Uma régua para
medir o mundo
Nessa semana, um desses filósofos que
moram perto da gente me interpelou com a seguinte informação: “Pastor, vi uma
frase que achei muito interessante: não é a minha régua ou a sua que mediremos
o mundo”. Prontamente, respondi: “há uma única régua capaz de cumprir essa
tarefa: a régua daquele que criou o mundo”. Essa conversa ficou na minha cabeça
e neste texto tento refletir a frase em si e a resposta dada.
A frase em discussão se baseia em uma
metáfora, ou seja, quando existe no texto “uma
comparação abreviada, em que o nexo comparativo não está expresso, mas
subentendido” (ALMEIDA, 2009, p.412), ou seja, ninguém imagina que alguém
tenha a intenção de fazer uma régua tão grande e flexível capaz de mensurar o
nosso planeta, mas que “régua”, nesse contexto, expressa as lentes pelas quais
avaliamos o mundo ao nosso redor, o que nada mais é que a nossa cosmovisão.
Walsh e Middleton (2010, p.29) afirma
que “uma cosmovisão nunca é meramente uma
visão da vida. É sempre uma visão, também para a vida”. Dessa maneira, ela
funciona como os lentes ou os próprios olhos pelos quais interpretamos a vida. Sire
(20012p.164) entende que é inevitável ter uma cosmovisão, que tem seu âmago em
nosso coração, de onde procedem as fontes da vida (Pv 4.23). Contudo, Sire (2012,
p.70), citando Naugle, afirma: “desde a
infância uma quantidade torrencial de conteúdo é vertida para o reservatório do
coração a partir de fontes, aparentemente, ilimitadas e qualidade variável,
algumas delas puras, algumas delas poluídas”. Dessa maneira a minha
cosmovisão formada e constantemente moldada pela vida no calor das crises induz
o foco de mina visão, assim como, direciona meu procedimento. Portanto, “se quisermos entender o que as pessoas veem
ou a maneira como veem, precisamos prestar atenção na maneira como elas andam”
(WALSH; MIDDLETON, 2010, p.16). Podemos parafrasear essa frase essa tese para
evidenciamos a metáfora inicial de nosso texto da seguinte maneira: se
quisermos entender o que as pessoas medem ou a maneira como medem o mundo ao seu
redor, precisamos estar atentos a como elas andam.
Powell e Brandy (1985, p.14) afirma
que aprendemos a falar até os dois anos e ouvimos antes mesmo de nascer, mas “infelizmente, muita gente pensa que, porque
aprendemos a falar e a ouvir, automaticamente aprendemos a nos comunicar”.
A distancia entre aquele que fala (emissor) e aquele que escuta (receptor) pode
sofrer muitos ruídos desde a língua que falamos (código) ao meio que utilizamos
para nos comunicar (canal), mas também pode indicar dois universos diferentes.
Esse fato explica o abismo que existe entre aquilo que falamos e aquilo que o
outro realmente compreendeu. Dessa maneira, “a
nossa linguagem reflete a nossa cosmovisão e a cosmovisão dá forma a nossa
linguagem” (WALSH; MIDDLETON, 2010, 32).
Temos réguas, ou seja, somos ávidos para
compreender o mundo, todavia na proporção em que elas estão ligadas aquilo que
a traça pode corroer o tempo enferrujar e ladrões roubar, menor ela é, aquilo
que temos como importante e significativo (nossa hierarquia de valores) tem o
poder de atrair nosso coração e, assim fazer nossa cosmovisão mais amplo ou
restrita (Mt 6.20).
Quando nos deparamos com a
insuficiência de nossos instrumentos para interpretar a vida, decidimos nos manter
estáticos (eu tenho a minha régua e você tem a sua e nos respeitamos,
especialmente quando nossas atitudes e convicções combinam com o das pessoas a
meu redor), todavia quanto uma crise se instala e nos obriga a rever nossos
padrões. Sire (2012, p.145) nossa cosmovisão pode mudar de forma pequena e
gradual ou por ma crise que nos leva a conversão.
O mundo ao nosso redor tem uma medida
exata. O individualismo que prega que cada um pode ter sua maneira de ver a
vida não se aplica a matemática, pois em lugar algum dois mais dois será cinco
ou seis, mas sempre quatro. Por vivermos em um mundo meticulosamente organizado
onde a gravidade da terra se adéqua de tal forma ao seu único satélite natural,
a lua, que ela pode cair parabolicamente sem jamais uma se chocar com a outra.
Pearcey (2012, p.46), citando Collingwood, defende: “a possibilidade de uma matemática aplicada é uma expressão, em termos
de ciência natural, da crença cristã de que a natureza é a criação de um Deus
onipotente”.
Um mundo pautado na exatidão não
poder fruto de uma explosão, fruto do acaso, mas obra das mãos de um
organizador. É inevitável reconhecermos que por traz das leis que regem a
natureza existe o Legislador. Dessa maneira, se nossa régua se mostra
insuficiente para interpretar de forma imparcial, precisamos da régua do
Criador. Sabemos que a Palavra é inspirada por Deus. (2Tm 3.16). O termo grego
utilizado por Paulo para inspirar é theópneystos
(θεόπνευστος),
ou seja, aquilo que foi exalado, que veio de dentro de Deus. A Bíblia não é uma
verdade, tampouco é parcialmente inspirada, mas é a verdade absoluta que
liberta o homem de suas mais terríveis suficiências e o habilita a toda boa
obra.
Sire (2012, p.176) entende que a
Bíblia é a única cosmo visão capaz de oferecer parâmetros particulares e
universais suficientes ao homem. Ela é a régua do criador que me desvincula as
quimeras desse mundo caído e me leva a amplitude, por isso, a única régua
eficiente para medir o mundo.
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