RESUMO DA BIOGRAFIA DO
REVERENDO JOSÉ MANOEL DA CONCEIÇÃO
Essa é uma obra assinada pelo Reverendo Boanerges Ribeiro
e não pode ser ignorada pelas poucas páginas, pois concentra uma visão arguta
da vida de um dos grandes pastores de nossa denominação. Também não é uma
produção hagiográfica marcada pelo lendarismo, mas um texto histórico marcado
pela fidelidade aos fatos devidamente relatados em suas fontes.
Esse texto, além dos subsídios históricos que incrementam
nosso conhecimento e compreensão de como se deu, no princípio, o
desenvolvimento da Igreja Presbiteriana do Brasil, também é um material que
deve fomentar o evangelismo centrado na Palavra.
RIBEIRO, B. José Manoel da Conceição e a Reforma Evangélica. São Paulo: O
Semeador, 1995.
José Manoel da Conceição (JMC) nasceu na cidade de São
Paulo em 11 de março de 1822, filho de Manuel da Costa Santos, português,
canteiro e Cândida Flora de Oliveira Mascarenhas, carioca, neta de açorianos.
Foi batizado na Sé em São Paulo em 24 de março de 1822, sendo seu padrinho seu
tio-avô, Padre José Francisco de Mendonça.
Parece ao Rev. Boanerges Ribeiro, biógrafo de JMC, que
Cândida Flora tenha morrido quando o seu filho era pequeno, por isso, o pai o
deixou o o Padre Mendonça de quem José Manoel diz: “O padre José Francisco de
Mendonça, irmão de meu avô, Manuel Francisco de Mendonça, criou-me e
educou-me”. Dessa maneira o padrinho exerceu grande influência sobre eu
afilhado.
Padre Mendonça consciencioso quando aos dogmas da igreja,
enérgico em suas obrigações e instruído, pois era dono de uma bela caligrafia,
tal como foi requisitado por seus superiores para fazer um estudo geográfico e
toponímico da cidade de Sorocaba onde exercia o sacerdócio.
José Manoel estudou as primeiras letras e Sorocaba, no
Catecismo de Montpellier profundamente marcado pelo Jansenismo. Depois do
ensino infantil começou a aprender latim com o Padre José Gonçalves, que lhe
colocou à mão autores como César, Ovídio, Horácio e Virgílio. Começou a ler a
Bíblia aos 18 anos e é influenciado por Carlos Leão Bailot, pintor francês que
conhecia a Bíblia e decorava a Matriz de Sorocaba.
Segundo Boanerges (1995, p. 18), em uma época que não
havia seminário, no Brasil, um candidato ao sacerdócio entre1840 e 1842 os
cursos preparatórios, antes do Governo nomear professores, eram oferecidos na
Sé ou na casa dos professores. Depois da nomeação passaram a ser oferecidos
anexo a Academia Jurídica, na qual José Manoel, talvez tenha conhecido o professor
de história protestante Julio Frank.
No Largo de São Francisco, foi aluno do professor
Francisco de Paulo Oliveira que mesclava Kant e Antônio Genuvesi, também de
Idelfonso Xavier Ferreira, que as 20 anos deu viva a Dom Pedro I como imperador
do Brasil.
No dia 30 de abril de 1842, José Manoel foi aprovados nos
exames episcopais e foi tonsurado e ordenado sub-diácono. Nessa época, Padre
Mendonça, com 67 anos, foi convocado com seu afilhado a depor em um inquérito
policial contra Diogo Antônio Feijó, mas em nada o prejudicaram. Tio e sobrinho
também estiveram envolvidos como signatários de uma ata que registrava uma
rebelião em 1942, encabeçada por Rafael Tobias de Aguiar, contra o imperador.
Essa atitude não trouxe grandes conseqüências ao Padre Mendonça, mas a
ordenação de Conceição passou a ser adiada.
Passou a atender, como sub-diácono, Ipanema, perto de
Sorocaba, onde funcionava uma fábrica de ferro e onde haviam escravos e 27
famílias alemães evangélicas. Residia nessa localidade o médico dinamarquês
Langaard com quem permutou aulas de alemão e tomou contato com a literatura
protestante. Outro fato importante era que, aos domingos, procurava se
confraternizar com os protestantes.
Por ocasião do seu segundo casamento, Dom Pedro I, em
1944, deu anistia irrestrita aos rebeldes de 1842 e, por isso, José Manuel foi
ordenado diácono no dia 29 de setembro de 1844 quando contava com 23 anos.
Chegou mesmo a celebrar batismos em Sorocaba.
Em 29 de junho de 1845 tornou-se Presbítero (Padre) da
igreja Romana e foi enviado para Limeira, que, provavelmente, Segundo Boanerges
(1995, p. 25), a Matriz era feita de pau a pique. Nessa cidade Nicolau
Vergueiro havia colocado açorianos para trabalhar em sua fazenda.
O jovem Padre queria uma Reforma da igreja e os seus
fiéis ficavam maravilhados com sua dedicação em atender chamados nas vilas,
mesmo quando não recebia as devidas espórtulas. Suas ideias o obrigaram a ser
transferido muitas vezes passando por Constituição (Piracicaba), Água Choca
(Monte Mor), Ubatuba, Taubaté e Brotas. Tirou licença em 1852 por conta da
morte do Tio (5 de setembro de 1852).
Em 1855, seu pai morreu deixando Gertrudes (Tudica), sua
esposa, e quatro filhos desassistidos que foram morar com Conceição que também
acolheu a viúva (Mana Antônia) e os filhos do mais velhos dos meio-irmãos,
Mateus.
Deixou suas funções como sacerdote para ser vigário da
vara e passou a residir em um sítio em Corumbataí. Com o falecimento de D.
Antônio Joaquim de Melo que em seu episcopado construíra o Seminário Diocesano
e abolindo o Catecismo Jansenista pelo tridentino, assim como disciplinou
diversos reformistas de Conceição cada vez mais distantes e ele frustrado e,
como afirma Boanerges (1995, p.30) perdido em um labirinto sem saída visível.
Assume a Diocese D. Sebastião Pinto do Rego, um bispo
mais maleável, todavia José Manuel em 1863 pede afastamento da paróquia de
Brotas indo se retirar em Corumbataí, isolado em sua inconformidade realizando
algumas funções sacerdotais como casamentos (o último foi em junho de 1864).
Nesse momento o Rev. Blackford houve falar de um Padre Protestante e vai
visitá-lo. Conceição ao relatar essa visita diz que o pastor lhe apareceu como
um mensageiro de Deus.
Blackford começam a conversar a própria dona Elizabeth
(Lillie) convidou-o, embaraçosamente, a tomar a fé reformada. Conceição começa
a sair de seu labirinto e, no dia 20 de setembro de 1864, em audiência com D.
Sebastião, entrega o cargo de vigário da vara e expõe suas razões para
abandonar o Catolicismo.
No dia 9 de outubro de 1964, no salão de cultos do Rio,
prega, antes mesmo de ser recebido como membro. No dia 23, Blackford o batiza e
o ex-padre e, agora, protestante faz sua pública profissão fé. Um problema de
JMC está em como ganhar a vida nisso encontrou grande apoio dos irmãos
Como membro da igreja presbiteriana ajuda em traduções
para o jornal Imprensa. Leva
Chamberlain para pregar em Brotas e percebe que, pelo Protestantismo, poderia
empreender uma Reforma em seu país. Blackford também assumiu essa trajetória
que Conceição conhecia muito bem. O ex-padre levou os pastores para pregar
entre as pessoas para quem ele fora Padre.
Contudo essa Reforma em terras tupiniquins seria
perseguida por pessoas que contavam com o poder público e indivíduos capazes de
atos violentos. Também o populacho tinha o costume de impor o nome dos líderes
protestantes a cachorrada da roça. Porém isso não esmoreceu o ilustre neófito.
Em 16 de dezembro 1865, com igrejas no Rio, São Paulo e
Brotas, formou-se o Presbitério do Rio de Janeiro e, no dia 17, sob a imposição
das mãos dos Reverendos Simonton, Blackford e Schneider, Conceição foi ordenado
o primeiro ministro presbiteriano nascido nessas terras de Santa Cruz e recebeu
a destra dos irmãos pastores para tomar parte reja com eles no pastoreio da
Igreja que nascia e se desenvolvia pela graça de Deus.
No dia 28 de fevereiro, desapareceu por cinco dias sem
aviso pregando o evangelho cruzando à pé do Rio a São Paulo. Aos 16 de dezembro
de 1866 saiu a sentença de excomunhão e exautorização de José Manoel e nessa
momento, devido ao grande esforço pela causa do evangelho a saúde de Conceição
começa a ficar frágil, porém encontra forças para responder acusações públicas
pelo Correio Paulistano em 23 de
abril de 1867.
Simonton e Blackford, para retirar o irmão José Manoel do
cento desse momento turbulento e para prover-lhe o devido tratamento de saúde,
enviam-no para Nova York no dia 3 de agosto de 1867, onde foi convidado para
pastorear, todavia preferiu retornar ao Brasil, mesmo que em nossa nação fosse
alvo de maldosos ataques e a tentativa de arrebanhá-lo novamente para Roma pelo
seu amigo Frei Joaquim do Monte Carmelo.
Na estada de Conceição em solo norte-americano, Simonton
morre em 8 de dezembro de 1867. Voltou em 20 de julho de 1868 a contragosto de
Blackford e Schneider que preferiam que ficasse mais tempo nos Estados Unidos.
Após a reunião do Presbitério do dia 11 de agosto de 1868 embrenha-se no seu
caminho favorito, o caminho do sul a fim de pregar o evangelho.
Boanerger (1995, p. 87) afirma que, a última reunião de
Presbitério de Conceição (12-8-1869) seu relatório caiu como água em areia
seca, pois já havia preparado campos ao longo da estrada do sul. Os colegas
norte-americanos preferiam que se dedicasse a atividades mais compatíveis com
sua saúde. Ficava dias incapacitado, mas assim que melhorava voltava às viagem
agressivas a sua saúde.
O tempo de José Manoel da Conceição ficou quatro anos e
meio no ministério marcado por grandes peregrinações. Boanerges (1995, p. 95)
afirma: “nesses quatro anos e meio sua pregação da reforma evangélica continuou
a ser feita e repetida de São Paulo a Sorocaba, Itapetininga, Faxina; talvez
até Castro no Paraná [...] de Campinas a Limeira, Santa Bárbara, Rio Claro, até
Brotas e Jaú; no Vale do Paraíba de São Paulo a Piraí; no Litoral Norte de São
Paulo de São Paulo; na estrada de Atibaia, Itatiba, até Bragança, até Borda da
Mata e Pouso Alegre; nas Serras de Piracicaba, Nazaré Paulista; na corte, seus
arrebaldes e vilas suburbanas a caminho de São Paulo”. Era homem frugal e que
sempre pagava seu pouso como um favor doméstico como varrer um quintal ou algo
parecido.
Sobre a vida desse bandeirante da fé, Boanerges (1995, p.
95) constata: “há muitas décadas em quatro anos e meio, e há muitas histórias
nessa estrada de tantos caminhos”.
Apesar de Blackford ter lhe alugado casa em Santa Tereza
no Rio, em 1873, só e à pé pôs-se a peregrinar e embarcou em Piraí. À noite,
muito cansado e maltrapilho, pedindo pouso em uma casa na estrada foi preso por
um policial e libertado depois de três dias. No posto policial, gastou todo o
seu dinheiro reservado para a passagem de trem com alimentos.
Muito enfraquecido na viagem à pé caiu gravemente enfermo
e foi internado na Enfermaria Militar do Campinho. Apesar de doente, descalço e
maltrapilho tinha boa expressão no rosto e impunha respeito. Depois dos
cuidados hospitalares e ter tomado um caldo, o médico perguntou-lhe se desejava
mais alguma coisa e ele responde: “agora queria ficar a só com Deus”. Enquanto
o médico caminhava para a missa, o servo de Deu se virou para a parede e
adormeceu e morreu assim, nessa tranquilidade.
Muitos boatos surgiram após a morte de Conceição
mostrando tentando mostrar que tinha voltado para a fé romana ou tinha morrido
em tragédia ou suicídio, por isso, a pedido de Blackford e Trajano, o
responsável pela enfermaria Major Augusto Fausto de Souza, o sub-delgado do
Irajá Honório Gurgel e até mesmo o vigário daquela localidade Padre Lourenço da
Cruz Penedo forneceram declarações detalhadas das últimas horas do humilde
pastor, que foi exumado de onde havia sido enterrado (a pedido da igreja
romana) e foi levado para o Cemitério dos Protestantes, onde jaz.
Considerações finais
Nas páginas dessa obra de referência, encontramos algo
interessante um autor escrevendo de forma coerente com boa fundamentação, mas
capaz de mostrar nas suas linhas uma piedade doce e sem exageros e acima de
tudo que sabe contar a respeito da vida de um servo de Deus sem fazer dela um
semi-deus. Ao concluir essa leitura o que fica na nossa cabeça e coração não é
como o Reverendo José Manoel da Conceição foi bom, mas como foi bom e
misericordioso o Deus do Reverendo José Manoel da Conceição.
Acreditamos que esse trabalho é resultado de um desafio: escrever
uma biografia em um país marcado pela tradição católica que exalta de maneira
idolátrica seus expoentes. A solução esta em fazer um texto fundamentado em
fatos históricos, pois contra os tais não há argumento, porém essa saída obriga
o relato a uma frisa acadêmica que atinge ma minoria e, dificilmente, adentra a
igreja. Entretanto o que vemos é um texto caloroso, sábio e bem fundamentado
exaurido de uma das mais célebres penas da safra de mente iluminadas em nossa
denominação.
A leitura é edificante e nos leva a uma atitude constante
de louvo ao Pai celestial que chama graciosamente os seus e os capacita para os
labores mais difíceis e trabalho feliz mesmo nas searas mais inóspitas.
Excelente obra que nos trás a memória a graça e misericórdia de Deus em todo tempo alcançando os eleitos.
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