Reflexões no Salmo 40:
orientações para os dias maus
“Esperei confiantemente pelo
SENHOR; ele se inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro. Tirou-me
de um poço de perdição, de um tremedal de lama; colocou-me os pés sobre uma
rocha e me firmou os passos. E me pôs nos lábios um novo cântico, um hino de
louvor ao nosso Deus; muitos verão essas coisas, temerão e confiarão no SENHOR” (Salmo 40.1-3)
O Salmista afirma que estava em um poço de perdição, um
tremedal de lama. Se observarmos os dois salmos anteriores, veremos o rei Davi
falando de problemas de saúde (Salmo 38.4-8). Não sabemos de nenhum momento, em
sua biografia, em que fora afligido por uma enfermidade tão violenta como essa,
contudo tanto Davi (o escritor inspirado do Salmo), quando aqueles que editaram
essas poesias hebraicas após o exílio babilônico tiveram seus infortúnios,
aquele ora em terríveis batalhas contra os filisteus, ora mortalmente
perseguido por Saul, ora, por causa de seus pecados, confrontado pela
disciplina do Senhor. Estes reconstruindo Jerusalém tendo que com uma das mãos
trabalhar como pedreiros e com a outra portar armas para a guerra.
Qual seria o seu tremedal de lama, seu poço de perdição?
Uma doença, uma instabilidade financeira, um oscilar nos negócios, um desemprego
repentino ou que se arrasta por algum tempo? Obviamente, alguém já lhe disse
que suportou males mais atrozes, mas entenda: todos verão suas lutas como mais
árduas do que a dos outros. A Bíblia denomina esses eventos com a expressão “dia mau”, quando somos submetidos à
“duras provas e momentos críticos da vida quando somos inflexivelmente tentados
(Salmo 41.2; 49.5)” (HENDRIKSEN, 1999, p.324). Stott chama esse dia como de
especial opressão, aquele momento em que nosso maior medo bate a nossa porta.
Contudo o Apóstolo Paulo garante nossa vitória sobre essas adversidades se
estivermos apercebidos de toda a armadura de Deus: a verdade, a justiça, o
Evangelho da paz, a fé e a Palavra de Deus (Efésios 6.13-17).
Entretanto, quando essas circunstâncias parecem no
submergir de tal maneira que não temos como respirar, o que fazer? Como
proceder se, qual um nadador distraído, fomos pegos pela ressaca do mar que nos
puxa além da força que temos nos braços para lutar contra o rigor das águas
ardilosas, que o Senhor cristalizará na glória? Como agir quando estivermos no
poço e no tremedal? E mais, como devemos proceder ao sairmos? Não são muitos
aqueles que exaltam suas forças e negligenciam o perfeito louvor ao Senhor que
os livrou? É fato que se algumas pessoas naufragam nos sofrimentos oferecendo
um péssimo testemunho, outros naufragam após o livramento exaltando tudo menos
o Senhor.
1. No dia mau, é preciso ESPERAR
O Salmista mostra que, enquanto estamos no dia mau
devemos esperar. Calvino traduz esse primeiro versículo de maneira literal “esperando esperei” e melhor diria se
dissesse: “ao com força esperar, esperei com força”. As nossas traduções
interpretaram essa expressão hebraica adaptando-a a Língua Portuguesa por
“esperei confiantemente” (ARA), “esperei com paciência” (NVI), “esperei
firmemente” (CNBB). Todas atingem o propósito dessa expressão, ao esperar não
podemos fazer outra coisa senão esperar, por isso, nossa esperança, no agir
soberano, é uma confissão de confiança, paciência e firmeza. Não há quem sinta
prazer nessa tarefa, porque se o excesso de esforço no causa fastio, a ausência
dele também. Aos olhos humanos, a esperança é infrutífera (porque não produz
nada), impotente (porque ela não pode fazer nada) e ignorante (porque ela não
sabe o que acontecerá) (como afirma o Prof. Clóvis de Barros Filho). Contudo a
Palavra inspirada, infalível, inerrante, plena e suficiente nos orienta que a
fé é “é a
certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem.”
(Hebreus 11.1).
A tentação que temos ao esperar é de acharmos que o
Senhor não agirá e, assim, fazermos as coisas por nossa própria vontade. Quando
perdemos de vista o fato de que assim como os céus são mais altos do que a
terra, assim os caminhos do Senhor são mais altos do que os nossos caminhos, e
da mesma forma que os pensamentos do Criador do que os nossos (Isaías 55.9),
estamos susceptíveis a toda sorte de mazelas. Você pode perguntar: por que Deus
nos deixa esperar por tanto tempo por algo que nos é tão urgente? Será que o
Senhor está alheio a nossa vida ou distraído as nossas necessidades? Saiba que
NÃO, porque a Bíblia afirma que ele não dorme nem cochila (Salmo 121.4),
tampouco está alheio as suas necessidades, porque, Isaías, falando pelo
Espírito Santo, afirma que uma mãe que amamenta pode se esquecer de seu filho,
mas Deus jamais se esquecerá de nós, porque nossos nomes estão escritos em suas
mãos (Isaías 49.15,16).
Deus se demora em atender nossas necessidades (sempre de
maneira responsável) para nos ensinar o valor da oração. O Salmista mostra que,
no dia mau, ele clamou ao Senhor (Filipenses 4.6), que se inclinou para ele e
ouvi-lo/atende-lo.
2. No dia mau, precisamos CONFIAR QUE
NOSSA ORAÇÃO SERÁ RESPONDIDA
A ideia do segundo versículo é que em resposta a oração
do Salmista o Senhor promoveu a subida do Salmista do poço em que estava
entregue a violência das águas e com risco de morte. Jeremias passou por
situação semelhante, pois, por causa de sua fidelidade em expor a disciplina
divina que se aproximava, foi jogado em uma cisterna Malquias, filho de
Zedequias, o rei, contudo o etíope Ebede-Meleque intercedeu junto ao Rei, que
autorizou que fosse resgatado. Muitas vezes, quando estamos imersos no rigor
dos problemas, o Senhor levanta pessoas, situações, tratamentos que nos colocam
sobre a rocha, ou seja, em lugar seguro, assim como firma os nossos passos, nos
permitindo nossa caminhada sem tropeços e inseguranças.
Nesses momentos, somos tentados a louvar os homens e as
circuntâncias mais do que ao Senhor, que proveu medicamentos, médicos, pessoas
e oportunidades para o nosso bem. Precisamos entender que nem sempre o Senhor
age miraculosamente (o que pode fazer em sua soberania), mas nos meios que ele
dispôs para agir. Deus poderia tirar o Profeta Jeremias da cisterna de Malquias
por anjos, mas utilizar a disposição de Ebede Meleque não o torna inferior no
agir, tampouco no amor providente por nós.
Emergimos dos problemas mais insólitos e horríveis, mas
não teríamos progredido um milímetro sequer se não fosse o amparo soberano de nosso
Deus dispondo as situações ao nosso favor.
O feroz Tentador de nossas almas, nos dias mais sombrios,
leva-nos a pensar que nossas orações estão sendo dirigidas ao vácuo e que orar
é como conversar com um amigo imaginário, coisa que loucos e crianças fazem.
Não seja presa desses pensamentos fatais. No tempo certo o Senhor responderá
nossas orações. Algumas vezes dirá sim, como ao Salmista, em outras, dirá
espere (como disse a Elias – Tiago 5.17) e, em certas ocasiões, dirá não como
fez a Paulo (2Coríntios 12.8,9), mas devemos saber que todas as coisas (o sim,
o não e o espere de Deus) cooperam para o bem daquele que o amam (Romanos
8.28), assim como “a súplica do justo
pode muito na sua atuação” (Tiago 5.16).
Saibamos que o Senhor controla todas as coisas até mesmo
aquelas que nos parecem terríveis, contudo o objetivo do Senhor é fazer que
nosso amor por Cristo seja aprofundado. Diante do medo morte devemos reconhecer
que nosso lucro maior é Jesus (Filipenses 3.8).
Assim como nos dias em que estamos debilitados pela
doença nós és pesaroso comer e beber, igualmente, é fatigante, nos dias de
deserto, orar e ler as Escrituras, mas precisaremos fazê-las apesar de nossas
disposições para que nossa saúde espiritual não seja afetada.
3. No dia mau, precisamos TESTEMUNHAR
Apesar de no hebraico o adjetivo חָדָשׁ
(châdâsh)
ser utilizado para coisas inéditas ou reconfiguradas (reformadas), os
tradutores do Texto Massorético para o Grego (chamada de Septuaginta – LXX)
traduziram esse adjetivo por καινός
(kainós), que, diferente de νέος
(neós), utilizado apenas para coisas inéditas, é utilizado para mostrar que
algo é reconfigurado, novo em espécie, caráter e modo. Dessa maneira, o cântico
de louvor, apesar de não se extinguir nos dias adversos pode ser abrandado,
porém ganhará mais tons e muitas oitavas a mais nos dias em que o livramento
advindo do Senhor se faz evidente.
Não devemos louvar apenas nos grandes livramentos e
mostras da providência divina, mas em todas as ocasiões sabendo que todos os
benefícios que o Senhor libera sobre o seu povo não o faz como alguma
recompensa ou mediante merecimento, mas única e exclusivamente por sua infinita
misericórdia, que, pela graça comum, agracia até mesmo injustos e maus (Mateus
5.45). Calvino afirma que “não há
benefício divino tão minúsculo que dispense nossos mais elevados louvores;
quanto ele mais estende sua mão, porém visando em nos socorrer, mais devemos
incitar-nos um fervoroso zelo nesse santo exercício, de modo que nossos
cânticos correspondam à grandeza do favor que a nós que por ventura nos tenha
sido conferido” (comentando Salmo 40.3)
O Salmista nos ensina que a única atitude que podemos
tomar nos dias maus é esperar e orar, tudo o mais sair do tremedal, estar em
lugar seguro, ter nossos passos firmados e até mesmo o louvor que sai de nossos
lábios dependem do Senhor. Só aqueles que tiveram seus corações abertos pelo
Espírito Santo podem reconhecer nas entrelinhas da vida a mão cuidadosa do
Criador em sua sábia e precisa providência.
Muitas pessoas que nos viram gemer nas dores, contudo sem
esmorecer nosso temor por Deus. Essas pessoas, que julgaram que em um momento
veríamos que a fidelidade ao Senhor é um terrível engodo. Entretanto ao nos ver
com um cântico reconfigurado irão temer e confiar no Senhor. Cuidado para não
se entristecer como aqueles que não têm esperança (1Ts 4.13).
O Pastor Batista John Piper, antes de ser operado de um
câncer de próstata, afirmou: “os cristãos
nunca se encontram em determinado lugar por acidente”. Paulo e Silas estão
em Filipos depois de serem duramente acoitados e tendo seus pés presos de forma
dolorosa ao cepo oravam e cantavam hinos a Deus. Eles poderiam se lamentar e
murmurar, eles eram tão humanos e pecadores como nós o somos, mas preferiam não
desperdiçar a prisão e isso contribuiu a conversão do carcereiro daquele lugar,
por isso não disperdiçe sua doença, sua depressão, seu desemprego ou qualquer
dificuldade que você tenha enfrentado, mas saiba que até o dia em que
entoaremos esse cântico reconfigurado na glória (Apocalipse 5.9-14) cabe a nós
que façamos em meio a lutas e perseguições aqui para que desses muitos que nos
observam, os quais podem ser nossos vizinhos, amigos, parentes, colegas, etc,
se forem eleitos, temam o poder do Senhor e confiem na sua eterna misericórdia.
Que Deus o abençoe.
Boa reflexão...
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