A
perigosa negligência da arte pelos cristãos
“Eis que eu chamei pelo nome a Bezalel, filho de Uri, filho de Ur da tribo de Judá. Eu fiz que ficasse pleno do Espírito de Deus em sabedoria, entendimento e capacidade artística. (Êxodo 31.2,3)
Há quase um mês foi aberta, em Porto Alegre, a exposição
queermuseu: cartografias na arte brasileira. Essa exposição foi patrocinada
pelo Banco Santander e a lei Rouanet. Continha 270 obras que se guiavam pela
ideologia de gêneros e com forte apelo sexual. Contudo o Ministério Público
(MP)—o bastião da moral e dos bons costumes—foi encarregado de absolver as
cenas grotescas como arte, pois quem melhor que o MP para legislar também sobre
estética. Chegará o dia em que procuradores se pronunciarão sobre vinhos e
queijos também.
Muitos se perguntaram se essa exposição se tratava de
arte, pois sua realização contou com a renuncia fiscal da lei Rouanet (lei em
que o governo abre mão de arrecadar o Imposto de Renda de projetos artísticos
produzidos no país para ajudar profissionais iniciantes e fomentar a cultura).
O conceito de arte é muito amplo e subjetivo. Gosto da maneira
como o filósofo italiano Battista Mondin (1926-2015) tra-ta desse tema tão
espinhoso: “o trabalho do artista pode ser comparado ao da abelha: ele não
cria, mas, assimilando elementos já preexistentes, produz uma realidade
completamente nova”. O mesmo filósofo entende que o artista tem como
objetivo “dar expressão sensível à beleza”.
O fato é que
essa amostra apontou para alguns problemas sérios sobre os quais precisamos
ponderar: como a doutrina da depravação total influencia até mesmo a produção
artística; a necessidade de cristãos comprometidos engajados nas mais diferentes
áreas da sociedade; como produzir arte cristã e a diferença entre ética e censura.
A realidade
corrupta e enganosa de nosso coração (Jeremias 17.9) revela que somos
radicalmente depravados, ou seja, todas as áreas de nossa vida, até mesmo
aquelas que julgamos que são de alguma maneira boas, estão manchadas pelo pecado.
Portanto, toda produção artística deve ser vista a partir dessa perspectiva.
Quanto maior a comunhão do artista com o Senhor, menor será a influência dessa
terrível mácula. Contudo, se não for pela graça comum, não podemos esperar
fidelidade, tampouco respeito dos ímpios para com as coisas divinas;
O desenhista,
gravurista e escultor francês, Henri Émile-Benoit Matisse (1869-1954), em 1905,
pintou o quadro “A mulher de chapéu”, cujo nariz era amarelo. Quando
expôs essa obra alguém da produção alertou-o ao fato de ninguém ter o nariz amarelo
ao que lhe respondeu: “Senhora, isso não é uma mulher, mas um quadro”. O artista
revela em sua obra a maneira como enxerga o mundo (cosmovisão), logo, não
adianta que reclamemos da maneira como vê a realidade. Podemos protestar contra
os possíveis abusos, mas isso não exime que o cristão, de maneira criativa e
seguindo o mais alto padrão de qualidade se engaje até mesmo nas artes fim de evidenciar
sua cosmovisão.
Cada vez mais,
inúmeros crentes acreditam que para se fazer arte cristã não é necessário zelo
pela qualidade, assim como entendem que a genuína pregação está em dizer em um
mantra sem sentido e cansativo o nome do Senhor. Entretanto, Michael Horton
afirma que o poeta e pregador inglês John Donne (1572-1631) possuía obras
seculares que compõe as páginas da literatura inglesa, todavia não usava nessa
produções o nome de Deus, pois acreditava que não precisava usar o nome do
senhor para glorifica-lo, assim como o próprio Criador não precisou estampar
seu nome na natureza para obter glória. A arte cristã deve ser tão bem
produzida que até mesmo aqueles que discordam da sua mensagem reconheçam seu
mérito. A má teologia é mãe da arte cristã displicente.
Essa exposição escandalosa foi comparada por
intelectuais como Cortella ou Karnal a obras de Picasso ou Michelangelo, que
também se valeram da representação do nu, assim como os críticos aos nazistas e
a destruição da dita arte degenerada. Não houve censura (pois não houve a ação
do Estado), mas ética. Toda atividade humana deve passar pelo crivo desse
instrumento preciso, pois se não fosse assim o que aconteceria se um
supremassista branco fizesse sua amostra de arte? Seria ética ou censura
proibir quadros onde a suástica tivesse ponto de destaque? Pessoas com duplos
pesos ético e morais geram mentes dúbias
Nenhum comentário:
Postar um comentário