Um terreno coração
Nesses dias nossa família começa a se acostumar com a
mudança de endereço. O inconsciente não nos leva mais à antiga casa. Mas desde
o início deparei-me com um desafio: o fundo da casa, tomado por um mato enorme.
Lembrei-me de minha adolescência no Seminário de Ribeirão Preto quando o Padre
Walmir reunia a turma para carpir a mangueira ou à tarde de guatambu no
Seminário de Jaboticabal. Contudo esse período ficou em um passado remoto de
tal maneira que tentava me lembrar de como pegaria na enxada. Mas essa crônica
nasceu dessa experiência que ainda está em andamento. Percebo cada dia mais
como esse terreno é semelhante ao coração humano.
Primeiro, para que o
trabalho fosse menos árduo, contei com a ajuda do nosso irmão Diácono Aramis que
passou o mata-mato e permitiu duas coisas: impediu que mais mato crescesse e
que o existente morresse. Isso foi crucial, pois, nas minhas limitações, não
conseguiria lidar com todo o terreno. Percebi como a graça tem essa ação em
nossas vidas. Sem a ação do Espírito Santo estaria como o “eu” de Romanos
7.7-25 “não faço o bem que quero, mas o
mal que não quero, esse pratico” (Rm 7.19). Foi a graça que matou o meu
pecado e tem controlado para que meu velho homem não volte, pois morri para que
Cristo vivesse em mim (Gl 2.20). Para que Paulo nascesse, Saulo teve que morrer
no caminho de Damasco.
Em segundo lugar, com um
sentimento de pirofobia vi-me incapaz de partir para milenar coivara, mas
diante de um mato que, mesmo morto, estava ali servindo de lugar para
proliferação de insetos nocivos decidi que era chegada a hora de tomar a enxada
e atingir aquele lugar em que os homens se diferenciam dos meninos. Nessa árdua
tarefa, enquanto as meninas se divertiam com pás e rastelos de plástico,
entendi que a ação da graça não elimina a minha responsabilidade de andar no
Espírito para não satisfazer as concupiscências da carne (Gl 5.16,17). É muito
fácil acreditarmos que pelo fato de nossas antigas formas de demonstrarmos
nossa inimizade com Deus estarem atenuadas pela graça elas não são um empecilho
que precisa ser resolvido. Esperar só faria, com o tempo, um novo mato crescer,
por isso, Paulo ao mesmo tempo manda os filipenses desenvolverem a salvação e
que Deus opera neles tanto o querer, quanto o efetuar (Fl 2.12,13).
Em terceiro lugar, percebi
que existem lugares em que o mato era escasso e até inexistente. Esses espaços
são aqueles lugares em que os pedreiros andavam. Os pecados nascem com mais
vigor naquelas áreas em que, por medo, vergonha, falso prazer ou orgulho,
deixamos sem a devida atenção. Nesses lugares a enxada terá mais trabalho, pois
as touceiras estarão mais arraigadas e impropensas a serem arrancadas.
Em quarto lugar, depois do
trabalho há um monte de mato e lixo em quantidade que você não imaginava antes
de começar. Quando você começar a observar sua vida pela perspectiva divina encontraremos
uma enormidade de situações, desejos e tendências que não se afinam a um
coração que agrada ao Senhor. A pergunta é: o que fazer com tudo isso? Devemos
lançar nosso pecado na cruz do calvário onde eles foram carregados por aquele
que apesar de não ter pecado se fez pecador em nosso lugar (2Co 5.21).
O coração do ímpio é
um terreno baldio onde a sujeira e a calamidade são evidentes, contudo crente,
não pense que a menor intensidade e qualidade de suas mazelas ofendam menos o
Deus santo e justo. A diferença entre o terreno do seu coração e o do pecador
contumaz esta no fato de que você é assistido pela graça e, por isso, você não
deve se conformar nem com a sujeira mais irrelevante, por isso, escrutine seu
coração com a enxada da Palavra e da oração para deixa-lo da maneira
conveniente àqueles que são chamados de Cristo.
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