A História do Dia de
Ação de Graças
Essa data parece, à primeira vista, mais um enlatado
cultural americano como o halloween, que os Policarpos Quaresmas[1]
de plantão, que veem qualquer influência norte-americano como nociva, tendem a repudiar
e ironizar, engraçado ninguém reclamar da Black Friday. Contudo uma pesquisa
sobre sua história e a mensagem dessa data pode nos oferecer ricos subsídios.
Segundo a Embaixada Americana, o Dia de Ação de
Graças acontece na quarta quinta-feira de novembro e foi comemorada pela
primeira vez em 1621 na colônia de Plymouth (hoje Massachusetts) pelos Pais
Peregrinos, puritanos de teologia Calvinista que chegaram um ano antes no navio
Mayflower[2].
Segundo o Rev. Alderi de Souza Matos[3],
o puritanismo foi um movimento antigo na igreja inglesa e remonta ao
pré-reformador John Wycliffe e os seus seguidores chamados Lolardos, o qual via
na Bíblia a grande autoridade à Igreja que era formada pelos eleitos. Wycliffe
questionava a autoridade do Papa e a doutrina da transubstanciação. Quando
Henrique VIII (1491-1547), iniciou o processo de Reforma da Igreja na
Inglaterra não o fez por razões pessoais e Elizabete I deu, com a ajuda de
Richard Hooker, a face da Igreja Anglicana, que, para agradar o maior número de
súditos reunia elementos católicos (especialmente na liturgia) e protestantes[4].
A Reforma ficara no século XVI e a Inglaterra via
surgir uma religião estatal que fria, pois, segundo Steven G. Lawson[5],
porque não exigia uma membresia regenerada, não possuía critérios para admitir
as pessoas à mesa da Ceia e especialmente o Ato de Uniformidade ou a Grande
Rejeição baixado pelo Parlamento e Carlos II fez com que, no dia 24 de agosto
de 1662, 2.000 pastores puritanos tivessem de deixar suas igrejas, pois só a
Igreja da Inglaterra deveria ter autonomia para pastorear.
Profeticamente, o puritano Thomas Watson afirma em
seu último sermão, antes de deixar o púlpito em 1662: “a aflição pó ser
prolongada, mas não eterna. Nossos sofrimentos neste mundo não podem ser
comparados com nosso eterno peso de glória”[6].
Essa mesma convicção estava em John Bunyan, autor de O Peregrino, que ficou 12 anos (1660-1672) preso por entender que,
a partir de 1Pedro 4.10,11, tinha direito e dever de pregar. Recusou-se a
deixar o ministério em troca da liberdade que daria a ele a oportunidade de
desfrutar do casamento (estava recém casado com sua segunda esposa Elizabeth
Bunyan quando foi preso) e cuidar de sua filha cega.
Essa mesma convicção Spurgeon apresentará no século
XIX, livre das pressões que Watson e Bunyan sofreram, quando afirma: “ainda que a Rainha da Inglaterra vos chamar para
ser embaixador da Inglaterra em qualquer parte do mundo, não vos rebaixei de
posto, mas continuem como embaixadores do Rei dos reis, que é Jesus Cristo”
O Movimento Puritano foi uma novo despertamento
nessa igreja de Cristo que,para ser Reformada, urgem sempre estar pronta a
reformar-se. Contudo, tal como Atos 11.19, as perseguições irão no encalço da
igreja fiel levando a ao quebantamento cada vez maior e a expansão da mensagem
do Senhor, pois até a vinda de Jesus cabe-nos evangelizar todas as nações (Mt
10.23).
O Prof. Latourrette afirma que os Puritanos queriam
ver a Igreja Anglicana distante das idolatrias romanas e, por isso, protestavam
contra as vestimentas impostas ao clero optando pela toga; o ajoelhar-se para
receber a Ceia, porque indicava uma espécie de adoração; queriam um governo
presbiteriano bispos, presbíteros e pastores estão em pé de igualdade[7].
O Rev. Augustus Nicodemus Lopes[8]
defende que os puritanos passaram a ser perseguidos porque entendiam que a
Palavra deveria dar novo direcionamento ao homem, assim como a sua família, aos
negócios que empreendia e, inclusive, à maneira como o governo dirigia a nação.
O Mayflower era um desses navios cheios de homens e
mulheres singrando o mar em busca de um lugar em que pudessem “glorificar a
Deus e se alegar nele para sempre”. Terry Johnson, na obra A Doutrina da Graça na Vida Prática, relata que 102 pessoas
embarcaram nesse navio, porém apenas 55 pessoas chegaram vivas, sendo que
apenas haviam quatro das dezessete esposas que embarcaram[9].
Os Pais Peregrinos teriam motivos para entrar no
Mayflower e retornar às inóspitas perseguições inglesas; o mundo daria razão a
eles se blasfemassem e brigassem com Deus denominando-se ateus. Entretanto, o
Evangelho estava plantado em seus corações e reconheciam que não existem
acidentes e infortúnios, mas que estavam debaixo da vontade soberana do Senhor.
Conscientes de que “todas as
coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito”
(Rm 8.28), por isso, celebraram o dia de Ação de Graças.
A ideia de Joaquim Nabuco quando era embaixador do
Brasil em Washington. Essa comemoração foi promulgada pelo presidente Eurico
Gaspar Dutra no dia 17 de agosto de 1949 e, definitivamente estabelecida na
quarta quinta-feira de novembro, em 22 de setembro de 1966 pelo então
presidente o presidente Castelo Branco.
A mensagem do Dia de Ação de Graças vai além das
ideologias e nacionalismos ela proclama em alta voz que Deus é soberano e que o
Senhor está no controle de todas as coisas inclusive daquilo que aparentemente
parece mal. O crente fiel reconhece que nem sempre entenderá as adversidades,
porque compreende que “as coisas
encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus”
(Dt 29.29a), porém compreende que os sofrimentos não podem limitar, mas
potencializar seu testemunho, porque sabe que “as [coisas] reveladas nos pertencem, a nós e a nossos
filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Dt 29.29b).
Feliz Dia Mundial de Ação de Graças
Reverendo Diego José Gonçalves Dias
[1] Referência
ao Anti-herói da célebre obra de Lima Barreto Triste Fim de Policarpo Quaresma, o qual tinha como grande
característica o extremado espírito nacionalista.
[2]http://photos.state.gov/libraries/amgov/133183/portuguese/P_US_Holidays_Thanksgiving_Day_Portuguese.pdf.
Acessado no dia 27 de nov. 2014 às 15h06.
[3] http://www.mackenzie.br/7058.html.
Acessado no dia 27 de nov. 2014 às 15h07.
[4]
MATOS, Alderi de Souza. Fundamentos da
Teologia Histórica. São Paulo: Mundo Cristão, 2008, p.167.
[5]
LAWSON, Steven G. O Zelo Evangelístico de
Georde Whitefield. São José dos Campos-SP: Fiel, 2014, p.14.
[6] http://zeartigos.blogspot.com.br/2006/04/o-ltimo-sermo.html.
Acessado no dia 27 de nov. de 2014 às 17h07.
[7] LATOURRETE, Kenneth Scott. Uma História do Cristianismo. Vol 2. São
Paulo: Hagnos, 2006, p. 1102.
[8] http://www.monergismo.com/textos/puritanos/puritanismo_augustus.htm.
Acessado no dia 27 de nov. de 2014 às 16h47.
[9] JOHNSON,
Terry. A Doutrina da Graça na Vida
Prática. São Paulo: Cultura Cristã, 2001,p. 74.
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