A falsa certeza da prosperidade
Vivemos em um
mundo que foge de todo e qualquer sofrimento. Proliferam em todos os lugares
igrejas que prometem, em nome de Deus, uma vida fácil e abastada. Muitos Cristãos
ligam a bênção do Altíssimo à aquisição de bens materiais.
O muito ter não
é sinal da bênção de Deus sobre a vida, pois todo o esplendor de Herodes não o
impediu e até o encaminhou a ser comido de vermes (At 12.21). Se nossa vida
cristã não estiver centrada no Senhor onde há delícias eternas (Sl 16.11),
somos os mais infelizes de todos os homens (1Cor 15.19). Jesus nos advertiu que
deveríamos acumular tesouros no céu e não na terra, pois, enquanto os de cá são
passíveis a ação da traça, ferrugem ou almejados por ladrões, os de lá estão
seguros no Senhor (Mt 6.20) em quem “não pode existir variação ou sombra de
mudança” (Tg 1.17). O cristão precisa desejar a “herança incorruptível, sem
mácula, imarcescível, reservada nos céus” (1Pe 1.4).
Zaqueu, depois
de sua conversão não se tornou mais rico, porém mais pobre aos olhos do mundo,
pois decidiu doar metade de seus bens e devolver quatro vezes a quem a acaso tivesse
defraudado (Lc 19.8). O pequeno Publicano de Jericó, mais de abnegado que o
jovem rico, não foi justificado por sua doação ou justiça, pois somos salvos
pela graça (Ef 2.5), contudo o seu desprendimento para com as riquezas mostra
que a luz do Evangelho entrara em sua vida para iluminar os cantos mais
escuros, mostrar seus pecados mais íntimos e forçar o abandono dos ídolos mais
arraigados.
Como Moisés bem
constatou (Ex 32.18), o clamor de um povo imerso na idolatria e na paixão
perniciosa por este mundo caído não é guerra, nem derrota, mas festa vã que
desagrada o Senhor
Diversos
Cristãos, no mundo todo, usam de forma errada suas orações para esbanjar em
prazeres mundanos esquecidos de que aqueles que são amigos do mundo são
inimigos de Deus (Tg 4.3,4).
A fé Reformada
sempre ensinou que em nossas igrejas há dois tipos de pessoas: aquelas que
pertencem apenas ao rol de membros comungantes e aquelas que pertencem ao rol
de membros nesta igreja na terra e têm seus nomes inscritos no livro da vida. A
teologia entende que há uma igreja visível que consiste em todas as pessoas que
pertencem a congregação, contudo existe uma igreja invisível, vista apenas por
Deus em sua glória.
Devemos viver
como pessoas que fazem parte da igreja invisível. Nossa vida, como membros de
igreja, deve ser marcada pela concórdia e o esforço para garantir a paz (Fl 4.2,3)
com todos (Rm 12.18), porque fazemos parte de uma mesma igreja que não possui
placa ou denominação e que está no céu em perpétua adoração ao Cordeiro.
Naturalmente, o
mundo, que elegeu o capital como seu deus supremo, não se contentará com uma
pregação capaz de levar o fiel a viver “contente em toda e qualquer situação”
(Fl 4.11). Ele não permitirá que as pessoas pensem que podem ser felizes na
pobreza, humilhação, fome ou escassez, tampouco que relação delas com Cristo seja
inabalável mesmo nas circunstâncias mais adversas (Rm 8.35). O ímpio jamais
compreenderá como o crente zeloso pode enfrentar problemas diversos alegre (Tg
1.2) e confiante de quem o fortalece é o Senhor (Fl 4.13) em quem ele é mais
que vencedor (Rm 8.37).
Igrejas
corruptas e corrompidas nascem, porque o homem não suporta a sã doutrina e,
assim, busca cercar-se de mestres que pregam segundo suas cobiças (2Tm 4.3).
Entretanto Deus, que é livre para operar pelos meios diversos, sem eles, sobre
eles ou contra eles segundo sua vontade (CFW V, 3), toma para si o seu povo
desses arraiais, aparentemente, entregues a idolatria e a perdição para
faze-los assentar nas regiões celestiais em Cristo Jesus (Ef 2.6).
A igreja fiel
pode ser conhecida em três aspectos: a fiel pregação da Palavra; a fiel
administração dos sacramentos e na disciplina segundo as Escrituras. Nesses
lugares a pregação terá como objetivo mostrar ao crente que o seu maior
problema é o pecado que, pela cobiça, gera morte (Tg 1.15).
Ouvindo essa
pregação o crente será exortado a ir a Cristo e depositar seu pecado aos pés da
Cruz, contudo não sairá dela sem passar por um processo de santificação que
exige renuncia constante do mundo e seus atrativos. O pecador regenerado
passava a compreender que vive neste mundo, mas não pertence a ele.
Há riquezas
eternas para serem desfrutadas aqui nesta vida e no porvir a todos os que
passam pela porta estreita e têm Cristo como seu único e verdadeiro caminho. Esse
tesouro bendito não está recheado de ouro e prazeres temporais, mas da gloriosa
providência do Senhor que, com sua boa mão, nos conduz às campinas verdejantes
e às águas de descanso, mesmo que tenha que usar seu bordão e seu cajado para nos
puxar do abismo ou bater em nossas pernas para não perdermos a ininterrupta
marcha dos santos rumo à Jerusalém celeste.
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