O retorno bendito
“Porque, se vós vos
converterdes ao SENHOR, vossos irmãos e vossos filhos acharão misericórdia
perante os que os levaram cativos e tornarão a esta terra; porque o SENHOR,
vosso Deus, é misericordioso e compassivo e não desviará de vós o rosto, se vos
converterdes a ele” (2Crônicas 30.9)
Ezequias é o décimo segundo rei do Reino de Judá e
começou a reinar com vinte e cinco anos em 716 a.C. e reinou vinte e nove anos.
Fez o que era reto diante do Senhor nos moldes de Davi (2Cr 29.2). Contudo
pegou o Reino em extrema crise, porque, Acaz – seu pai – ficara surdo aos
apelos do profeta Isaías e se fizera idólatra fazendo sacrificando o próprio
filho e introduziu culto a deuses estrangeiros, onde só Deus poderia ser
adorado (2Crônicas 29.6-9). A ira de Deus faz com que muitos sejam exilados
pelo arameus (2Crônicas 28.5-8) e edomitas (2Crônicas 29.17-19). Quando, por um
tempo prolongado, fazemos ouvidos moucos à Palavra, o Senhor permite que
sejamos duramente disciplinados por terríveis derrotas (no diferentes níveis de
nossa vida) a fim de que nos arrependamos.
Outro problema que Ezequias precisava administrar era o
avanço do Império Assírio, a quem seu pai havia se submetido, e que expandia-se
subjugando os todas as forças opostas que estavam a sua frente. Como aconteceu
ao Reino de Israel (Reino do Norte, formado pelas 10 tribos que seguiram no
passado a liderança de Jeroboão rompendo como Roboão, filho de Salomão), que
foi tomado pelo rei assírio Salmaneser V (reinou a assíria de 727-722) em 721 (2Reis
18.9-11). Mais do que um problema político as tribos do Norte “não obedeceram a voz do SENHOR, seu Deus;
antes violaram a sua aliança e tudo quanto Moisés, servo do SENHOR, tinha
ordenado; não o ouviram, nem o fizeram” (2Reis 18.12).
1. Nossa intimidade com Deus deve ser
prioridade
O jovem Rei tem pessoas do seu império exiladas e um
Reino forte e ambicioso no seu calcanhar, mas sua primeira providência como Rei
está em abrir as portas da casa do SENHOR e as reparar (2Crônicas 29.3).
Quantas vezes diante de problemas menos imperativos assumimos a postura
contrária? Quantas vezes diante das contas ou problemas profissionais e
familiares. Decidimos procurar nossos interesses em derimento aos de Deus,
mesmo sabendo que praticar a vontade divina não trará benefícios a Deus (que
continuará sendo Deus em sua majestade e glória independente da minha
fidelidade), mas a nós mesmos?
Infinitas vezes, no curso de nossa existência aqui nesse
mundo caído, empenhar-nos-emos em conquistar aquilo que haveremos de comer,
beber e vestir mais ou às custas de “buscar
o Reino de Deus e a Sua Justiça”, mesmo que haja a promessa de que sendo o
Senhor o nosso Pastor tudo o que é essencial a nossa vida nos será dado.
Salomão, no alto de sua sabedoria, inferior apenas a de Jesus, afirma: “Inútil vos será levantar de madrugada,
repousar tarde, comer o pão que penosamente granjeaste; aos seus amados, ele [o
SENHOR] o dá enquanto dormem” (Salmo 127.2). Precisamos entender que é uma
tolice trabalhar de sol a sol, muitas vezes privando nos do merecido descanso
para ganhar nosso sustento se não confiarmos que ele vem do Senhor. Se o seu
deu for sua força, suas mãos que lhe dão sustento quando elas caírem doentes e
sua vitalidade se esvair quem lhe sustentará? Quem dará o pão a sua família? O
mesmo Deus que fez chover o maná sobre o povo quarenta anos no deserto. O mesmo
Jesus que por duas vezes multiplicou os pães provendo até mesmo onde o dinheiro
não seria capaz de prover (Lucas 6.37). Essa realidade não nos convida ao
descaso e ao ócio, pois a Bíblia valoriza e muito o trabalho (2Tessalonicenses
3.10), que não acabará nem no paraíso, mas ao conforto de saber que em última
instância o meu sustento não vem de mim, mas do Senhor.
Nas horas de crise, quando somos tentados em confiar mais
nas coisas desse mundo do que em Deus, A Palavra, por meio desse exemplo de
Ezequias:
2. Há uma condição para nossa intimidade
com Deus
Ezequias sabia que o seu povo estava distante de Deus,
confiando em desuses que não podiam salvá-los. Portanto precisavam retornar
para o Senhor que haviam deixado, contudo esse retorno precisava ser efetivo,
visível, por isso, planeja a celebração da Páscoa, porque sabia que:
·
Não poderia realiza-la de qualquer jeito e,
por isso, teria que eliminar os ídolos que Acaz, seu pai, havia colocado no
templo (veja 2Crônicas 29.17-19);
·
Teria um contexto para se aproximar das
tribos do Norte (veja 2Crônicas 30.1);
·
Seria uma oportunidade de recomeçar (Veja
Êxodo 12.27; Deuteronômio 16.1);
·
Seria a maneira de evitar permanecer na ira
de Deus (Êxodo 12.13,14;
Hebreus
10.19-25).
Quantas vezes
observamos nossa vida revirada e afligidas por terríveis problemas, outrora
caminhamos com Deus e até sentimos saudade dos hinos, do convívio sadio com os
irmãos, recordamo-nos dos sermões que ouvimos outrora. Sabemos que algo tem que
mudar. Como? O quê? Nossa relação com Deus. Vá a uma igreja fiel à Palavra (ou
seja que pregue fielmente a Palavra, administre apenas os sacramentos que a
Bíblia manda – batismo e ceia – assim como exerça disciplina segundo as
Escrituras). Iludimo-nos acreditando que podemos buscar a Deus apenas em nossas
orações pessoais. Contudo o Senhor deve ser cultuado publicamente no culto
solene, em família no culto doméstico e individualmente em nossas devocionais.
Ir ou retornar a uma
igreja fiel lhe dará um contexto para:
·
Purificar sua vida de tudo aquilo que não
glorifica a Deus como amigos, vícios, lugares, etc;
·
Pedir perdão e reatar laços rompidos;
·
Começar do zero e iniciar um novo rol de
amigos e práticas que edificam sua vida, sua família e, acima de tudo,
glorificam a Deus;
·
Em Cristo, ter paz com Deus.
Antes
de iniciar qualquer agenda diplomática, abre o templo e restaura as suas portas
e está certo que isso trará os cativos de volta, porque se recordou da oração
que Salomão fez na inauguração do templo pedindo ao Senhor que, se o povo
pecasse e isso suscitasse a ira de Deus fazendo-os ir ao exílio, quando se
arrependessem seriam trazidos de volta (1Reis 8.46-41).
Naturalmente,
os inimigos os deixariam sair. Corrie Tem Boom (1892-1983) foi uma holandesa
cristã, que, juntamente com sua família, refugiou judeus em sua casa quando
eram perseguidos pela polícia nazista na ocupação da Holanda. Por esse crime
ficou presa do dia 28 de fevereiro de 1944 até 1945. Passou por três campos de
concentração sendo o último foi o temível Ravensbrück onde morreram 96.000
mulheres, anos depois, em 1959, descobriu que sua libertação se dera por um
erro administrativo, uma semana depois de sua soltura todas as prisioneiras de
sua idade foram mortas.
3. Deus tem adjetivos que endossam nosso
retorno
Todos
os nossos pecados são em última instância cometidos contra o próprio Senhor.
Davi depois de ser advertido pelo profeta Natã sobre o pecado de matar Urias
para encobrir o adultério com Bate Seba, afirma se dirigindo ao Senhor: “Pequei contra Ti, contra Ti somente”
(Salmo 51.4a). Contudo devemos reconhecer que há dois adjetivos nesse versículo
que que estamos meditando que endossam nosso retorno:
·
Gracioso: o Senhor é amigável para com seu
povo, ou seja, está disposto a perdoar aqueles que se arrependem. Isaías
afirma: “ainda que os vossos pecados
sejam como o escarlate, eles se tornarão alvos como a neve; ainda que sejam
vermelhos como o carmesim, se tornarão brancos como a lã” (Isaías 1.18).
Aqui vemos quatro objetos contrastantes: a escarlata (uma tintura muito intensa
de um vermelho tão forte que pende para o laranja) e o carmesim que é uma cor
vermelha brilhante. Essas cores representam a intensidade do pecado, mas a ação
reparado de Jesus pode fazê-los brancos como a neve (a neve tem um branco tão
intenso que se alpinistas não usarem óculos apropriados porem ficar cegos com o
seu intenso brilho) ou a lã;
·
Misericordioso/Compassivo: diante do pecado
dos nossos primeiros pais o Senhor não os elimina, mas promete o salvador
(Gênesis 3.15).
Corrie Tem Boom depois de sua libertação se engajara em
um trabalho de testemunhar o amor de Deus em sua vida dentro dos Campos de
Concentração e como ela se sua irmã Betsie (que morrera na prisão) testemunharam
com intrepidez o evangelho de Jesus Cristo no vale da sombra da morte. Em uma
igreja em Munique encontrou um antigo oficial da SS (abreviação de
Shutzstaffel, tropa de proteção, a tropa de elite do nazismo) que estivera
diante do chuviro de triagem em Ravensbrück. Ele lhe estendeu a mão dizendo: “muito obrigado Dona Corrie. E apesar que,
como a senhora disse: Ele (Jesus) apagou todos os nossos pecados!”. Ele
ficou ali como a mão abaixada vendo sua mão estendida e se recordando das
zombarias e humilhações que enfrentara até ali, mas, por fim estendeu-lhe a mão
e sentiu uma experiência incrível: “logo
que apertei sua mão, um fato incrível aconteceu. Uma espécie de corrente
elétrica pareceu passar de mim para ele, brotando de meu ombro e descendo elo
meu braço até ele, e, de meu coração, nasceu um amor tão grande por amor aquele
homem, que quase me sufocou”.
3. Um retorno eficaz
O
hebreu entendia que o Senhor desviava o rosto de nossa vida de pecado o Senhor
desviava o rosto de suas vidas, segundo Calvino (refletindo Salmo 30.7) isso
seria ser privado dos dons divinos, o que gera um momento de tribulação. A
promessa nesse versículo é que nosso retorno ao Senhor motivada por uma mudança
de vida temos uma salvação eficaz que não será arrancada de nós. Essa ida a
Jesus não se dá por nossas motivações pessoais, ninguém vai a Jesus, porque é
uma opção racional somos levados a Jesus de arrasto pelo Pai (João 6.44) e, por
que essa salvação não depende de nós, mas de Cristo não pode ser arrancada de
nós.
Jesus
conta uma parábola sobre retorno em Lucas 15.11-32, na qual um filho pede ao
Pai que lhe dê a herança que lhe cabe (o que equivalia dizer que o pai valia
mais morto do que vivo). O moço tomou sua parte na fortuna e saiu para terras
estrangeiras onde gastou o dinheiro com prodigalidade. Quando o dinheiro acabou
as falsas amizades também não duraram e passando fome desejava comer a comida
que se davam aos porcos, mas lhe negavam até mesmo isso. Caindo em si viu que
os empregados de seu pai tinham pão em fartura e decidiu retornar, porque sabia
que essa situação mudaria sua vida, contava com a graça e misericórdia de seu
Pai que o acolheria e não o desprezaria.
Não
importa qual seja nossa situação podemos contar com a mesma graça advinda do
Senhor.
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