Um Jesus para chamar de
meu
Na última parada gay
a atriz Viviany Belemoni causou polêmica saindo seminua em uma cruz
representando Jesus crucificado. No último dia oito, em visita oficial a Bolívia,
o papa romano recebeu um presente, no mínimo curioso, do presidente Evo
Morales: um Jesus pregado no martelo e na foice, que identificam o comunismo
(criação do Padre Jesuíta Luiz Espinal). Esses fatos recentes, por terem
acontecido em lugares, com pessoas e contextos diferentes, mostram o triste
flagrante de que nosso tempo tem medo da verdade e, por isso, busca, cada vez
mais, um desesperado relacionamento com o sagrado, mas de maneira subjetiva,
influenciado por um leitura desconstrutivista.
Ferdinand Saussure (1857-1913), influenciado pela
filosofia positivista (que primava pelo valor da ciência), lançou as bases para
estudar o significado dos signos (união de uma palavra/conceito [significado] a
uma imagem acústica [significante]), o que ficou conhecido como semiologia
(SAUSSURE, 2002, p.79). Para Saussure, o ato de unir um significado a um
significante é algo arbitrário, ou seja, a origem dos signos não se deu ao
imitar os sons da natureza ou de exclamações, mas por convenção humana, porém
não é de todo arbitrário, pois uma vez identificado um objeto ele nunca mais
poderá ter seu nome mudado, a palavra balança não pode nomear um carro. Dessa
maneira, o estruturalismo pressupõe um paradigma que não pode ser mudado (mesmo
que ele seja fruto da arbitrariedade ou convencionalismo). Isso indica que há
algo absoluto, uma noção de verdade primeira (SAUSSURE, 2002, p.82).
A década de 1960 foi um período de grande efervescência
como Concílio Vaticano II, Revolução Cubana, o movimento hippie. Na França, em
maio de 1968, os estudantes, sem um motivo específico, motivaram uma greve
geral de cunho comunista stalinista sob o lema: “é proibido proibir”. Jacques Derrida, respirando esse momento,
tornou-se herdeiro e crítico do estruturalismo, combatendo, especialmente, o
senso de absoluto. Segundo Silva[1],
“em sua leitura desconstrutora, almeja ir
ao mais fundo ponto de uma escritura e trazer à superfície aquilo que está
submerso; trazer à luz aquilo que o texto esconde e que o próprio autor não viu
ou não quis ver”.
A crucificação é um fato histórico, mas não
definitivo, pois Jesus ressuscitou (1Cor 15.20). Entretanto, tal como muitos
ouvintes de Paulo no Areópago, muitos preferem descartar a ressurreição mesmo
que isso fizesse vã a fé (1Cor 15.14) ficando com a crucificação como se fosse
mais certo e confiável (mesmo sabendo que a prova sociológica da ressurreição e
todo o desenvolvimento do cristianismo mostram que a realidade da ressurreição
de Cristo é um fato histórico).
A concepção desconstrutivista não se propõe a
destruir o texto, mas questionar a interpretação que foi arbitrariamente
imposta a ele. Dessa maneira, pode se vir a mesma história da crucificação por
um perspectiva secundária como o oprimido que é morto por seus ideais e nessa concepção
se faz sentido a atriz transexual representá-lo ou os proletários por suas
convicções político-sociais.
Há um medo latente da verdade em nossos dias, porque
ela impõe um paradigma intransponível. Alguém que se propõem a buscar a
verdade, achando-a, acatá-la-á ou tentará refutá-la, pois a mentira não é um
lugar confortável para ninguém. Vemos essa realidade entre os judeus reunidos
para a festa das cabanas em João 8. Segundo Carson (2011, p. 349), os judeus
acreditavam que o estudo da lei era capaz de fazer o homem livre, mas a verdade
é que a lei aponta para Cristo e apenas essa verdade é capaz de libertar o
homem dos grilhões que outrora ostentara.
O homem é um ser naturalmente religioso de tal
maneira que Calvino afirma: “não existe nação tão
bárbara, nenhum povo tão selvagem que não tenha impressa no coração a
existência de algum Deus” (Institutas I.4, p.56).
Até mesmo os regimes comunistas tinham
ritos religiosos cuja figura central era o Estado. Irmão André, evangelizando a
Alemanha Oriental, relata no Contrabandista
de Deus: “usando a antiga sabedoria
da Igreja, o regime [comunista] estava oferecendo cerimônias pagas pelo Estado,
que eram franca imitação dos rituais cristãos” (SHERRILL, 2008, p.180),
tais como a cerimônia de recepção (equivalente ao batismo), casamentos,
funerais e confirmações (jugend Weihe, que Angela Merkel, primeira ministra da
Alemanha, não fez por ser filha de Pastor Luterano, mas procedeu a confirmação
própria de sua denominação).
Dessa maneira, comunistas como Evo
Morales ou transexuais como Viviany Belemoni querem desenvolver de alguma
maneira sua expressão religiosa e vão interagir com outras expressões
religiosas entendendo que todos possuem a verdade em níveis gradativos e não
princípios absolutos inegociáveis. Nessa realidade, frequentemente,
desenvolve-se uma relação subjetivista com a Palavra e com Jesus Cristo. Segundo
Sproul (2003, p.41), “subjetivismo
acontece quando distorcemos o significado objetivo dos termos para adaptá-los
aos nossos interesses próprios”. As pessoas toleram a Bíblia enquanto ela
fala máximas (aforismos) que ajudam na vida prática e criam um Jesus ao seu
próprio gosto.
Esse Jesus forjado nas pedias do gosto
pecaminoso não passa de um ídolo aparentemente amistoso, mas, ao mesmo tempo,
perigoso e ineficaz para o bem. Só pode conhecer a Jesus senão pelo aço sobrenatural
do Espírito sobre a Palavra. Só há um Jesus e ele não está crucificado.
[1] http://www.celsul.org.br/Encontros/06/Individuais/63.pdf.
Acessado no dia 18 de julho de 2015 às 1h 03.
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