Deus e o
livre-arbítrio
“Deus não é homem,
para que minta; nem filho do homem, para que se arrependa. Porventura, tendo
ele dito, não o fará? ou, havendo falado, não o cumprirá?” (Números 23.19)
Tomás e de Aquino (1225-1274) respondeu o famoso paradoxo
da onipotência no qual se questionava: “Deus pode criar uma pedra tão pesada
que não possa carregar?” Essa pergunta, muito utilizada por ateus, tenta
enganar os incautos afirmando que a soberania do Senhor lhe é impossível, pois
como todo bom paradoxo todas as respostas levarão ao mesmo lugar: a anulação da
possibilidade da onipotência divina. Se alguém vociferar: Deus é soberano e,
por isso, pode criar até mesmo uma pedra dessa proporção, sua onipotência é
ameaçada pelo fato de não poder carregá-la. Entretanto, alguém, temeroso pelas
razões erradas, pode acreditar que não possa fazer tal proeza e, igualmente,
confessar contra o augusto poder do Senhor.
Contudo, é necessário se atentar para o fato de que esse
paradoxo parte de uma distorção daquilo que se entende por onipotência. Deus é
todo poderoso naquilo que lhe é possível. Obviamente, é
infinito o número de possibilidades que, apesar de nos serem impossíveis não o
são ao Criador, tal como uma virgem conceber e dar à luz ou um morto
voltar à vida, como Lázaro e a filha de Jairo, e, acima de tudo, a salvar o
pecador, o maior milagre empreendido por Aquele que faz todas as coisas segundo
o conselho se sua vontade (Veja Lucas 18.27).
Podemos confiar na Palavra inspirada do Arcanjo Gabriel: “não haverá impossíveis para Deus em toda a
Palavra” (Lucas 1.35), ou seja, o Senhor não
pode ser visto como um igual a nós, sujeito às mesmas mazelas e dificuldades (Veja Gênesis 18.14).
Acreditar que Deus poderia fazer uma pedra que não possa carrega-la é tão
absurdo quanto conceber um quadrado com três ângulos. Portanto existem
impossíveis para Deus:
· É impossível que peque (Levítico 19.1);
· É impossível que Deus minta ou se arrependa (Números
23.19);
· É impossível que não cumpra sua Palavra (Lucas 1.37);
· É impossível que mude de ideia (Tiago 1.17); Etc.
Essa realidade mostra como a liberdade é um sórdido
devaneio da imaginação humana. Os Iluministas fiaram-se nessa ilusão como uma
dos maiores valores entre a igualdade e a fraternidade. Todavia ninguém é
completamente livre. Esse é um diabólico desejo que só pode conduzir o homem a
mais vil rebeldia. A liberdade criada não permite de modo algum que alguém faça
aquilo que bem quiser sem que tenha que lidar com as responsabilidades
inerentes a cada uma das escolhas que nascem de sua livre-agência (capacidade
de escolher a partir da natureza de seu coração). Inevitavelmente, optaremos
entre possibilidades distintas e até opostas e, sem a ação do Espírito Santo,
inclinar-nos-emos àquilo que desagrada o Criador, porém, em harmonia com a
Palavra—iluminada pelo Espírito Santo—,encontraremos os meios necessários para agir de maneira prudente e que
glorifica o Pai que está no céu.
Não faltam aqueles que almejam exercer uma liberdade quase
infinita. Contudo, partindo do pressuposto de R.C. Sproul, em que o livre
arbítrio “é a capacidade fazer escolhas sem
nenhum preconceito, inclinação ou disposição anteriores”. Apenas nossos primeiros pais tiveram tal
incumbência e encontraram o desastre da queda. Nem Deus possui livre-arbítrio,
pois não tem neutralidade tal que possa se inclinar para o pecado. Logo,
desejar tal liberdade é querer tomar nos ombros a pedra que nem o Criador deseja, é o reflexo do pecado
original almejando ser igual a Deus.
Quando formos tolhidos pela pouca abrangência de nossas
opções e a angústia de querer mais do que se pode, lembremo-nos de que, apesar
da liberdade divina ser muitíssimo ampla, não é de maneira alguma infinita.
Portanto, quando o néscio reclama o livre-arbítrio e o poder de escolher tudo,
de maneira rebelde quer uma liberdade maior do que aquela que o Senhor desfruta
na glória.
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