Não eu, mas Cristo: Paulo e a admoestação pública
“Fui
crucificado juntamente com Cristo. E, desse modo, já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim. E essa nova vida que vivo no corpo , vivo-a,
exclusivamente, pela fé no Filho de Deus, que me amou e se sacrificou por mim” (Gálatas 2.20).
Paulo está vendo Pedro na tensão de agradar mais aos homens
que a Deus e tem algumas opções de como lidar com esse problema:
· Poderia fingir que nada estava acontecendo. Contudo essa atitude era impossível e desastrosa. A
atitude de Pedro estava fazendo discípulos entre os judeus e até mesmo entre
Barnabé (Gl 2.13). Ignorar o problema seria fazer o mesmo que os presbíteros de
Corinto agiam com o jovem que se deitava com a própria madrasta (1Co 5.1,2).
Muitas igrejas, atualmente, optam por essa maneira de agir, todavia Paulo nos
orienta que “um pouco de fermente leveda toda a massa” (Gl 5.9), ou
seja, mesmo as faltas tidas como leves tem o potencial de serem agressivas,
progressivas e fatalmente degenerativas na igreja.
· Poderia ignorar o fato pela autoridade que atribuía a
Pedro. Paulo o reputava como coluna da
igreja (Gl 2.9). Calvino, comentando Gálatas 2.6, afirma: “Paulo recusa ver
seu apostolado obscurecido pela grandeza de qualquer pessoa, pois a autoridade
do seu ensino está em íntima conexão com ele”. Ninguém ou nenhuma tradição,
advinda de nenhum Concílio, pode ser infalível ou mais correto do que a Palavra
de Deus.
· Paulo poderia repreendê-lo de forma reservada. Essa atitude
não edificaria o povo de Deus, não corrigiria escândalos, erros e faltas,
tampouco promoveria a honra de Deus, a glória de nosso Senhor Jesus Cristo e o
bem dos culpados (CD/IPB art.2, parágrafo único). Não estamos, nem de longe,
defendendo que houve uma disciplina da parte de Paulo para Pedro, porque nenhum
Concílio foi consultado para tal, mas uma severa admoestação que serve para
corrigir uma falta e produzir os mesmos efeitos da disciplina. Uma das marcas
que atestam a fidelidade de uma igreja é a disciplina, contudo não faltam
igrejas dispostas a negligenciá-la a fim de serem mais humanas, mesmo que, para
isso, precisem ser menos evangélicas.
A atitude de Pedro em deixar de comer com os gentios e se
apartar deles foi uma falta praticada pela livre agência daquele cujo encargo
seria pescar homens, pois é uma é uma prática que inferência na doutrina da
igreja e que não estava de acordo com a Palavra, assim como, prejudicou a paz e
a ordem e a boa administração da igreja de Antioquia (CD/IPB art.4). Tal como
afirma a Confissão de Fé de Westminster (XXX,3): “”as censuras eclesiásticas são necessárias para chamar a Cristo os
irmãos ofensores, para impedir que outros pratiquem ofensas semelhantes, para
purgar o velho fermento que poderia corromper a massa inteira [...]”.
Paulo mostra a Pedro que nossas mais simples opções
pecaminosas têm uma inevitável e desastrosa repercussão na teologia e doutrina
da comunidade cristã. Paulo mostra a Pedro que não viviam mais como judeus, ou
seja, não mais sob os rigores arcaicos das leis cerimoniais, porque foram
atingidos por algo maior e melhor: Jesus (Gl 2.15,16 comparar com Fl 3.8), pois
ninguém será justificado pelas obras. Dessa maneira se reconstruir os costumes
judaicos, mesmo que para agradar a homens, faz de Cristo ministro do pecado, o
que é inadmissível (Gl 2.17).
Paulo mostra a Pedro que se ele vivesse e agisse conforme
seus desejos consequentemente Cristo não viveria nele, mas se Cristo estivesse
vivo nele os desejos da carne deveriam ser mortificados (Gl 2.20 compare com
Rom 6.14-17). Não é possível viver nossa carne e Cristo ao mesmo tempo (veja Rm
8.8-9). Portanto, a melhor maneira de agradar a Deus é fazendo nossa carne
morrer para que Cristo viva em nós.
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