Não eu, mas Cristo: Pedro e a
tensão de quem agradar
“Fui
crucificado juntamente com Cristo. E, desse modo, já não sou eu quem vive, mas
Cristo vive em mim. E essa nova vida que vivo no corpo , vivo-a,
exclusivamente, pela fé no Filho de Deus, que me amou e se sacrificou por mim” (Gálatas 2.20)
Pedro era um judeu que seguia a dieta mosaica, pois afirma
que nunca comera alimento profano ou imundo (Atos 10.14). Durante anos fora
educado sob a égide de Levítico 11, mesmo sendo galileu e vivendo longe dos
rigores de Jerusalém.
Contudo Jesus o chamara do lago de Genesaré para deixar as
redes e seu barco a fim de ser um pescador de homens (Lucas 5.10).
Ao lado do Mestre comeu na casa do publicano Zaqueu,
enquanto a multidão de Jericó murmurava: “entrou para hospedar-se na casa de um
pecador” (Lucas 19.7). Em Mateus 12, debulha espigas no sábado sob a aprovação
do Messias, assim como o vê curar nesse dia, porque é Senhor do sábado (Mateus
12.8). Observara Jesus tocar um leproso depois do Sermão do monte e conversar
com uma Samaritana.
Depois, em Atos 10, está em Jope na casa de um curtidor
chamado Simão (Ato 10.6) sem se preocupar que residia em um lugar eivado de
impurezas. O curtidor, por estar em constante contato com carcaças mortas de
animais, ficava constantemente impuro (Números 19.11-13).
Em um estase, Pedro é preparado pelo Senhor para, como novo
Jonas usar a base de Jope não para fugir negando-se pregar aos gentios, mas
para aceitar essa empreitada que o Criador lhe confiou. Na casa de Cornélio,
centurião da coorte chamada italiana, o Pescador Galileu não estava apenas
diante de um gentio, mas de um romano, chefe de cem soldados que que dominavam
seu povo. Entretanto, viu o Espírito Santo descer sobre aqueles que os judeus
consideravam indignos, percebendo que o Senhor não faz distinção entre o judeu
e o gentio (Atos 10.34-35; Romanos 2.11)
Assim, apesar de Pedro trabalhar com judeus (Gálatas
2.9), não era como aqueles que saíram de Jerusalém para obrigar os gentios à
circuncisão e a abstinência de alimentos. Entendia como Paulo que a salvação é
pela graça(2Pedro 3.15). Todavia passa pela tensão que estreita todos nós:
agradar ao homem no lugar de Deus. O Mesmo intrépido apóstolo que não temeu o
Sinédrio, mas proclamou que era melhor agradar a Deus que os homens (Atos
4.19), não teve o mesmo comportamento em Antioquia e temeu demonstrar a
imparcialidade do Senhor quanto as distinções raciais, pois não só deixou de
comer com os gentios, mas também, se apartou deles por ter medo dos da
circuncisão.
Essa atitude de Pedro feria em cheio o mais áureo
princípio ético de Paulo: “tendes
cuidado para que o exercício da vossa liberdade
não se torne um motivo de tropeço
para os fracos” (1Coríntios 8.9). Paulo entendia que
Jesus abolira essas ordenanças
cerimoniais (Efésios 2.15) e não passavam de sombras que se concretizaram em
Jesus (Colossenses 2.17). Essa atitude infeliz fez adeptos como todo pecado,
pois judeus acompanharam-no e até o próprio Barnabé, membro da igreja de
Antioquia e companheiro de Paulo na Primeira Viagem Missionária faz o mesmo.
O pecado não existem sem formar seguidores. Dessa maneira,
Paulo tem que assumir sua função e repreender Cefas diante de todos, mesmo que
o considerasse uma coluna da Igreja. Esse episódio da Palavra mostra que
experiência e tempo de igreja não faz ninguém isento de incorrer em maus
procedimentos. A admoestação exercida na maneira correta é um remédio eficaz
contra a imoralidade que ainde se apresenta como uma erva daninha de caule
macio.