O Suicídio
“Já basta, ó Senhor; toma
agora minha vida, pois não sou melhor que meus pais” (2Reis 19.4b).
Todas
as pessoas vivem na expectativa de saber qual será a real consequência de suas
atitudes e o reflexo que elas terão na eternidade. Nossa única opção é confiar
no relato bíblico.
O
suicídio é um desses temas cercados por opiniões diversas e divergentes, que,
na maioria das vezes, em nada se respaldam na Palavra e em uma teologia sadia,
mas na tradição católica que persistem em nossa cultura e nas ideias geralmente
validadas por versículos dispersos e fora de contexto.
Portanto,
o que devemos pensar a respeito de uma pessoa que se suicida? Ela perde ou não
a salvação? Dentro dessa pergunta é necessário pensarmos no conceito reformado
de salvação.
A
fé, as boas obras e o arrependimento acompanham tanto e tão intimamente a vida
daquele que é salvo que pode se acreditar que
eles, de alguma maneira, promovam a nossa salvação. Todavia Paulo afirma que a
fé é o instrumento de nossa justificação (Romanos 5.1), assim como as boas
obras (“aquelas que Deus ordena em sua santa
Palavra” CFW XVI.1) mostram que fomos
salvos, mas não provocam de nossa eleição, afinal de contas fomos criados
“para” (a preposição ἐπὶ epi
regendo dativo transmite a ideia de espaço, tempo ou causa no sentido de estar
na base, no início de algo) e não “pelas” boas obras (Efésios 2.10).
Dessa
maneira, Paulo fala aos Efésios 2.8,9: “pela graça sois salvos, por meio da
fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus, não vem das obras para que ninguém se
glorie”. Partindo do pressuposto de que toda a verdade é verdade de Deus
tomamos o conceito de suicídio advindo da sociologia. O sociólogo francês Émile
Durkheim (1858-1917) define suicídio como: “todo caso de morte que resulta
direta ou indiretamente de um ato positivo ou negativo realizado pela própria
vítima e que ela sabia que produziria esse resultado” (Suicídio,
2000, p.14).
Da
mesma maneira, propõe três classificações de suicídios. A primeira categoria é
o suicídio egoísta, ou seja, aquele em que o indivíduo tem um bom trabalho,
família amigos, mas, mesmo sem nenhum motivo aparente há um afrouxamento dos
laços que ligam o seu eu/ego à sociedade o que lhe subtrai completamente o
sentido da vida. Esse estado de letargia que deseja a morte é o mesmo que
sentiu Elias debaixo do Zimbro (2Reis 19.4). Semelhante a esse, a segunda
categoria é o suicídio anômico, no qual o indivíduo perde sua a posição social,
dinheiro emprego ou família e sem esse ponto de apoio não encontra meios para
continuar vivendo. Essa categoria pode ser vista nos suicídios de Abimeleque
(Juízes 9.54), Saul (1Samuel 31.3-6), Aitofel (2Samuel 17.23), Zinri (1Reis
16.18). Existe um grupo de pessoas que tentam ver no ato de Sansão (Juízes
16.29-31) como algo que fuja ao suicídio, como a morte de um combatente,
contudo Durkheim o classificaria como suicídio altruísta, ou seja, aquele que
decide morrer por um bem maior. Entretanto, apesar de Sansão ter cometido
suicídio, está entre os heróis da fé (Veja Hebreus 11.32).
A
Lei Moral diz: “não matarás” (Êxodo 20.13). Os puritanos da Assembleia de
Westminster registraram na pergunta 69 do Breve Catecismo, que o sexto
mandamento proíbe “tirar a
própria vida, ou a do nosso próximo injustamente, e tudo aquilo que para isso
concorre”. Nesse contexto alguns irão usar
Apocalipse 22.15 para provar que os suicidas terão a segunda morte, ou seja,
irão para o inferno. Contudo, à luz desse versículo, o que faremos com Davi que
era homicida e adúltero, mas além de estar na mesma galeria de heróis da fé
(Hebreus 11.32) era homem segundo o coração de Deus (1Samuel 13.14)?
Igualmente,
devemos levar em consideração que Jesus afirmou que existe apenas um pecado sem
perdão que é a blasfêmia contra o Espírito Santo (Mateus 12.31), o qual, pelo
contexto da conversa de Jesus com os Fariseus, é a apostasia. Haverá aqueles
que utilizem esse versículo para mostrar que o suicida é um apóstata que morre
em seu ímpeto de rebeldia sem se arrepender. A Confissão de Fé de Westmnister defende que o arrependimento é uma graça evangélica (XV.1), é
necessário ao pecador, mas não é a causa do perdão, tampouco pode satisfazer o
pecado (XV.3). Se verbalizar uma confissão como o Salmo 51 fosse imprescindível ao
perdão o que se dizer das crianças que morrem na infância ou ao mentalmente
incapazes? Assim como os suicidas, se foram eleitos antes da fundação do mundo
(Efésios 1.4) serão salvos, se foram preordenado à morte irão ao inferno já que
nossa salvação não depende de nosso arrependimento, obras ou fé, mas da graça.
Nossa salvação é fruto do decreto de Deus, ou seja, dos “atos sábios, livres e santos do conselho” da vontade de Deus que servem para a sua
glória e são imutáveis. (Veja CM, 12)
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