascal
A própria palavra liturgia significa serviço sagrado e
para a fé romana. Segundo o documento conciliar, Sacrosanctum Concilium (2), é na liturgia que se opera o fruto da
redenção, ou seja, nela se atualizaos beefícios do sacrifício de Cristo. Sobre
esse aspecto o Catecismo da Igreja Católica (1104) afirma:
A liturgia
cristã não somente recorda os acontecimentos que nos salvaram, como também os
atualiza, tornando-os presentes.
O ministério pascal de Cristo é
celebrado, não é repetido; o que se repete sãos as celebrações; em cada
uma delas vem sobrevém a efusão do Espírito Santo que atualiza o único mistério
Dessa maneira, nenhuma ação litúrgica se orienta pela
beleza ou pelo pragmatismo, mas com o intuito de comunicar os sinais sensíveis
traz no seu interior para que, assim, os fiéis possam contemplar seus sinais
invisíveis. O próprio Bento XVI, tratando sobre essa questão, na Encíclica Sacramentum Caritatis, afirma que a
melhor maneira do povo participar ativamente da liturgia é zelando pela sua
arte, ou seja, a maneira fiel de celebrá-la.
A celebração litúrgica deve ser bela, todavia sua
estética não é orientada pelo padrão dos tempos e das culturas, mas no
esplendor da verdade. Bento XVI (35) afirma:
A
relação entre mistério acreditado e mistério celebrado manifesta-se, de modo
peculiar, no valor teológico e litúrgico da beleza. De facto, a liturgia, como
aliás a revelação cristã, tem uma ligação intrínseca com a beleza: é esplendor
da verdade (veritatis splendor). Na liturgia, brilha o mistério pascal,
pelo qual o próprio Cristo nos atrai a Si e chama à comunhão.
De acordo com o mesmo Sacrosanctum
Cocilium, é na celebração litúrgica, que, por ser humana, se apresentam
sinais visíveis e, por ser divina, mostram-se sinais invisíveis para a
contemplação dos fieis. Se a relação entre esses sinais estão vinculados a arte
da celebração, todo processo de inculturação do rito precisa estar submissa às
orientações do missal romano.
O responsável por zelar pela liturgia na igreja é o
Bispo, o ordinário diocesano, de tal maneira que os padres conciliares
afirmaram:
O Bispo deve
ser considerado como o sumo-sacerdote do seu rebanho, de quem deriva e depende, de algum
modo, a vida de seus fiéis em Cristo. Por isso, todos devem dar a maior
importância à vida litúrgica da diocese
que gravita em redor do Bispo, sobretudo na igreja catedral. (Sacrosanctum Concilium, 41)
Dessa maneira, toda inculturação que não seja orientada e
supervisionada pelo Bispo diocesano é herética e arbitrária e seus
idealizadores estarão sujeitos a admoetações. A esse respeito afirma o Código
de Direito Canônico (CIC[1]) (Cân. 528 § 2):
Vele o pároco por que a
santíssima Eucaristia seja o centro da Sqüência paroquial dos fiéis; trabalhe
para que os fiéis se alimentem pela devota celebraS dos sacramentos e que de
modo especial se aproximem com Sqüência dos sacramentos da santíssima
Eucaristia e da penitência; esforce-se de igual modo ainda por que os mesmos
sejam levados à prática da oração também em família, e tomem parte consciente e
activa na sagrada liturgia, que o pároco, sob autoridade do Bispo diocesano,
deve orientar na sua paróquia, e na qual está obrigado a vigiar para que
subrepticiamente se não introduzam abusos.(grifo nosso)
A liturgia fielmente celebrada fortalece os indivíduos
que dela participam com o corpo místico como um todo, que, unido a sua cabeça,
Cristo, se dirige ao Pai Eterno.
A Igreja Católica Apostólica Romana celebra ao longo do
ano a memória da sagrada salvação, por isso, quatro semanas antes do natal
inicia o ano litúrgico com o advento, passa pelo natal, o tempo comum, a
páscoa, a festa do pentecostes, o tempo comum e termina com a celebração de
Cristo rei do universo.
O ápice da celebração é o mistério pascal de Cristo, por
isso, como veremos a Eucaristia pode estar em todos os momentos da via da igeja
e não uma ato da igreja que não leve o fiel a adoração do Cristo vivo no
sacramento do altar.
II.
A
Hierarquia da Igreja: o primado do bispo de Roma e a sucessão apostólica
A Igreja Católica Apostólica Romana, segundo o documento
conciliar Lumen Gentium (20),
acredita que Jesus deu a Pedro o múnus e apascentar a igreja e este foi
transmitido sucessivamente ao longo dos anos e exercido pela ordem dos Bispos,
o que pode ser claramente visto nas palavras do próprio documento: “Ensina, por
isso, o sagrado Concílio que, por instituição divina, os Bispos sucedem aos
Apóstolos, como pastores da Igreja; quem os ouve, ouve a Cristo; quem os
despreza, despreza a Cristo e Aquele que enviou Cristo (cfr. Luc. 10,16)” (Lumen Gentium, 20).
Os Bispos recebem pela sucessão apostólica a tarefa de
apascentar a igreja o que se dá no serviço de santificá-la, ensiná-la e
governá-la (o tríplice ministério), porém nunca de forma independente ou rebele
ao sucessor de Pedro e cabeça do colégio episcopal (CIC, Cân. 375).
O Código de Direito Canônico entende o Bispo de Roma da
seguinte maneira:
O Bispo da
Igreja de Roma, no qual perdura o múnus concedido pelo Senhor singularmente a
Pedro, primeiro dos Apóstolos, para ser transmitido a seus sucessores, é a cabeça
do Colégio dos Bispos,
Vigário de Cristo e aqui na terra Pasto da Igreja universal; ele, pois, em
virtude de seu múnus, tem na Igreja o poder ordinário supremo, pleno, imediato
e universal, que pode sempre exercer livremente. (CIC, Cân. 331, grifo nosso)
A igreja interpreta que Jesus, no Evangelho de Mateus
16.18, na expressão: “tu S Petrus et
super hanc petram aedificabo ecclesiam meam et portae inferi non praevalebunt
adversum eam”[2],
como se Jesus tivesse dado singularmente a ele a autoridade de reger a igreja
que está firmada nele, o que pode ser confirmado (no pensamento da fé romana)
em João 21.15-17.
O poder papal é ordinário, ou seja, não cessa com ela mas
segue uma ordem, por isso, o Papa Francisco é 266º papa da Igreja. A autoridade
do Papa é suprema, ou seja, ela não pode ser questionada por nenhum órgão
superior, nem mesmo sua vontade de renunciar ao múnus pode ser questionada se
for livre e publicamente manifesta (CIC, Cân.332 § 2).
O papa não precisa de meios para exercer
poder, tampouco está restrito (pela jurisdição eclesiástica) a nenhum
território específico, logo é Papa até dos pagãos ou daqueles que não
reconhecem sua autoridade.
A partir dessa concepção o Papa Francisco se sentiu
a vontade para enviar uma mensagem aos líderes evangélicos reunidos no Texas ou
entrar em uma Igreja Assembleia de Deus na Comunidade de Manguinhos rezando o
Pai-Nosso em visita ao Brasil pela Jornada Mundial da Juventude em 2013.
O Papa quando se pronuncia ex cathedra, ou seja, “ato definitivo
que tem de ser aceite uma doutrina acerca da fé ou dos costumes” é infalível,
assim como os Bispos reunidos em Concílio Ecumênico (CIC, Cân. 749 e
parágrafos). Dessa maneira, o papa pode ter opiniões pessoais falíveis, assim
como pode falhar ao falar de ciência ou geografia (como a igreja falhou na
Idade Média e Moderna), mas quando assume falar como Papa com o firme propósito
de definir um problema restrito à fé e a moral ele é assistido de caráter
infalível.
De fato essa doutrina se torna cada vez mais
extravagante em mundo que não aceita nenhum tipo de autoritarismo de tal
maneira que, em entrevista no avião que o levava do Brasil para a Europa em
2013, disse: “Se uma pessoa é gay e procura Deus
e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-lo”. Com certeza a diplomacia
requerida do Cardeal Bergóglio leva-o a ter cuidado em questões de moral que
poderia julgar e definir, assim esse pronunciamento do Papa no avião não é
infalível, porque é pessoal.
O documento conciliar Lumen Gentium (22) entende o Papa como vínculo da unidade, da
caridade e da paz, de tal forma que toda a igreja está segura de seu pastoreio
e os demais bispos só pertencem ao colégio apostólico em comunhão com o Servo
dos Servos de Deus.
Os Bispos regem suas respectivas dioceses ou
Arcebispos[3] em suas
arquidioceses, ou seja, da igreja particular e trabalha para a edificação do
rebanho auxiliado pelos presbíteros(padres) e diáconos. A esse respeito o
Cerimonial dos Bispos (10) afirma:
O Bispo exerce o governo da Igreja
particular que lhe está confiada, não somente por meio de conselhos, persuasões
e exemplos, mas também usando da autoridade e do poder sagrado que recebeu pela
ordenação episcopal para edificar o próprio rebanho na verdade e na santidade.
“Os fiéis, por seu lado, devem aderir ao seu Bispo, como a Igreja adere a Jesus
Cristo e Jesus Cristo ao Pai, de modo que todas as coisas concorram para a
unidade e cresçam para glória de Deus.
A palavra cardeal vem do latim cardo, cardinis que significa eixo ou gonzo, o que revela muito de
sua própria função, pois constitui o colégio peculiar de sua santidade podendo ser
convocado para decidir assuntos de interesse da Santa Sé ou em Conclave para
eleger o Sumo Pontífice.
III.
As
devoções: Maria mãe da igreja
A Igreja Católica Apostólica Romana acredita na
intercessão dos santos e os dedica especial veneração. Apesar do imaginário
popular canonizar diversas pessoas como a Menina Izildinha, Padre Cícero ou
Padre Donizete, o Código de Direito Canônico (Cân. 1187) afirma: “só é lícito venerar com culto público os
servos de Deus, que foram incluídos pela autoridade da Igreja no álbum dos
Santos ou Beatos”.
A igreja entende que no seu culto e lícito prestar honra
aos santos, pois entende que dessa forma fomenta a santificação das pessoas
(CIC, Cân. 1186), ou seja, o fiel lendo a hagiografia de um determinado santo
sente-se inspirado a ser fiel a Cristo e a Igreja tal como ele foi.
Quando um homem ou uma mulher devidamente incluído no
álbuns de santos ou beatos pelo Santo Padre é reverenciado na celebração
litúrgica isso recebe o nome de dulia (palavra que vem do verbo grego Δουλεύω: ser escravo, servir, obedecer), quando a virgem
Maria é venerada sempre de forma mais especial recebe o nome de hiperdulia
(implica uma servidão maior e mais especial), a latria (palavra
que vem do verbo grego Λατρεύω: ser mercenário, servir,
adorar) só e dada a Deus.
Entretanto na prática cotidiana
a igreja às vezes tem de fazer vistas grossas para não condenar uma série de
atitudes da religiosidade popular que burlam seu próprios preceitos, haja
vista, que um católico humilde e expremamente devoto de Santa Rita de Cássia
pode precedê-la a Deus. O Cerimonial dos Bispos traz como uma de suas
celebrações (neste caso paralitúrgica) a coroação de Maria.
A veneração para com as imagens da Bem-aventurada Virgem Maria
manifesta-se de modo peculiar, ornando com a coroa real a cabeça da Virgem
santa e, se for o caso, também a de seu Filho. Com este rito, os fiéis
professam que a Santíssima Virgem, elevada à glória celeste em corpo e alma, é
com razão considerada e invocada como Rainha, sendo como é Mãe e Cooperadora de
Cristo, Rei do Universo, que, com o seu precioso sangue adquiriu todos os
povos em herança. (Cerimonial dos Bispos, 1033, grifo nosso)
A propósito a ideia de que Maria foi assunta e coroada é
um dogma mariana sem viabilidade Escriturística e que foi legitimado ex cathedra por Pio XII em 1950, na
Encíclica Munificentissimus Dei,
na qual diz:
A
augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde
toda a eternidade ‘com um único decreto’ de predestinação, imaculada na sua
concepção, sempre virgem, na sua maternidade divina, generosa companheira do
divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas
conseqüências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que
fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu divino
Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como
Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17)
Esse devocionalismo, muitas vezes, caminha paralelo a
igreja sendo praticado especialmente por aqueles mais humildes. Quem não se
recorda da obra O Pagador de Promessa
de Dias Gomes, que narra a saga de Zé do Burro para pagar sua promessa a Santa
Bárbara na igreja de salvador, porém encontra resistência do Padre, porque, na
falta de imagens da santa d devoção nas igrejas firma a promessa de levar uma
cruz tão pesada como de Cristo por sete léguas.
As idas e vindas internas e externas
das grandes instituições religiosas descartam a ideia de uma evolução linear
porque está na essência da religião o esforço no sentido do eterno retorno as
suas origens místicas, assim como para a manifestação de uma ordem sempre
ameaçada pelo caos (Mendonça in TEIXEIRA, 2008, p. 126).
Podemos perceber, como Wolters (2006, p.99), que a
atenção do catolicismo é o exterior e, por isso, lega-lhe ritos que visam
consagrar coisas, animais e pessoas no intuito de tornar santo.
IV.
A
Revelação: a Palavra e a Tradição
O documento conciliar Dei
Verbum (9) entende que a Palavra de Deus e a Tradição da Igreja procedem da
mesma fonte divina e, por isso, tendem para o mesmo fim. Dessa maneira, ambas
devem ser recebidas com igual reverência, porque, como vimos anteriormente, o
Papa e os Bispos em concílio são infalíveis, tal como a Palavra.
A igreja detém a autoridade última na interpretação do
texto sagrado (Dei Verbum, 12), por
divino mandato e ministério. Os teólogos podem proceder suas pesquisas, mas
desde que estejam submissos a autoridade última da Santa Sé.
A mesma coisa acontece quanto às traduções. Apenas a
autoridade eclesiástica competente pode ceder autorização para publicar
traduções vernáculas até mesmo contando com a ajuda dos irmãos separados. A
esse respeito o Código de Direito Canônico (Cân. 825 § 1) afirma:
Os livros das sagradas Escrituras não
podem ser editados sem aprovação da Sé Apostólica ou da Conferência episcopal;
do mesmo modo, para serem editadas as versões dos mesmos nas línguas
vernáculas, requer-se a aprovação da mesma autoridade, e devem ainda ser
anotados com explicações necessárias e suficientes.
A igreja Católica Apostólica Romana incentiva os clérigos
e sobretudo os scerdotes, diáconos e catequistas a se consagrarem ao ministério
da Palavra estudando-a exaustivamente (Dei
Verbum, 25), pois, como afirma Jerônimo, “a ignorância das Escrituras é a
ignorância do próprio Cristo”, todavia seu ensino deve ser ministrado de modo
seguro para ser útil e penetrar o espírito (Dei
Verbum, 25).
Especialmente no sacrifício da missa[4], há duas mesas que servem
em abundância o povo: a mesa da Palavra e a mesa de Eucaristia. Nessa
celebração litúrgica
V.
Os
Sacramentos: sinais visíveis da graça de Deus
Segundo o Catecismo da
Igreja Católica (774), a palavra grega μυστήριον (mysterion) foi traduzida no latim por sacramentum, assim o sacramento
“exprime mais o sinal visível da realidade escondida da salvação” e servem como
sinais e instrumentos pelos quais o Espírito Santo age. A própria Igreja serve
como sacramento de Cristo, porque de maneira visível liga Deus ao homem
(Catecismo da Igreja Católica, 775)
Dessa maneira, percebemos
que os sacramentos são símbolos que acompanham o indivíduo por toda a sua vida:
o Batismo, a Confissão, a Eucaristia, o Crisma, a Ordem, o Matrimônio e a Unção
dos Enfermos, assim do nascimento a morte a igreja promove a essa íntima
relação do homem com Deus. Não podemos nos esquecer que eles são celebrados in persona Christi, ou seja, quando os
pais trazem à Igreja o filho para o batismo é o próprio Cristo quem procede
esse rito e o mesmo acontece em todos os outros sacramentos que são da igreja e
acontecem por meio dela (Catecismo da Igreja Católica, 1118). O documento
conciliar Lumen Gentium (7) afirma:
O filho de
Deus, vencendo, na natureza humana a Si unida, a morte, com a Sua morte e
ressurreição, remiu o homem e transformou-o em nova criatura (cfr. Gál. 6,15; 2
Cor. 5,17). Pois, comunicando o Seu Espírito, fez misteriosamente de todos os
Seus irmãos, chamados de entre todos os povos, como que o Seu Corpo.É nesse
corpo que a vida de Cristo se difunde nos que crêem, unidos de modo misterioso
e real, por meio dos sacramentos, a Cristo padecente e glorioso
Dos sete sacramentos o mais
importante é a Eucaristia, porque, segundo Bento XVI, no Sacramentum Caritatis(17), “é fonte e ápice da vida e missão da
igreja”. Por meio desse sacramentos fieis expressam visivelmente a unidade da
igreja (Lumen Gentium, 11). O
documento conciliar Sacrosanctum
Concilium (10) afirma:
[...]
pela renovação da aliança do Senhor com os homens na Eucaristia, e aquece os
fiéis na caridade urgente de Cristo. Da Liturgia, pois, em especial da
Eucaristia, corre sobre nós, como de sua fonte, a graça, e por meio dela
conseguem os homens com total eficácia a santificação em Cristo e a
glorificação de Deus, a que se ordenam como a seu fim, todas as outras obras da
Igreja.
Segundo o Código de Direito
Canônico (Cân. 844), “Os ministros católicos só
administram licitamente os sacramentos aos fiéis católicos, os quais de igual
modo somente os recebem licitamente dos ministros católicos”.
VI.
O
Perdão: a igreja dispenseira das bênçãos de Deus
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (1849), o pecado é
uma falta contra a razão e é uma falta contra Deus e contra o homem e fere a
ntureza do homem. O endurecimento do coração (a ignorância voluntária) não
atenua o pecado, mas o agrava (1859). Todavia a ignorância involuntária pode
ser considerar como um oitavo sacramento devido a sua eficácia em salavar.
A ignorância involuntária pode
diminuir ou até escusar a imputabilidade de uma falta grave, mas supõe-se que
ninguém ignora os princípios da lei moral inscritos na consciência de todo ser
humano. Os impulsos da sensibilidade, as paixões podem igualmente reduzir o
caráter voluntário e livre da falta, como também pressões exteriores e
perturbações patológicas. O pecado por malícia, por opção deliberada do mal, é
o mais grave. (Catecismo da Igreja Católica, 1860).
A Igreja Católica Romana faz gradação do pecado como pecado
mortal (infração grave da lei de Deus) e venial (deixa substituir a caridade).
Segundo o Catecismo da Igreja Católica (1865, 1866), S.
João Cassiano e S. Gregório Magno perceberam que o pecado cria propensão ao
pecado e, assim, existem alguns vícios podem nascer da repetição dos mesmos
pecados que são chamados capitais: orgulho, a avareza, inveja, a ira, a
impureza, a gula, a preguiça ou acídia.
VII.
A
Eucaristia: a presença real de Cristo no altar
A missa é propriamente um sacrifício incruento (não há
sangue), mas, como vimos anteriormente, é atualizado pela liturgia de tal
maneira que faz os participantes vivenciarem o mistério. A Igreja Católica acredita
que quando o celebrante profere as palavras que Jesus usou na sua última ceia o
pão e o vinho mudam a sua essência em corpo e sangue de Jesus, o que é chamado
de transubstanciação. O Catecismo da Igreja Católica (1376) repete a resolução
de Trento:
“[...] pela
consagração do pão e do vinho opera-se a mudança de toda a substância do pão na
substância do Corpo de Cristo Nosso Senhor e de toda a substância do vinho na
substância do seu Sangue;
esta mudança, a Igreja católica denominou-a com acerto e exatidão transubstanciação’”
Segundo Berkhof (2001, p. 596), no decorrer da Idade
Média o conceito realista da ceia foi se convertendo na ideia de
transubstanciação que foi proposto em 818 Paschasius Radbertus e encontrou
grande oposição de Rabanu Maurus e Ratramnus. Segundo McGrath (2005, p.
590,591), essa disputa que se da no mosteiro de Corbie entre Radbertus e
Ratramnus e suas obras como títulos idênticos De corpore et sanguine
Christi. Aquele concluiu sua obra em 844 em que defendia a ideia de que o pão e
vinho se tornavam corpo e sangue de Cristo, enquanto este a presença apenas
simbólica do Senhor. Macgrath, citando Paschasius afirma:
“O mesmo Espírito que criou o ser
humano Jesus Cristo no ventre da virgem, sem contar com a semente humana, cria
diariamente o corpo e o sangue de Cristo, por intermédio de seu poder
invisível, pela consagração desse sacramento, mesmo que isso possa ser
compreendido extremamente pela visão ou pelo sabor” (Paschasius Radbertus apud
MCGRATH , 2005, p.591)
Bento XVI, na Encíclica Sacramentum Caritatis (11), expõe uma visão escatológica da
transubstanciação:
A conversão substancial do pão e do
vinho no seu corpo e no seu sangue insere dentro da criação o princípio duma
mudança radical, como uma espécie de ‘fissão nuclear’ (para utilizar uma imagem
hoje bem conhecida de todos nós), verificada no mais íntimo do ser; uma mudança
destinada a suscitar um processo de transformação da realidade, cujo termo
último é a transfiguração do mundo inteiro, até chegar àquela condição em que
Deus seja tudo em todos (1 Cor 15, 28)
A fissão nuclear consiste em separar o núcleo dos átomos,
o que gera uma reação em cadeia, porque em uma fissão são liberados nêutrons
que se encontrarão em outros núcleos promovendo sua fissão e assim
sucessivamente. O que Bento XVI quis dizer é que na consumação do sacramento da
Eucaristia acontece uma ruptura com esse mundo, o que proporciona um antegozo
das realidades celestiais.
Essa realidade fornece subsídio a constante adoração a
esse sacramento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo do catolicismo romano se mostrou intenso e cheio
de detalhes que nos levam a um diálogo mais intenso e efetivo no processo
evangelístico. Esses detalhes precisam ser vistos com respeito, mas não deixa
de nos municiar na formulação fundamenta de argumentos coerente e relevantes.
BIBLIOGRAFIA
Catecismo da Igreja Católica.
São Paulo: Edições Loyola, 2000.
Código de Direito Canônico.
São Paulo: Edições Loyola, 2001.
GRESCHAT,
H.J. O que é Ciência da Religião.
Trad.: Frank Usarski. São Paulo: Paulinas, 2005.
TEIXEIRA,
F. (org.) A(s) Ciência(s) da religião no
Brasil. 2. ed. São Paulo: Paulinas, 2008.
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19631204_sacrosanctum-concilium_po.html.
http://www.vatican.va/archive/hist_councils/ii_vatican_council/documents/vat-ii_const_19641121_lumen-gentium_po.html
http://www.vatican.va/holy_father/pius_xii/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus_po.html
[1] A sigla para Código de Direito
Canônico é CIC de Codex Iuris Canonici.
[2] “tu és Pedro, e sobre esta pedra
edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Almenida Revista e Atualizada)
[3] O
arcebispo preside uma província eclesiástica (CIC, Cân. 435).
[4] “Na antiguidade, o termo ‘missa’ significava simplesmente ‘despedida’;
mas, no uso cristão, o mesmo foi ganhando um sentido cada vez mais profundo,
tendo o termo ‘despedir’ evoluído para ‘expedir em missão” (Bento XVI, 2009, p.
76)
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