O Juiz chamado
Deus
Vivemos uma das maiores crises políticas de nossa história.
Nesses dias os rótulos são os maiores vilões, porque, quando pessoas usam mais
adjetivos (palavra que dá qualidade) que substantivos (conceitos) e verbos de
ação, o pensamento fica truncado e as decisões, em prol do bem-comum,
impossíveis. Esse é o momento propício para aparecerem heróis e salvadores da
pátria.
Muitas vezes o herói não é uma autocriação, mas a
idealização das pessoas. Nesse mundo bipolar os salvadores do populacho são,
necessariamente, os inimigos do outro e vice-versa.
Um exemplo recente dessa realidade é o figura do juiz
federal Sérgio Fernando Moro, pois seus defensores, que carregam sua foto em
passeatas ou postam seus feitos nas redes sociais não o conhecem. O simples
fato de ele fazer, com certa competência, o que faz justifica todo o apreço. Da
mesma forma seus opositores lutam não contra a pessoa física, mas com toda a
imagem que se criou ao seu redor.
Portanto, muito do que se critica de Moro está embasada nas
circunstâncias que vivemos e nos desejos que a população impõe a ele.
A figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também
exerce a mesma função é mais que um CPF é um ícone que ao ser atingido promove
grande comoção de defensores e críticos.
Nas discussões sobre o quadro político de nosso país, o
ativista de esquerda Guilherme Boulos, afirmou no teatro do TUCA em São Paulo,
sua indignação de como um juiz de primeira instância, que não havia sido eleito
por ninguém podia tomar as decisões que efetivou.
Se extrairmos a figura de Moro daquela áurea mítica que a
multidão inconformada e as circunstâncias criaram, veremos um homem competente,
corajoso, mas capaz de cometer possíveis erros (como liberar gravações à
imprensa, não se combate as arbitrariedades sendo arbitrário), contudo é
indubitável a rigidez com a qual tem conduzido os desdobramentos da “lava jato”
e o que agride seus opositores é sua
persistência, atingindo até
mesmo ícones do cenário político e social.
Se a ações de
Moro têm amedrontado e atingido inúmeros defensores da esquerda, se escutas de
telefone aquecem as discussões e enchem páginas de jornal, se delações fornecem
mais combustível a esse incêndio. Como será no dia em que todos, inclusive
esses que aparecem em listas de empreiteiras, estiverem diante do supremo Juiz
que age segundo o conselho da sua vontade (Ef 1.11)? “Deus é um juiz justo, que sente indignação todos os dias” (Sl
7.11). Ele prova coração e mentes (Jr 11.20), por isso, não precisa de delações
ou conversas gravadas, porque nada passa despercebido diante de seus olhos.
No Êxodo
(12.29-36), temos um pouco da maneira de agir desse juiz e como ele aplica a
sua justiça:
Deus exerce juízo em momento inesperado
(veja Sl 134.1; Dn 5.30; Mt 24.42)
A teologia
liberal, que visa desmitologizar a Palavra, explica a morte dos primogênitos em
decorrência a um fungo nos grãos que contaminou efetivamente os indivíduos dessa
classe de pessoas, porque recebiam uma ração diária maior. Outros afirmam que a
erupção do vulcão Thera expeliu gases
tóxicos que atingiu especialmente os primogênitos, que dormiam no térreo das
casas. Essas teorias não explicam o porquê de outros grupos não morrerem ou
como Faraó decide perseguir escravos com um vulcão desperto. O fato é que à
meia-noite, enquanto todos descansavam, o Senhor envia seu anjo para exercer castigo
sobre os egípcios. Quando Jesus é questionado sobre o dia da vinda de Jesus e a
consumação do século (Mt 24.3), respondeu aos seus discípulos: “ficai também vós apercebidos; porque numa
hora em que não penseis, virá o Filho do homem” (Mt 24.44).
Deus exerce juízo sem fazer distinções
sociais
A décima praga
se dá pelo coração duro de Faraó (não que Deus fosse agente desse
endurecimento, porque aceitar essa ideia seria concordar com o fato do Senhor ser
agente do pecado, mas a realidade é que o Senhor não restringiu o mal e a
cegueira espiritual de Faraó como fez com Sérgio Paulo em At 13.12). Ela ceifa
a nata da sociedade egípcia (o termo hebraico bekôr - בּכור, que a ARA traduz
como primogênito significa princípio do vigor. Veja Sl 78.50,51). Esse juízo
acontece a todos sem distinção de classe social (Êx 12.29). Em Apocalípse
6.15-17 percebe-se a mesma falta de distinção de classes sociais no Juízo
Final, porque os reis, os grandes, chefes militares, escravos e livres se
esconderão nas cavernas por causa da ira do Cordeiro. A única distinção válida
é quem está debaixo do sangue do Cordeiro pascal ou quem não está. Hoje o
cálice da ira de Deus esta misturado a sua misericórdia, mas um dia ele cairá
sem mistura alguma (Ap 14.10 e Sl 75.8).
Deus, ao exercer, juízo tem misericórdia do
seu povo
A palavra pâlâh (פּלה), fazer distinção,
aparece em Êx 8.22 (praga das moscas), 9.4 (peste entre os animais) e 7.11 (dos
primogênitos). Essa diferenciação não indica que o povo de Israel era mais
santo que os egípcios, mas que possuíam um Deus misericordioso. No dia do
Juízo, só existirá duas maneiras de Deus proceder: com justiça ou com
misericórdia, esta só será aplicada aqueles que estão em Cristo e foram lavados
com seu sangue.
Com esse juiz
não há apelações a instâncias superiores, seu veredicto será inquestionável. No
dia do derradeiro julgamento nossas obras serão nossos delatores, todas as
nossas atitudes e pensamentos estarão diante do divino magistrado, contudo a
causa de nossa salvação não estará nesses artifícios, mas no agir gracioso da
misericórdia divina.