Tempus Fugit
Ontem estava vendo fotos antigas. Daquela época em que se
revelavam filmes de 24 ou 36 poses que
eram guardados em álbuns preciosos. São como cápsulas do tempo que mostram como
fomos magros ou menos gordos, como alguns que ostentavam cabelos ao vento,
hoje, uma cabeça brilhante. Mostra pessoas que foram importantes, mas que
passaram, outras, que apesar de completamente pertinentes, utilizando o
eufemismo do poeta Manuel Bandeira “dormem
profundamente”. Mostra como nosso sorriso ingênuo e confiante foi
substituído, aos poucos, por uma face menos flexível e amadurecida.
Uma das definições mais interessantes sobre o tempo é do
autor afegão, Khaled Hosseini, em A
Cidade do Sol, “o tempo é o mais
inclemente dos incêndios” (p.161). Assim como o fogo devasta tudo,
igualmente, ninguém pode fugir dos rigores nefastos do maquinário do relógio.
Sulca nossa face, encanece os cabelos que restam, tira nossas moedeiras e esvai
nossa força (Ec 12.1-5) com tanta sutileza que só nos sentimos roubados na
falta da força, da visão, do vigor dos dias de antes.
Mexendo nos meus álbuns velhos percebi que as pessoas são
perecíveis e logo vão embora. Moisés compara nossa vida à relva que pela manhã
floresce, mas, à tarde, está seca e precisa ser cortada pela manhã (Salmo
90.3-5). Calvino, comentando o Salmo 90, afirma que “os homens estupidamente se gloriam de sua excelência, visto que, quer
queiram quer não, são constrangidos a olhar para o tempo por vir e, tão logo
abrem seus olhos, percebem que são arrastados e apresentados à morte com
incrível rapidez, e sua excelência em um instante se desvanece”. Precisamos
de forma urgente entender que as coisas são infinitamente menores do que as
pessoas. É inevitável que as pessoas partam, mas é uma escolha contínua se
vamos nos lembrar delas pela ótica do remorso ou da saudade.
Percebi que muitos dos meus sonhos e dos meus medos
ficaram naqueles tempos. Salomão nos mostra que ao ser humano foi concedida a
capacidade de planejar, entretanto, é o SENHOR quem dá a palavra certa. (Pv 16.1). Frequentemente, somos
tentados a negligenciar os prazeres eternos para chafurdarmos em alegrias
efêmeras que nada mais são do que o usufruir as bênçãos de Deus da maneira
errada, no tempo inoportuno com pessoas volúveis. Vivemos em um mundo caído
onde, continuamente, temos medo, contudo, tal como os amigos de Daniel (Dn
3.18), teremos maior medo de ofender a Deus que aos homens (Mt 10.28; At 4.19).
As pessoas e eu mudamos, mas Jesus é o mesmo sempre (Hb
13.8). Continuamente, apegamo-nos a coisas que mudam, deterioram-se e acabam e
quanto mais nossos corações estiverem ligados a esses bens tanto mais será
nossa decepção, pois Jesus afirma que “onde
estiver o teu tesouro, aí também estará o teu coração” (Mt 6.21). Servir a Deus e ao mundo sempre é uma tarefa
desastrosa (Mt 6.24).
Depois da queda o
tempo não serve apenas para marcar os dias, mas também a nossa deterioração,
contudo entre as muitas criações que Deus legou ao homem o tempo é uma delas,
por isso, não é à toa que Paulo pede para que aproveitemos ao máximo
(compremos) as oportunidades (o tempo), porque os dias são maus (Ef 5.16). Hendiksen
defende que o cristão necessita usar o seu tempo de maneira adequada, ou seja,
mostrando por meio de suas vidas o evangelho de Deus. Oxalá que nas fotos de
outrora vejamos em nós um coração desprendido e inteiramente devotado a fazer a
vontade do Senhor mesmo que as circunstâncias não sejam as mais favoráveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário