Guardar o sábado ou o domingo?
Isaías
afirma: “Assim diz o SENHOR:
Mantende a retidão, e fazei justiça; porque a minha salvação está prestes a
vir, e a minha justiça a manifestar-se. Bem-aventurado o homem que fizer isto,
e o filho do homem que lançar mão disto: que se abstém de profanar o sábado, e
guarda a sua mão de cometer o mal”
(Is 56.1,2). Observemos que o filho de Amoz inicia sua fala coma expressão
clássica: “assim diz o Senhor”, que
serve para introduzir profecias. Dessa maneira, o Senhor adverte o povo que
sairá do exílio (lembre-se de que o livro do profeta Isaías pode ser dividido
em três partes: 1-39 [o que os liberais chamam de primeiro Isaías], onde se
trata da invasão Babilônica; 40.1-55.13 [o que os liberais chamam de
deutero-Isaías] e trata das primeira e da segunda deportação do povo e 56.1-66
[o que os liberais chamam de Trito-Isaías] tratando do retorno dos exilados).
O Senhor está
exortando de antemão o povo daquele período de Esdras e Neemias a duas
orientações: “manter a retidão” e “fazer a justiça”. No primeiro
imperativo o verbo hebraico utilizado é o shâmar
(שָׁמַר),
que significa guardar, manter e vigiar. A retidão é um compromisso que exige
decisões diárias. No segundo imperativo, o verbo âsâh (עָשָׂה) indica que a justiça precisa ser
produzida. A razão para se manter a retidão e a fazer a justiça é o fato de a
salvação e a justiça estava para vir ou se manifestar. Sabemos que essa justiça
é manifesta em Jesus na plenitude do tempo (Gálatas 4.4).
O cristão
precisa manter a retidão e fazer a justiça não para ser salvo, porque somos
salvos pela graça (Efésios 2.8), contudo os eleitos deve ser reconhecido pelos
frutos que pratica (Mateus 7.20), porque “somos
feitura sua (do Pai), criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus
antes preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.10).
Isaías
afirma que esse bom procedimento (manter a retidão e fazer a justiça) fazer do
homem bem-aventurado ou feliz, contudo o Profeta mostra de forma prática como
esse homem feliz procede em relação ao Senhor e liga o manter a retidão e o
fazer a justiça à guarda do sábado. Diante desse versículo (Isaías 56.2), um
sabatista poderia argumentar: “se sua única regra de fé e prática é a Palavra,
por que você continua guardando o domingo?”.
A
conclusão que chegaremos é que esse pensamento não pode crer em uma revelação
orgânica (ou dinâmica), assim como, interpretar o Novo Testamento de tal
maneira que sirva a sua ideologia pessoal e não aos propósitos do Espírito
Santo.
De
fato, em Êxodo 20.8-11, O Senhor ordena que os sétimo dia (o sábado) seja
santificado. Para que esse mandamento fosse cumprido, o maná podia ser colhido
de forma dobrada na sexta de tal maneira não estragaria (Êxodo 16.23-25) e a
pena para aquele que desconfiasse desse preceito era a morte (Números
15.32-35). Contudo o descanso proposto pelo Senhor ao seu povo vai muito além
do proposto para eesse ou aquele dia, mas o escatológico (Hebreus 4.9-11).
Jesus
não considerava guardar o sábado o maior dos mandamentos (Mateus 22.35-40). A
igreja passou a guardar o primeiro dia da semana e não mais o sétimo (Atos
20.6,7; 1Coríntios 16.1,2). Em Atos 20 vemos a referência mais antiga ao culto
dominical. Segundo Kistemaker a expressão “partir
o pão” (κλάσαι ἄρτον) indica culto (Atos
2.42,46). Vemos que Paulo prega demoradamente nesse dia , até a meia noite.
Quando a igreja cristã teve de deliberar sobre a inclusão de gentios e
judaizantes queriam obriga-los a circuncisão e a dieta de Moisés (Atos 15.5), o
Concílio não viu a guarda do sábado como algo a ser evitado para não
escandalizar os mais fracos na fé (Atos 15.28,29). Não vemos no Novo Testamento
apelos a guarda do sábado como Jeremias 17.19-27 no Antigo Testamento. Contudo,
em Mateus 12, a rigidez farisaica para com a observância do shabbat é criticada por Jesus que se
coloca em posição privilegiada como senhor/dono do sábado (Mateus 12.8) e, por
isso, como afirma Carson, em posição não apenas para interpretar a lei ou mudar
as interpretações judaicas, mas para ordenar a própria lei. Quando vemos a
Bíblia por esse prisma entendemos que aqueles que têm a Palavra como a única
regra de fé e prática guardam o domingo.
Quando
o sabatista o julgar como um crente inferior por não observar o sétimo dia
lembre-o de riscar o versículo em que Paulo afirma: “ninguém, pois, vos julgue pelo comer,
ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados que
são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2.16,17).
Portanto,
Isaías não está ligando a felicidade, a retidão e a justiça à vida de alguém
que observa um dia específico, mas que nutre profunda intimidade com o Senhor,
pois aquele que não cumpre de forma contumaz a Palavra não pode amar a Jesus,
tampouco a Deus (1João 5.2-4).
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