Ele levou nossas dores
Algumas culturas gostam de simbolizar a vitória da vida sobre
a morte em um alimento muito comum: a pipoca. Entendem-na como a transformação
do milho, que no calor e na escuridão de uma panela consegue desabrochar em seu
melhor, porque antes sendo duro agora se apresenta macio; sendo intragável;
agora é agradável ao paladar.
Todavia as condições desfavoráveis que permitem alguns grãos
desabrocharem em uma iguaria de pouco sabor (pois tem o gosto do sal ou do
caramelo que o tempera), mas com grande capacidade de captar pessoas para
momentos de doce distração, fazem outros grãos de milho mais duros ou
apresentarem uma transformação parcial, tais como os irmãos de Laodiceias que
tinham suas vidas na mesma temperatura de suas fontes termais (Ap 3.16).
Os milhos conservam a todo custo sua antiga forma, tal como
muitos se apegam a seu velho homem em suas idolatrias por tradição ou
conveniência, são chamados piruás, todavia essa tentativa suicida os tornou
inúteis mostrando a validade da máxima de Cristo: “Quem quiser, pois, salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por
causa de mim e do evangelho salvá-la-á” (Mc 8.35).
Em nossa relidade caída, assim como na panela de pipoca, a
vida e a morte se alternam de aneira profunda e subjetiva, pois há pessoas que
parecem vivas, mas estão mortas e podem ouvir o que se diz a igreja de Sardes: “Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives
e estás morto” (Ap 3.1).
Hoje, vivemos a alegria de
comemorar a páscoa, porque podemos nos reunir e nos recordarmos que Jesus
obteve vitória sobre a morte, porque, aquele que é superior a Moisés (Hb 3.3)
cruzou em sua ressurreição o denso mar da morte de forma que aqueles que o
seguem não perecerão, mas terão a vida eterna. O mesmo consolo que Marta recebeu
do Mestre nós também podemos confiar: “Eu sou a
ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que
vive e crê em mim não morrerá, eternamente” (Jo 11.25,26).
No Evangelho
de Lucas 24.13-35, vemos dois discípulos destruídos batendo em retirada de
Jerusalém; desertando para Emaús. Caminhavam cegos pelo poder da dor. Não
sabemos o quanto tiveram convivido com o Senhor, mas carecia a eles a crença de
que Jesus é o Cristo (Mc 8.29), pois consideravam-no como “varão profeta , poderoso
em obras e palavras, diante de Deus e de todo o povo” (Lc 24.19), porém essa
era a fé geral das pessoas (Mc 6.14,15; Mc 8.27,28). Há muitas pessoas que, em
nossos dias, veem o Senhor um filósofo, revolucionário, estadista, todavia só
tem íntima relação com Deus aquele que confessa que Jesus é o filho de Deus
(1Jo 4.15). Essa convicção não vem da aptidão mental ou pelo poder dos
argumentos, mas pela ação do Espírito Santo (Mt 16.17).
Se os
discípulos estavam dispostos a tomar um caminho contrário àquele proposto pelo
Senhor – Emaús ao invés da Galileia (Mc 14.28) –, uma rota semelhante a
empreendida pelo profeta Jonas oito séculos atrás, Jesus não perdeu nenhum dos
seus exceto o filho da perdição (Jo 17.12).
Lucas, dos evangelistas, é o único que traz essa história com
uma grande números de detalhes com o propósito de que tenhamos plena certeza
das verdades em que fomos instruídos (Lc 1.4). Podemos aprender com esses dois
homens que uma fé superficial é extremamente vulnerável os dias maus. Esse
artigo visa analisar como Jesus lida conosco nesses momentos de tristeza
profunda. Esse artigo também pode nos oferecer pistas para como lidar com o
nosso próximo nesses momentos.
A primeira atitude de Jesus é caminhar com os discípulos,
ouvindo-os, conhecendo suas angústias e anseios. Em nossos dias em que todos
querem se comunicar em plenos pulmões ou pelas redes sociais, talvez ouvir seja
o gesto de carinho mais escasso. Jesus, como fez desde a sua concepção,
acomodou-se às limitações daqueles homens, porém sem deixar de exortá-los pela
lentidão de seus corações, pois quem ama cedo disciplina (Pv 13.24).
A segunda
atitude do Senhor é confrontá-los com a Palavra que é “útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na
justiça,a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado
para toda boa obra” (2Tm 3.16,17). Jesus discorre de Moisés aos Profetas
mostrando que o Antigo Testamento o apresenta e indica como seria sua morte (Is
53.4-7).
Esse momento
de pregação aquece o coração dos discípulos, porque “A lei do SENHOR é perfeita e restaura a alma; o testemunho do SENHOR é fiel
e dá sabedoria aos símplices (פּתִי: patî pode ser entendido
como cabeça aberta, aquele que se deixa levar pelas mais diversas opiniões)”
(Sl 19.7). Isso serve para nos mostrar duas coisas: primeiro, a eficácia
terapêutica da Palavra e, em segundo lugar, para nos alertar sobre a insanidade
de tantos “cristãos” que deixam a verdade inspirada, inerrante, plenos e
suficientes para se fiarem em teorias humanas de fracasso comprovado. Enquanto
muitas incham de forma doentia com a promessa de prosperidade e sinais
extraordinários, nosso anseio deveria ser o mesmo de Pedro: “Senhor, para quem iremos? Tu tens as palavras da
vida eterna; e nós temos crido e conhecido que tu és o Santo de Deus” (Jo
6.68,69). Nesses dias, em que muitas igrejas tem reduzido o tempo da pregação
deveríamos nos recordar de que “aprouve a
Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação” (1Cor 1.21).
A terceira
atitude de Jesus é ficar com eles, especialmente, no partir do pão. O Senhor
não entra na casa dos discípulos como uma visita qualquer, mas como o próprio
anfitrião e, por isso, se vê no direito de partir o pão. Se Jesus não for o
nosso alimento (Jo 5.35,36) todo alimento será insosso e incorreremos no erro
cometido por Salomão em Eclesiastes de se entregar às delícias e aos trabalhos
desta via sem direcioná-los para a glória de Deus. Nesse momento íntimo e
preciso os olhos dos discípulos se abriram e constataram que o coração lhes
ardia quando Jesus lhes expunha a Palavra e que não podem mais continuar em
Emaús, de tal forma que os empecilhos que impediam Jesus de continuar a viagem
o o obrigavam a ficar com eles desapareceram.
Esses dois
discípulos são quais pipocas que as sofrimentos desses dias maus enclausurou em
cascas de morte, pois toda aquele que não crer no Jesus ressuscitado está
morto, mas a ação dura e amável do Senhor os fez voltar para o reto
caminho.Existem muitos cristãos frustrados com denominações e pastores e que
ora vivem uma espiritualidade independente (ferindo Hb 10.24,25), Ra se tornam
amargos e passam a ofender a igreja repetindo suas lamúrias alicerçadas em
doutrinas humanas e pragmáticas.Como discípulos de Cristo precisamos caminhar
do lado delas ouvir-lhes as angústias, exortá-las, expor as Escrituras, certos
de que a Palavra jamais voltará vazia (Is 55.11)
Reverendo Diego José Gonçalves Dias