O Cordeiro
“Deus
proverá para si, meu filho, o cordeiro para o holocausto” (Gn 22.8)
Segundo Beale, a alegoria traz o Antigo Testamento para o
Novo sem observar o seu contexto, que pode “fornecer
esplêndidas interpretações, mas rouba o seu sentido real” (Anglada). Esse
método teve Orígenes (185-253) como seu grande expoente e perdurou por toda a
Idade Média.
A tipologia, por outro lado, é “o estudo das correspondências analógicas entre verdades reveladas
acerca de pessoas, fatos, instituições e outros elementos no âmbito do plano
histórico da revelação especial de Deus; correspondências essas que, do ponto
de vista retrospectivo, são de natureza profética e têm sentido intensificado”
(Beale).
Apesar de Orígenes ser ligado ao método alegórico, na obra Das Homilias sobre o Gênesis, faz uma
análise tipológica entre Isaque e Jesus:
·
A lenha do sacrifício foi imposta a Isaque por
Abraão, assim como a cruz é colocada sobre Jesus por seu Pai;
·
O sacerdote levava a lenha para oficiar o
sacrifício. Isaquel, levando a lenha mostrava-se, ao mesmo tempo, sacerdote e
vítima. Jesus é o sacerdote e a vítima na cruz do calvário.
Sobre a
resposta de Abraão a Isaque, Orígenes afirma: “não sei o que via em espírito, pois responde olhando para o futuro e
não para o presente: Deus mesmo olhando para o futuro e não para o presente:
Deus mesmo providenciará uma ovelha. Assim fala do futuro ao filho que indagava
pelo presente. O Senhor providenciava para si um cordeiro em Cristo”.
Segundo o
autor de Hebreus, Abraão ofereceu pela fé Isaque “porque considerou que Deus era poderoso até para ressuscitá-lo dentre
os mortos , de onde também figuradamente, o recobrou” (Hb 11.19). O termo parabolé (παραβολή) que foi traduzido pela
ARA por “figuradamente” significa uma símile, comparação, tipo, padrão, contudo
é um “símbolo misterioso”. Segundo Laubach, “o
sacrifício de Isaque em Moriá torna-se um “símbolo misterioso” (em grego, parabolé) da morte e da ressurreição de Jesus, daquele acontecimento sagrado no
qual o Pai celestial entregou o seu único Filho amado como sacrifício pelos
pecados de um mundo perdido”.
Dessa maneira
há uma correspondência analógica entre Isaque e Jesus que sobem em observância
à vontade do Pai para o sacrifício. Todavia, com o aparecimento do carneiro (o
cordeiro e o carneiro são o mesmo animal, contudo o cordeiro é o carneiro mais
jovem, 14 meses) (Gn 22.13), Isaque deixa de ser tipo de Cristo, que agora é
assumido pelo carneiro, e passa a representar toda a humanidade.
A correspondência entre Jesus e esse Jesus e esse carneiro é
que ambos substituem a morte de outra pessoa. Jesus é esse cordeiro definitivo
que derrama o precioso sangue na cruz do calvário para que, por meio dele,
fôssemos lavados de tal maneira a atrair a misericórdia do Justo e Soberano
Juíz. Hoje nos consola essa suprema verdade: todos deveríamos morrer, mas Deus
proveu o cordeiro.
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