A Síria e a interpretação
das Escrituras
Na obra A Bíblia e seus intérpretes, o Reverendo
Augustus compara a Palavra ao próprio Jesus, pois assim como nosso suficiente
Redentor possui duas naturezas (divina e humana) sem composição, fusão ou
confusão, mas plenas e capazes de se comunicarem uma com a outra, a Bíblia é
igualmente divina e humana. Como Palavra inspirada de Deus (2Tm 3.16), contém
tudo o que é necessário para a glória de dEle e para a nossa salvação.
Apresenta uma realidade que está muito além de nossas capacidades e só pode ser
atingida pela ação do Espírito Santo na vida do regenerado, pois entre o homem e
a Palavra há uma infinita distância natural, espiritual e moral.
A realidade divina da
Palavra só pode ser observada pela ação da graça especial, por isso, o ímpio
sempre a entenderá de forma tendenciosa, porque parte de traduções que não são
inerrantes, assim como de uma linguagem onde o Senhor se acomoda de tal maneira
que as línguas nunca esgotarão em seu comunicar o Ser de Deus, o que seria
impossível em qualquer aspecto, mas exporão o suficiente para que os eleitos
sejam salvos.
A Bíblia partiu de
uma inspiração orgânica, ou seja, o Senhor utilizou o vocabulário, a pesquisa e
o conhecimento dos autores humanos, mas fez com que tão somente a sua verdade infalível
fosse registrada e a preservou até os nossos dias. Contudo o intérprete moderno
precisa entender que ela foi confeccionada em outro tempo, contexto, cultura e
línguas diferentes daqueles que temos. Esse distanciamento deve ser amenizado
pelo estudo histórico e gramatical da perícope a ser interpretada.
O texto fora do seu
contexto é uma fonte de toda sorte de absurdos e incoerências. Isso tem
acontecido com a má interpretação de Isaías 17 onde algumas pessoas ingênuas ou
mal intencionadas têm visto nos três primeiros versículos como se cumprindo na
atual guerra da Síria.
Quando estamos diante
de uma profecia, devemos entender que elas foram entregues a contextos específicos,
tal como em Isaías de 17 fala da aliança siro-efraimita (Síria e Damasco) contra
o Reino d Judá em 734 a.C. Podemos ver o desenrolar dessa situação em Isaías
7.1-8.4, assim como 2Reis 16.1-20. Os reis Peca (de Israel, Reino do Norte ou
Efraim) e Rezim (rei assírio) unem-se contra o Reino de Judá a fim de interromper
a dinastia de Davi e, também, impedir uma aliança entre Acaz (Rei de Judá) com
Tiglate-Pileser III (Rei da Assíria). A destruição do Reino do Norte acontecerá
em 722 a.C. Salmaneser V (apesar da conquista de Samaria ser atribuída a Sargão
II era Salmaneser V que estava no trono) sitiou Samaria por três anos e o Rei
Oseias não suportou essa opressão (2Reis 17.5-18). Damasco (capital da Assíria)
também subvertida pela investida de Tiglate-Pileser entre 733-732 a.C. Ambas as
cidades foram destruídas por causa do pecado em que chafurdavam e ainda mais
porque quiserem fazer fracassar a promessa de sempre um descendente de Davi se
assentar sobre o trono de Judá (2Samuel 7.16).
Portanto, Isaías
17.1-4 já se cumpriram e, em nada, se referem aos acontecimentos que ocorrem na
Síria de hoje e que são desdobramentos da Primavera Árabe. Contudo devemos
entender que nada foge à soberania dAquele que faz os pardais cair dos céus e
conta todos os cabelos de nossa cabeça. Ele faz absolutamente tudo: luz e
trevas, paz e guerras (Isaías 45.7), assim como é Ele que destrona reis e os
estabelece (Daniel 2.21). Diante das imagens chocantes advinda da sofrida Síria
devemos confiar que podemos não ter todas respostas (Deuteronômio 29.29), mas
tudo o que acontece existe pelo conselho da vontade do Senhor (Efésios 1.11).
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