O problema das aparências
“O SENHOR disse a Samuel:
Não atentes para a sua aparência, nem para a sua altura, porque o rejeitei;
porque o SENHOR não vê como vê o homem. O homem vê o exterior, porém o SENHOR,
o coração” (1Samuel 16.7)
Você já abriu uma embalagem de chocolate e constatou que
foi enganado? Obviamente se isso acontecer, você irá reclamar e exigir a troca.
O chocolate ele tem uma embalagem envolvente para realçar o produto que já
conhecemos e amamos. O mesmo acontece com um abacaxi, uma laranja ou qualquer
outra fruta? Quantas vezes você comprou aquela maça igual a que encheu os olhos
da Branca de Neve, mas, quando a mordeu, percebeu-a pouca saborosa e até mesmo
insossa? Todas as melancias têm o mesmo gosto assim como todos os chocolates de
determinada marca? Contudo, em outras ocasiões, você tomou aquela fruta
mirrada, com a casca manchada e sentiu uma explosão de sabor e prazer.
Seria muito bom se isso acontecesse apenas no campo das
frutas e hortaliças, mas ele é muito grave quando afeta as relações
interpessoais. Acreditamos que as aparências traduzem as essências, ou seja,
acreditamos que indivíduos bem apessoados são boas pessoas. Todos estamos
susceptíveis a esse terrível equívoco, inclusive o piedoso profeta Samuel.
O último Juiz de Israel foi enviado por Deus a casa de
Jessé em Belém para ungir o novo rei de Israel. Saul, que ainda estava no
trono, havia desobedecido pela segunda vez o Senhor (1Samuel 13.13; 15.9) e,
por isso, fora reprovado e perdera a perpetuação de sua família no trono
(dinastia). Dessa maneira Jessé manda vir seus filhos diante do profeta que
tinha a seguinte orientação: “tu ungiras
para mim aquele que Eu te apontar” (1Samuel 16.2), pois entre os filhos
dessa cara o Senhor já havia escolhido um rei(1Samuel 16.1).
Quando entrou o filho mais velho de Jessé, Eliabe, também
chamado Eliú, entrou na sala o Profeta, ao ver sua altura e aparência pensou
estar diante do novo rei de Israel. De fato, ele reunia condições humanas para
esse cargo, pois não à toa Davi a o nomeou governador de Judá (1Crônicas
27.18), porque não basta ser capaz deve ter sido escolhido pelo Senhor. Não foi
sem motivo que o Senhor escolhera Saul (ou Saulo) para ser o primeiro rei de
Israel, sua aparência e estatura sobressaiam a sua timidez e parecia aceitável
ao povo (1Samuel 9.2).
Tiago nos alerta para o mesmo engano quando afirma que um
rico trajando vestes preciosas (ou resplandecentes) e portando anel de ouro, na
aparência, não se diferia daqueles que perceguiam a igreja, a arrastavam
pessoas aos tribunais (Tiago 2.2,7-9). O Reformador João Calvino afirma: “quando as pompas do mundo se tornam
proeminentes a ponto de encobrir o que Cristo é, torna-se evidente que a fé
possui bem pouco valor” (comentário de Tiago 2.1)
Quando nossa visão está condicionada a julgar alguém pela
aparência, ou pior, pela cor da pela ou a condição social ou a procedência de
alguém (como faz a política de cotas que deve existir apenas como algo
temporário) perdemos a oportunidade de apreciarmos o caráter de um indivíduo que
está além de sua cor ou condições contingentes. Assim como alguém que foi ter
seu coração operado não deveria se importar para a raça, religião ou sexo de
seu cirurgião, deveríamos pouco nos importar para as aparências das pessoas.
Quando vamos a Ezequiel 18 (onde o profeta está fazendo
uma análise de Deuteronômio 5.9), mesmos que a máxima é: “a alma que pecas essa morrerá”, ou seja, é possível que alguém
nasça em um lar totalmente desestruturado e, mesmo assim, porque foi avo, acima
de tudo da graça, viver (dentro dos limites possíveis) de maneira íntegra e
agradável a Deus por meio de Jesus Cristo.
Deus exorta o profeta mostrando:
1. O que agrada o mundo é rejeitado por
Deus
Entenda que Deus não rejeitou Eliabe, irmão de Davi, mas
a maneira como o Profeta o via. O Senhor mostrou que aquilo que encheu os olhos
de Samuel como a aparência e a altura, não enchiam o Dele. Davi, no Salmo 51.17,
mostra que o sacrifício aceitável a Deus e que não será desprezado é o coração
contrito (שָׁבַר: despedaçado) e compungido (דָּכָה:
esmagado), ou seja, só alguém consciente de sua miséria e incapacidade pode
chegar diante do Senhor.
2. Deus não enxerga como nós enxergamos
Samuel aprende que a ótica divina é diferente da humana,
pois enquanto nos percebemos jugando as meras e transitórias aparências com uma
visão muito míope do todo, ele não vê dessa maneira.
3. Deus vê o coração
O foco de Deus está o coração do homem. Essa informação
deve nos consolar, porque sabemos que nossa condição social ou racial ou
geográfica não têm valor para Deus, mas o coração, todavia, também, deve nos
fazer transbordar de temor, porque não há como fazer médias com Deus, porque
ele vê nosso coração.
Dessa maneira, Davi não estava lá, porque era jovem e
destinado ao trato das ovelhas, sem estatura, tampouco treinamento militar,
veja que não consegue usar a armadura de Saul e prefere lutar com Golias usando
pedras e uma lançadeira. Este que, na sua aparência foi tido como insuficiente
e rejeitado, inclusive, pelos seus, foi escolhido por Deus como um rei segundo
o seu coração. O mesmo aconteceu como o Senhor Jesus Cristo, quando Natanael,
ouvindo de Filipe que o Messias viera de Nazaré, o interpela perguntando: “pode haver coisa boa vindo de Nazaré?”.
Cuidado com julgamentos precipitados advindo do juízo das
aarências, lembre-se-de que Deus rejeita o que o mundo aprecia, Deus não vê
como você vê, porque Ele vê o coração.
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